segunda-feira, 28 de abril de 2014

OUTSOURCING DO PECADO

No mundo da informática é muito comum ouvir a palavra "Outsourcing". A terceirização ou outsourcing é uma prática empresarial que tem como objetivo aumentar a qualidade de determinados serviços dentro de uma empresa. Um exemplo muito comum de Outsourcing é a contratação de empresas no ramo de serviços de impressão. Essas empresas terceirizadas disponibilizam impressoras, papel, cartuchos de tintas e até profissionais especializados em manutenção de impressoras para que a empresa contratante não se preocupe em ter uma equipe interna responsável pela parte de impressão. Sendo assim a responsabilidade de todo o serviço de impressão não fica na responsabilidade de um departamento interno, mas sim de uma empresa terceirizada. Resumindo, o outsourcing é a transferência da responsabilidade de algum serviço para um terceiro.
 
Interessante que esta mesma prática está presente na vida de muita gente quando o assunto é pecado. Gente que vive em maldade com atos, pensamentos e omissões e terceirizam a sua culpa nas costas do diabo, ou até mesmo de outras pessoas. É o outsourcing do pecado. A culpa é sempre de todos menos minha.
 
Isso me faz lembrar uma história que certa vez ouvi um pregador contar. Dizia ele que um pastor de uma pequena igreja acompanhava bem de perto a vida dos membros da comunidade. Tinha um irmãozinho fofoqueiro que vivia acusando os pecados dos outros. No fim da celebração lá vinha ele falar com o Pastor: " - Que Palavra Pastor, tenho certeza que foi para fulano, pois ele está com a vida toda em desordem!". E assim seguia a rotina, celebração a celebração..." - Nossa esta palavra foi para Siclano!"..." - Pastor, você falou tudo o que beltrano precisava ouvir!"...e aquilo foi incomodando o Pastor. Ora, nunca a palavra é para aquele irmãozinho...sempre é para os outros. Até que um dia um temporal caiu sobre a cidade bem na hora da celebração. Quando o Pastor chegou, a igreja estava vazia e só aquele irmãozinho fofoqueiro estava no sentado no banco. O Pastor então pensou " - É hoje que vou pregar para este rapaz!". E assim ele fez, pregou sobre fofocas, sobre a maldade dos comentários e como não se devia falar da trave nos olhos dos outros sem antes tentar retirar a trave dos próprios olhos. Ao final da pregação, a igreja praticamente vazia, o irmãozinho vai até o pastor e diz: " - Pastor, que palavra extraordinária, ótimo sermão, uma das pregações fortes que ouvi nos últimos tempos. Iria falar muito com fulano, pena que ele não veio hoje no culto!".
 
Ora não é assim com muito de nós? Pecamos, pecamos e pecamos e na hora de assumir a responsabilidade das consequências do nosso pecado, terceirizamos a culpa. Acho engraçado o fato da palavra "demônio" ter o significado de acusador. Isso por que um dos mais acusados de nossos pecados é o próprio demônio. Quantos de nós não colocamos a culpa de nossos pecados nas costas do diabo? Ao fazermos isso, quem assume o papel de acusador, ou seja, demônio, somos nós!
 
O diabo (Que existe sim! Não se iluda!) não é um coitado que recebe a culpa dos nossos pecados. Longe disso! Mas o diabo não é o responsável da nossa maldade. Ele oferece o fruto do pecado, mas a decisão de comer vem de nós. É como sempre ilustro, nós entramos com a vontade de dar a paulada no outro, o diabo aparece com o pedaço de pau. Ele é o fator multiplicador da nossa maldade, mas a maldade nossa, é nossa e não dele! Para quem acha que o diabo se importa de ficar levando sobre as costas a culpa do nosso pecado, não se iluda, isso é o que ele mais quer, pois ele sabe que fazendo isso, ele está destruindo vidas. O diabo sabe que a pessoa que transfere a responsabilidade do seu pecado para outras pessoas jamais será capaz de experimentar o perdão e a graça que Deus concede através da cruz. A terceirização do pecado é pecado. O ato de terceirizar a culpa de nosso pecado é uma auto sabotagem. Enganamos a nós mesmos. Pensamos que enganamos a Deus, mas Deus não pode ser enganado: Ele é Deus! Tudo sabe!
 
Na tradição da igreja católica há uma oração de confissão à Santíssima Trindade que diz:
 
"Eu pecador me confesso,  ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, porque peco muitas vezes por pensamentos, palavras, atos e omissões, por minha culpa, por minha máxima culpa. Por isso peço ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, o perdão dos meus pecados e a força e o propósito de me emendar e de não tornar a pecar."
 
Por minha culpa, minha máxima culpa...é o escape do Outsourcing do Pecado. Parece óbvio, mas não é simples. O homem tem a dificuldade de vencer o próprio ego e assumir em si a culpa de seus erros. Nisso somos imagem e semelhança muito mais do demônio do que de Deus, pois assumimos o papel de acusadores, distorcendo em nós a imagem do Pai.
 
Deus é o Pai que recebe o filho pródigo e o perdoa sem acusar-lhe de nada. Nós somos (ou pelo menos deveríamos ser) o filho que ao voltar para casa diz " - Pai, pequei contra ti (por minha culpa, minha máxima culpa), não sou mais digno de ser chamado como seu filho...trata-me como um de seus empregados!"
 
