O livro de Genesis, em seu Capítulo 3, relata como a
humanidade decidiu se desligar de Deus e, por consequência disso, caiu em
condição de morte. O pecado, aliás não só o pecado, mas também a morte, entrou
na humanidade através de Adão e Eva, que achavam que poderiam viver sem estar
conectados à Deus. Desejaram ser deus de si mesmos e fizeram isso ao optarem
por desobedecer a Deus e comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do
mal. Mal eles sabiam que não existe vida sem Deus. A Palavra de Deus nos revela
que Deus, mesmo recebendo do homem uma cusparada na face, optou por nos amar e
traçar um plano de reconciliação. Ao lermos as Escrituras Sagradas é possível
perceber que a obra destrutiva de Adão não é maior do que a obra redentora de
Jesus Cristo. Interessante ver que em toda a história da humanidade, tudo o que
o homem fez foi em “Adão” e tudo o que Deus fez foi em Jesus Cristo de Nazaré. Neste
contexto, é possível perceber que havia um abismo entre Adão e Jesus. Este
abismo, que de certa forma representa a morte, entretanto recebeu uma ponte.
Sim, uma ponte que parte do lugar onde está Adão, passa por cima do abismo e
chega do outro lado onde está Jesus. Esta ponte é a cruz!
Na cruz Jesus entregou Sua vida sem reservas. Se doou por
inteiro, em plenitude. Entretanto, em Jesus não havia mácula alguma. Sua alma
era incorruptível. Nele não havia pecado. Nele não havia maldade. Sendo assim
Ele não poderia receber a morte como salário. Pois se o salário do pecado é a
morte e tendo Jesus vivido uma vida em plena santidade, sua morte foi estornada.
Em outras palavras: Ele Ressuscitou! Neste ato Jesus matou a morte. Ou seja, a
morte da morte aconteceu na morte de Jesus de Nazaré. Jesus jogou uma pá de cal
sobre a morte! Sempre vi a morte como um aspirador de pó gigantesco. Isso por
que nós somos pó. E a morte vai aspirando nosso ser aos poucos. Jesus, ao se
entregar no Calvário, puxou o fio deste aspirador de pó da tomada. Desligou
ele! Inativou a morte. Retirou dela todo e qualquer poder. Como se diz no sumô,
Jesus aplicou sobre a morte o Kimaritê (golpe decisivo).
O que muita gente não entende é que este ato de entrega por
parte de Jesus foi voluntário. Isso não tem nada a ver com méritos e muito
menos a ver com quem o homem é. Por outro lado, isso tem tudo a ver com quem
Deus é. Costumamos dizer: “ – Jesus morreu por nós!”. Sim isso é uma verdade.
Mas acho muita soberba do homem se colocar no centro das coisas. Antes de
morrer por nós Jesus morreu primeiro pelo Pai. Depois sim por nós!
Infelizmente muita gente tem complicado nos púlpitos das
igrejas o evangelho de Jesus. Querem pregar um “Evangelho Requintado” e esquecem
de pregar o “Evangelho do Arroz Feijão”...o Evangelho Simples, o Evangelho da
Graça. Jesus é o próprio Deus encarnado que veio se reconciliar com o homem e
fez isso sem levar em consideração quem nós somos, isso é Graça e ponto final.
A salvação é o propósito que cada um de nós tem que assumir voluntariamente de
deixar o velho homem para trás e nos entregarmos em plenitude no objetivo de
nos transformarmos em gente como Jesus Cristo era gente! Isso implica em
compromisso com os valores do Reino do Pai. Implica em compromisso em viver uma
vida em submissão ao Pai. Uma vida que crucifica o nosso próprio ego humano
constantemente. Somos vocacionados para sermos morada do Espírito Santo, sendo
assim é necessário a transformação do nosso ser, para que o nós venhamos a ser
purificados pelo próprio Espírito Santo para que Ele faça de nós Sua morada. A
consequência disso: a gente se torna veículos da graça de Deus. Passa a
transformar a pessoa que está diante de nós, com todas as suas necessidades, em
nosso próximo.
Como Renato Russo cantou, a humanidade é desumana.
