terça-feira, 17 de setembro de 2013

SOBRE PECADINHO E PECADÃO


Muitos dizem que não existe nem “pecadinho” e nem “pecadão”. Esta é uma discussão antiga dentro do cristianismo e aparentemente, parece ser um assunto indiferente para os verdadeiros cristãos, afinal somos chamados a ser santos, separados para Deus, e neste sentido pecado é simplesmente pecado. Dentro deste contexto, o cristão não deve pecar. Se pecar, deverá ser um acidente e não uma escolha. Particularmente acredito que as escrituras sagradas nos mostram um cenário bem diferente do fator “pecadinho” ou “pecadão”.

 

A maior evidência disso é Lucas 12:10:

 

Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado. Lucas 12:10

 

A blasfêmia contra o Espírito Santo é um pecado sem perdão. Ora, se há um pecado cujo o peso é tão grande que não há perdão, então este pecado é maior do que outros. Você pode me dizer, “ahhh, mas isto não evidência que existem pecados maiores ou menores, é um pensamento muito raso!”. Bom,  a Palavra também nos diz que quando Jesus foi levado para ser julgado por Pôncio Pilatos, Ele lhe disse:

 

Jesus respondeu(a Pilatos): "Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima. Por isso, aquele que me entregou a ti é culpado de um pecado maior". João 19:11

 

Ao dizer “aquele que me entregou a ti é culpado de um pecado maior” Jesus poderia estar se referindo que o pecado dos fariseus era maior do que o de Pilatos, assim como poderia estar se referindo que o pecado Lúcifer era maior do que o de Pilatos. Mas de fato há um pecado maior do que o de Pilatos dentro do contexto.

 

Se esta linha de raciocínio ainda lhe parece muito rasa, pense no que aconteceu com Sodoma e Gomorra (Genesis 19:24). É um sinal de que Deus tolera o pecado até um “certo nível”. O pecado tem limite. Ambas cidades foram destruídas por Deus por que seus pecados passaram o nível de tolerância aceitável pelo Senhor. Entraram em um nível de pecado em que não havia mais volta. Seus corações estavam possuídos por seus egos absolutos. O mesmo aconteceu em Gênesis 7:6 quando Deus enche a terra com águas, varrendo da face da terra todos os pecadores que se permitiram tornar-se egos absolutos e salvando apenas Noé e sua família.

 

Sim, creio que existe “pecadinho” e “pecadão”. Me lembro de um exemplo relatado pelo Pastor Ricardo Gondim que ilustra bem este pensamento:

 

“Pense em dois motoristas de ônibus. Um acabou de tirar a carteira de motorista. Outro já dirige há 25 anos. Ambos farão a mesma manobra. O primeiro, aquele que é novato, ao estacionar, rala a lateral do ônibus. O mesmo acontece com o outro, o experiente. Ele também rala a lateral do ônibus. Pense que ambos cometeram o erro sem considerar fatores externos, como o fato de um acordou mal no dia e outro não. Pense em ambos nas mesmas circunstâncias, levando em consideração o fato de um ser mais experiente e o outro não. Para qual deles a consequência da “ralada” irá ser maior? Claro que para o mais experiente, afinal o cara está a 25 anos trabalhando com isso”.

 

Dentro do contexto de “pecadinho” e “pecadão” não podemos esquecer que temos um Deus justo. Um Deus que tudo sabe. Um Deus que não julgará um índio que vive isolado na Amazônia, sem nunca ter visto alguma bíblia ou ter recebido um missionário para lhe levar a boa nova do evangelho, com o mesmo peso que julgará Hitler. É claro que a Palavra diz que todos pecaram, mas ela também fala que Deus é justo.

 

Termino dizendo...

 

Sim, concordo que pecado é pecado. Pecado tem que ser visto como pecado e não deve ser cometido. Concordo que um pecadinho, por mais pequeno que seja, é uma afronta à santidade de Deus. Concordo também que é impossível viver sem pecar, mas dentro de todo este contexto ficam os desafios essenciais de todo cristão:

 

- Viver consciente que o pecado, para aqueles que se tornaram nova criatura em Jesus, o Cristo, não é uma escolha, ou seja uma opção. Se ele acontecer, será um acidente e neste caso, deveremos voltar correndo para a cruz do calvário.

- Viver consciente de que sendo o corpo do ser humano um “monte de pó, argila, barro”, o do cristão é o monte calvário, sua consciência é a cruz e seu coração é o Cristo crucificado.

- Viver consciente que o seu pecado sempre será maior do que o do seu irmão, para que você tenha plena consciência de que é o menor de todos e que carece hoje e sempre a graça e misericórdia de Deus. Afinal quanto maior sermos conscientes do nosso pecado, maior será a experiência da Cruz de Jesus, da Sua Misericórdia e de Seu Perdão. Vivendo assim, deixaremos de lado o nosso juízo e daremos o espaço devido ao Juízo de Deus, que é perfeito.

 

Perceba que o em todos os desafios estão presentes a palavra “consciente”. Ora, o que é o pecado senão uma anestesia na consciência do homem? O Cristão preserva a consciência. Faz isso dando vasão ao agir do  Espírito Santo. Quem preserva a consciência se preserva íntegro. Se você pratica o mau e ao colocar a sua consciência no travesseiro para dormir à noite não se sente incomodado, é sinal de que sua consciência pode estar anestesiada. Se você tenta praticar o bem, e ainda assim faz coisas ruins, e quando coloca a sua consciência no travesseiro para dormir à noite se sente muito mal, é o Espírito Santo lhe guiando para o caminho de volta, do arrependimento.

