Conta-se que em uma Igreja existiam 2 pregadores que eram ótimos
na construção de seus sermões. Então começou uma discussão entre os jovens de
qual deles pregava melhor (algo nada natural nas igrejas hoje em dia hehe). Uns
diziam que era o primeiro e outros preferiam o segundo. Então os jovens, como estavam
divididos em suas opiniões, decidiram ir questionar um ancião da igreja para
fazer o “tira-teima”. Ao questionarem o ancião, a resposta veio da seguinte
maneira: “Os dois são bons, mas quando um prega, fico feliz com tudo, quando o
outro prega, fico mau comigo mesmo”.
Acho interessante esta história. Muita gente vai para a
igreja buscar a Palavra de Deus para se sentir bem. Mas será que esta é a
verdadeira essência do Evangelho!?
CS Lewis recomendou: “Aqueles que querem sentir-se bem, não
recomendo o evangelho, recomendo uma boa garrafa de vinho”.
Creio que ele estava certo.
O evangelho, ou se preferir, boa notícia, de Jesus Cristo é
um convite a vermos quão imundos nós somos, para que possamos dar vazão à ação
de Deus. O Evangelho de Jesus, o Cristo, nos remete a tomar a mesma atitude de
Pedro para com Jesus: “Senhor, afasta-se de mim, pois sou pecador”. Nos faz
tomar a mesma atitude de Paulo, que batia a mão em seu próprio peito e dizia “Miserável
homem que sou”.
Mas será que é essa a verdadeira visão que temos sobre o
evangelho?
Vamos pensar...
Se você frequenta a igreja, domingo após domingo, e ao se
deparar com a pergunta “Qual o maior pecador que você conhece?” não responder
de bate-pronto e com plena convicção “Eu! Eu sou o maior pecador que conheço!”
é por que há algo de errado no evangelho que você tem escutado. Da mesma forma,
penso que, se ao orarmos, quando terminamos a nossa oração, não sentirmos em
nosso coração a sensação “miserável homem que sou”, é por que talvez exista
algo de errado em nosso modo de orar.
A Palavra nos ensina que a boca fala daquilo que o coração
está cheio. Abro um parêntese aqui...Me lembro quando criança que, ao falar um
palavrão, minha mãe me dizia: “vou lavar tua boca com sabão”. Talvez o mais
correto seria ela ter dito “vou lavar o teu coração com sabão”...fecho
parêntese.
Enfim, se a língua escancara aquilo que vive em nosso
coração, dentro desta linha de raciocínio, muitos teólogos dizem que o conteúdo
de nossas orações revelam o nosso coração e por consequência, o caráter.
Concordo com G. K. Chesterton, um cristão que reconhecia que
a igreja da sua época não representava bem o evangelho de Jesus. Creio que isso
ainda acontece hoje. Ele dizia que o comportamento lamentável dos cristãos
gerava de fato o argumento mais forte contra o cristianismo. Os cristãos são
prova cabal daquilo que a Bíblia ensina sobre a Queda.
Este foi o mesmo pensamento de Gandhi. Certa vez um
missionário encontrou-se com ele na Índia, e perguntou-lhe:
“Senhor Gandhi, você sempre cita as palavras do Cristo, por
que resiste tão duramente o cristianismo e rejeita tornar-se seu seguidor”?
Então respondeu-lhe Gandhi: "Eu não rejeito seu Cristo.
Eu amo seu Cristo. Apenas creio que muitos de vocês cristãos são bem diferentes
do vosso Cristo".
Talvez seja exatamente este o problema. Ao olharmos para os
modelos de igrejas que se dizem “Cristãs”, fica cada vez mais difícil fazer com
que o mundo aceite a Palavra de Deus. O evangelho não é um conjunto de palavras
para fazer as pessoas se sentirem bem. Não é um livro de auto ajuda. Muito
menos um livro para ensinar como manipular Deus. O evangelho foi escrito com
sangue. Não qualquer sangue. Foi o sangue inocente do Filho do próprio Deus que
nos criou.
Certa vez um jornalista perguntou a G. K. Chesterton qual o
único livro que gostaria de ter caso fosse parar numa ilha deserta. Depois de
uma pequena pausa, Chesterton respondeu: "Já sei: Guia prático para a
construção de navios".
Pense numa ilha deserta como este mundo sujo no qual
vivemos. Estamos jogados nesta ilha. Viemos para cá por causa do nosso pecado.
Nós tornamos a nossa situação assim. O cristão é aquele que não se conforma.
Que toma a mesma atitude de Chesterton e deseja ter em mãos um guia prático de
construção de navios. Este guia é a Bíblia. As Escrituras Sagradas. Ela nos
capacita a como sairmos desta situação. Entretanto, só é possível querer sair
desta situação imunda causada pelo pecado se termos esta consciência de que
somos pecadores.
Por isso volto a Chesterton:
Certa vez o jornal London Times pediu a alguns escritores
que respondessem à pergunta: "O que há de errado com o mundo?".
Chesterton enviou a resposta mais sucinta:
“Prezados Senhores:
Eu.
Atenciosamente,
G. K. Chesterton”
O Evangelho de Jesus Cristo nos faz cair de joelhos no chão.
Elimina todo o discurso de mérito. Elimina toda a justificação da Lei. Elimina
toda a justificação do nosso “eu”. Nos remete a perceber que tudo provém de
Deus, principalmente o ato de reconciliação com o ser humano. Nos remete à
Graça! O favor que Deus nos concede sem que jamais a gente faça por merecê-lo.
É este o Evangelho que você vive? Então responda para sua
consciência: Qual o maior pecador que você conhece? Ousemos responder como Chesterton: "Eu!"
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