Engraçado, Deus é extremamente humanista. Deus se importa muito com o ser
humano. Por isso é muito triste ver gente projetando em Deus a maldade humana.
Gente medíocre que não entende a graça de Deus. Por isso o Pai nos convida a
ser gente como Jesus. Por que gente como Jesus não abandona um recém-nascido em
uma caçamba de entulho, não vende drogas em porta de escolas, não explode
caixas eletrônicos, não passa por mendigos com um olhar indiferente, não abusa
de inocentes, não deixa gente agonizando de dor em corredores dos hospitais,
não pisa no galho que já está machucado. Jesus é o posto da maldade humana!
Jesus é o primeiro de muitos “Jesuses” que o Pai quer ter como filhos. Este é o
reino que o Pai inaugurou em Cristo e propõe a todos nós: um reino onde o ser
humano é tratado com amor. Isso significa que você, eu, todos nós não somos a
plenitude na qual fomos projetados para ser. Jesus sim é um ser humano de
verdade, a plenitude da concretização do projeto “ser humano” que um dia o
Criador sonhou. Somos predestinados a ser como Jesus. Ele é o nosso destino.
Ele é o Paraíso!
Sendo assim é importante repensarmos que a nossa
peregrinação não tem como objetivo se ocupar com as circunstâncias da vida e
nem com o nosso destino eterno, mas sim em identificarmo-nos como miseráveis
homens que somos e buscarmos a transformação necessária para sermos iguais a
Cristo. Não podemos tudo, isto é fato. Mas é evidente que podemos muito. O
poder da morte nos puxa para baixo mas o poder da ressurreição de Deus nos puxa
para cima. O amor é mais forte que a morte! Deus já age em nós, hoje, agora,
neste exato momento. Ele nos convida a viver acima da mediocridade humana. Ele
nos convida a uma vida com valores eternos.
Já parou para pensar nisso: Deus não nos chamou para o céu. Deus
nos chamou para sermos iguais a Jesus. Sendo assim, é importante responder para
si mesmo: “ - Que tipo de ser humano eu sou, uma vez que entendi o sacrifício
de Jesus na cruz? Que tipo de ser humano eu sou, creio no evangelho da graça?
Que tipo de homem sou, uma vez que busco me encarar no espelho e vejo o quanto
preciso me tornar igual ao Cristo? Quão parecido sou ainda com o velho Adão e
quão parecido tenho me tornado a Jesus de Nazaré?”
Estas questões só podem ser respondidas de forma verdadeiras
se tivermos a consciência de que esta transformação está nas mãos do Espírito
Santo, pois só Ele é capaz de agir em nós para nos tornar parecido com Cristo.
Afinal de contas não é o Espírito Santo que nos convence de nossos pecados?
Sendo assim, o Espírito Santo ao invés de manipular nosso ser, interage com
nossa consciência e nosso coração.
Nós clamamos a Deus para que transforme nosso casamento, para
que traga para casa nosso filho que está envolvido com drogas, nosso pai
alcoólatra, para que mude nosso emprego e tantas outras coisas. Talvez
falta-nos entender que para transformar o nosso casamento Deus precise
transformar primeiramente a nós. Que para trazer o filho drogado ou o pai
alcoólatra para casa, Ele precise primeiramente nos transformar. Que para
transformar o nosso emprego ou tantas outras coisas, Ele precise nos
transformar. Pois enquanto o velho Adão estiver presente, e Jesus ficar em
segundo plano, as coisas seguirão em desordem.
Deus é misericordioso. Escolheu nos amar. Escolheu
reconciliar-se. De fato podemos clamar para que Ele não nos trate segundo
nossos pecados mas sim segundo a sua graça. Aliás como carecemos disso! Mas é
preciso assumir o compromisso de dar uma resposta à Deus ao sacrifício de Jesus
na cruz do calvário. Dizer com o modo de viver: “ - Jesus, não foi em vão, valeu
a pena!”. Deus fez a parte Dele, já aplicou um Kimaritê sobre a morte. Ele nos
convida a participar deste Seu ato, a usufruir deste Seu ato, que diga-se de
passagem foi infinitamente dolorido para Ele. Imensurável! Qual é a nossa
resposta?
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