“Deus
fica triste com isso, não fica Pai?”...Vez ou outra escuto meu filho querendo
entender uma situação e fazendo esta pergunta para mim. Talvez, por trás desta
pergunta, esteja implícita a maior desgraça do ser humano: Entristecer o Deus
explícito em Jesus. Está é uma boa, simples e completa definição para pecado: “fazer
aquilo que entristece à Deus!”
Suspeito
que Renato Russo sabia muito bem disso...
“Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é Três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês -
É só maldade então, deixar um Deus tão triste.”
Dentro
da misteriosa matemática dos cristãos, onde 1 + 1 + 1 = 1, ou seja, onde Pai
(que é Deus) + Filho (que é Deus) + Espírito Santo (que é Deus) = Deus, Renato
Russo expôs na mesma estrofe (na música Índios) o quanto matar Deus e deixar Deus Triste expõe o quanto o caráter humano está imerso na maldade.
Aqui está algo esquecido nas igrejas. Perdemos a
percepção do que fizemos: Nós entristecemos Deus! E Ele morreu por conta disso!
Morte de Cruz!
O fato
é que muita gente acha que o ato “entristecer Deus” ficou ali, adormecido em Gênesis
3, no momento de nossa queda. Mas não, cada dia que passa entristecemos mais e
mais à Deus com a vazão que damos à nossa queda!
Feito
este “pano de fundo” entro no assunto principal deste pensamento...
Quem
nunca, vez por outra, não parou para pensar no quanto o nosso viver entristece à
Deus? Vira e mexe me pego pensando, após uma atitude errada: ” - Deus lamentou
esse meu ato!”.
O
problema é que há um dilema aqui: Já parou para pensar que se Deus sabe de
tudo, pois é Onisciente, então Ele sabe quando vamos fazer algo que irá
entristecê-lo? Sendo assim, Ele já sabe quando iremos pecar, se iremos nos
arrepender e, inclusive, se seremos salvos ou não!
Pensar
assim nos remete a uma faca de dois gumes:
Por
um lado à sensação da culpa:
“ –
Nossa, então Deus deve viver frustrado comigo! Ele deve ficar balançando a
cabeça negativamente constantemente, me reprovando, em diversas coisas que eu
faço, dizendo ‘Eu sabia que você ia pecar!’”.
Por
outro lado à sensação de indiferença:
“ -
Como Ele sabe de tudo, talvez Ele tenha virado as costas e deixado tudo largado
por si! Então viver a minha vida de qualquer maneira...pois já estou
predestinado mesmo”.
Já
antecipo que não é este tipo de fé que creio. Entretanto, vamos evoluir aos
poucos com o assunto.
Neste
contexto de que Deus sabe de tudo, tempos atrás, eu me questionava: “ - Ora...será
que Judas Iscariotes estava predestinado a trair à Jesus? Será que este homem
veio ao mundo como um desgraçado que ficaria marcado pelo resto da vida como o
homem que traiu o Filho de Cristo?”.
Quantas
vezes ficava pensando: “Nossa, imagina se fosse eu o predestinado a julgar
Jesus? Ao invés de Pilatos ser conhecido como àquele que lavou às mãos...as
escrituras sagradas escancarariam o meu nome no lugar do dele como àquele que
foi indiferente!”
Entenda...confesso
que tenho meus dilemas também. Não gosto de esconder meus dilemas atrás de
palavras como “Sofismas” (mentiras vestidas de verdades) ou de palavras como “mistério”.
Mas também tenho consciência de que não tenho um entendimento 100% concreto
sobre o assunto. Também não tenho a petulância de achar que tenho uma verdade
absoluta, aliás se alguém aparecer com uma em mãos...desconfie!
Sempre
disse que Fé verdadeira é regada de dúvidas. Parece um paradoxo, mas não é,
pois “dúvida” não é necessariamente o oposto de “fé”. Para um cristão “não ter
fé” ...é “ter medo”. O oposto da fé é o medo.
Se
ter fé é caminhar sobre dúvidas, o cristianismo nos convida à buscar as
respostas em Jesus de Nazaré. Ele é a hermenêutica...ou seja: a chave de
interpretação, a chave de entendimento!
É caminhando
sobre este pensamento que alicerço a seguinte linha de raciocínio...
Não!
Não acho que Deus, por saber de tudo, tenha largado o mundo “na banguela”
descendo a ladeira! Não creio que o Deus revelado na face de Jesus é um Deus
indiferente. Pelo contrário...Deus se importa muito...Deus faz muito! O próprio
Jesus de Nazaré é a expressão do quanto Deus está imerso no sofrimento humano.
