terça-feira, 18 de março de 2014

BISCOITOS DE BARRO

 
 
Recentemente assisti uma matéria na TV falando sobre pessoas (a maioria crianças) no Haiti que por não terem o que comer, fazem biscoitos de barros para matar a fome. No último domingo, coincidência ou não, a pregação na celebração foi feita por um pastor missionário no Haiti. Ele relatou que em 7 viagens missionárias já viu de tudo, inclusive o fato mostrado na matéria da TV. No conteúdo da pregação ele também contou um dos testemunhos que particularmente creio ser um dos relatos (que ouvi) que mais tenha demonstrado o nível absurdo da miserabilidade do ser humano. Contou ele que no Haiti havia um hospital onde os voluntários auxiliavam na distribuição de alimentos, remédios e no atendimento de pessoas. Como todos sabem o HIV no Haiti é uma peste avassaladora. Segundo o seu relato, pessoas estavam invadindo o hospital para usar seringas contaminadas com HIV para injetar em seus próprios corpos. Inclusive mães injetando HIV em seus filhos. Isso por que pessoas com HIV tinham a garantia de prioridade na distribuição dos alimentos. A lógica é, a fome é mais insuportável que o HIV. Sendo assim, pessoas optavam por se contaminarem para poderem ter uma porção de alimento.
 
Diante de tais relatos, creio que vale à pena nos perguntarmos: Quais são os nossos valores?
 
Enquanto estamos preocupados em carregar a bateria do nosso IPhone, comprar uma calça nova na Zara, beber com os amigos no Happy Hour, trocar de carro, postar foto no Instagram e ver se nosso post do Facebook recebeu um “curtir”, pessoas vivem do outro lado do mundo uma realidade totalmente diferente da nossa realidade medíocre.
 
Em sua pregação, o Pastor Marcos Grava contou uma lenda de que quando, à beira da morte, Alexandre convocou os seus generais e relatou seus 3 últimos desejos:
 
1. Que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos melhores médicos da época;
2. Que fosse espalhado no caminho até seu túmulo os seus tesouros conquistados (prata, ouro, pedras preciosas...);
3. Que suas duas mãos fossem deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos.
 
Um dos seus generais, admirado com esses desejos insólitos, perguntou a Alexandre quais as razões. Alexandre então explicou:
 
1. Quero que os mais iminentes médicos carreguem meu caixão para mostrar que eles não têm poder de cura perante a morte;
2. Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros para que as pessoas possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem;
3. Quero que minhas mãos balancem ao vento para que as pessoas possam ver que de mãos vazias viemos.
 
 
Verdade ou não, este fato nos ensina muito sobre a vida. Enquanto pessoas sofrem com a miséria do universo, nós estamos preocupados com coisas vãs. A morte foi vencida por Jesus na Cruz, mas ainda é inimiga do homem. Temos que lutar contra a morte. Não tão somente contra a nossa morte. Mas contra a morte silenciosa e cruel que pessoas que vivem uma realidade bem mais miserável que a nossa enfrentam dia após dia.
 
Imagino que Jesus Cristo tenha levado muitas coisas na Cruz. Creio que Ele levou na cruz os biscoitos de barros e as seringas contaminadas com HIV do Haiti, o gás que matou milhões de judeus durante o nazismo, o orgasmo de tantos pedófilos e estupradores, tantas outras aberrações humanas. Mas creio que ele também tenha levado na cruz o meu sono tranquilo diante da miséria de tantas outras pessoas, o meu celular de última geração da Apple que custava nada mais nada menos do que 1000...2000...3000...imensuráveis biscoitos de barros a menos no estômagos de crianças no Haiti.
 
Você pode achar que eu esteja exagerando. Você pode pensar que é justamente no sofrimento humano que ancora-se o pensamento de que Deus não exista. Mas a igreja de Jesus, a verdadeira igreja, comprometida com os valores do Reino de Deus, sabe que Deus existe sim e Ele tem uma resposta para o sofrimento humano. Esta resposta é você, eu...todos aqueles que ouvem o Seu chamado e assumem a responsabilidade de se disponibilizar-se como veículos da graça de Deus.
 
Que Deus tenha misericórdia de cada biscoito de barro que cada um de nós permitimos que aquelas pessoas mastiguem para matar a fome.

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