Rubem Alves, em seu excelente livro “Lições do Velho
Professor” nos ensina que todas as ferramentas que criamos são extensões de
nossos corpos, criadas para proporcionar uma função que nosso ser não consegue
exercer naturalmente. Por exemplo, nosso ser não tem um órgão que seja capaz de
criar fogo para soldar um ferro no outro, então o aparelho de soldar ferro,
inventado pelo homem, é uma extensão de seu corpo capaz de exercer a função de
fundir um ferro no outro. O mesmo vale para, por exemplo, o caso de martelar um
prego em uma madeira. Se tentarmos fazer isso como qualquer parte do nosso
corpo é bem provável que iremos nos machucar. Para isso criamos o martelo, uma
extensão de nossas mãos capaz de afundar o prego na madeira sem que a gente
venha a se machucar (logicamente se usarmos ele corretamente).
Imagino que da mesma forma que as ferramentas são extensões
de nosso corpo, nós somos extensões do corpo de Deus. Não no pensamento de que
Ele precise de nós por que Nele há alguma deficiência (afinal de contas Ele é
Deus e Tudo pode em Todos), mas sim no sentido de Ele desejar nos usar como
suas ferramentas. É claro que o contexto aqui é muito maior. Deus nos usa como
veículos de Sua Graça.
Somos os olhos de Deus, somos as mãos de Deus, somos o Seu falar,
o Seu andar, o Seu sorrir, somos a extensão do “corpo” de Deus, a extensão do
infinito. Somos isso por que somos vocacionados a sermos Tabernáculos vivo do
Espírito Santo. Ele se move em nós. através de nós e apesar de nós. Nele, a
Graça de Deus é distribuída. O Consolador deseja alcançar almas através do
nosso ser, para que sejamos um em Cristo Jesus. Por isso nos criou com esta
vocação.
Neste contexto, somos convidados a viver com a consciência
de que “sou mais eu por que sou mais você”. Sou mais humano por que te trato
com a dignidade de ser humano. Me vejo como humano por que te vejo como humano. Sou mais ser humano por que te vejo, te trato, te amo como se fosse a mim mesmo. Quanto mais me doar em viver consciente de que a
dignidade de “ser” do meu próximo é responsabilidade minha, mais próximo
estarei de resgatar a minha imagem e semelhança à Deus. Por isso que os 2
mandamentos maiores do cristão é “Amar à Deus sobre todas as coisas”, pois só
amando Ele sobre tudo e todos aprenderemos o que é realmente amar, e “Amar ao próximo
como Jesus, o Cristo, nos ama”, por que o amor de Jesus é sem reservas.
É movido por estes dois mandamentos que devemos assumir a
responsabilidade de sermos extensões do “corpo” de Deus, mais que isso, de
sermos o próprio “corpo” de Deus. Sendo assim é necessário perguntarmos para
nós mesmos... Se somos os olhos de Deus, o que temos olhado por ai? Se somos as
mãos de Deus, o que temos tocado por ai? Se somos o falar de Deus, quais são as
coisas que estão dentro dos nossos corações e que movem nossas línguas? Afinal
de contas a língua não fala daquilo que o coração está cheio?
Deus não tem parte com o pecado. Deus não tem parte com a
iniquidade. Se somos o seu olhar, escutar, falar, tocar, etc... não podemos
exercer estas funções tendo parte com o pecado. Temos que buscar fazer tudo
isso em santidade, cumprindo o “ide” que Jesus nos confiou, conscientes de que
toda honra e toda a glória é do Cordeiro, Jesus, o nosso amado Messias.
Que o Senhor nos expanda cada vez mais a consciência de que
somos ferramentas em Suas mãos, movidas por uma amor imaculado, por valores de
um Reino cujo o Rei é o Próprio Amor.
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