segunda-feira, 26 de maio de 2014

O LIVRO DE CONTABILIDADE DE DEUS

Rubem Alves certa vez revisitou a famosa parábola do Filho Pródigo (ou, mais corretamente, do Pai Misericordioso) da seguinte maneira:

"Era uma vez um pai que tinha dois filhos. Um deles, o mais velho, era o filho que todo pai gostaria de ter: trabalhador, responsável, cumpridor dos deveres. O mais jovem era o filho que nenhum pai gostaria de ter: malandro, gastador, irresponsável. Cansado da monotonia da vida na casa de seu pai, pediu a parte da herança que lhe pertencia e se mandou para o mundo, caindo na farra, gastando tudo. O dinheiro acabou, a fome chegou. Teve de trabalhar para comer. O único emprego que arranjou foi o de guardadror de porcos. Aí se lembrou da casa paterna e ficou com saudades. E pensou que lá os empregados passavam melhor que ele. Imaginou que seu pai bem que podia contratá-lo como um dos seus empregados, já que não merecia voltar como filho. Voltou. O pai o viu de longe. Saiu correndo ao seu encontro e o abraçou. Antes que o pai falasse qualquer coisa, ele disse: 'Pai, peguei dinheiro adiantado e gastei tudo. eu sou devedor. Tu és credor'. Mas o pai lhe respondeu: 'Meu filho, eu não somo débitos...'. Ato contínuo, ordenou uma grande festa com música e churrasco. O irmão mais velho estava no campo trabalhando. Ao voltar para casa, ouviu a música, viu o rebuliço. Como estava todo sujo, não quis entrar. Chamou um dos empregados e perguntou: 'O que é que está acontecendo?' O empregado respondeu: 'O teu irmão voltou. A festa é por causa dele!'. Ele ficou muito bravo e se recusou a entrar. O pai foi ao seu encontro e foi isso que seu filho lhe disse: 'Pai, trabalhei duro, nunca recebi meus salários, não recebi minhas férias e jamais me destes um cabrito para alegrar-me com meus amigos'. O pai sorriu e lhe disse: 'Meu filho, eu não somo créditos..."

Após revisitar a parábola, Rubem Alves arrematou:

"Há pessoas que pensam que Deus se parece com um banqueiro que tem um livro de contabilidade onde registra os débitos e os créditos dos homens para acertos futuros. Os débitos, chamados pecados, serão punidos. E os créditos, chamados virtudes, serão recompensados. Mas Deus não se parece com os banqueiros. Ele não tem um livro de contabilidade. Deus não tem memória: não pune pecados, nem recompensa virtudes. É como um regato de águas cristalinas. Não importa que joguemos nele os nossos detritos. Ele continua a jorrar águas cristalinas...". 

Através desta parábola é possível ver como o caráter de Deus é Santo e se alicerça no amor e na graça. A transparência do Pai que lida com os filhos sem computar pontos positivos ou negativos nos remete a um Pai que ama incondicionalmente. A imagem de um Deus que fica computando em uma caderneta as nossas virtudes e  nossos fracassos nos remete a um Deus muito mais semelhante a Adão do que a Jesus. Um Deus que é digno de medo e não de temor. Um Deus com um chicote na mão esquerda, pronto para punir, e com a mão direita cheia bençãos, pronto para dar um galardão a todos aqueles que se consideram dignos. O fato é que somos carentes da Graça do Pai, pois não há nenhum sequer que seja digno de nada a não ser do inferno. Somos pecadores, carentes da Graça de Deus. Por isso glorificamos ao Santo Nome do Pai, por Ele não nos tratar através da lógica dos nossos "méritos" e "deméritos". Glorificamos ao Santo Nome do Pai por Ele nos tratar com a lógica do amor! Se Deus tem um livro de contabilidade em Suas mãos, creia que Ele está em branco, alvo, como a neve, sem débitos e sem créditos...com os sulfites branquinhos...lavados pelo Sangue de Jesus!

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