terça-feira, 10 de setembro de 2013

O PRÓXIMO? ORA, É VOCÊ!

Certa ocasião, um perito na lei levantou-se para pôr Jesus à prova e lhe perguntou: "Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna? "
"O que está escrito na Lei? ", respondeu Jesus. "Como você a lê?"
Ele respondeu: " ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’".
Disse Jesus: "Você respondeu corretamente. Faça isso, e viverá".
Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: "E quem é o meu próximo? "
Em resposta, disse Jesus: "Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto.
Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado.
E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado.
Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele.
Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele.
No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’.
"Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes? "
"Aquele que teve misericórdia dele", respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: "Vá e faça o mesmo".
Lucas 10:25-37
 
“Obrigado Deus, por eu não ter nascido mulher, por eu não ter nascido cachorro e por eu não ter nascido samaritano, amém!”. Dizem que esta era a oração que todo hebreu fazia diariamente na época de Jesus. Em outras palavras, um samaritano era reconhecido como um ser menor do que uma mulher (que naquela época era praticamente um “nada” na sociedade) e que um cachorro.
 
Bom, mas afinal de contas, quem era um Samaritano?
 
Na época de Jesus, o povo hebreu reconhecia os seguintes tipos de pessoas:
 
Judeus = povo Hebreu
Gentios = povos não Hebreus
Samaritano = Judeu miscigenado, em outras palavras, filhos de Judeus com Gentios
Prosélitos = discípulos de João Batista, samaritanos que se converteram ao Judaísmo
 
Os judeus não gostavam dos samaritanos. Para eles, os samaritanos eram “zé povinho”, gente que não prestava. Para os hebreus, os samaritanos eram uma espécie de “sub-raça humana”.
 
Agora vejamos algo interessante:
 
O contexto da famosa parábola do “Bom Samaritano” foi contada por Jesus devido a uma pergunta que lhe foi feita por um mestre da lei, judeu, que queria lhe pôr à prova. Uma pergunta que tinha como propósito testar o conhecimento de Jesus referente à lei de Moisés. Uma pergunta com uma certa malícia em sua conotação: “- O que faço para herdar a vida eterna?”. Jesus, extraordinariamente, responde a pergunta do judeu com uma outra pergunta: “Como você interpreta a lei?”. O judeu então responde: “Amar a Deus sobre tudo e todos, com todo o seu coração, alma, força e entendimento. E amar ao próximo como a si mesmo”. Jesus responde: “Você está certo, faça isso e herdará a vida eterna”. Como o propósito do judeu, mestre da lei, era colocar Jesus em prova, não contente com a resposta, o mesmo insistiu: “Quem é o meu próximo?”. Mais uma vez Jesus age extraordinariamente. Muito mais que ouvir a pergunta daquele home, Jesus lê o coração do mesmo e então se prontifica a responder o questionamento contando-lhe esta parábola:
 
“Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto.
Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado.
E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado.
Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele.
Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele.
No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver.”
 
Jesus sabia com que tipo de gente estava lidando. Ao colocar na parábola, como “herói”, um samaritano, Ele sabia que estava escandalizando o judeu. Entretanto o contexto da parábola, assim como todas as parábolas contadas por Jesus, é atemporal. Hoje, com este cristianismo, muitas vezes racista visto na igreja, Jesus poderia colocar um Espírita ou um Budista ou até mesmo um Macumbeiro, quem sabe um Mulçumano no lugar do samaritano. Poderia substituir o sacerdote por aquele pastor tão famoso que é ovacionado pela massa. E fazer o mesmo com o Levita, colocando aquele astro gospel que tem um sucesso atrás do outro emplacado nas rádios.
 
Entretanto perceba que Jesus está nos ensinando algo muito além do que simplesmente nos mostrar quem é o nosso próximo. Jesus está ensinando algo além do óbvio. Perceba que além deste contexto primário em que a parábola é contada, há o contexto dos ensinamentos deixados por Jesus. Ensinamentos deixados pelo modo como Ele viveu e ensinamentos deixados através de Sua Palavra.
 
Perceba:
 
Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;
Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.
Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?
Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.
Mateus 5:43-48
 
Neste contexto, Jesus nos convida ir além:
 
“Quem é o meu próximo?” é pergunta de quem deseja impor limites ao amor. O amor não possui limites. É incondicional. Se há condições, não é amor. O amor não impõe nada. Jesus nos remete a entender que só é possível amar ao próximo se amarmos a Deus sem ressalvas. Só quem ama a Deus aprende o que é o amor. É por isso que o este é o primeiro mandamento. Por que só podemos amar ao próximo se amarmos à Deus.
 
Pense, tendo conhecimento de toda a parábola contada por Jesus, o Samaritano talvez se encaixe no quesito “mais amável” dentre os 3 que passaram. É muito fácil amar quem se faz ser amável. Difícil é amar aqueles que não tem nada de virtudes para ser amado. Como o sacerdote e o levita. Ou trazendo para os dias de hoje, difícil é amar o pastor que faz do dízimo e oferta um meio de roubar pessoas. 
 
