Hoje em dia é raro ver a criançada jogando fubéca (bolinha
de gude). Com a evolução do mercado de brinquedos e jogos eletrônicos muitas
brincadeiras de rua, como a marreta (ou taco), a fubéca e o peão foram ficando
de lado. Me lembro que durante o decorrer do ano existia-se uma época para
tudo. Tempo da pipa, do peão, da fubéca, da marreta (ou taco), carrinho de rolimã...bons
tempos! Como era legal fazer “aleluia de fubécas”: quando chegava ao fim a
temporada de jogar bolinha de gude, a criançada subia a ladeira e derramava o
pote de fubecas na descida para quem quiser pegar...pensa numa correria! Quem
já está pra lá dos seus 30 anos de idade, como eu, sabe de que “saudades” estou
falando. A rua era o quintal da criançada, era muito menos perigosa do que nos
dias de hoje. Existiam-se muito mais terrenos baldios com campinhos de futebol,
barro puro, do que se tem hoje (afinal de contas as construtoras compraram
todos os terrenos para se construir edifícios e empreendimentos).
Quem não se lembra dos grandes potes lotados de fubécas?
Tinha as coloridas, chinesinhas (ou do Paraguai). Também tinham as de leite,
branquinhas, as minhas preferidas. E os famosos “butigãos” (fubécas gigantes) que
faziam um tremendo estrago. Potes de Margarinas, Nescau, Toddy, Leite
Ninho...viviam lotados das “redondinhas de vidro”. A fubéca, versátil,
possibilitava diversos tipos de jogos: mata-mata, triangulo, buraco...e por ai
vai. Mas o mais interessante era o “linguajar popular” que ditava as regras dos
jogos. Dentre os mais usados estava o “Donads”...uma espécie de “não no dada” ao
adversário. Era mais ou menos assim: antes da jogada do adversário, para
indicar que ele não tinha direito a nada, falava-se “Donads”, para não permitir
nenhum recurso ao adversário. Um exemplo clássico era o “limps”. Como o jogo
geralmente acontecia em terrenos, era natural que a superfície onde as fubécas
rolavam tivessem pedaços de madeira, pedras ou outras coisas obstruindo a
trilha entre uma fubéca e outra. Para facilitar a jogada, o jogador poderia
pedir o “limps” e retirar todos os objetos entre sua bolinha de gude e a do seu
adversário. Para impedir que o “limps” fosse requisitado, dizíamos “Donads”
(alguns enfatizavam “Donads sem limps”), ou seja: “ – Você não tem direito a
nada”.
Bom, lembranças à parte, o que isso tem a ver com Cristianismo? Engraçado,
mas não é assim que tem acontecido em muitas igrejas? Vejo gente falando para
Deus que quer os seus direitos e fico imaginado que Deus está no céu falando “Donads!”...ou
traduzindo “ - você não tem direito a nada, a Minha graça te basta!”. Por que o
homem insiste tanto em pedir para Deus aquilo que ele pensa que tem direito?
Por que o homem acha que merece algo? Por que o homem acha que possui méritos a
reivindicar? Quando Deus nos diz “Donads”...Ele ainda está sendo muito bom com
a gente, pois se formos francos e verdadeiros com nós mesmos veríamos que Deus
deveria nos dizer “Doinferns” (tradução: dou lhe o inferno). Somos merecedores
do inferno. Já parou para pensar que se Deus nos mandar para o inferno, nenhuma
manchinha se quer iria sujar o Seu caráter? Nós cuspimos na cara de Deus com o
nosso pecado arrogante e soberbo de nos declararmos independentes Dele. Deus
nos criou para viver em harmonia com Ele. Só há vida em Deus. Não existe vida
sem ser Nele. O pecado da humanidade é justamente este...achar que pode ser deus
de si, se bancar...viver de forma autossuficiente! Mas só em Deus nós somos,
nos movemos e existimos. O nosso pecado... a nossa queda...por nossa máxima
culpa...nos colocou em condição de morte. Deus nos provê na Cruz de Jesus o
escape. Esta é a Graça que Deus nos proveu. Não tem a ver com méritos. Tem tudo
a ver com quem Deus É e não a ver com quem nós somos. Por isso precisamos a
aprender a glorificar o Nome de Jesus simplesmente pela resposta que Deus nos
provê “Minha Graça te basta!”.
Glorifiquemos ao Pai por todos os “Donads” que recebemos
como resposta de nossas orações, pois é este tipo de resposta que nos leva ao
mais profundo entendimento de que a Graça de Deus nos basta, só assim
aprenderemos a viver o verdadeiro “tudo posso Naquele que me fortalece”...pois
só quem entende verdadeiramente a Graça de Deus sabe viver em toda e qualquer
circunstância!
Que o nome do Pai seja glorificado em nossas vidas!
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