Nas costas de quem temos jogado a culpa de nossos pecados? Culpa é fardo, não é cruz. O Evangelho de Jesus é uma boa notícia de Graça e não de culpa. O segredo para se viver em plenitude um evangelho de graça e não de culpa é assumimos a nossa culpa, nossa máxima culpa, pois só assim o poder da graça concedida na cruz do calvário tem efeito, afinal de contas saber que se tem culpa é o primeiro passo para se identificar a necessidade do arrependimento. Para se clamar por perdão é preciso estar arrependido. Para se usufruir da graça é preciso saber que o perdão é necessário. Este é o processo que resume a jornada que nos leva do estado de espírito de Adão para o estado de Espírito de Jesus.
 
O nosso pecado não é culpa do diabo nem de Adão ou Eva. Nosso pecado não é culpa do padeiro, do leiteiro e muito menos do dinheiro, da cerveja ou do cigarro. O nosso pecado é culpa nossa, nossa máxima culpa. Não existem terceiros na jogada, existe o nosso "eu", o nosso ego e seus apetites. Por isso todo tempo é tempo de arrependimento, todo tempo é tempo de se render ao Pai, todo tempo é tempo de restituir a Deus toda honra e glória que lhe é devida! Deus glorifica o Seu Santo Nome redimindo a Sua criação. Deus glorifica o Seu Santo Nome provendo Perdão e Graça na Cruz, nós glorificamos o Seu Santo Nome assumindo a culpa, a máxima culpa do nosso pecado de forma que este ato gere em nós contrição e arrependimento, pois com o coração contrito e arrependido, em outras palavras, quebrantado, nos tornamos participantes da Cruz de Jesus. É na Cruz de Cristo que nos gloriamos, pois só está glória nos é cabível. E o que faz ela cabível é o fato de que na Cruz o Nome do Senhor é Santificado.
 
Que nosso eu seja diminuído mais e mais para que o Nome de Deus siga crescendo sempre e sempre...em direção ao infinito!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

DONADS

Hoje em dia é raro ver a criançada jogando fubéca (bolinha de gude). Com a evolução do mercado de brinquedos e jogos eletrônicos muitas brincadeiras de rua, como a marreta (ou taco), a fubéca e o peão foram ficando de lado. Me lembro que durante o decorrer do ano existia-se uma época para tudo. Tempo da pipa, do peão, da fubéca, da marreta (ou taco), carrinho de rolimã...bons tempos! Como era legal fazer “aleluia de fubécas”: quando chegava ao fim a temporada de jogar bolinha de gude, a criançada subia a ladeira e derramava o pote de fubecas na descida para quem quiser pegar...pensa numa correria! Quem já está pra lá dos seus 30 anos de idade, como eu, sabe de que “saudades” estou falando. A rua era o quintal da criançada, era muito menos perigosa do que nos dias de hoje. Existiam-se muito mais terrenos baldios com campinhos de futebol, barro puro, do que se tem hoje (afinal de contas as construtoras compraram todos os terrenos para se construir edifícios e empreendimentos).
 
Quem não se lembra dos grandes potes lotados de fubécas? Tinha as coloridas, chinesinhas (ou do Paraguai). Também tinham as de leite, branquinhas, as minhas preferidas. E os famosos “butigãos” (fubécas gigantes) que faziam um tremendo estrago. Potes de Margarinas, Nescau, Toddy, Leite Ninho...viviam lotados das “redondinhas de vidro”. A fubéca, versátil, possibilitava diversos tipos de jogos: mata-mata, triangulo, buraco...e por ai vai. Mas o mais interessante era o “linguajar popular” que ditava as regras dos jogos. Dentre os mais usados estava o “Donads”...uma espécie de “não no dada” ao adversário. Era mais ou menos assim: antes da jogada do adversário, para indicar que ele não tinha direito a nada, falava-se “Donads”, para não permitir nenhum recurso ao adversário. Um exemplo clássico era o “limps”. Como o jogo geralmente acontecia em terrenos, era natural que a superfície onde as fubécas rolavam tivessem pedaços de madeira, pedras ou outras coisas obstruindo a trilha entre uma fubéca e outra. Para facilitar a jogada, o jogador poderia pedir o “limps” e retirar todos os objetos entre sua bolinha de gude e a do seu adversário. Para impedir que o “limps” fosse requisitado, dizíamos “Donads” (alguns enfatizavam “Donads sem limps”), ou seja: “ – Você não tem direito a nada”.
 
Bom, lembranças à parte, o que isso tem a ver com Cristianismo? Engraçado, mas não é assim que tem acontecido em muitas igrejas? Vejo gente falando para Deus que quer os seus direitos e fico imaginado que Deus está no céu falando “Donads!”...ou traduzindo “ - você não tem direito a nada, a Minha graça te basta!”. Por que o homem insiste tanto em pedir para Deus aquilo que ele pensa que tem direito? Por que o homem acha que merece algo? Por que o homem acha que possui méritos a reivindicar? Quando Deus nos diz “Donads”...Ele ainda está sendo muito bom com a gente, pois se formos francos e verdadeiros com nós mesmos veríamos que Deus deveria nos dizer “Doinferns” (tradução: dou lhe o inferno). Somos merecedores do inferno. Já parou para pensar que se Deus nos mandar para o inferno, nenhuma manchinha se quer iria sujar o Seu caráter? Nós cuspimos na cara de Deus com o nosso pecado arrogante e soberbo de nos declararmos independentes Dele. Deus nos criou para viver em harmonia com Ele. Só há vida em Deus. Não existe vida sem ser Nele. O pecado da humanidade é justamente este...achar que pode ser deus de si, se bancar...viver de forma autossuficiente! Mas só em Deus nós somos, nos movemos e existimos. O nosso pecado... a nossa queda...por nossa máxima culpa...nos colocou em condição de morte. Deus nos provê na Cruz de Jesus o escape. Esta é a Graça que Deus nos proveu. Não tem a ver com méritos. Tem tudo a ver com quem Deus É e não a ver com quem nós somos. Por isso precisamos a aprender a glorificar o Nome de Jesus simplesmente pela resposta que Deus nos provê “Minha Graça te basta!”.
 
