quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

ATÉ QUANDO ESPERAR?


Ele (o Fariseu), porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?

 E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.

 E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.

 E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo.

 Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;

 E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele;

 E, partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar.

 Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?

 E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira.

Lucas 10:29-37

 

Até Quando Esperar? – Plebe Rude

 

Se não é nossa culpa, nascemos já com uma bênção!
Mas isso não é desculpa pela má distribuição.
 
Com tanta riqueza por aí, onde é que está?
Cadê sua fração?
Com tanta riqueza por aí, onde é que está?
Cadê sua fração?
 
Até quando esperar?
 
E cadê a esmola que nós damos sem perceber?
Que aquele abençoado poderia ter sido você?
 
Com tanta riqueza por aí, onde é que está?
Cadê sua fração?
Com tanta riqueza por aí, onde é que está?
Cadê sua fração?
 
Até quando esperar a plebe ajoelhar esperando a ajuda de Deus?
Até quando esperar a plebe ajoelhar esperando a ajuda de Deus?
 
Posso...
...Vigiar teu carro?
...Te pedir trocados?
...Engraxar seus sapatos?
 
Posso...
...Vigiar teu carro?
...Te pedir trocados?
...Engraxar seus sapatos?
 
Até quando esperar a plebe ajoelhar esperando a ajuda de Deus?
Até quando esperar a plebe ajoelhar esperando a ajuda do Divino Deus?

 

O Plebe Rude não é uma banda cristã! E se você é um roqueiro de carteirinha deve estar pensando “óbvio!”. Entretanto existe uma música deles que deveria ser levada aos púlpitos da igreja. O nome desta canção é “Até Quando Esperar?”. Cresci ouvindo esta música. Sem perceber, ela relatava todo o cenário que eu via enquanto crescia nas ruas da cidade de Santo André – SP.  Até quando esperar traz em sua ideia central o DNA da queda do homem: o Egoísmo! Como resultado disso, a desigualdade se espalha desenfreadamente. É claro que este é um problema que vai além das fronteiras de Santo André. Ele extrapola as fronteiras tupiniquins e alcança milhares de pessoas pelo mundo a fora. A realidade fica mais cruel ainda quando vemos que este problema, além de “varar” os limites geográficos, ele também extrapola a dimensão do tempo. A desigualdade social é um problema que atinge pessoas em todos os lugares e em todos os tempos. Não é à toa que esta música “Até quando esperar?” foi escrita em 1984 e soa como uma crítica totalmente coerente para os dias de hoje! E diria mais, soaria como uma crítica atualizada para qualquer época, já que o assunto “desigualdade” está no cerne da natureza humana.
 
Talvez você nunca tenha se perguntado “com tanta riqueza por aí, onde é que está a sua fração?” mas de fato, o pai que trabalha em 2 empregos para ganhar meio salário mínimo em cada um e sustentar uma família numa metrópole tão desigual que é São Paulo, com certeza já se perguntou. Por um lado, no bolso de uma minoria, que, por algum motivo, acha que tem mais direito que o restante da população, as riquezas bancam os apetites do ego, por outro lado a grande maioria caminhando sobre o chão da miséria, vivendo em condições precárias. A rotina nos evidência em cada farol, em cada cruzamento, a miséria de pessoas pedindo esmolas, buscando sobreviver. Uns querem dinheiro para sustentar a família, outros querem sustentar o próprio vício. Mas de fato, é bem provável que, ao ver o magnata parado no farol, com seu conversível brilhando,  na cabeça de ambos vem o pensamento: “ - aquele abençoado poderia ser eu!”.
 
O miserável implora para vigiar o carro, engraxar sapatos, para receber um trocado. Implora por coisas que ele já não vê como um ato na miséria, mas como um alívio para a condição miserável. Como nós seres humanos deixamos isso se tornar tão normal diante de nossos olhos?
 
Já nos acomodamos. Aceitamos a situação com uma facilidade tão triste que acabamos esquecendo que estamos diante de um dos maiores problemas causados pela nossa queda no Éden. Ao final, o que resta é ajoelhar e pedir a ajuda do divino Deus, pois só por um milagre para tirar o miserável da situação em que ele se encontra.
 
Mas o que nós como igreja temos a dizer sobre isso? Qual a nossa atitude perante a desigualdade ao nosso redor? Será que este é um problema de Deus? Que a prerrogativa de mudar isso tudo é de Deus?
 
A pergunta da música pode ser para nós que dizemos ser cristãos: Até quando esperar?
 
