Nicodemos e Arimatéia -> Infiltrados no Sinédrio
O Sinédrio era a Corte Suprema da lei judaica, que tinha por
missão administrar a justiça mediante a interpretação e a aplicação da Torah (a
lei que o Próprio Deus tinha determinado para o povo judeu através de Moisés),
tanto oral como escrita. Além desta missão, o Sinédrio tinha uma outra função,
ela representava o povo judeu frente à autoridade romana.
Segundo a antiga tradição judaica, o Sinédrio era composto
por setenta e um membros, sucessores (segundo acreditava a tradição judaica)
das tarefas desempenhadas pelos setenta anciãos que auxiliavam a Moisés na
administração da justiça do povo judeu:
“E disse o Senhor a
Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos
do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda da congregação, e ali
estejam contigo.” Números 11:16
O Sinédrio era presidido pelo Sumo-sacerdote. Evoluiu integrando representantes da nobreza
sacerdotal e membros das famílias mais notáveis de Israel.
Na época de Jesus, o Sinédrio exercia as suas funções
judiciais em processos civis e penais, dentro do território da Judeia. Nesse
tempo as relações com a administração romana eram, de certa forma, muito
fáceis, e a relativa autonomia que lhe era concedida vivia em consonância com a
política romana nos territórios conquistados.
Quando o ministério de Jesus começou a ganhar força, o
Sinédrio estava afundado em corrupção. Desde o fato de se ter 2 Sumo-sacerdotes
(Anás e Caifás), sendo que a Torah previa apenas um sumo-sacerdote (aliás “sumo”
quer dizer supremo, ou seja...só pode haver um...ironia dizer existirem 2), até
o fato do comércio de animais para sacrifícios no templo. O fato é que dentre
os 71 membros do Sinédrio haviam 2 personagens que por diversas vezes passam
por despercebidos na Palavra de Deus, mas que com certeza tem algo a nos
agregar de bom: José de Arimatéia e Nicodemos.
Usando as palavras literais do teólogo Bill Hall, “há
pessoas neste mundo confiáveis e úteis enquanto as circunstâncias forem boas,
mas, diante dos problemas, parecem tropeçar. Há outras de cujos problemas e
perigo parecem brotar o que têm de melhor. Tais pessoas, nessas circunstâncias,
mostram-se à altura da situação, demonstrando a coragem que não se tinha visto
nelas até então. José de Arimatéia e Nicodemos se enquadram neste último grupo.”
José de Arimatéia e Nicodemos eram membros do Sinédrio, mas
ao contrário dos demais, ouviam os ensinamentos de Jesus Cristo com um coração
aberto. A Palavra não relata
explicitamente que José de Arimatéia e Nicodemos chegaram a professar a fé em
Cristo abertamente e se submeter completamente à sua vontade. Não é possível
afirmar isso, mas é possível pensar que sim. Vejamos:
José de Arimatéia era um homem rico e membro proeminente do
mesmo conselho que tinha condenado Jesus. Ele tinha muitas qualidades
admiráveis. Era um homem justo e bom, que esperava o reino de Deus. Ele se
destacou entre os seus companheiros para crer em Jesus. Ele não permitiu que
nomes como "blasfemo", "samaritano", "enganador"
e "poder de Belzebu" o dispusessem contra Jesus. Quando o conselho
havia condenado a Jesus, entregando-o a Pilatos para a sentença de morte, José
"não tinha concordado com o desígnio e ação":
“Havia um homem
chamado José, membro do Conselho, homem bom e justo, que não tinha consentido
na decisão e no procedimento dos outros. Ele era da cidade de Arimatéia, na
Judéia, e esperava o Reino de Deus.” Lucas 23:50-51
Havia algo em José, entretanto, que não era bom. Até a época
da morte de Jesus, ele tinha sido um discípulo de Jesus, "ocultamente pelo
receio que tinha dos judeus":
“Depois disto, José
de Arimatéia (o que era discípulo de Jesus, mas oculto, por medo dos judeus)
rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. E Pilatos lho
permitiu. Então foi e tirou o corpo de Jesus.” João 19:38
É fato que ninguém jamais deve se envergonhar de Jesus,
independente das circunstâncias. Entretanto, a morte de Jesus e a necessidade
de ter um sepultamento decente trouxeram à tona o melhor de José de Arimatéia.:
"Dirigiu-se
resolutamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus", diz Marcos 15:43.
J. W. McGarvey faz um paralelo entre o ato de coragem de
José de Arimatéia e os discípulos de Jesus: "É estranho que aqueles que
não tinham medo de ser discípulos tiveram medo de pedir o corpo do Senhor, mas
aquele que teve medo de ser discípulo não temeu fazê-lo" (The Fourfold
Gospel, p. 735). É bem possível que José, como Ester, tinha sido elevado ao
cargo "para conjuntura como esta":
“Porque, se de todo
te calares neste tempo, socorro e livramento de outra parte sairá para os
judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal tempo
como este chegaste a este reino?” Ester 4:14
O problema estava ali: quem enterraria Jesus? Não, não
apenas quem o enterraria, mas quem lhe faria o sepultamento respeitável e
compassivo de que merecia? Quem cuidaria para que o corpo de Jesus não fosse
colocado num sepulcro comum, mas que Jesus estivesse "com o rico . . . na
sua morte", como foi profetizado por Isaías 53:9?