Glorifiquemos ao Pai por todos os “Donads” que recebemos como resposta de nossas orações, pois é este tipo de resposta que nos leva ao mais profundo entendimento de que a Graça de Deus nos basta, só assim aprenderemos a viver o verdadeiro “tudo posso Naquele que me fortalece”...pois só quem entende verdadeiramente a Graça de Deus sabe viver em toda e qualquer circunstância!
 
Que o nome do Pai seja glorificado em nossas vidas!

CONTINUE


Sempre gostei muito de jogar videogame. Tive Atari, Game Boy, Mega Drive, Master System, Super Nintendo, PSP e hoje tenho um Xbox. Joguei muito Enduro, River Raid, Alex Kid, Eco the Dolphin, Super Mario Bros, Donkey Kong, Street Fighter, Mortal Kombat, Super Star Soccer e tantos outros jogos que demoraria horas aqui relatando. Interessante perceber que os jogos (a maioria deles) possuíam uma coisa em comum: o “Continue”. No empenho de esforço para poder “fechar” o jogo, ou seja, evoluir todas as fases até finalizar todo o game, era natural que em algum momento houvesse uma dificuldade maior. Ao empacar em uma determinada fase, o jogador do console (vídeo game) tinha que fazer o uso do “Continue”. Por exemplo no Super Mario Bros você podia jogar com o “Mario” ou com o “Luigi” e possuía um determinado número de “vidas” para seguir jogando. Cada erro no jogo, uma vida ia embora. Ao se esgotar todas as vidas, ao invés de ter que iniciar todas as fases novamente e começar tudo de novo, o game possibilitava ao jogador, através do recurso “continue”, seguir jogando da fase onde o mesmo havia esgotado a sua última vida.
 
Eu entendo que esta possa ser para muitos uma analogia simplista e hipócrita, mas imagino que Jesus tenha feito algo similar para nós na cruz do calvário. Ali no madeiro, Jesus nos proveu um “continue” Todos iremos passar pela morte. O fato é que um dia teremos que encarar o “ceifeiro”. O ato de Cristo na Cruz nos convida a vencer a morte. É Deus nos provendo um “continue”. Deus nos dizendo: “ – Não termina aqui, vamos seguir juntos!”. É claro que comparar a vida como um jogo de vídeo game talvez não seja a melhor forma de se ilustrar a jornada humana. Entretanto a vida é composta de fases, e assim como um jogador exerce “controle” sobre o personagem do game, Deus possui a prerrogativa para exercer Senhorio sobre toda a humanidade. Deus deseja que todo homem complete sua jornada, que o homem não “morra na praia”, que sua vida termine em uma determinada fase da jornada. Deus sabe que o fim de cada ser humano é ser gente em plenitude como Jesus é gente. Deus deseja que cada um de nós sejamos igual ao Seu amado filho Jesus, o Messias. E é através do próprio Cristo que Deus aperta o botão no controle confirmando na Cruz do Calvário o “Continue”.
 
É claro que a vida é muito mais que um jogo. É claro que este mundo é muito mais complexo que um console de vídeo game. Jesus sabia desta complexidade. Ele afirmou: “ - Tende bom ânimo Eu venci o mundo!”. Jesus nos convida a viver uma vida como a que Ele viveu. Em submissão ao Pai, pois só assim usufruiremos do “Continue” da Cruz.
 
Como disse anteriormente, a vida não é game, é mais complexa do que um jogo. Mas assim como os games, a vida consiste em uma jornada que é composta de fases. A fase da infância, da adolescência, da faculdade, da enfermidade...N fases. Não necessariamente passaremos por todas, mas obviamente muitas fases são inevitáveis. Diria que a morte é uma delas. Esta é uma das fases mais difíceis que temos que enfrentar. Talvez só haja uma fase mais difícil do que esta: a fase de reconhecer que precisamos do “Continue” de Deus. Sabe o que torna esta fase mais difícil do que a fase da morte? Creio que seja o fato de reconhecermos que não somos autossuficientes, que dependemos de Deus, e que sem Ele não somos nada. Isto é extremamente difícil, pois implica em reconhecermos que somos criaturas malignas, dependentes da bondade de Deus, de Sua Graça, de um favor que jamais teremos como provar que merecemos. Isto é extremamente difícil pois implica em rendição, crucificação do nosso ego, dos nossos apetites, nossas paixões...nosso “eu”. Esta é a fase mais difícil na vida do homem, mas ao mesmo tempo é fase mais valiosa...pois é nesta fase que percebemos que o “Continue” é Deus!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

CRISTÃOS EMANUÉIS

Ao final da celebração vem o apelo do pastor: “ – Aqueles que desejam aceitar Jesus como Salvador de suas vidas façam um sinal com a sua mão e iremos orar por você”. No último banco da igreja um jovem timidamente ergue o braço. O diácono então se dirige ao jovem rapaz, abraça e conduz o mesmo até o pastor. A igreja está em alegria. O pastor então ora pelo rapaz e ao final diz: “ – Pronto, agora você está com o nome escrito no livro da vida”. Então o pastor encerra o culto e todos vão para casa.
 
