quinta-feira, 27 de março de 2014

"REZAR OU ORAR?" EIS A QUESTÃO!

Muita gente se questiona a respeito da diferença entre “rezar” e “orar”. Quando me converti de católico para evangélico, esse assunto me perturbou muito. Logo do início, percebi nitidamente que no mundo religioso, “rezar” era coisa de católico, enquanto “orar” era coisa de evangélico. Em outras palavras, pastor iniciar um culto puxando um “Pai Nosso” era, de certa forma, algo incomodo para os próprios evangélicos. Que diria então ver um evangélico rezando um terço!? Absurdo! Hehe...
 
Mas enfim, existe uma diferença entre “rezar” e “orar”?
 
Sempre me disseram que “rezar” era repetir para Deus algo previamente decorado, reproduzir para Deus o discurso pré-fabricado, falar para Ele algo que alguém já disse. Em contra partida, sempre me disseram que “orar” era falar com Deus usando suas próprias palavras, falar para Deus aquilo que o coração sente. Com o passar do tempo percebi que muitos evangélicos colaram um gigantesco adesivo escrito “pecado” no ato de “rezar”. Explicitamente falando, estas pessoas afirmavam: “ - Orar é o certo, rezar é errado!”.
 
Diante disso tudo uma confusão se formou em minha mente. Afinal de contas, eu vim de um berço católico e até então em minha mente “rezar” era falar com Deus e de repente o ato “rezar” acabava de receber um rótulo de ser “errado”. Me lembro que, logo no início da minha conversão, falei com alguém que tinha “rezado” para expor a Deus um determinado sentimento e uns irmãos engoliram a seco, com um “asco” expresso no olhar, fungando com um ar de incomodo, justamente por eu ter usado a palavra “rezar” ao invés de “orar”. Pensei: “ - Que será que falei de errado?”.
 
Pior então foi ir no primeiro velório da família após minha conversão. O padre começou a rezar o “Pai Nosso”, todos começaram a acompanhar e o impasse veio na mente: “ - e ai...acompanho ou não?”. Depois pensei: “ – Como a religião nos escraviza com cada coisa absurda!”.
 
Vi até o modelo híbrido “Rezoração”, onde a oração e a reza andavam de mãos dadas, sem que a pessoa que estava falando percebesse:
 
“ – Senhor, assim como Jabez orou em Primeira Crônicas Capítulo 4, Versículos de 9 a 10 dizendo ‘Oh! Tomara que me abençoes e me alargues as fronteiras, que seja comigo a tua mão e me preserves do mal, de modo que não me sobrevenha aflição!’ clamo a Ti, Senhor para que faça o mesmo com a nossa comunidade!”.
 
Entende, que não há nada de errado na intensão da oração, mas que supostamente existe uma reza dentro da oração!?
 
Quando comecei a pensar mais sobre o assunto e refletir de forma mais profunda para identificar a diferença entre “orar” e “rezar”, passei a perceber algumas coisas absurdas dentro da igreja. Por exemplo, se realmente “rezar” consiste no ato de se repetir para Deus as palavras ditas por alguém, e se realmente fazer isso  é errado, então toda vez que repetimos a oração do Pai Nosso, consequentemente estamos rezando o “Pai Nosso” e sendo assim, estamos errando.  E o que dizer então da oração em que o Pastor encerra o culto? Não é sempre a mesma coisa? Não seria uma reza?
 
Particularmente acho sim que a “reza” é o ato de repetir para Deus palavras que foram ditas por outra pessoa. Também acho que “oração” é o ato de conversar com Deus sem ter um script em mãos. Entretanto, dentro deste contexto, isso não quer dizer que um ato é pecado e o outro não. Muitos evangélicos acham que “rezar” é pecado. Sinceramente acho que estão equivocados. Isso por que o ato de conversar com Deus, seja procurando nas palavras de outras pessoas o modo mais apropriado para tentar expressar os sentimentos do próprio coração, ou seja utilizando as próprias palavras, não é o parâmetro que se deve levar em consideração para dizer se isso ou aquilo é pecado.
 
Seja o assunto “rezar” ou “orar”, independente de qual seja, temos de ter o cuidado de alinhar o coração com o conteúdo das palavras que iremos apresentar à Deus. É necessário avaliar o conteúdo daquilo que estamos levando para Deus. Pegar as palavras de outras pessoas ou usar as próprias palavras, não fará diferença alguma se as mesmas estiverem alinhadas a um coração sincero.
 
Já ouvi por ai muita gente alegando que cristãos transformam a famosa oração que Jesus nos ensinou, o “Pai Nosso”, em reza. Mas será que o Jesus não ensinou a todos a rezar o “Pai Nosso” para que o conteúdo de Suas palavras fossem transformado em oração? Posso estar equivocado, mas sinto que o caminho entre “rezar” e “orar” aqui parece levar ao mesmo destino.
 
