quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O EVANGELHO NÃO É SPAM

E-mails (normalmente contendo propagandas ou vírus) enviados em massa para um grande número de pessoas. Assim podemos resumir a definição de "SPAM". Quem nunca viu na caixa de e-mail uma pastinha chamada “SPAM” na qual os e-mails “suspeitos” são automaticamente direcionados? Agora pare e pense...quantos de nós lemos as mensagens enviadas como SPAM? Tirando algumas exceções, geralmente selecionamos todas as mensagens e deletamos. SPAM para nós, é “praticamente” sinônimo de lixo eletrônico.
 
O fato é que muitos cristãos (e por um bom tempo, reconheço que agi assim) estão confundindo o Evangelho com Mensagens de SPAM. Acham que a boa nova é algo a ser jogado em massa para a massa. Basta empacotar, colocar os destinatários e clicar no enviar. Quem quiser ler ...que leia! Quem não quiser ler...que exclua! É a milha de panfletos evangélicos atirada do topo de um prédio alto, na 25 de Março (a grande probabilidade é que, neste ato, o maior êxito que você conseguiria seria ...dar mais trabalho para os Garis da cidade!).  Eu sei que muitos que estão lendo este texto, neste exato momento, devem estar pensando: “Quem é você para criticar meios de evangelização?”. De bate pronto já lhe digo: passo longe de ser um “expert” em evangelização e longe de mim afirmar que exista um único meio de evangelizar. Aliás, o ponto central no qual quero lhe convidar a pensar não é o “meio” em si da evangelização. A questão é outra. O ponto central é como enxergamos esta Boa Nova, este Evangelho que as Escrituras Sagradas nos revela.
 
A Boa Notícia é muito mais que uma mensagem. Vai além de um conjunto de textos bíblicos empacotados em uma linha de raciocínio. A Boa Notícia é um ser, mas não qualquer ser. O Evangelho é uma pessoa, mas não qualquer pessoa. O Evangelho é um ato de Graça, um favor no qual não se computa méritos (aliás jamais fomos merecedores) por parte de Deus para conosco. É o ato de graça consumado no rosto de Seu Filho Amado que se doa, que se esvazia da prerrogativa de ser Deus e assume a prerrogativa de se tornar pecado na cruz, levando em si não a maldade própria, pois Nele não havia maldade, mas sim o mal de todos nós, o pecado de todos nós, descendentes de Adão. O Evangelho é Jesus. O Evangelho é a Pessoa na qual a gente, filhos de Adão, estamos destinados a ser. Em Jesus somos destinados a sermos humanos em plenitude. Ele é gente de verdade, é um ser que tem em plenitude a essência de humanidade projetada por Deus, o Criador, Seu Pai.
 
O Evangelho precisa ser explicado com o viver de uma vida baseada na vida do Cristo. Como disse São Francisco de Assis: “Anuncie o evangelho, se precisar use palavras”. Não adianta empacotar o Evangelho num e-mail e dispará-lo como um SPAM. Se for tratado assim, as pessoas simplesmente pressionaram “delete” sem ao menos ver o que é. Isso é o mesmo que manter a bíblia fechada na estante. O Evangelho não é uma mensagem de publicidade (Gospel) para vender milagres e bênçãos. Não é um vírus empacotado, disfarçado, para enganar pessoas. O Evangelho é a explícita salvação no rosto de Jesus. Ele liberta o homem da natureza maligna. Restaura o nosso ser e nos aproxima a imagem e semelhança de Cristo. As pessoas precisam entender isso, precisam ver a verdadeira humanidade na qual somos destinados nos relatos da vida do Cristo que estão registrados na Santa Palavra de Deus.
 
Fico imaginando o relato de Atos 8:26-40:
 
E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta.
E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração,
Regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías.
E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro.
E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês?
E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse.
E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, Assim não abriu a sua boca.
Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; E quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra.
E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro?
Então Filipe, abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus.
E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado?
E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.
E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou.
E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou o seu caminho.
E Filipe se achou em Azoto e, indo passando, anunciava o evangelho em todas as cidades, até que chegou a Cesaréia.
 
