quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O CEGO QUE VIU ALÉM

Então chegaram a Jericó. Quando Jesus e seus discípulos, juntamente com uma grande multidão, estavam saindo da cidade, o filho de Timeu, Bartimeu, que era cego, estava sentado à beira do caminho pedindo esmolas. Quando ouviu que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: "Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! " Muitos o repreendiam para que ficasse quieto, mas ele gritava ainda mais: "Filho de Davi, tem misericórdia de mim! " Jesus parou e disse: "Chamem-no". E chamaram o cego: "Ânimo! Levante-se! Ele o está chamando". Lançando sua capa para o lado, de um salto, pôs-se de pé e dirigiu-se a Jesus. "O que você quer que eu lhe faça? ", perguntou-lhe Jesus. O cego respondeu: "Mestre, eu quero ver! ". "Vá", disse Jesus, "a sua fé o curou". Imediatamente ele recuperou a visão e seguia a Jesus pelo caminho.
Marcos 10:46-52
 
Todo cristão que vive consciente da graça de Deus sabe que o sentido correto do raciocínio de servir é alicerçado em o homem servir à Deus. Para muitos teólogos, o inverso é praticamente uma heresia, afinal de contas onde já se viu Deus servir o homem. Mas o evangelho é cheio de relatos que colocam Deus servindo o homem. Vejamos este relato que ocorreu em Jericó. Repare na pergunta que Jesus faz a Bartimeu: “O que você quer que eu lhe faça?”. Esta pergunta desconstrói o nosso raciocínio lógico sobre a palavra “servir”. Veja que aqui há uma inversão de papéis. Deus, Àquele quem deveria ser servido, se propõe a servir Bartimeu, um homem, que em nossa lógica cristã deveria assumir o papel de servo.
 
A desconstrução desta lógica vem logo após um clamor: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”. É neste clamor que vemos o ponto crucial da inversão de valores na relação de Servidão. É aqui que vemos Deus se dispondo a servir o homem. Tudo isso por que Bartimeu não viu Jesus como um ídolo, um profeta ou um homem com poderes especiais. Bartimeu, ainda que cego, viu o Messias. Bartimeu, ainda que cego, viu Jesus como Deus. Com esta consciência, a de que estava perante ao Próprio Deus, Bartimeu clamou: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim”. Tentaram repreendê-lo, mas ele perseverou no seu clamor. Persistiu clamando pois sabia que Jesus era o Messias. O único que poderia lhe tirar da situação miserável na qual ele se encontrava. Não, simplesmente, a de estar cego, mas, muito mais que isso, a de estar pecador.
 
Jesus, “expert” em ler pessoas, olhou para Bartimeu e interpretou a vida do mesmo. Então lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?”. A desconstrução se concretiza: Um Deus que deseja servir! Um Deus que pede permissão!
 
Creio que Bartimeu deva ter pensado: “Ora, Jesus sabe o que eu quero. Então por que Ele me pergunta isso?”. O Pastor Claudio Duarte certa vez brincou dizendo que Jesus tinha um senso de humor muito grande, pois perguntar o óbvio, que Ele sabia, para Bartimeu, só poderia ser um senso de humor. Bartimeu poderia ter ironizado: “Quero um cão-guia! Poxa Jesus, é claro que quero ver!”. Mas de fato, Bartimeu verbalizou: “Quero Ver!”. Jesus desejava que Bartimeu verbalizasse o seu pedido de misericórdia, pois no seu clamor haveria a proclamação e consumação de sua fé. Talvez Jesus poderia simplesmente dizer: “Bartimeu, você já vê! Você vê muito mais do que áqueles que não são cegos, afinal cego não é quem não enxerga o mundo, cego é quem não enxerga a Deus. E os não cegos me veem como um Homem. Mas você, cego me vê Deus, o Messias”. Mas Jesus “leu” o coração de Bartimeu  e muito mais que lhe devolver a visão, lhe concedeu um novo motivo para caminhar: seguir o Messias. Bartimeu foi o cego que viu além!
 
Há um paradoxo aqui. Um Deus servindo o homem quando o homem deveria servir a Deus. De fato, creio que a lógica correta é servirmos à Deus. Entretanto Deus nos surpreende. Isso é algo Dele. Algo que Ele faz por que é Amor e não poder! Aliás se Deus fosse simplesmente poder, sem que houvesse amor, seria impossível vermos um relato como este de Bartimeu. Deus é amor. Por mais que afirmemos isso, jamais teremos a compreensão plena do quanto isso custa. Pois para Deus custou a vida de Seu próprio Filho. Quanto vale a vida do Filho de Deus? Vale a vida de um ser humano! Mas esta relação de valores é incompreensível, pois a vida do filho de Deus tem valor imensurável.
 
Infelizmente, vejo diversas “Jericós” por ai. “Jericós” fechadas em 4 paredes denominadas pelos homens como templos de Deus. Mas ali estão pessoas que dizem ver, mas, na realidade, não enxergam. São os “cegos que enxergam”. Deturpam esta extraordinária desconstrução que Deus faz com o conceito de “servir”. Entenderam erroneamente o que Deus pretende nos ensinar com este tipo de atitude que Ele concedeu a Bartimeu. Acham que Deus é refém do homem e deve servi-lo, custe o que custar. Determinam as coisas que Deus deve fazer. Discursam que se Deus não abençoa-los, irão arrombar a porta do céu com um chute para buscar o milagre e a benção. Olham para Jesus e enxergam um ídolo e não Deus.
 
De fato o Sacrifício de Jesus Cristo na Cruz do Calvário nos deu poder. De fato o Seu túmulo vazio nos dá autoridade sobre este poder. Mas o poder que Deus confiou a nós só é poder se no mesmo estiver alicerçado o amor e se toda a glória de sua manifestação for toda para Jesus. Pois Seu sacrifício foi por amor e só Ele é digno de toda a Glória.
 
Extraordinário: Um Deus que serve! Um Deus que não arromba portas, nem entra pela janela, por que não é um ladrão, é um Deus. Um Deus que bate em nossa porta para cear conosco. Aguarda que a gente abra a mesma e Lhe convide para entrar. Um Deus que pede permissão. Gentil e Educado! Um Deus que pergunta: “O que queres que eu Lhe faça?”. Um Deus que é General, mas engraxa as botas de Seus soldados. Um Deus que anda na contra-mão da lógica da humanidade. Um Deus que é Amor sobre o Poder. Um Deus que diz que a Própria Vida vale Sua Vida e entrega a mesma sem reservas. Doa até a última gota de sangue na cruz. Faz isso por você, por mim, por cada ser humano, sem levar em conta “merecimentos”. Faz isso por Graça!
 
O cristão vive, e deve viver, consciente de que a lógica de servir é “homem” servindo “Deus” (e homem servindo homem, o próximo, é claro). Mas Deus, vez por outra, surpreende o homem invertendo esta lógica. Quando isso acontece, o sobrenatural de Deus submerge aos nossos olhos. É o que chamamos de milagres! Deus simplesmente age assim. E isso não tem nada a ver com o que a gente é, mas com o Quem Deus é. Aliás, nós não somos, só Deus “É”! E sim, Ele é Amor!

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