O script é quase sempre o mesmo. Mas a pergunta em relação as condutas das igrejas e dos seus pastores é...será que é simples assim? Quanta gente acha que salvação está diretamente ligada a esta “receitinha de bolo” de apelar por uma braço erguido no final do culto? Fico pensando...ta bom...foi dado ali um primeiro passo...mas quem irá ajudar aquele rapaz a dar os passos seguintes? Quem irá discipulá-lo?
 
Neste sentido concordo com o pregador Paul Washer. O simples gesto de se erguer a mão em um apelo no final do culto é muito raso para se afirmar que uma pessoa está com o nome escrito no livro da vida. É muita arrogância humana afirmar que o nome de fulano ou siclano está escrito no livro que só...somente ...Jesus poderá abrir.
 
A nossa parte não é decidir quem vai pro céu ou pro inferno. Isso não é prerrogativa nossa. A nossa responsabilidade é divulgar o evangelho de Jesus para todos de forma que o sangue redentor do cordeiro alcance vidas. Em outras palavras, o nosso papel consiste em tornarmo-nos veículos da graça de Deus, para que a maior densidade do Seu Reino possa ser concretizada aqui e agora. Sendo assim, é preciso ir mais profundo do que os apelos no final dos cultos. É preciso discipular. E para quem acha que discipular é falar de Deus para as pessoas, está muito enganado. Discipular está além disso. Consiste em ensinar as pessoas a obedecerem os valores de Deus. É muito mais difícil do que simplesmente falar de Deus. Além disso, esta é uma caminhada infinita. Muita gente acha que o batismo é a formatura do discipulado. O batismo passa longe disso. Batismo é parte do processo, mas mesmo depois de se batizar as pessoas seguem em aprendizado. Talvez o que “passaria perto” de uma “formatura” para o discipulado seria o fato de ser arrebatado no fim dos tempos. Mas isso é prerrogativa de Deus, pois só Ele conhece os corações de cada um de nós.
 
Um amontoado de tijolos não é necessariamente uma casa, assim como um amontoado de textos bíblicos não é necessariamente um ensinamento cristão. Dentro deste contexto, falar de Deus não é o mesmo que ensinar a obedecer a Deus. Para se discipular alguém é necessário estar perto e de forma constante. Quem discípula sabe que enquanto ensina o discípulo a obedecer a Deus, também aprende com o discípulo a obedecer a Deus.
 
Billy Grahan certa vez afirmou que a Graça é de graça, mas que o discipulado custa tudo. Mas quem de nós está disposto a abrir mão de tudo para se tornar um discípulo de Jesus? Quem gostaria de abrir mão dos apetites da própria alma para obedecer? Ai é que entra o cerne desta reflexão...para muita gente, erguer a mão no final do culto para reconhecer Deus como salvador de sua vida é ou pode ser constrangedor, mas é muito mais fácil do que viver ali no dia a dia a crucificação do próprio “eu”...permitir-se ser discipulado...confirmar a cada amanhecer a sua redenção à Deus...lhe rendendo a Glória que lhe é devida...permitindo que o Espírito Santo massacre o seu “eu” para que o velho homem morra e um novo ser venha a nascer no batismo (que simboliza, no afundar nas águas, a morte do velho homem e, no retornar a superfície, o nascimento do novo homem)...e ainda assim seguir em uma vida de obediência ao Pai, confirmando a cada segundo um coração muito mais parecido com o de Cristo do que com o de Adão.
 
Engana-se muito quem acha que Deus busca quantidade...templos lotados! Deus busca gente sincera de coração, adoradores em Espírito e em Verdade. Quantos pregadores em suas cruzadas evangelísticas enchem o peito para dizerem...”600 pessoas foram aceitaram a Jesus”...e a pergunta que fica é...destes 600...quantos foram discipulados? Quantos seguiram em busca de um relacionamento profundo com Deus?
 
Ainda assim, mesmo sabendo que Deus deseja muito mais corações com qualidade em sinceridade do que quantidade...insistindo em falar de quantidade...acredito de todo coração que um pregador jamais deveria se gloriar do número de gente que aceitou a Jesus. Isso por que se 600 aceitaram Jesus...em uma multidão de 1000, é motivo de tristeza que 400 permaneçam com o coração endurecidos como pedra. Se 600 são “trigo” é motivo de tristeza saber que “400” são “joio”...pois Deus está acima do bem e do mal e deseja que TODOS sejam salvos.
 
Deus não se importa com quantidade...ele deixa 99 ovelhas no campo para buscar uma. O foco Dele está em qualidade...corações sinceros!
 
Somos sal da terra...não devemos ficar no saleiro...temos que fazer a diferença...acompanhar as pessoas de perto...fazer como Deus, que se esvaziou e se fez imerso na humanidade...tornou-se “Emanuel”...Deus bem perto...Deus conosco...Deus em nós! Temos que ir no profundo...sair do raso...ir além do apelo no final do culto...acompanhar de perto.
 
Todo pregador possui responsabilidade sobre a vida de alguém que aceitou Jesus como salvador mediante ao apelo de sua pregação. Precisamos adquirir esta consciência, pois só assim conseguiremos acompanhar essas pessoas mais de perto.
 
