quinta-feira, 24 de abril de 2014

DONADS

Hoje em dia é raro ver a criançada jogando fubéca (bolinha de gude). Com a evolução do mercado de brinquedos e jogos eletrônicos muitas brincadeiras de rua, como a marreta (ou taco), a fubéca e o peão foram ficando de lado. Me lembro que durante o decorrer do ano existia-se uma época para tudo. Tempo da pipa, do peão, da fubéca, da marreta (ou taco), carrinho de rolimã...bons tempos! Como era legal fazer “aleluia de fubécas”: quando chegava ao fim a temporada de jogar bolinha de gude, a criançada subia a ladeira e derramava o pote de fubecas na descida para quem quiser pegar...pensa numa correria! Quem já está pra lá dos seus 30 anos de idade, como eu, sabe de que “saudades” estou falando. A rua era o quintal da criançada, era muito menos perigosa do que nos dias de hoje. Existiam-se muito mais terrenos baldios com campinhos de futebol, barro puro, do que se tem hoje (afinal de contas as construtoras compraram todos os terrenos para se construir edifícios e empreendimentos).
 
Quem não se lembra dos grandes potes lotados de fubécas? Tinha as coloridas, chinesinhas (ou do Paraguai). Também tinham as de leite, branquinhas, as minhas preferidas. E os famosos “butigãos” (fubécas gigantes) que faziam um tremendo estrago. Potes de Margarinas, Nescau, Toddy, Leite Ninho...viviam lotados das “redondinhas de vidro”. A fubéca, versátil, possibilitava diversos tipos de jogos: mata-mata, triangulo, buraco...e por ai vai. Mas o mais interessante era o “linguajar popular” que ditava as regras dos jogos. Dentre os mais usados estava o “Donads”...uma espécie de “não no dada” ao adversário. Era mais ou menos assim: antes da jogada do adversário, para indicar que ele não tinha direito a nada, falava-se “Donads”, para não permitir nenhum recurso ao adversário. Um exemplo clássico era o “limps”. Como o jogo geralmente acontecia em terrenos, era natural que a superfície onde as fubécas rolavam tivessem pedaços de madeira, pedras ou outras coisas obstruindo a trilha entre uma fubéca e outra. Para facilitar a jogada, o jogador poderia pedir o “limps” e retirar todos os objetos entre sua bolinha de gude e a do seu adversário. Para impedir que o “limps” fosse requisitado, dizíamos “Donads” (alguns enfatizavam “Donads sem limps”), ou seja: “ – Você não tem direito a nada”.
 
Bom, lembranças à parte, o que isso tem a ver com Cristianismo? Engraçado, mas não é assim que tem acontecido em muitas igrejas? Vejo gente falando para Deus que quer os seus direitos e fico imaginado que Deus está no céu falando “Donads!”...ou traduzindo “ - você não tem direito a nada, a Minha graça te basta!”. Por que o homem insiste tanto em pedir para Deus aquilo que ele pensa que tem direito? Por que o homem acha que merece algo? Por que o homem acha que possui méritos a reivindicar? Quando Deus nos diz “Donads”...Ele ainda está sendo muito bom com a gente, pois se formos francos e verdadeiros com nós mesmos veríamos que Deus deveria nos dizer “Doinferns” (tradução: dou lhe o inferno). Somos merecedores do inferno. Já parou para pensar que se Deus nos mandar para o inferno, nenhuma manchinha se quer iria sujar o Seu caráter? Nós cuspimos na cara de Deus com o nosso pecado arrogante e soberbo de nos declararmos independentes Dele. Deus nos criou para viver em harmonia com Ele. Só há vida em Deus. Não existe vida sem ser Nele. O pecado da humanidade é justamente este...achar que pode ser deus de si, se bancar...viver de forma autossuficiente! Mas só em Deus nós somos, nos movemos e existimos. O nosso pecado... a nossa queda...por nossa máxima culpa...nos colocou em condição de morte. Deus nos provê na Cruz de Jesus o escape. Esta é a Graça que Deus nos proveu. Não tem a ver com méritos. Tem tudo a ver com quem Deus É e não a ver com quem nós somos. Por isso precisamos a aprender a glorificar o Nome de Jesus simplesmente pela resposta que Deus nos provê “Minha Graça te basta!”.
 
Glorifiquemos ao Pai por todos os “Donads” que recebemos como resposta de nossas orações, pois é este tipo de resposta que nos leva ao mais profundo entendimento de que a Graça de Deus nos basta, só assim aprenderemos a viver o verdadeiro “tudo posso Naquele que me fortalece”...pois só quem entende verdadeiramente a Graça de Deus sabe viver em toda e qualquer circunstância!
 
Que o nome do Pai seja glorificado em nossas vidas!

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