Vamos mais além, perceba que o samaritano, o sacerdote, o levita e os assaltantes possuem uma identificação. Possuem identidade: um é sacerdote, outro é levita, outro é assaltante e outro é o samaritano. Entretanto, o homem caído não tem identidade. Está nu (literalmente nu, pois naquela época não haviam roupas íntimas). Caído. É simplesmente um homem caído e jogado pelo caminho. Este aparenta estar na maior posição de miserabilidade. Aparenta ser o mais miserável. Mas talvez ele seja o menos miserável ali.
 
Enquanto o fariseu pergunta quem é o meu próximo, Jesus pergunta mas quem se fez de próximo?
 
Muito se engana quem acha que o único digno de que alguém seja próximo é somente aquele que está caído a beira do caminho. O sacerdote e o levita que passaram indiferentemente a situação do homem que estava caído também necessitam de que alguém lhes seja próximo. Da mesma maneira, o assaltante que roubou o homem e o deixou caído, também precisa de gente que esteja disposto a amá-los, a ser próximo, para que a consequência disso seja o rompimento com o ciclo da maldade.
 
Ilusoriamente o homem segue seus próprios mandamentos. Ama a si mesmo acima de tudo e todos. Ama o seu próximo com a mesma indisposição que ama a Deus. O homem diz para si mesmo: “o meu próximo sou eu mesmo”. Este é o modelo de humanidade que restou da queda. Gente egoísta, que busca seus próprios interesses. Fora disso, o sentimento é: “Você pra mim é problema seu!” ou “Deus deu a vida para que cada um cuide da sua!”.
 
Cá entre nós, todos somos assim. É a natureza do homem. Sejamos sinceros, como é difícil gente assim ser amada. Como é difícil as pessoas verem em nós algo que justifique sermos amados. O fato é que Deus nos ama. E nos ama apesar de sermos quem somos. Muito mais que isso, nos amou primeiro. Nos amou quando ninguém nos amaria.
 
A questão não é “quem é o meu próximo?”,  “a quem devemos fazer o bem?”...muito mais do que isso, Jesus nos convida a sempre sermos o próximo do outro, independente de qual seja a circunstância. Ser próximo de todos sempre.
 
Isso implica em “amar”, que é muito diferente de “gostar”. Isto implica em querer estar “próximo” que é muito diferente de “estar perto”. Isto implica em querer estar “unido” que é muito diferente de “estar junto”. Isto implica em compromisso, em se importar, em não se contentar em ver pessoas com estado indigno passarem diante de seus olhos e não fazer nada.
 
O bom samaritano ao deixar o homem na hospedaria tomou a seguinte atitude:
 
No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver.”
 
Este é um convite a prestar ajuda que tenha consequência. Romper com o ciclo da maldade. Se dispor a devolver a dignidade ao outro. Isto é amar incondicionalmente. Não tem preço. É Jesus tomando o lugar do Samaritano, dando, ao invés de 2 denários, o Seu próprio Sangue ao Pai (o Dono da Hospedaria) para que nós, os homens nús caídos à beira do caminho, sejamos cuidados e ganhando vida!
 
Se você está à procura dos limites do amor, pare de procurar: Amar não tem limites. Não é preciso haver a identidade do outro. O amor não vê “Quem”. Observe: “certo homem”! Não há a necessidade de se ter uma identidade. O parâmetro é outro, é a situação. A situação do homem. Não quem ele era. Mas em que situação ele se encontrava: “O que ele precisava?”.
 
O próximo, muito mais de ser aquele quem precisa, é aquele que se compadece.
 
O Padre Antônio Vieira diz que nesta Parábola estão registradas 3 filosofias de vida...
 
...a do assaltante, que vive com o pensamento “o que é seu é meu! Vou tomar de você custe o que custar”;
...a do sacerdote e a do levita, que diz “o que é seu é seu e o que é meu é meu”...você fica com os seus problemas e eu com os meus;
...a do samaritano, que diz “o que é meu é seu”...que é a mesma filosofia de vida entre Jesus, Deus, Pai e o Espírito Santo!
 
Certa vez Juliano Son disse acertadamente que ...
 
...o Sacerdote e o Levita perguntou para si mesmo “O que eu vou perder se eu ajudar?”
 
...e o Samaritano perguntou para si mesmo: “O que ele vai perder se eu não ajudar?”
 
É por isso que a pergunta é “quem se fez do próximo do homem caído?”. Por que o “próximo” é muito mais uma atitude que tomamos para ser do que algo que esperamos dos outros. Infelizmente, perceba que Jesus, sabendo de como somos, nos diz “Casualmente desciam por ali”. Já parou para pensar que se caso ninguém passasse por ali...o homem morreria!? Talvez precisamos tomar a atitude de ir, não por “acaso”, mas sim de propósito! Jesus deseja nos fazer veículos de Sua graça.
 
Jesus nos diz: Vá e faça o mesmo...não importa quem seja a pessoa que necessite que você seja o próximo!

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