Recentemente assisti uma matéria na TV falando sobre pessoas
(a maioria crianças) no Haiti que por não terem o que comer, fazem biscoitos de
barros para matar a fome. No último domingo, coincidência ou não, a pregação na
celebração foi feita por um pastor missionário no Haiti. Ele relatou que em 7
viagens missionárias já viu de tudo, inclusive o fato mostrado na matéria da
TV. No conteúdo da pregação ele também contou um dos testemunhos que
particularmente creio ser um dos relatos (que ouvi) que mais tenha demonstrado
o nível absurdo da miserabilidade do ser humano. Contou ele que no Haiti havia
um hospital onde os voluntários auxiliavam na distribuição de alimentos, remédios
e no atendimento de pessoas. Como todos sabem o HIV no Haiti é uma peste
avassaladora. Segundo o seu relato, pessoas estavam invadindo o hospital para
usar seringas contaminadas com HIV para injetar em seus próprios corpos. Inclusive
mães injetando HIV em seus filhos. Isso por que pessoas com HIV tinham a
garantia de prioridade na distribuição dos alimentos. A lógica é, a fome é mais
insuportável que o HIV. Sendo assim, pessoas optavam por se contaminarem para
poderem ter uma porção de alimento.
Diante de tais relatos, creio que vale à pena nos
perguntarmos: Quais são os nossos valores?
Enquanto estamos preocupados em carregar a bateria do nosso
IPhone, comprar uma calça nova na Zara, beber com os amigos no Happy Hour,
trocar de carro, postar foto no Instagram e ver se nosso post do Facebook
recebeu um “curtir”, pessoas vivem do outro lado do mundo uma realidade
totalmente diferente da nossa realidade medíocre.
Em sua pregação, o Pastor Marcos Grava contou uma lenda de
que quando, à beira da morte, Alexandre convocou os seus generais e relatou
seus 3 últimos desejos:
1. Que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos melhores
médicos da época;
2. Que fosse espalhado no caminho até seu túmulo os seus
tesouros conquistados (prata, ouro, pedras preciosas...);
3. Que suas duas mãos fossem deixadas balançando no ar, fora
do caixão, à vista de todos.
Um dos seus generais, admirado com esses desejos insólitos,
perguntou a Alexandre quais as razões. Alexandre então explicou:
1. Quero que os mais iminentes médicos carreguem meu caixão
para mostrar que eles não têm poder de cura perante a morte;
2. Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros para
que as pessoas possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui
permanecem;
3. Quero que minhas mãos balancem ao vento para que as
pessoas possam ver que de mãos vazias viemos.
Verdade ou não, este fato nos ensina muito sobre a vida.
Enquanto pessoas sofrem com a miséria do universo, nós estamos preocupados com
coisas vãs. A morte foi vencida por Jesus na Cruz, mas ainda é inimiga do
homem. Temos que lutar contra a morte. Não tão somente contra a nossa morte. Mas
contra a morte silenciosa e cruel que pessoas que vivem uma realidade bem mais
miserável que a nossa enfrentam dia após dia.
Imagino que Jesus Cristo tenha levado muitas coisas na Cruz.
Creio que Ele levou na cruz os biscoitos de barros e as seringas contaminadas
com HIV do Haiti, o gás que matou milhões de judeus durante o nazismo, o
orgasmo de tantos pedófilos e estupradores, tantas outras aberrações humanas.
Mas creio que ele também tenha levado na cruz o meu sono tranquilo diante da
miséria de tantas outras pessoas, o meu celular de última geração da Apple que
custava nada mais nada menos do que 1000...2000...3000...imensuráveis biscoitos
de barros a menos no estômagos de crianças no Haiti.
Você pode achar que eu esteja exagerando. Você pode pensar
que é justamente no sofrimento humano que ancora-se o pensamento de que Deus não
exista. Mas a igreja de Jesus, a verdadeira igreja, comprometida com os valores
do Reino de Deus, sabe que Deus existe sim e Ele tem uma resposta para o
sofrimento humano. Esta resposta é você, eu...todos aqueles que ouvem o Seu
chamado e assumem a responsabilidade de se disponibilizar-se como veículos da
graça de Deus.
Que Deus tenha misericórdia de cada biscoito de barro que
cada um de nós permitimos que aquelas pessoas mastiguem para matar a fome.
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