Se somos cristãos...ou em outras palavras...”pequenos cristos”...temos que assumir a atitude de estar perto... “cristãos emanuéis”...bem pertinho daqueles que precisam de nós!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

UMA OFERTA A MAMÓN

Há quem diga que o dinheiro é algo neutro...não é bom e nem é mal. Mas concordo com o pensamento do Pastor Ed René Kivitz. Neutro é um copinho plástico jogado no chão. Quem passa por um copinho de plástico e o pega e coloca no bolso para gastá-lo? A maior dificuldade dos homens é colocar o dinheiro no seu devido lugar. Já se perguntou: quem serve quem? Eu sirvo o dinheiro ou ele me serve? Dinheiro elevado a status de Deus chama-se Mamón. Jesus nos alertou isso em Mateus 6:24: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”.
 
Vivemos em uma sociedade adoradora de Mamón, isto é fato. O dinheiro está por todo lugar escravizando o homem. É a realidade da Berrini, da Paulista...de gente que almeja cargos e cargos ainda maiores para poder ganhar mais. Não é à toa que a nossa sociedade possui diversas pessoa tão pobres que não possuem nada além de dinheiro. Triste ver como isso é uma realidade ao nosso redor. Quantos pais não tem tempo para seus filhos por que são fissurados em horas extras!? Quantas pessoas já não sabem o que é “família” por que vivem enclausuradas em suas realidades profissionais?
 
Mamón reina no mercado. Mamón reina nos corredores das multinacionais. Mamón reina em países sul-africanos onde a fome mata. Reina não por que tem um reino de direito, mas sim por que os homens entregam de “mão beijada” nas mãos de Mamón aquilo que Deus nos confiou. Mamón distribui por ai seus altares: lojas de grifes famosas, lojas de celulares de última geração, lojas de joias e brilhantes...e o homem segue lhe provendo suas ofertas. Na nossa realidade, o homem entrega ali, no altar de Mamón, 100...200...1000...3000...reais...dólares. Mas aos olhos de Deus, na boca do caixa de cada uma destas lojas, altares de Mamón, estamos levando uma criança raquítica, desnutrida, pele e osso. Esta é a oferta que espiritualmente não vemos. Mamón diante de nós, e a gente de joelhos perante a ele, entregando como oferta a vida de mais um miserável.
 
Mais triste ainda é ver que estes altares são montados dentro das igrejas. O local onde deveria ser lugar de oração e adoração a Deus é transformado em um ritual satânico de adoração a Mamón. Dízimos e ofertas em troca de bênçãos e milagres, tudo a pronta entrega. A religião dos adoradores de Mamón é o capitalismo que cega seus seguidores. É assim que a vida segue em frente, ditando sobre nós a lógica da rebelião, do egoísmo. Um Iphone pra mim ou uma refeição digna ao miserável? Um Cruze 2.0 ou uma educação que poderá mudar a vida de um órfão? Um jantar de 600 reais no Figueira Rubayat ou uma marmitex ao mendigo que pede esmola no farol? Um edredom de linho fino feito Dubai para o seu sono gostoso ou um cobertor das Pernambucanas para o menino de rua que vai enfrentar a madrugada fria em baixo de um viaduto da cruel cidade de São Paulo?
 
O que temos ofertado nas igrejas tem sido para Deus ou para Mamón? As nossas vidas tem sido um culto a Deus ou a Mamón?
 
Que Deus nos de sabedoria para lidar com este assunto tão delicado chamado dinheiro!

quinta-feira, 10 de abril de 2014

TUDO PELA METADE DO DOBRO

No mundo dos negócios é muito comum se afirmar que a “propaganda é a alma do negócio”. Bem sabe disso o diabo. Ele é expert em publicidade e propaganda. Ele conhece o seu público alvo! O diabo sabe o que oferecer para todo tipo de gente. Ele conhece os apetites do ser humano. Sabe que o homem é movido por um ego que proclamou independência de Deus e tem a tendência a se tornar absoluto. Sabe disso por que tem um ego similar ao do ser humano, contaminado pelo desejo de ocupar o lugar de Deus. Para cada faixa etária uma propaganda. Para cada situação uma publicidade. A propaganda enganosa é a alma do pecado. É ela a responsável em tornar “tentação” em “pecado”. O diabo domina esta arte. Sabe qual bandeja preparar para cada apetite humano. Monta os Outdoors de acordo com as ocasiões, simplesmente para nos fazer afundar ainda mais na condição de “queda” na qual nos encontramos.
 
Ao nos depararmos com as propagandas enganosas do diabo raramente percebemos a sabotagem em sua oferta: “Tudo pela metade do dobro!”. Achamos que o custo das nossas atitudes, omissões e pensamentos sairão baratos, mas no fundo pagaremos muito caro pelas nossas iniquidades. Assim como o diabo está longe de ser aquele ser avermelhado, com chifrinhos, rabo e um tridente nas mãos, as suas ofertas passam longe de se parecerem com pecado. Ele é mestre na propaganda ilusória. Como se não bastasse isso, há também a ingenuidade por parte do homem em pensar que o diabo se importa em levar a culpa de nossos pecados. Quanto mais acusarmos ele de nossos pecados, e não assumirmos os nossos próprios erros, melhor para ele, pois ele veio para destruir e matar, e quer maior caminho de morte do que ficar colocando nos outros a culpa de nossos pecados?
 
A negociação ilícita, o caso com a secretária, o abuso do menor, a prostituição, as palavras torpes, o ódio pelo próximo, a indiferença para com os marginalizados...tudo isso ganha uma roupagem bonitinha pelo mestre do designer enganoso, o publicitário demônio, que faz pesquisa de mercado no mundo (inclusive dentro das igrejas) para poder gritar aos ventos “tudo pela metade do dobro”, de forma que pessoas e mais pessoas caiam em suas armadilhas.
 
