Costumamos dizer que quando Deus age, ocorre o sobre natural.
Em outras palavras, acreditamos que nós, seres humanos, vivemos no “natural” e
Deus está “fora do natural”, e por isso quando Ele age, intervém no nosso
ambiente “natural”, Ele faz o “sobre natural”. Engraçado e de certa forma
arrogante e soberbo da nossa parte, seres humanos, pensarmos assim. Achamos que
a nossa natureza é o padrão correto no universo, que tudo fora disso é errado.
Já parou para pensar nisso? Que o padrão que está como “correto” em nossas
mentes é o nosso, a nossa natureza, e não a de Deus? Isso é fruto da nossa
queda, fruto do pecado que há em nós, da ilusão de acharmos que somos autossuficiente
e capazes de termos vida em nós mesmos, de achar que nos bancamos e que temos a
capacidade de julgar plenamente o que é certo e o que é errado.
Certa vez ouvi o Pastor Ariovaldo Ramos pregar que a vontade
de Deus é a norma de funcionalidade do universo e que qualquer coisa fora disso
é disfuncional. Concordo com ele. Tudo o que vemos e chamamos de natural, e de
fato é natural para nós, não é o que deveria ser em plenitude. A “queda”
descrita no capítulo 3 de Gênesis não afetou só o ser humano, mas toda a
criação. O grito de independência do homem com relação à Deus colocou toda a
criação em queda. É nesta realidade da queda que nós, seres humanos e toda a
criação se encontra atualmente. A realidade da queda é a realidade na qual
chamamos de “Natural”. Quando Deus vestiu-se de pele e osso em Jesus Cristo e
veio habitar no meio de nós, Ele operou milagres, fez o que chamamos de sobre natural.
Mas ai é que entra o ponto crucial da coisa: Jesus operou aqui, diante dos
nossos olhos aquilo que para Ele e para Deus é natural. Ações como as que Deus
manifestou no antigo testamento, ações sobre pleno domínio com relação à
criação. O padrão de “natural” e “sobre natural” depende do ponto de vista. De
fato Jesus é de natureza divina e nós somos de outra natureza. Jesus possui o
DNA de Deus, é ser gerado por Deus. Nós somos seres criados. Ser gerado é ser
participante da natureza de quem gera. Ser criado não é necessariamente ser
participante da natureza de quem criou.
Natural, na realidade, é tudo aquilo que para Deus é comum,
ou seja tudo o que existe no universo. Este é o verdadeiro natural. Nós, com
nosso pecado, estamos em uma realidade que achamos ser a verdadeira naturalidade.
O universo foi criado para funcionar de acordo com a vontade de Deus. Neste
contexto, o “natural” é o padrão de Deus e não o dos homens. A “queda”, o
pecado, nos coloca diante da soberba arrogância de acharmos que o nosso padrão
é o correto. Se vivêssemos em plenitude a vontade de Deus, acredito fielmente
que dificilmente encararíamos milagres como “sobre natural”, pois os atos de
Deus em nossas vidas e em todo o nosso redor passariam a ser algo natural para
nós, mas é claro, um outro padrão de natureza, a Divina. Deus está no Natural, naquilo que é verdadeiramente natural. Nós estamos fora dessa natureza, pois nosso pecado nos corrompeu. Estamos em rebelião contra o padrão de natureza de Deus. Mas Deus deseja que rompemos com esta rebelião e participemos desta natureza. Por isso Jesus é o primeiro de muitos filhos
que Deus deseja ter. Por que em Jesus Cristo somos participantes da Natureza
Divina do Pai. É por isso que celebramos o sangue e a carne através do Pão e do
Vinho, por que nesta celebração está a esperança de um dia sermos em plenitude
como Jesus, santos e participantes da Trindade Santa.