quarta-feira, 8 de outubro de 2014

MENTIRAS BRANCAS E VERDADES ESCURAS

Para os religiosos de plantão a mentira é pecado e ponto. A verdade é o que nos torna santo e ponto. Mas será que é exatamente assim?
 
Diferentemente como o Pinóquio dos contos de fadas, o nosso nariz não cresce quando mentimos, mas de certa forma o incômodo na consciência, causado pela mentira, este com certeza cresce sim. É como se este “incômodo” na nossa consciência fosse o nariz do boneco de madeira construído pelo velho Gepeto. Crescendo a cada mentira e espetando a nossa consciência.
 
Nós, que alegamos ser cristãos comprometidos com a palavra, temos que lidar no dia a dia com o conceito de verdade e mentira. A sociedade diz que existem quatro tipos de mentiras: a mentira branca, a mentira benéfica, a mentira enganosa  e a mentira maliciosa.
 
Em resumo, a mentira branca é o artifício que nos permite viver em harmonia com a sociedade. Ela nos ajuda no convívio, é usada para não ferir o próximo emocionalmente. Está presente para  nos ajudar a não insultarmos uns aos outros com a verdade crua, aquela que é fria, dura e dolorosa. É a tal “mentira branca” que ajuda todo mundo viver uma vida sem violência e agressão, de modo a não ferir as pessoas. É a mentirinha da educação, aquela que você diz quando vê alguém vestindo uma roupa nova que na sua opinião é ridícula, mas você diz que está ótimo, só para não magoar.
 
Também tem outra mentira “do bem”, a mentira benéfica, que é usada por uma pessoa que tem a intenção de ajudar o próximo. O clássico exemplo do “Placebo”...a pílula de farinha de trigo que vem na caixa de remédio com um rótulo de “importado”, para que os médicos prescrevam a um paciente em seu leito de morte, simplesmente para levantar seus ânimos, ou tentar um efeito psicológico contra a doença. Ou o outro clássico exemplo da segunda guerra mundial, onde um agricultor esconde Judeus dos nazistas em seu celeiro e quando questionado pelos soldados alemães se viu algum judeu, ele nega com intuito de salvar a vida dos mesmos.
 
Mas é claro que a mentira também é usada para a maldade. Entra em cena o terceiro tipo, a mentira enganosa. Neste caso o objetivo é tirar vantagem da vítima, ainda que a mesma seja prejudicada, para seu próprio benefício. Geralmente este tipo de mentira está ligada a ocultação ou a falsificação. No caso da ocultação, a mentira se faz presente na ocultação de algo verdadeiro. Ou seja, eu vou vender meu carro e digo que ele está em perfeito estado, mas não revelo que o mecânico me disse, semanas atrás, que o motor está para fundir. Já no caso da falsificação, eu apresento, por interesse próprio e de forma intencional, falsas informações como se as mesmas fossem verdadeiras. Então digo que o carro foi revisado pelo mecânico recentemente e está perfeito para encarar uma viagem de São Paulo para a Paraíba.
 
Por fim o último tipo de mentira, as maliciosas. Entram em cena, geralmente, em uma situação de disputa, ou se preferir, concorrência. Também conhecidas como “fofocas”, são utilizadas para destruir o caráter, a reputação e a integridade do outro. Geralmente causa em suas vítimas resultados duradouros e devastadores. Um funcionário pode espalhar em para seu superior, por exemplo, que o “fulano”, seu concorrente direto a uma promoção, a falsa informação de que o mesmo tem um caso com uma estagiária e que seus encontros ocorrem dentro do escritório. Ou se preferir exemplos mais reais, é só assistir o horário político para ver um candidato atacando o outro.
 
Sendo assim, em resumo, de certa forma temos três tipos de “Pinóquios”. O mentiroso que tem a consciência da mentira e está confiante em sua capacidade de enganar, o mentiroso que acredita que realmente acredita que uma mentira é uma verdade (a mentira lhe virou uma verdade) e o mentiroso que acredita que pode dizer a verdade sobre tudo (tem a sua verdade para tudo). De certa forma, dentro de nós habita os 3 tipos de mentirosos. Vez ou outra agimos ou como um mentiroso intencional, ou como aquele que acredita em uma mentira como se fosse verdade ou como aquele que pode dizer a verdade sobre tudo. Há quem diz que quem conta a mesma mentira sempre, esta mentira lhe vira uma verdade. Todos nós, cristãos, sabemos que o diabo é o pai da mentira, mas insistimos em colaborar com ele. As vezes dizemos sofismas (mentiras vestidas de verdades), as vezes mentimos conscientemente, as vezes inconscientemente...mas o fato é que também colaboramos com o diabo quando dizemos algumas verdades.
 
Se por um lado enxergamos a mentira “benigna” (se é que ela realmente existe), por outro muitas vezes dizemos a verdade “maldita” ou se preferir a “verdade escura”. É quando a verdade que será dita não serve para produzir processos de vida, não agrega para o bem. A verdade que é dita para acabar com o outro, para produzir morte. Se por um lado é possível tentar pensar que existem mentiras que produzem o bem, por outro também é possível pensar em verdades que produzem o mal. Talvez uma forma de se definir "mentiras brancas" seria "mentiras que anulam verdades escuras". Talvez!!! Quem sabe!?...

No fim percebemos que “mentiras brancas” e “verdades escuras” partem do nosso coração e o que vale mesmo é a intensão. É na intensão por trás das nossas ações que o nosso caráter é revelado. Como diria o pastor Éd Rene Kivitz...Deus abençoa muito as intensões de cada um de nós. Quando as reais intensões se revelam, analisar mentiras e verdades com relação ao quesito pecado ou não pecado, fica para segundo plano, pois “mentira ou verdade” passa a ser uma questão moral, é uma consequência, enquanto a “intensão” é a raiz de tudo, pois ela nasce no coração do homem.

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