Será que não estamos esperando algo por parte de Deus e Ele lá de cima está nos dizendo: “Não há o que esperar...olhe para o bom samaritano, veja o que ele fez pelo homem que estava caído...vá e faça o mesmo com o seu próximo!”
 
Há pouco tempo ouvi o Pastor Ed René Kivitz pregando sobre a diferença entre caridade e justiça. Há uma diferença crucial entre caridade e justiça. Caridade é você curar HIV com band-aid. Caridade é você curar câncer com hipogloss. Estou exagerando? Bom...imagine um homem na sarjeta, com frio e fome. Você passa por ele, então decide lhe dar o casaco que você está usando e pagar um marmitex. Com o “miserável homem” agasalhado e de barriga cheia você pensa...pronto, fiz minha parte. Então se despede do homem e via embora.  A pergunta é: o homem saiu da condição de miserabilidade que ele estava? Tudo bem, talvez a blusa fará com que o homem não sinta mais frio...mas um dia depois o homem estará com fome, e a sociedade estará passando diante dele de forma indiferente. Aqui você simplesmente “soprou” a ferida do miserável. Não resolveu o problema. Não devolveu a ele a dignidade. Fez um ato de caridade, compaixão e amor...mas a situação do homem será a mesma!
 
Agora olhemos para o samaritano. Ele vê o homem caído. Ele estava machucado e nu...numa situação miserável. O samaritano poderia ter cuidado das feridas do homem, vestido o mesmo e ter ido embora. Mas isso não seria um ato de justiça. O samaritano levou o homem com ele, e decidiu cuidar do mesmo até que ele tivesse a certeza de que o mesmo teria condições de caminhar com dignidade. Foi um socorro com pós acompanhamento. Uma ajuda que se certificou de que todo o necessário para que o homem tivesse a dignidade restaurada havia acontecido.
 
Há quem diga que o homem caído no caminho é a humanidade, os salteadores são Lúcifer e seus demônios, o Sacerdote e o Levita são as igrejas prostituídas, o Bom Samaritano é Jesus, o animal em que o homem foi carregado é a cruz, a Estalagem é o Reino de Deus, o Dono da Estalagem é Deus e os “dois dinheiros” é o sangue de Jesus.
 
Repare que o bom samaritano segue adiante e diz ao dono da estalagem: “Cuide Dele, independentemente dos gastos pois eu voltarei para paga-los”.
 
Socorro que se certifica de que a dignidade do miserável seja restaurada! Isso é muito mais que caridade...é justiça! Justiça se faz com amor, compaixão, onde o único interesse está em ver a restauração da dignidade do outro. Neste ato tem que haver amor e principalmente, tem de haver nulidade para os sentimentos de mérito e demérito. Somente amor!
 
Até quando esperar? Não há mais o que ser esperado. Deus já nos disse: Vai, e faze da mesma maneira!
 
Nós como igreja temos que agir desta forma. A resposta já foi dada por Jesus.
 
Quanto a outra pergunta: “Com tanta riqueza por ai, onde é que está, cadê sua fração?” ...infelizmente boa parte desta “fração”  está no bolso de pastores evangélicos, políticos corruptos e tantas outras pessoas. É uma triste realidade. Mas ainda creio em gente (dentro e fora da igreja) que sabe viver com a fração que lhe cabe, sem usurpar a fração do próximo. Um bom começo para lutarmos contra a desigualdade é fazermos a nossa parte. Como bem disse Gandhi (ou Dalai Lama): devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo!
 
Eu acredito que Deus faz muito. Acredito que Deus faz, hoje e agora, muito mais do que possamos imaginar. Deus tem provido ajuda. O problema é que o reino de Deus é construído em comunhão, entre Deus e o homem (uma construção a “4 mãos”), e imagino que Ele tenha confiado ao homem atitudes que infelizmente o homem não tem cumprido. Como a miséria vai se extinguir se Deus provê os recursos e o homem usurpa a fração do próximo?
 
A espera do cristão consiste somente na volta do Cristo. Não há o que ser esperado para se tomar a atitude de se comprometer em manifestar aqui e agora a maior densidade possível do Reino de Deus.
Não alicerce a sua indiferença para com a situação de desigualdade de seu próximo nos fundamentos de colocar sobre os ombros de Deus a culpa de um mundo tão desigual. A culpa disso tudo é do ego do homem. O caos ao nosso redor é resultado de nossa queda.
 
Faça a sua parte. Responda para si mesmo: Os meus atos são de Justiça ou de Caridade?
 
Que o Senhor nos abençoe.

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