O homem é pecador. A culpa do nosso pecado é nossa: sim, nossa culpa, nossa máxima culpa. O maior pecador que nós conhecemos somos o nosso próprio “eu”. Culpar o demônio é um caminho de morte. Mas acreditar que ele não existe também é. Ele existe e deseja destruir e matar. O diabo não é responsável por nossos pecados. Numa analogia simples, poderíamos exemplificar assim: quando você estiver pecando com o desejo de dar uma paulada em alguém, o diabo lhe entregará em mãos um pedaço de madeira bem rígido  e ficará soprando em seu ouvido...” – Desce a lenha!”.
 
O nosso pecado existe e temos que nos arrepender sempre. O diabo entra no cenário de nossas vidas com suas propagandas enganosas para multiplicar os processos de maldade em nossa alma, para que de abismo em abismo encontremos a morte. Nós somos tentados com a vontade de fumar, ele aparece com o cigarro. Nós somos tentados com a vontade de beber, ele nos serve um conhaque.  Lembre-se: “Tentação” não é “pecado”, ceder à tentação é pecar. Todo pecado que cometemos é por nossa máxima culpa. O diabo é o exponencial, o fator multiplicador de nossas atitudes, omissões e pensamentos que visa “super-dimensionar” os pecados do nosso ego. O custo é muito mais caro do que o “tudo pela metade do dobro”. O cristão não peca por escolha. O pecado do cristão deve ser um acidente. A atitude consequente do mesmo é o arrependimento. O Espírito Santo nos convence do nosso pecado, mas para que isso aconteça Ele deve ser convidado a fazer morada em nosso ser. Um Deus Santo só habita em um lar santo. Nós não somos santos, mas o sangue de Jesus nos purifica e torna o nosso ser habitável ao Senhor. Que o Senhor nos dê discernimento para viver uma vida assim, em pró de sermos tabernáculos vivos para o Espírito Santo.

A MAIOR MALDADE QUE UM MALVADO PODE LHE FAZER

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado”.
“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso! E se vocês saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês”.
Mateus 5.38-48
 
“Tal crime, tal pena”...assim dizia a lei de talião. Olho por olho e dente por dente. Proporcional e ponto final. Esse era o princípio que impedia que as pessoas fizessem justiça por elas mesmas, de forma desproporcionada, com relação a algum crimes ou delito. Isso me lembra a minha infância. Quando eu brigava com minha irmã e ela me dava um chute, eu dava-lhe outro com mais força, então ela me dava outro ainda mais forte...e assim seguíamos até que a dor fosse absurda a ponto de um dos dois  não conseguirem mais chutar ou nossa mãe nos separar. O ser humano não tem senso de justiça. Acha que tem, mas não tem. O pouco que o ser humano tem de sabedoria para lidar com justiça vem de Deus.
 
Interessante ver como Jesus, em Seu famoso Sermão do Monte, vai na contra mão da ideia da reação proporcional. Jesus nos convida a uma atitude diferente e ousada. Quem de nós estaria disposto a oferecer a outra face do rosto depois de tomar uma bordoada no pé do ouvido? Quem de nós estaria disposto a dar também o IPhone a um ladrão que só exigiu em seu roubo os fones de ouvido? Quem de nós estaríamos dispostos a ir em mais 4 caixas eletrônicos, depois de ter ido em 2 caixas para sacar dinheiro em um sequestro relâmpago? Quem de nós ousaria ir na penitenciária perdoar e evangelizar o criminoso que tirou a vida do nosso filho?
 
Acima do bem e do mau reina o Amor. Lá o Perdão e a Misericórdia andam de mãos dadas. Por isso o sol nasce para todos. Por isso a chuva cai sobre os bons e os maus. A lei de Deus nos revela a moralidade de Deus. Explícita os bons e os maus. Distingue aqueles que são pacificadores e aqueles que promovem a violência. Distingue aqueles que amam, inclusive os maldosos, e aqueles que vivem sobre o ódio. Separa o joio do trigo. Separa aqueles que perdoam e aqueles que se vingam.
 
Lembro-me do primeiro dia de aula do meu filho. Conversei com o seu professor de Educação Física. Disse a ele que precisava lhe pedir algo especial em relação ao meu filho. Meu filhote chorava muito quando perdia um jogo de futebol, então pedi ao seu professor de Educação Física que ensinasse meu filho a não ser um perdedor, mas que ensinasse ele a perder. Que ensinasse ele a desejar ganhar e ser honesto para conquistar vitórias, mas que se ele perdesse, que ele ficasse feliz por aqueles que ganharam e que usasse a perda como aprendizado para a vida.
 
Acho que Jesus, nas entrelinhas, está nos ensinando algo muito parecido. Jesus levanta uma bandeira! Nos diz que muitas vezes é melhor perder do que ganhar. Melhor perder no quesito “quem dá o chute mais forte” do que machucar um irmão. Melhor dar a outra face a tapa do que seguir com o ciclo de violência para ganhar uma briga. É melhor perder a capa e a túnica do que ser espancado e ou morto por um soldado romano. É melhor sofrer o dano do que contribuir o ciclo de violência ao nosso redor. Melhor assumir o dano do que seguir no olho por olho, dente por dente. É melhor perder o celular do que matar o trombadinha.
 
Em outras palavras Jesus nos diz que a vida vale mais. Vidas humanas valem mais do que coisas. Processos de perdão produzem mais vidas do que o ciclo da vingança. É melhor perdoar do que se vingar. É melhor perder coisas materiais do que perder pessoas.
 
