quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

QUANDO O SOFRIMENTO BATER NA PORTA

Tendo terminado de orar, Jesus saiu com os seus discípulos e atravessou o vale do Cedrom. Do outro lado havia um olival, onde entrou com eles.
 Ora, Judas, o traidor, conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se reunira ali com os seus discípulos.
 Então Judas foi para o olival, levando consigo um destacamento de soldados e alguns guardas enviados pelos chefes dos sacerdotes e fariseus, levando tochas, lanternas e armas.
 Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, saiu e lhes perguntou: "A quem vocês estão procurando? "
 "A Jesus de Nazaré", responderam eles. "Sou eu", disse Jesus. ( E Judas, o traidor, estava com eles. )
 Quando Jesus disse: "Sou eu", eles recuaram e caíram por terra.
 Novamente lhes perguntou: "A quem procuram? " E eles disseram: "A Jesus de Nazaré".
 Respondeu Jesus: "Já lhes disse que sou eu. Se vocês estão me procurando, deixem ir embora estes homens".
 Isso aconteceu para que se cumprissem as palavras que ele dissera: "Não perdi nenhum dos que me deste".
 Simão Pedro, que trazia uma espada, tirou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. ( O nome daquele servo era Malco. )
 Jesus, porém, ordenou a Pedro: "Guarde a espada! Acaso não haverei de beber o cálice que o Pai me deu? "
 Assim, o destacamento de soldados com o seu comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus. Amarraram-no
 e o levaram primeiramente a Anás, que era sogro de Caifás, o sumo sacerdote naquele ano.
 
João 18:1-13
 
Deus teve apenas um filho santo. Apenas um! Os demais foram todos pecadores. Entretanto, todos os filhos de Deus, tanto os que foram criados, quanto o que foi gerado, ou seja Jesus, sofreram. O sofrimento nos nivela, nos iguala. Inclusive iguala-nos com Deus, pois o Deus revelado na Palavra é um Deus que sofre. Com base neste alicerce, imagino que seja óbvio dizer que o Evangelho de Jesus Cristo não é uma fórmula mágica para anular o sofrimento. Aliás para se concretizar a “Boa Nova” de Jesus Cristo, Deus assumiu a prerrogativa de sofrer. Ele nos amou e não existe amor sem a possibilidade do sofrimento.
 
O texto de João 18:1-13 relata o momento da prisão de Jesus. Ali começaria a se concretizar o sofrimento que Jesus já sabia que teria de passar.  Jesus estava consciente de que beberia do cálice do sofrimento, uma bebida carregada pelos nossos pecados e pela ira de Deus. A singularidade da Grandeza de Jesus de Nazaré na situação é extraordinária. Primeiramente, a atitude de Cristo que parte do “quem não deve...não teme”. Quando os soldados chegam o próprio Jesus pergunta: “A quem estão procurando?”. Imagino uma resposta por parte dos soldados, com um tom de soberba, do tipo de gente que acha que tem autoridade: “A Jesus de Nazaré”. E ai Jesus demonstra o quanto estava preparado para enfrentar o sofrimento. Não tem como não imaginar uma cena onde o tom de voz doce de Jesus responde “Sou eu” e mediante a resposta todos, inclusive Judas, o traidor, recuando e caindo por terra. Estar preparado para enfrentar os problemas, o sofrimento, é estar consciente de que quem não deve nada, não tem o que temer. Diante de alguém que tem uma vida transparente, todos os seus acusadores recuam e caem por terra, pois a justiça de Deus para com o homem nasce na atitude do ser humano que busca viver os valores do Reino de Deus.
 
O relato continua com Jesus conduzindo a situação. Ele pergunta novamente “A quem procuram?”. Mais uma vez os soldados respondem: “A Jesus de Nazaré!”. Então numa demonstração única do que é amar ao próximo, Jesus, consciente de tudo o que iria passar, disse: “Já lhes disse que sou eu. Se vocês estão me procurando, deixem ir embora estes homens”. Já parou para pensar nisso: quando temos um amigo em uma situação ruim, é muito mais fácil pensarmos nele, em tentar ajuda-lo...enquanto...quando estamos nós, em uma situação ruim, como é difícil abrir mão de pensar em nós mesmos e pensarmos nos outros. Jesus sempre pensou no próximo, e aqui não foi diferente. Ele estava sendo preso, sabia o que iria enfrentar, e ainda assim buscou cumprir o “Não perdi nenhum dos que me deste”.
 
Por fim Simão Pedro, impulsivamente, puxa uma espada e corta a orelha de Malco, um dos soldados. Este relato de João não descreve, mas a tradição cristã relata que Jesus opera um milagre impressionante: restaura a orelha de Malco. Imagino a cabeça deste homem, Malco, como os pensamentos dele foram desconstruídos com a atitude de Jesus: “Venho prender um homem, que nem sequer cometeu crime algum, um de seus homens corta a minha orelha, e o homem que vim prender me concede a graça do milagre de restaurar a minha orelha?”. Não é à toa que muitos teólogos alegam que Malco se converterá a mensagem do Cristo posteriormente.
 
Que contexto não? Imagino que se mobilize um batalhão do BOPE para prender um traficante. Mas um batalhão do BOPE de Roma, liderado por um homem que comia na mesma mesa que Jesus, um traidor, para prender um ser como Jesus de Nazaré, dócil, amoroso e bondoso...só escancara a condição suja que nós humanos estamos.
 
O dia do sofrimento de cada um de nós há de chegar, assim como chegou para o próprio Deus. É inevitável. Jesus não foi um avatar de Deus. Jesus é Deus. A cruz expressa algo que ocorreu na eternidade, expressa o sofrimento de Deus aos olhos humanos. O Evangelho de Cristo nos traz a consciência necessária para que o homem enfrente este dia. Somos desafiados a enfrentar o sofrimento com a mesma grandeza que o Cristo enfrentou. Precisamos assumir a mesma atitude de Jesus.
 
Jesus quando orou, clamou pela vontade do Pai. Aceitou o cálice do sofrimento. Por que nós insistimos em fazer da oração um meio de blindar as nossas vidas contra todos os males, para que passemos pela vida sem resvalar nos espinhos que estão espalhados pelo caminho. Oramos para pedir para Deus tirar os espinhos quando precisamos orar pedindo para Deus ir conosco pelo caminho. O evangelho de Jesus não é uma bolha para nos proteger contra as coisas malignas. O evangelho de Jesus é a certeza de que Deus caminhará conosco sempre, independente dos espinhos, guardando nosso coração de se tornar mal.
 
O que determina o nosso caráter? As situações da vida ou os valores que Jesus nos ensinou com o seu viver?
 
Um dia o sofrimento vai bater na nossa porta é inevitável. Que neste dia a gente esteja com Jesus.

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