quarta-feira, 23 de abril de 2014

CRISTÃOS EMANUÉIS

Ao final da celebração vem o apelo do pastor: “ – Aqueles que desejam aceitar Jesus como Salvador de suas vidas façam um sinal com a sua mão e iremos orar por você”. No último banco da igreja um jovem timidamente ergue o braço. O diácono então se dirige ao jovem rapaz, abraça e conduz o mesmo até o pastor. A igreja está em alegria. O pastor então ora pelo rapaz e ao final diz: “ – Pronto, agora você está com o nome escrito no livro da vida”. Então o pastor encerra o culto e todos vão para casa.
 
O script é quase sempre o mesmo. Mas a pergunta em relação as condutas das igrejas e dos seus pastores é...será que é simples assim? Quanta gente acha que salvação está diretamente ligada a esta “receitinha de bolo” de apelar por uma braço erguido no final do culto? Fico pensando...ta bom...foi dado ali um primeiro passo...mas quem irá ajudar aquele rapaz a dar os passos seguintes? Quem irá discipulá-lo?
 
Neste sentido concordo com o pregador Paul Washer. O simples gesto de se erguer a mão em um apelo no final do culto é muito raso para se afirmar que uma pessoa está com o nome escrito no livro da vida. É muita arrogância humana afirmar que o nome de fulano ou siclano está escrito no livro que só...somente ...Jesus poderá abrir.
 
A nossa parte não é decidir quem vai pro céu ou pro inferno. Isso não é prerrogativa nossa. A nossa responsabilidade é divulgar o evangelho de Jesus para todos de forma que o sangue redentor do cordeiro alcance vidas. Em outras palavras, o nosso papel consiste em tornarmo-nos veículos da graça de Deus, para que a maior densidade do Seu Reino possa ser concretizada aqui e agora. Sendo assim, é preciso ir mais profundo do que os apelos no final dos cultos. É preciso discipular. E para quem acha que discipular é falar de Deus para as pessoas, está muito enganado. Discipular está além disso. Consiste em ensinar as pessoas a obedecerem os valores de Deus. É muito mais difícil do que simplesmente falar de Deus. Além disso, esta é uma caminhada infinita. Muita gente acha que o batismo é a formatura do discipulado. O batismo passa longe disso. Batismo é parte do processo, mas mesmo depois de se batizar as pessoas seguem em aprendizado. Talvez o que “passaria perto” de uma “formatura” para o discipulado seria o fato de ser arrebatado no fim dos tempos. Mas isso é prerrogativa de Deus, pois só Ele conhece os corações de cada um de nós.
 
Um amontoado de tijolos não é necessariamente uma casa, assim como um amontoado de textos bíblicos não é necessariamente um ensinamento cristão. Dentro deste contexto, falar de Deus não é o mesmo que ensinar a obedecer a Deus. Para se discipular alguém é necessário estar perto e de forma constante. Quem discípula sabe que enquanto ensina o discípulo a obedecer a Deus, também aprende com o discípulo a obedecer a Deus.
 
Billy Grahan certa vez afirmou que a Graça é de graça, mas que o discipulado custa tudo. Mas quem de nós está disposto a abrir mão de tudo para se tornar um discípulo de Jesus? Quem gostaria de abrir mão dos apetites da própria alma para obedecer? Ai é que entra o cerne desta reflexão...para muita gente, erguer a mão no final do culto para reconhecer Deus como salvador de sua vida é ou pode ser constrangedor, mas é muito mais fácil do que viver ali no dia a dia a crucificação do próprio “eu”...permitir-se ser discipulado...confirmar a cada amanhecer a sua redenção à Deus...lhe rendendo a Glória que lhe é devida...permitindo que o Espírito Santo massacre o seu “eu” para que o velho homem morra e um novo ser venha a nascer no batismo (que simboliza, no afundar nas águas, a morte do velho homem e, no retornar a superfície, o nascimento do novo homem)...e ainda assim seguir em uma vida de obediência ao Pai, confirmando a cada segundo um coração muito mais parecido com o de Cristo do que com o de Adão.
 
Engana-se muito quem acha que Deus busca quantidade...templos lotados! Deus busca gente sincera de coração, adoradores em Espírito e em Verdade. Quantos pregadores em suas cruzadas evangelísticas enchem o peito para dizerem...”600 pessoas foram aceitaram a Jesus”...e a pergunta que fica é...destes 600...quantos foram discipulados? Quantos seguiram em busca de um relacionamento profundo com Deus?
 
Ainda assim, mesmo sabendo que Deus deseja muito mais corações com qualidade em sinceridade do que quantidade...insistindo em falar de quantidade...acredito de todo coração que um pregador jamais deveria se gloriar do número de gente que aceitou a Jesus. Isso por que se 600 aceitaram Jesus...em uma multidão de 1000, é motivo de tristeza que 400 permaneçam com o coração endurecidos como pedra. Se 600 são “trigo” é motivo de tristeza saber que “400” são “joio”...pois Deus está acima do bem e do mal e deseja que TODOS sejam salvos.
 
Deus não se importa com quantidade...ele deixa 99 ovelhas no campo para buscar uma. O foco Dele está em qualidade...corações sinceros!
 
Somos sal da terra...não devemos ficar no saleiro...temos que fazer a diferença...acompanhar as pessoas de perto...fazer como Deus, que se esvaziou e se fez imerso na humanidade...tornou-se “Emanuel”...Deus bem perto...Deus conosco...Deus em nós! Temos que ir no profundo...sair do raso...ir além do apelo no final do culto...acompanhar de perto.
 
Todo pregador possui responsabilidade sobre a vida de alguém que aceitou Jesus como salvador mediante ao apelo de sua pregação. Precisamos adquirir esta consciência, pois só assim conseguiremos acompanhar essas pessoas mais de perto.
 
Se somos cristãos...ou em outras palavras...”pequenos cristos”...temos que assumir a atitude de estar perto... “cristãos emanuéis”...bem pertinho daqueles que precisam de nós!

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