O desafio do cristão consiste na capacidade de resistir ao malvado. Aliás vai além disso, se fundamenta na capacidade de não se praticar a maldade. O maior mal que um malvado pode nos fazer é nos tornar malvados. É nos incluir no ciclo de sua maldade como agentes que veiculam a maldade. É transformar a nossa imagem e semelhança de Deus (que o Próprio Deus depositou em nós) em imagem e semelhança de uma besta, animal dirigido pelo próprio ego. Quando isso acontece a nossa imagem e semelhança de Deus fica para trás. A partir daí o nosso ego nos cega. O nosso coração fica duro como pedra e infelizmente pecamos. Um coração incapaz de fazer o mal é semelhante ao coração de Deus. Aqueles que mantém o seus corações em santidade, íntegros, guardando-os contra a maldade preservam em si a imagem e semelhança de Deus que um dia o próprio Deus depositou em nós. Então somos identificados como filhos de Deus, dando vazão ao Espírito Santo para sermos aperfeiçoados à medida da perfeição do Pai.
 
Romper com o ciclo do olho por olho e dente por dente implica em sacrificar-se, pregar o nosso ego na cruz juntamente com Jesus. O sacrifício se fundamenta e se sustenta no amor, e é impossível amar sem perdoar. Sendo assim as perdas não podem deixar resíduos de mágoas, ressentimentos, ódios ou desejo de vingança. Jesus sabe que é possível perder sem se perder. Jesus sabe que o verdadeiro cristão sabe lidar com perdas sem perder a alma. Jesus sabe que nós só aprendemos isso em plenitude quando silenciamos o nosso ego. É amordaçando o nosso ego que aprendemos perder em argumentos para ganhar pessoas. A descentralização do nosso ego nos liberta. Isso somente é possível quando reconhecemos que somos maus, ou pelo menos tendenciosos a maldade tanto quanto aqueles praticam o mal contra nós. Precisamos enxergar a nossa face no malvado que está diante de nós.
 
O malvado diante de nós sempre nos provoca dois tipos de reações: ou nos arrasta para dentro do ciclo da sua maldade ou nos impulsiona a transcender o mal e agir com misericórdia e perdão.
 
O Espírito Santo nos capacita a assumir e sofrer danos sem perder a alma. Nos ensina a reagir ao mal sem que o mal se apodere de nós. Por isso é necessário que nos esvaziemos de nosso senso de méritos e justiça, dando vazão ao Espirito Santo, para que Ele nos convença dos nossos pecados e faça Sua obra em nosso ser. Isso só é possível se nos identificarmos com o mal e os malvados, percebendo-nos pecadores e miseráveis iguais a todos, para que assim sejamos libertos daquilo que mantém nosso ego aprisionado.
 
Deus ama os maus e os bons. Ele nos convida a sermos como Ele. Nos convida a amar... simplesmente amar! Por isso resume toda moral, ética e lei em dois mandamentos: Amar a Deus sobre tudo e todos com toda alma e entendimento e amar ao próximo, inclusive os malvados, como Jesus nos amou.

ENTRE A PONT DES ARTS E O CALVÁRIO


 
 
Paris, a capital francesa, é considerada uma das cidades mais lindas do mundo. Um dos seus maiores pontos de referência é o Rio Sena que corta a cidade e possui lindas pontes. Dentre elas, a  “Pont des Arts” destaca-se por um tradicional costume, onde casais do mundo inteiro colocam cadeados nas grades de seu parapeito para simbolizar romanticamente o amor eterno. O casal escreve os seus respectivos nomes no cadeado e, após trancá-lo na grade do parapeito da ponte, arremessam a chave no rio.
 
Particularmente acho um lindo costume, mas ao mesmo tempo acho engraçado. Isso por que quando ouvi dizer sobre esta tradição algo me veio em mente: Por que escolheram logo um cadeado para simbolizar o amor eterno?...Só poderia ser coisa de humanos. O cadeado nos remete a algo que será trancado... preso, e amor verdadeiro tem muito mais a ver com liberdade do que com aprisionamento. Tudo bem, depois de refletir muito pensei...”o cadeado simboliza um elo de sentimentos, no caso o amor, fechado entre duas pessoas”...mas ainda assim, romantismo à parte, fiquei com aquela sensação de que isso nos remete a um simbolismo de aprisionamento.
 
Hoje em dia a palavra “amor” é tão deturpada que qualquer sentimento acaba levando o nome de “amor”. Quantos garotos dizem para garotas que à amam simplesmente para ter uma hora de sexo. Fico imaginando quantas pessoas não desejariam pular no Rio Sena para pegar de volta sua chave e retirar o “cadeado de amor eterno” que um dia foi preso de forma precoce no parapeito da “Pont des Arts”. Afinal de contas, não é assim o amor humano...uma hora ama...outra ora já não ama mais.
 
O ser humano se acha capaz de entender o que é um amor eterno, mas não entende a Cruz de Jesus. Amor não tem nada a ver com aprisionamento. Amor não torna o outro refém. Amor dá espaço. Amor dá liberdade. É como o Pai do filho pródigo, que mesmo sabendo que o filho está a caminho da perdição não coloca cadeados na porta da casa. Simplesmente o deixa partir. Sabe que se deixar o cadeado preso no ferrolho da porta, vai estar produzindo muito mais desamor do que amor. O amor não computa débitos nem créditos...simplesmente ama.
 
