segunda-feira, 1 de setembro de 2014

INFILTRADOS NO SINÉDRIO

Nicodemos e Arimatéia -> Infiltrados no Sinédrio
 
O Sinédrio era a Corte Suprema da lei judaica, que tinha por missão administrar a justiça mediante a interpretação e a aplicação da Torah (a lei que o Próprio Deus tinha determinado para o povo judeu através de Moisés), tanto oral como escrita. Além desta missão, o Sinédrio tinha uma outra função, ela representava o povo judeu frente à autoridade romana.
 
Segundo a antiga tradição judaica, o Sinédrio era composto por setenta e um membros, sucessores (segundo acreditava a tradição judaica) das tarefas desempenhadas pelos setenta anciãos que auxiliavam a Moisés na administração da justiça do povo judeu:
 
“E disse o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda da congregação, e ali estejam contigo.” Números 11:16
 
O Sinédrio era presidido pelo Sumo-sacerdote. Evoluiu  integrando representantes da nobreza sacerdotal e membros das famílias mais notáveis de Israel.
 
Na época de Jesus, o Sinédrio exercia as suas funções judiciais em processos civis e penais, dentro do território da Judeia. Nesse tempo as relações com a administração romana eram, de certa forma, muito fáceis, e a relativa autonomia que lhe era concedida vivia em consonância com a política romana nos territórios conquistados.
 
Quando o ministério de Jesus começou a ganhar força, o Sinédrio estava afundado em corrupção. Desde o fato de se ter 2 Sumo-sacerdotes (Anás e Caifás), sendo que a Torah previa apenas um sumo-sacerdote (aliás “sumo” quer dizer supremo, ou seja...só pode haver um...ironia dizer existirem 2), até o fato do comércio de animais para sacrifícios no templo. O fato é que dentre os 71 membros do Sinédrio haviam 2 personagens que por diversas vezes passam por despercebidos na Palavra de Deus, mas que com certeza tem algo a nos agregar de bom: José de Arimatéia e Nicodemos.
 
Usando as palavras literais do teólogo Bill Hall, “há pessoas neste mundo confiáveis e úteis enquanto as circunstâncias forem boas, mas, diante dos problemas, parecem tropeçar. Há outras de cujos problemas e perigo parecem brotar o que têm de melhor. Tais pessoas, nessas circunstâncias, mostram-se à altura da situação, demonstrando a coragem que não se tinha visto nelas até então. José de Arimatéia e Nicodemos se enquadram neste último grupo.”
 
José de Arimatéia e Nicodemos eram membros do Sinédrio, mas ao contrário dos demais, ouviam os ensinamentos de Jesus Cristo com um coração aberto.  A Palavra não relata explicitamente que José de Arimatéia e Nicodemos chegaram a professar a fé em Cristo abertamente e se submeter completamente à sua vontade. Não é possível afirmar isso, mas é possível pensar que sim. Vejamos:
 
José de Arimatéia era um homem rico e membro proeminente do mesmo conselho que tinha condenado Jesus. Ele tinha muitas qualidades admiráveis. Era um homem justo e bom, que esperava o reino de Deus. Ele se destacou entre os seus companheiros para crer em Jesus. Ele não permitiu que nomes como "blasfemo", "samaritano", "enganador" e "poder de Belzebu" o dispusessem contra Jesus. Quando o conselho havia condenado a Jesus, entregando-o a Pilatos para a sentença de morte, José "não tinha concordado com o desígnio e ação":
 
“Havia um homem chamado José, membro do Conselho, homem bom e justo, que não tinha consentido na decisão e no procedimento dos outros. Ele era da cidade de Arimatéia, na Judéia, e esperava o Reino de Deus.” Lucas 23:50-51
 
Havia algo em José, entretanto, que não era bom. Até a época da morte de Jesus, ele tinha sido um discípulo de Jesus, "ocultamente pelo receio que tinha dos judeus":
 
“Depois disto, José de Arimatéia (o que era discípulo de Jesus, mas oculto, por medo dos judeus) rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. E Pilatos lho permitiu. Então foi e tirou o corpo de Jesus.” João 19:38
 
É fato que ninguém jamais deve se envergonhar de Jesus, independente das circunstâncias. Entretanto, a morte de Jesus e a necessidade de ter um sepultamento decente trouxeram à tona o melhor de José de Arimatéia.:
 
"Dirigiu-se resolutamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus", diz Marcos 15:43.
 