Talvez entenderíamos melhor tudo isso se enxergássemos que no processo de se recitar, repetir, as palavras de Jesus, há um contexto por trás de cada palavra. Sim, aqui está o “pulo do gato”. Aqui está o parâmetro para se saber se enquanto repetimos as palavras de Jesus, estamos ou não comprometidos como o que estamos dizendo. Jesus tinha um entendimento próprio para cada uma das palavras que Ele proferiu na oração do “Pai Nosso”.
 
Já parou para pensar nisso? Já parou para pensar no quanto a oração do “Pai Nosso” possui um conteúdo que só gente ousada, comprometida com Deus é capaz de proferi-la de coração?
 
“Vocês, orem assim: ‘Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome.
Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.
Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia.
Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.
E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém’.”
Mateus 6:9-13
 
Se pegarmos cada fatia dela e analisarmos uma a uma, veremos que não é qualquer tipo de gente que a consegue viver o que está sendo dito ali. Reconhecer Deus como Pai...se ver como igual a todos os demais humanos...tendo consciência de que Deus é um ser que está em uma dimensão de santidade, poder e estado de ser inigualável, incomparável...clamar pelos valores de vida eterna do Pai e Sua vontade, com a consciência de que somos participantes neste processo, pois o Pai é um Deus que inclui o homem na história da redenção...confiar que a cada dia Deus provê o Pão da Vida...se comprometer a viver uma vida onde o perdão é visto como ato primário em todas as ações e dentro deste contexto ter o compromisso de perdoar a todos como Deus nos perdoa, a ponto de dizer a Deus para que nos trate como nós tratamos nosso próximo...clamando por integridade para que o mal não faça morada em nós, para que o Espírito Santo sim habite em nós....e restituir à Deus a Glória que lhe é devida....não é uma oração que todos conseguem fazer com uma consciência fixada no valor de cada palavra que esta sendo dita. Todos deveriam viver esta oração. Todos deveriam aprender a rezar esta oração olhando para o próprio coração. Repetir as palavras de Jesus por repetir, falar por falar, sem ter uma conexão com o coração, isso sim é pecado. É tratar com desdém os valores do Reino. Agora repetir cada palavra, rezando, e refletindo trecho a trecho, com o compromisso de viver em realidade tudo aquilo que se está dizendo é bem diferente. Por isso creio que o ato de rezar não é pecado.
 
É óbvio que, ainda que não saibamos plenamente como uma oração ou reza deve ser feita. Mas também é óbvio que o Pai Nosso nos ensina muito.
 
Muita gente acha que sabe orar. Muita gente acha que detém em mãos um script perfeito para se apresentar diante de Deus. O fato é que, humildes são aqueles que reconhecem a sua pequenez, finitude...felizes são aqueles que por muitas vezes não encontrarem palavras para se expressarem diante do Pai, buscam nas orações de irmãos as palavras para se expressarem, e fazem isso com um coração sincero. Ao repetirem as mesmas palavras, estão rezando, estão orando com as palavras dos outros, mas estão em contato com Deus.
 
Usar as palavras dos outros, ou usar as próprias palavras, não é o que importa. O que realmente importa é que ao conversar com Deus devemos ser responsáveis com o conteúdo do nosso coração e palavras, afinal de contas a boca fala do que o coração está cheio. Devemos alinhar o próprio coração com aquilo que estamos falando. Devemos analisar o conteúdo daquilo que estamos sentindo e falando.
 
Rezar, orar, tem uma finalidade: Conversar com Deus. Sendo assim a oração ou reza é muito mais um lugar onde vamos do que simplesmente o ato de falar. Todas as vezes que oramos, rezamos...vamos até a presença de Deus. Ora, mas Deus é Onipresente, Onisciente, Ele está em tudo quanto é lugar e tudo vê, tu sabe, então como isso funciona? Ai entra o entendimento que muitos poucos têm. Quando oramos, rezamos, vamos a um lugar, mas este ato de “ir a um lugar” é muito mais um deslocamento de consciência do que um deslocamento físico. É o ato de deslocar a própria consciência diante de Deus. Isso só é possível através do Sangue de Jesus, afinal de contas foi o Seu sacrifício no Calvário que rasgou o véu do templo e abriu caminho para todos os corações adorarem à Deus em Espírito e em Verdade. A partir daí começamos entender muitas outras coisas. Percebemos que jamais podemos ir na presença de Deus sem levar juntamente conosco os nossos irmãos (por isso é Pai Nosso). Afinal de contas, assim como Deus pergunta para Caim, ” - Onde está seu irmão?”, Deus também pergunta para nós onde está nossos irmãos (e ainda hoje há muitos Caims por ai respondendo: “ – sou eu responsável por meu irmão?”). Percebemos que toda e qualquer oração ou reza, tem uma única finalidade: Glorificar o Nome de Deus! Por isso, ao invés de pedirmos para Deus para que um filho largue das drogas, devemos pedir para que Deus glorifique o Seu Nome na vida deste filho. Por isso, que ao invés de pedirmos para Deus para que faça com que o Marido pare de bater na Esposa, devemos pedir para que Deus glorifique Seu Nome na vida deste marido. Pois Deus Glorifica o Seu Próprio Nome concertando tudo. Quando Deus Santifica o Seu Próprio Nome, Ele é Glorificado.
 
O Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis.  Faz isso constantemente. Sendo assim, toda oração, seja a mais medíocre, infantil, ridícula...é traduzida pelo Espírito Santo antes de chegar ao Pai. Isso não quer dizer que não tenhamos que ter responsabilidade com o conteúdo de nossas conversas com Deus. Mas isso ajuda muito. Quando nos falta palavras para nos expressar, o Espírito Santo traduz o nosso silêncio. Ele trata as falhas das nossas palavras.
 
Gosto muito de uma maneira que Jung Mo Sung exemplificou a oração: Imagine uma sala abafada, você está dentro dela suando, com um cansaço muito grande, esgotado, fadigado. Então você abre a janela e uma brisa adentra o ambiente e te abraça, renovando tudo. Então você pensa: “ - Ufa!”...Esta brisa que te envolve é a oração.
 
A oração traz alívio. Renova a alma. É claro que de tão ansiosos que somos, muitas vezes queremos apenas vomitar palavras para Deus e nem damos tempo para Ele falar. Quantos de nós não fazemos durante nosso dia a dia uma oração expressa: “ – Ai vai um telegrama expresso Senhor! Cuida da minha mãe!”. Também é verdade que muitas vezes a resposta é simplesmente não ter resposta. Também é verdade que muita gente acha que oração é um artifício para “mover a Mão de Deus”, como se ela estivesse engessada! Gente que acha que Deus está de braços cruzados (como dá vontade de dar um chacoalhão nestas pessoas e dizer: “ - Deus faz muito, trabalha o tempo todo...para com esta petulância de achar que Deus trata a criação com desdém!”).
 
Talvez se enxergássemos Jesus como um Deus comprometido com Sua Criação e não como um Gênio da Lâmpada, um Papai Noel (não como um ídolo), acredito que o conteúdo de nossas orações, rezas mudariam. Que tal se tratássemos a oração como uma conversa com Deus na qual nós alinhamos com Ele tudo aquilo que iremos fazer juntos para ajudar na implantação do Reino do Dele?
 
É difícil imaginar uma vida de oração onde a caminhada do cristão não seja simplesmente agradecer e glorificar. Passo esquerdo: Muito Obrigado. Passo direito: Glorificado Seja o Vosso Nome!... Passo esquerdo: Muito Obrigado. Passo direito: Glorificado Seja o Vosso Nome!...e assim por diante...até que no final da caminhada você perceberá que no tempo todo o processo de agradecer e glorificar o Nome de Deus lhe fez ficar cada vez mais parecido com Jesus. O problema é que neste processo queremos incluir um passinho diferente (uma viagem para a Disney, um carro novo...etc).
 
É reconheço que dei uma grande volta sobre o assunto...hehe
 
Concluo aqui com 2 comentários. Primeiramente gostaria de compartilhar um famoso fato na vida de Madre Teresa de Calcutá. Conta-se que uma pessoa lhe perguntou o que ela dizia para Deus em suas orações. Ela respondeu: “ – Nada, eu apenas escuto!”. Então a mesma pessoa insistiu lhe perguntando: “ – E Deus, o que Ele lhe diz?”. E ela respondeu: “ – Nada, Ele apenas escuta!”.
 
Isso nos ensina muito! Rezar ou orar, não é o que importa. O que realmente importa é o coração. Como conversamos com Deus, o nosso coração é apresentado de que maneira? O coração fala muito!
 
Por fim compartilho a linda oração de São Francisco, conhecida como “Oração da Paz”. Para os evangélicos religiosos de plantão que acham que “rezar” é errado, penso que o conteúdo desta “reza” vai muito mais de encontro com os valores de Jesus do que muitas orações que estão sendo “oradas” nas igrejas:
 
“Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!
 
Ó Mestre, fazei que eu procure mais: consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna! Amém.”
 
Este é o tipo de oração de gente que entende que a resposta de Deus para o sofrimento humano é a igreja (não instituição, mas sim o corpo místico de Jesus).
 
Rezar ou orar...faça como você achar melhor...poder conversar com Deus é uma dádiva indescritível...quantos de nós negligenciamos esta dádiva?! Quantos de nós não estamos nem ai para isso?...Converse com o Pai, da maneira que você consiga expor a Ele seu coração, sem se preocupar se será através de suas próprias palavras ou através de palavras de outras pessoas...busque simplesmente o comprometimento e responsabilidade de fazer isso em espírito e em verdade!
 
Que o Senhor tenha misericórdia de nós!

4 comentários:

  1. orar significa falar, dizer.
    rezar significa recitar, declamar, falar em voz alta.

    ResponderExcluir
  2. Você ainda possue esse blog? Será que você poderia me responder pelos comentários?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nao alimento mais o blog mas monitora os posts

      Excluir