Rubem Alves certa vez escreveu:
 
“Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar”
 
O filho pródigo é o pássaro pousado no dedo do Pai. O Pai é Deus. Nós somos os pródigos. Quando desejamos alçar voo, o Pai simplesmente nos deixa voar. Ele sabe que Seu amor depositado em nós fará com que a gente se lembre qual é o nosso lar, e uma hora ou outra voltaremos para lá.
 
Deus não prendeu um cadeado no parapeito da “Pont des Arts” do Rio Sena para lhe demonstrar amor eterno. Mas Deus prendeu Seu Filho Unigênito na Cruz do Calvário para que você soubesse que o Filho Pródigo sempre poderá voltar para casa, pois o Pai sempre estará de braços abertos lhe esperando...por que Ele não computa méritos nem deméritos...Ele simplesmente ama!

O AVESSO DAQUI

Certa vez ouvi o Pastor Ed René Kivitz afirmar: “Este mundo aqui só pode ser o avesso de alguma coisa! Esta alguma coisa é o Céu”! A cada dia que vivo aqui neste mundo sinto cada vez mais que o Ed tem razão. Todas as manhãs, enquanto me troco para ir trabalhar, ligo a TV no noticiário para saber como está o trânsito, metrô e o clima. É uma maneira de tentar me antecipar aos inconvenientes da cidade de São Paulo. Infelizmente, entre previsões do tempo, notícias sobre o caos do metrô ou do trânsito, aparecem as tragédias do cotidiano. É o feto largado na caçamba de lixo, o bebê largado no córrego, a cabeça do homem que é achada no matagal, o assaltado que morre sem sequer reagir pois o assaltante simplesmente atira por atirar, a guerra do outro lado do mundo, a fome que alastra países africanos, os políticos que roubam dinheiro público, os idosos que são esquecidos nos asilos e sofrem maus tratos, os homossexuais sofrendo preconceito...desgraças em cima de desgraças.
 
Com o avanço da tecnologia o mundo passou a ser mais monitorado. As câmeras captam a realidade cruel da humanidade. Vídeos vazam pela internet mostrando as atrocidades cometidas pelo homem, viram notícias. E quando achamos que não haverá nada mais grotesco do que aquela aberração notícia que nos chocou logo pela manhã, mal a tarde começa e uma outra notícia chega e nos choca ainda. Não é à toa que muita gente diz que aqui, este mundo, já é o inferno. É claro que a Palavra diz que o inferno não é aqui, e sim em um outro lugar, mas não seria exagero dizer que aqui, já neste mundo, é possível ver um pequeno “trailer” do que é o inferno.
 
Muita gente coloca nas costas de Deus a responsabilidade, a culpa, deste mundo (em que vivemos) ser assim. Outros colocam esta culpa nas costas do diabo. Aliás, isso é o que a gente mais sabe fazer, jogar a nossa culpa nas costas do outro. A humanidade hipócrita segue terceirizando o próprio pecado e empurrando para os outros a responsabilidade das suas próprias atrocidades.
 
O fato é que a vontade de Deus não está concretizada plenamente em nosso meio. Isso por que Ele nos delegou a responsabilidade de gerenciar toda a criação que Ele, Deus, criou. Esta era uma tarefa que nós deveríamos fazer em comunhão e harmonia juntamente com o Pai. Mas a nossa soberba e arrogância falaram alto nos nossos corações e então concluímos de forma medíocre que poderíamos gerenciar tudo ao nosso redor sem estarmos conectados à Deus. Excluímos Deus e declaramos independência à Ele. O resultado: este caos que está ao nosso redor. Deus ainda respeita a confiança que Ele depositou no homem. Segue sem interferir nas coisas que acontecem no mundo. Entretanto, quando algumas pessoas estão dispostas a romperem com a rebeldia e se conectarem novamente à Deus, devolvendo à Ele a prerrogativa de gerenciar suas vidas, é possível vislumbrar um pequeno “trailer” de “como” é o Paraíso...ou melhor...de “quem” é o Paraíso: Deus!
 
Muito se engana quem acha que o inferno é um lugar governado pelo demônio. Mais ainda se engana quem acha que o inferno é um lugar onde a vontade de Deus não acontece plenamente. O inferno é governado por Deus, e Sua vontade é feita em plenitude. O inferno glorifica o Nome de Jesus. A única diferença é lá Deus não se faz presente. Lá é o “lixão” onde pessoas que preferiram se tornar egos absolutos são descartadas. Gente que se fez imagem e semelhança à besta e deixaram para trás a imagem e semelhança de Deus, que o próprio Deus depositou nelas. Eu, você, todos nós somos merecedores de ser descartados neste lixão. Mas por graça, por um favor que jamais merecemos e jamais iremos merecer, Deus estende a Sua mão e nos chama à reconciliação. O estender da mão de Deus nos chamando para reconciliação é o sacrifício de Jesus no calvário.
 
O nosso destino não precisa ser mais o inferno. O nosso lugar não é aqui. É Deus quem nos propõe uma vida com qualidade de Deus, qualidade eterna. O Paraíso é o avesso deste mundo por que, em Jesus de Nazaré, Deus nos propõe a viver a plenitude da humanidade que Ele sempre sonhou. Você consegue imaginar uma vida sem as notícias do noticiário policial? Você consegue vislumbrar uma vida sem UTIs? Uma vida sem hospitais? Um lugar sem choro, lágrimas, dores? Você consegue imaginar o avesso deste mundo? Você consegue imaginar um lugar habitado por gente ao avesso do ego humano? Um lugar onde a população são diversos “Jesuses”?
 
É para lá que somos predestinados ir. Para Jesus! O avesso daqui!
 
Maranata, ora vem Senhor Jesus!