 
O Reino de Deus nasce no coração do homem e se consuma em sua consciência. Os bons frutos que vemos nas atitudes daqueles que nasceram novamente em Jesus são movidos pela consciência. É ela quem dirige os nossos pensamentos e atos. Talvez ela é o coração da alma. Precisamos aprender a amar com a consciência.

Que Deus nos abençoe.

3 comentários:

  1. Quando comecei a ler seu texto, sinceramente, fiquei um pouco preocupado em quais seriam as suas conclusões acerca dessa criação de níveis de pecado.
    Mas percebi e entendi que suas intenções estavam longe de levar tal percepção ao campo do julgamento ao próximo. E isso é o que importa. Você, aparentemente, entende a graça.
    Eu enxergo pecado como pecado. Mas a leitura de seu texto me motivou a pesquisar sobre o assunto. Não pesquisei muito. Mas me deparei com um versículo em Tiago que diz: "Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos." Tiago 2:10
    Pensando logicamente e partindo do pressuposto que exista pecadinho e pecadão. Então o homem que cometeu o menor pecado, torna-se culpado de todos (inclusive os maiores).
    Ou seja, qual o sentido de atribuir nível ao pecado?
    Nenhum para o servo de Deus. Mas total para finalidades malignas.
    Quando saímos por aí distribuindo níveis de pecados, corremos um grande risco de nos sentirmos como juiz.
    O problema da sua visão não é ela em si, mas a aplicabilidade dela pode ser danosa.
    Quanto aos seus argumentos, eu não consigo refutar. Mas tenho uma leve impressão de que podem ser refutados. Sua linha de raciocínio é baseada no pensamento lógico e restrito do homem, veja bem:
    Você usa termos como "tolerância; "O pecado tem limite". Isso me parece impor a Deus um modo de pensar totalmente humano. Até um certo ponto Deus está aguentando, passou dali, não dá mais. "Chega, exageraram, vou destruí-los!"
    Se existisse uma cota a ser atingida para Deus não "suportar" mais o pecado e, atingindo a cota, Deus resolvesse destruir os infratores, sinceramente, a humanidade já estaria extinta. As motivações de Deus não cabem na nossa cabeça e qualquer tentativa de subjugá-lo ao nosso restrito modo de pensar só trará contradições. Note em Gênesis 6:6 "Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração."
    Mas em Tiago 1:17 "Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação."
    Afinal, sendo Deus imutável, como ele se arrependeu? Logicamente, há uma contradição.
    Está vendo? Não somos capazes de entender as razões e motivações de Deus!
    Dizer que Deus agiu por não tolerar "pecadão", na minha visão, é restringir o Deus do impossível! Ele fez o que fez, e só Ele sabe a razão disso.
    Eu sei bem como é não conseguir encaixar tudo numa linha lógica. Mas é aí que mora a fé, aí que eu me apoio, graças a Ele!

    É isso mano! Espero ter contribuído para uma reflexão maior sobre o assunto.
    Um abraço!

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  2. Graça e Paz Anônimo...tudo bem? Muito obrigado por passar aqui e colaborar com sua visão sobre o assunto. Sinto falta de gente que faça o que você fez aqui...de comentar com o objetivo de ajudar...de colaborar na compreensão deste Deus tão bondoso que vemos revelado no rosto de Jesus. Você enxergou algo que talvez, na época, quando escrevi o texto eu não enxerguei. Isso é muito legal, pois quando escrevemos um texto, tentamos passar uma linha de compreensão, que muitas vezes, quem esta lendo, não necessariamente, irá compreender. O ponto chave do seu comentário, que particularmente agregou muito para mim neste assunto, é o fato de que criar níveis de pecado não tem realmente uma finalidade positiva para aqueles que creem em Deus, principalmente os que estão começando na caminhada cristã...concordo que discutir níveis de pecado há sim muito mais fundamentos para uma aplicabilidade maligna do que benigna. De certa forma, quando afirmei no próprio texto "concordo que pecado é pecado" subliminarmente estava consciente disso. Mas o fato é que isso talvez passe "batido" e de certa forma, despercebido, por aqueles que leêm o texto e são novos na caminhada cristã. O que me motivou a escrever tal texto é o fato de ver gente acostumada com os "lugares comuns"...chavões...com preguiça de pensar. Muita gente acha que para ser crente, cristão, deve-se abrir mão do fator "pensar"...que raciocinar é algo que não existe dentro do cristianismo. Mas enfim, seu comentário é um ótimo complemento para o texto. Ele foi muito bem vindo, assim como a sua visita. Um abração, no Espírito Santo de Deus...e que o Senhor continue te usando meu caro!

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  3. Mano, tudo muito bem! E com você?

    Só hoje pude ler sua resposta e fico feliz em poder ter sido de alguma forma útil.
    É sempre bom quando as pessoas crescem juntas, e é tão complicado ver isso no dia-a-dia. Essa é a discussão saudável que eu tenho procurado nesses últimos tempos.

    Ah, e quanto aos 'lugares comuns' eu estou com você nessa.
    O meio cristão é repleto de frases clichês para certos momentos. E algumas dessas frases são, ao meu ver, verdadeiras. Porém, perderam a essência do sentido por se tornarem banais. A maior delas é "Deus tem um propósito para a sua vida" hahahaha... isso tem um pensamento profundo, mas é tão banalizada que já perdeu o sentido.

    Essa sua vontade de questionar é totalmente produtiva. Depois de ter lido seu texto, fui motivado a pensar mais sobre o assunto ao longo dos dias, e me tirou da zona do conforto. Isso é magnífico!

    Aliás, isso que você falou sobre "pensar"... é o lema da ABU (Aliança Bíblica Universitária)... "fé que pensa, razão que crê"

    Um outro abraço!
    Fique com Deus

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