J. W. McGarvey faz um paralelo entre o ato de coragem de José de Arimatéia e os discípulos de Jesus: "É estranho que aqueles que não tinham medo de ser discípulos tiveram medo de pedir o corpo do Senhor, mas aquele que teve medo de ser discípulo não temeu fazê-lo" (The Fourfold Gospel, p. 735). É bem possível que José, como Ester, tinha sido elevado ao cargo "para conjuntura como esta":
 
“Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento de outra parte sairá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” Ester 4:14
 
O problema estava ali: quem enterraria Jesus? Não, não apenas quem o enterraria, mas quem lhe faria o sepultamento respeitável e compassivo de que merecia? Quem cuidaria para que o corpo de Jesus não fosse colocado num sepulcro comum, mas que Jesus estivesse "com o rico . . . na sua morte", como foi profetizado por Isaías 53:9?
 
“E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca.” Isaías 53:9
 
Quem colocaria o seu corpo em "um sepulcro novo, no qual ninguém tinha sido ainda posto"?
 
“E havia um horto naquele lugar onde fora crucificado, e no horto um sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto.” João 19:41
 
Quem colaboraria para que a verdade que diz que Jesus adentrou na história da humanidade em um ventre de uma Virgem e partiu em um sepulcro virgem?
 
A resposta haveria de vir de uma fonte surpreendente. Não seriam os apóstolos, pois a maioria deles estava se escondendo de medo dos judeus, como relata João 20:19. Não seriam as mulheres que o seguiram fielmente, pois não tinham recursos para isso. Seria José de Arimatéia.
 
Nicodemos era chefe dos judeus, fariseu, também membro do conselho. João, em seu relato, foi cuidadoso em identificar o Nicodemos que ajudou no enterro de Jesus com o mesmo Nicodemos que antes veio a Jesus "de noite". Nicodemos, como José, tinha muitas qualidades excelentes. Ele tinha estado disposto a ouvir pessoalmente sem depender do que os outros diziam a seu respeito. Ele tinha reconhecido a legitimidade do ensino e do poder de Jesus:
 
"Sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus" João 3:2.
 
Certa vez ele tinha questionado o conselho sobre a indisposição de ouvir Jesus com justiça:
 
E os servidores foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus; e eles lhes perguntaram: Por que não o trouxestes?
 Responderam os servidores: Nunca homem algum falou assim como este homem.
 Responderam-lhes, pois, os fariseus: Também vós fostes enganados?
 Creu nele porventura algum dos principais ou dos fariseus?
 Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.
 Nicodemos, que era um deles (o que de noite fora ter com Jesus), disse-lhes:
 Porventura condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz?
 Responderam eles, e disseram-lhe: És tu também da Galiléia? Examina, e verás que da Galiléia nenhum profeta surgiu.
João 7:45-52
 
Nicodemos, na morte de Cristo, corajosamente uniu-se a José de Arimatéia no enterro de Jesus, fornecendo o unguento para o corpo de Jesus.
 
Sei que a Palavra de Deus é a verdade na qual devemos nos basear. E é com base nela que me coloco a pensar em textos como o “Cavalo de Troia” escrito po J J Benitez, que nos coloca diante do seguinte pensamento: Jesus e seus apóstolos tinham gente infiltrados no Sinédrio. José de Arimatéia e Nicodemos eram pessoas que acreditavam nos ensinamentos de Jesus. Acredito que estes homens colaboraram muito com Jesus.  A Palavra não explicita isso, mas creio que tanto José de Arimatéia quanto Nicodemos assumiram para si a responsabilidade de estarem em um ambiente corrompido sem se corromper, de forma a ajudar Jesus, seja passando informações importantes para os discípulos de Jesus, seja cooperando com Jesus de alguma outra maneira benigna. Creio que eles, apesar da Palavra não relatar isso explicitamente, confessaram sua fé em Cristo. Em caso negativo, a coragem deles nessa situação não seria suficiente para uma salvação eterna. No mínimo podemos assumir uma gratidão a esses dois homens por terem prestado um maravilhoso serviço ao nosso Senhor, quando mais ninguém estava disposto a fazê-lo. Um comentário como este não é depor contra os apóstolos, longe disso. A coragem, a fé, a lealdade e a dedicação dos apóstolos já tinham superado diversas provas. Mas o fato é que José de Arimatéia e Nicodemos foram aqueles que deram um passo à frente no momento em que os apóstolos falharam. Eles são inspiração para nós. Os atos deles falam de coragem nas mais difíceis circunstâncias, de ficar de pé e ser útil no momento em que todos estão fraquejando, de mostrar admiração por outra pessoa bem no momento em que ela mais precisa de nós.
 
Será que somos capazes de agir assim? Será que somos capazes de lidar com a corrupção sem nos corromper? Afinal de contas o mundo em que vivemos é corrupto e o Deus que servimos é Santo? O mundo em que vivemos pode ser o nosso Sinédrio? Será que conseguimos agir como José de Arimatéia e Nicodemos? Como podemos cooperar com Jesus em um cenário corrupto como este?

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