“E puseram a sua
sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu
injustiça, nem houve engano na sua boca.” Isaías 53:9
Quem colocaria o seu corpo em "um sepulcro novo, no
qual ninguém tinha sido ainda posto"?
“E havia um horto
naquele lugar onde fora crucificado, e no horto um sepulcro novo, em que ainda
ninguém havia sido posto.” João 19:41
Quem colaboraria para que a verdade que diz que Jesus
adentrou na história da humanidade em um ventre de uma Virgem e partiu em um
sepulcro virgem?
A resposta haveria de vir de uma fonte surpreendente. Não
seriam os apóstolos, pois a maioria deles estava se escondendo de medo dos
judeus, como relata João 20:19. Não seriam as mulheres que o seguiram
fielmente, pois não tinham recursos para isso. Seria José de Arimatéia.
Nicodemos era chefe dos judeus, fariseu, também membro do
conselho. João, em seu relato, foi cuidadoso em identificar o Nicodemos que
ajudou no enterro de Jesus com o mesmo Nicodemos que antes veio a Jesus
"de noite". Nicodemos, como José, tinha muitas qualidades excelentes.
Ele tinha estado disposto a ouvir pessoalmente sem depender do que os outros
diziam a seu respeito. Ele tinha reconhecido a legitimidade do ensino e do
poder de Jesus:
"Sabemos que és
Mestre vindo da parte de Deus" João 3:2.
Certa vez ele tinha questionado o conselho sobre a
indisposição de ouvir Jesus com justiça:
E os servidores foram
ter com os principais dos sacerdotes e fariseus; e eles lhes perguntaram: Por
que não o trouxestes?
Responderam os servidores: Nunca homem algum
falou assim como este homem.
Responderam-lhes, pois, os fariseus: Também
vós fostes enganados?
Creu nele porventura algum dos principais ou
dos fariseus?
Mas esta multidão, que não sabe a lei, é
maldita.
Nicodemos, que era um deles (o que de noite
fora ter com Jesus), disse-lhes:
Porventura condena a nossa lei um homem sem
primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz?
Responderam eles, e disseram-lhe: És tu também
da Galiléia? Examina, e verás que da Galiléia nenhum profeta surgiu.
João 7:45-52
Nicodemos, na morte de Cristo, corajosamente uniu-se a José de
Arimatéia no enterro de Jesus, fornecendo o unguento para o corpo de Jesus.
Sei que a Palavra de Deus é a verdade na qual devemos nos
basear. E é com base nela que me coloco a pensar em textos como o “Cavalo de
Troia” escrito po J J Benitez, que nos coloca diante do seguinte pensamento:
Jesus e seus apóstolos tinham gente infiltrados no Sinédrio. José de Arimatéia
e Nicodemos eram pessoas que acreditavam nos ensinamentos de Jesus. Acredito
que estes homens colaboraram muito com Jesus.
A Palavra não explicita isso, mas creio que tanto José de Arimatéia
quanto Nicodemos assumiram para si a responsabilidade de estarem em um ambiente
corrompido sem se corromper, de forma a ajudar Jesus, seja passando informações
importantes para os discípulos de Jesus, seja cooperando com Jesus de alguma
outra maneira benigna. Creio que eles, apesar da Palavra não relatar isso
explicitamente, confessaram sua fé em Cristo. Em caso negativo, a coragem deles
nessa situação não seria suficiente para uma salvação eterna. No mínimo podemos
assumir uma gratidão a esses dois homens por terem prestado um maravilhoso
serviço ao nosso Senhor, quando mais ninguém estava disposto a fazê-lo. Um
comentário como este não é depor contra os apóstolos, longe disso. A coragem, a
fé, a lealdade e a dedicação dos apóstolos já tinham superado diversas provas.
Mas o fato é que José de Arimatéia e Nicodemos foram aqueles que deram um passo
à frente no momento em que os apóstolos falharam. Eles são inspiração para nós.
Os atos deles falam de coragem nas mais difíceis circunstâncias, de ficar de pé
e ser útil no momento em que todos estão fraquejando, de mostrar admiração por
outra pessoa bem no momento em que ela mais precisa de nós.
Será que somos capazes de agir assim? Será que somos capazes
de lidar com a corrupção sem nos corromper? Afinal de contas o mundo em que
vivemos é corrupto e o Deus que servimos é Santo? O mundo em que vivemos pode
ser o nosso Sinédrio? Será que conseguimos agir como José de Arimatéia e
Nicodemos? Como podemos cooperar com Jesus em um cenário corrupto como este?
Nenhum comentário:
Postar um comentário