A Cruz é uma expressão na história de algo que já aconteceu na eternidade: Deus
sofreu primeiro!
Deus faz tanto, que sendo o homem um ser que prolifera a maldade, se Ele ficasse de braços cruzados, tudo ao nosso redor já não existira. A maldade teria consumido tudo. Deus é a Pessoa que segue detendo o mal. Fez isso antes, faz agora e seguirá fazendo!
Também não creio que Deus viva frustrado conosco. Que
nossa caminhada terrena seja, por obrigatoriedade, um caminhar com um fardo de
culpa nas costas. Jesus nos convidou a carregar nossa cruz, e não fardos!
Não acho que vivemos em um “determinismo”. Acho que Judas
poderia ter mudado a própria história, assim como Pilatos e tantos outros.
Entretanto, tanto Judas, quanto Pilatos, assumiram os papéis por que permitiram
que os seus egos anestesiassem as suas consciências. Era um risco que qualquer
outra pessoa que estivesse naquela fatia de tempo poderia ter vivido. Por
exemplo, Pedro poderia ter sido o traidor e Judas poderia ter sido o que negou
Jesus por 3 vezes. O problema foi o ego. Como cada um se comportou diante de
seu próprio ego!
Vivemos isso até hoje. E para aqueles que acham que, se
foi Adão e Eva quem cuspiram na cara de Deus, por que hoje a humanidade inteira
paga por este ato, convido à responder a pergunta: “Como você lida com seu ego?”
O que foi o “mastigar da fruta da árvore do conhecimento do
bem e do mau” se não um ato de colocar o ego humano em concorrência com o Ego
de Deus?
Mastigamos este Fruto até hoje. Ruminamos este fruto
constantemente.
Mas não somos predestinados à isso. Podemos cuspí-lo fora. Não estamos
condenados a cometer aquele roubo, assassinato, adultério que “supostamente” estava
préviamente determinado pela história e que Deus já esteja lamentado isso hoje.
Deus nos olha lá de cima e torce para que acertemos!
Torce para que entendamos os valores do Reino que Ele nos propõe, para que
possamos vive-los em plenitude!
A misericórdia de Deus persegue os nossos passos. O mundo
é um mar de possibilidades em aberto. Podemos cuspir este fruto do super ego
fora e abraçar a cruz do Cristo, usufruir da Graça de Deus e voltar para o Pai.
O destino não é um fatalismo pré determinado. O destino é um mar de possibilidades,
onde a mais graciosa é viver uma vida que alegre à Deus...não para que isso
justifique-nos em temos de salvação, pois ela não tem nada a ver com méritos e
tudo a ver com Graça, mas sim pelo fato de que já entristecemos à Deus, e já
passou da hora de reconhecermos isso e tomarmos o caminho de volta, lhe
devolvendo o sorriso nos lábios, a alegria nos olhos, as Glórias que lhe são
devidas, a Adoração que lhe foi roubada!
Não estávamos predestinados a entristecer à Deus em
Gênesis 3. Não estamos predestinados a seguir entristecendo à Deus. Não estamos
predestinados ao fatalismo! Chega de entristecer à Deus!
De fato todos foram chamados...mas apenas uns serão
escolhidos!
Rompa com a rebelião...usufrua com responsabilidade a
Graça que Deus lhe concedeu...a Graça de Existir! Comporte-se como um
escolhido! Faça o seu melhor! Coloque Deus em primeiro lugar e deixe a
predestinação nas mãos Dele! A predestinação é sim um mistério, reconheço isso!
É justamente por isso que ela deve ser um assunto que deve ficar nas e mãos de Deus
e não dos homens.
Não se preocupe se você está predestinado a isso ou aquilo. Preocupe-se em viver uma vida com comportamento de "escolhido", e não somente de "chamado", ainda que você não saiba se é um escolhido. Preocupe-se em buscar ser trigo e não joio. Preocupe-se em ser igual à Jesus Cristo.
Este lance de “Povo Escolhido”, é má interpretação de
gente que se acha parte da “elite espiritual”. Gente pretensiosa que acha ter
em mãos, hoje, aqui e agora, o livro da vida. Gente que acha que é digna de
abri-lo. Gente que se acha Deus, que quer tomar o lugar de Deus! Gente que se
esquece que só Jesus poderá romper o lacre deste livro.
Que o Senhor nos abençoe!
Que o Senhor nos abençoe!
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