Me lembro de uma ocasião onde um familiar estava, imaturamente, fazendo escolhas “erradas” e trilhando um caminho muito ruim. A família assistia a situação de “mãos atadas”, já sem nenhum meio de ajudar a pessoa. Todos os possíveis conselhos já haviam sido dados. E então ouvi um tio meu me dizer um pensamento: “ – Existem situações onde a pessoa precisa quebrar a cara para aprender, pois a pessoa está tão aficionada pelo que ela crer ser o melhor, que ela já não avalia a situação como um todo. Então nenhum conselho será ouvido”. De fato, o meu familiar, não ouviu nenhum conselho e se afundou em uma situação muito dolorosa.
Agora, será que esta é uma exclusividade deste meu querido ente? Creio que não. Creio que esse é um mau da natureza humana. Todos nós estamos sujeitos a passar por isso.
É a mãe falando para a filha: “ – Não se envolve com esse rapaz, ele é traficante”
É o pai falando para o filho: “ – Para de beber e pegar carro para dirigir”
É o marido falando para a esposa: “ – Não compartilhe a nossa intimidade no salão de cabelereiro”
É o amigo falando para o outro: “ – Não experimente maconha, é um caminho sem volta”
Cabeças duras! Corações duros! Pessoas que não abrem mão do seu ponto de vista, pois quere algo a qualquer custo. É quando o nosso ego fala tão alto que não conseguimos ouvir os conselhos das pessoas que nos amam. É quando o nosso ego alça voo dentro do nosso “eu” que não conseguimos enxergar a real situação ao nosso redor. Neste momento o nosso orgulho é inflamado e nos tornamos dispostos a “pagar o preço” seja qual ele for.
É por isso que muitos de nós, quando vamos pedir um conselho, já vamos com uma ideia “pré-fabricada” da solução do nosso problema e queremos que as pessoas concordem conosco. Que elas falem para nós, aquilo que queremos ouvir. Como se isso não bastasse, o problema também está presente em nossas orações, pois também fazemos isso com Deus. Oramos pedindo para Deus fazer o que queremos, e não confiamos em Sua vontade. Queremos falar, mas não queremos ouvir o que Deus tem para nos dizer.
Geralmente quando estas situações se estendem, o sujeito cai de si. As escamas caem dos olhos, e a pessoa começa a enxergar a real situação. O ouvido passa a ouvir a verdade. E muitas vezes a pessoa ouve estrondosos: “ – Bem que te avisei”, “ – Eu não disse”, “ – Falei que isso ia acontecer”, “ – Você não quis ouvir”. E então, por consequência, acaba entrando em cena a famosa frase “conhecer Deus pela dor”.
Mas enfim, indo um pouco mais além, creio que Jesus teve que lidar com muita gente “cabeça dura”, “coração duro”. Sim, nos evangelhos, é possível ver a dificuldade das pessoas aceitarem Jesus relativizando a lei e atestando a Sua Messianidade. Cristo se deparou com diversas pessoas onde o ego das mesmas falavam tão alto, que a Verdade proclamada por Jesus, Deus encarnado, não conseguia penetrar no coração desses seres humanos. Foi assim com os fariseus e mestres da lei. É assim ainda hoje com muitos homens.
Observe esta pequena história:
“Um dia, a Verdade decidiu visitar os homens, sem roupas e sem adornos, tão nua como seu próprio nome.
E todos que a viam lhe viravam as costas de vergonha ou de medo, e ninguém lhe dava as boas-vindas.
Assim, a Verdade percorria os confins da Terra, criticada, rejeitada e desprezada.
Uma tarde, muito desconsolada e triste, encontrou a Parábola, que passeava alegremente, trajando um belo vestido e muito elegante.
— Verdade, por que você está tão abatida? — perguntou a Parábola.
— Porque devo ser muito feia e antipática, já que os homens me evitam tanto! — respondeu a amargurada Parábola.
— Que disparate! — Sorriu a Parábola. — Não é por isso que os homens evitam você. Tome. Vista algumas das minhas roupas e veja o que acontece.
Então, a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola, e, de repente, por toda parte onde passava era bem-vinda e festejada."
E todos que a viam lhe viravam as costas de vergonha ou de medo, e ninguém lhe dava as boas-vindas.
Assim, a Verdade percorria os confins da Terra, criticada, rejeitada e desprezada.
Uma tarde, muito desconsolada e triste, encontrou a Parábola, que passeava alegremente, trajando um belo vestido e muito elegante.
— Verdade, por que você está tão abatida? — perguntou a Parábola.
— Porque devo ser muito feia e antipática, já que os homens me evitam tanto! — respondeu a amargurada Parábola.
— Que disparate! — Sorriu a Parábola. — Não é por isso que os homens evitam você. Tome. Vista algumas das minhas roupas e veja o que acontece.
Então, a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola, e, de repente, por toda parte onde passava era bem-vinda e festejada."
Os seres humanos não gostam de encarar a Verdade sem adornos. Eles preferem-na disfarçada.
É como se a verdade fosse um delicioso bolo de chocolate e como se o homem fosse uma criancinha mesquinha, que não quer consumir o bolo por que o mesmo não está com cobertura e nem chocolate granulado. É como se a cobertura e o chocolate granulado fosse a parábola.
Creio que esse tenha sido o motivo no qual Jesus tenha optado por falar tanto em parábolas. O homem não consegue digerir a verdade nua e crua. O homem considera as suas próprias verdades mais reais que a Verdade proclamada por Jesus. Somos cabeças duras. Temos corações duros como pedra. A nossa verdade teima em ser absoluta. Quando temos nossas verdades relativizadas, nos sentimos ameaçados. Desestabilizados. Então vem o medo. Afinal o homem não deseja sair da zona de conforto da sua própria verdade. Então, assim como a menina que insiste no relacionamento com o traficante está disposta a pagar o preço, e o filho que não ouve o conselho do pai e pega o carro alcoolizado também está disposto a pagar o preço, nós ignoramos a Verdade de Jesus e aceitamos pagar o preço. Só que esquecemos que o preço, neste sentido, é o inferno.
Enquanto muitos de nós desejam pagar o preço, custe o que custar, para satisfazer o nosso ego, mesmo que este preço seja matar o Filho do Deus Vivo. Jesus vem na contra mão, doando a Sua própria vida, pagando todo o preço, nos comprando com Seu próprio sangue (sangue santo, imaculado, sem pecados) para nos reconciliar com Deus. Enquanto pagamos o preço, custe o que custar, para satisfazer nosso ego, Jesus paga o preço mais alto, com Sua própria vida, para nos levar de volta para casa.
É preciso nos esvaziarmos de nossas verdades. Confiarmos em Deus. Jamais teremos uma verdade absoluta em mãos. De fato, Isaac Newton estava certo em dizer que, aquilo que nós sabemos é uma gota e aquilo que nós ignoramos é um oceano. Mas é preciso viver com responsabilidade sobre à luz da porção de Verdade que Deus nos tem revelado. Viver conscientes a nossa segurança não está simplesmente no fato de conhecermos à Deus, mas no fato de que Ele nos conhece.
Deixemos de ser cabeças duras. Deixemos de endurecer nossos corações. Façamos isso para que a verdade de Deus se manifeste em nós. Para que o Reino de Deus se mova em nós. Para que a vocação do ser humano, que é ser tabernáculo vivo do Senhor, se cumpra em plenitude.
Que Deus abençoe a todos nós.
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