Imagino que o Eunuco recebeu a Palavra como um “SPAM”, ou se preferir... um folhetinho de evangelização. Ele se fez exceção ao ler a mensagem. Mas se Felipe não aparecesse, acredito que a Palavra não iria produzir vida no coração daquele homem. De fato, é importante distribuir folhetos, enviar e-mails cristãos...etc. Mas ação sem assumir a consequência é ação sem responsabilidade. Isso quer dizer que vale muito mais se dispor a ter uma boa conversa com alguém sobre o Evangelho, anunciando o ser humano que podemos ser no Cristo, do que jogar folhetos e mais folhetos achando que as pessoas vão “deduzir” um Deus ali. Em outras palavras, precisamos agir como Felipe, que dá um passo a mais e se importa. Se dispõe a explicar, a dialogar, a pensar junto.
 
Quantos Eunucos estão por ai, tentando esmiuçar pensamentos e entender as Escrituras Sagradas? Quantos de nós estamos dando um passo além e dizendo: “posso lhe ajudar a entender?”????
 
Parece ser uma ironia da minha parte, pois escrevo aqui palavras que serão lidas por pessoas que jamais sequer conheci e conheço. Mas é justamente aqui que proponho o início do diálogo. Por isso há aqui um espaço para comentários. É um convite a pensarmos juntos. O Evangelho não é um SPAM a ser disparado sem se importar. O Evangelho é uma mensagem que deseja ser compreendida. Não é uma mensagem enviada por um Deus que pensa: “estou  indiferente...se alguém ler...muito bom...se não ler...não to nem ai!”. Não...mil vezes não. O Evangelho é muito mais do que isso. É Deus dizendo: “Quero que todos voltem para casa!”...e imagino que Deus leva muito a sério esta palavra “todos”...e que a cada “um ser humano” que se escapa deste “todos”...há uma profunda tristeza no coração de Deus.
 
Não “cuspa” textos bíblicos por ai. Não se deixe levar pelo povo. Deixe de lado o mundo “gospel”. Abro um parêntese aqui...
 
O termo “gospel” é o nome que o ser humano deu a um mercado que faz do Evangelho de Jesus Cristo um produto a ser comercializado. Não me espanta que as pessoas utilizem o termo “Gospel” para maquiar um “SPAM comercial” do Evangelho. O Evangelho de Cristo é um evangelho de Graça. Nele, a palavra “preço” é muito mais uma premissa assumida por Deus (na Cruz) do que pelo homem. O homem tornou o conteúdo das Escrituras Sagradas comercializável. Viu cifrões nos versículos e passou a pinça-los e colocar notas musicais sobre os mesmos. Tornou algo que é Graça como um giro de capital. É vergonhoso, pois muitos vivem uma vida que passa muito longe daquilo que estão anunciando.
 
Fecho parêntese!
 
O Evangelho não é SPAM. Parafraseando “Uma casa pode conter um amontoado de tijolos, mas um amontoado de tijolos não é, necessariamente, uma casa” podemos dizer “Um sermão pode conter um amontoado de textos bíblicos, mas um amontoado de textos bíblicos não é, necessariamente um sermão”. A mensagem do mundo gospel não é necessariamente o Evangelho de Jesus. A mensagem do mundo gospel está muito mais parecida com um SPAM comercial religioso do que com o Evangelho que Jesus nos convida a viver valores de vida com qualidade eterna. Pensar não é pecado. Pelo contrário, pensar é uma poderosa arma que temos para lidar com o pecado. Por isso John Stott afirmou: “Crer é também Pensar”. Evangelizar não é jogar a mensagem de qualquer jeito, como um SPAM. Evangelizar é viver a mensagem do Cristo.
 
Que o Senhor siga nos guardando em Sua abundante Graça.

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