Ao final da celebração vem o apelo do pastor: “ – Aqueles
que desejam aceitar Jesus como Salvador de suas vidas façam um sinal com a sua
mão e iremos orar por você”. No último banco da igreja um jovem timidamente
ergue o braço. O diácono então se dirige ao jovem rapaz, abraça e conduz o
mesmo até o pastor. A igreja está em alegria. O pastor então ora pelo rapaz e
ao final diz: “ – Pronto, agora você está com o nome escrito no livro da vida”.
Então o pastor encerra o culto e todos vão para casa.
O script é quase sempre o mesmo. Mas a pergunta em relação
as condutas das igrejas e dos seus pastores é...será que é simples assim?
Quanta gente acha que salvação está diretamente ligada a esta “receitinha de
bolo” de apelar por uma braço erguido no final do culto? Fico pensando...ta
bom...foi dado ali um primeiro passo...mas quem irá ajudar aquele rapaz a dar
os passos seguintes? Quem irá discipulá-lo?
Neste sentido concordo com o pregador Paul Washer. O simples
gesto de se erguer a mão em um apelo no final do culto é muito raso para se
afirmar que uma pessoa está com o nome escrito no livro da vida. É muita
arrogância humana afirmar que o nome de fulano ou siclano está escrito no livro
que só...somente ...Jesus poderá abrir.
A nossa parte não é decidir quem vai pro céu ou pro inferno.
Isso não é prerrogativa nossa. A nossa responsabilidade é divulgar o evangelho
de Jesus para todos de forma que o sangue redentor do cordeiro alcance vidas.
Em outras palavras, o nosso papel consiste em tornarmo-nos veículos da graça de
Deus, para que a maior densidade do Seu Reino possa ser concretizada aqui e
agora. Sendo assim, é preciso ir mais profundo do que os apelos no final dos
cultos. É preciso discipular. E para quem acha que discipular é falar de Deus
para as pessoas, está muito enganado. Discipular está além disso. Consiste em
ensinar as pessoas a obedecerem os valores de Deus. É muito mais difícil do que
simplesmente falar de Deus. Além disso, esta é uma caminhada infinita. Muita
gente acha que o batismo é a formatura do discipulado. O batismo passa longe
disso. Batismo é parte do processo, mas mesmo depois de se batizar as pessoas
seguem em aprendizado. Talvez o que “passaria perto” de uma “formatura” para o
discipulado seria o fato de ser arrebatado no fim dos tempos. Mas isso é
prerrogativa de Deus, pois só Ele conhece os corações de cada um de nós.
Um amontoado de tijolos não é necessariamente uma casa,
assim como um amontoado de textos bíblicos não é necessariamente um ensinamento
cristão. Dentro deste contexto, falar de Deus não é o mesmo que ensinar a
obedecer a Deus. Para se discipular alguém é necessário estar perto e de forma
constante. Quem discípula sabe que enquanto ensina o discípulo a obedecer a
Deus, também aprende com o discípulo a obedecer a Deus.
Billy Grahan certa vez afirmou que a Graça é de graça, mas
que o discipulado custa tudo. Mas quem de nós está disposto a abrir mão de tudo
para se tornar um discípulo de Jesus? Quem gostaria de abrir mão dos apetites
da própria alma para obedecer? Ai é que entra o cerne desta reflexão...para
muita gente, erguer a mão no final do culto para reconhecer Deus como salvador
de sua vida é ou pode ser constrangedor, mas é muito mais fácil do que viver
ali no dia a dia a crucificação do próprio “eu”...permitir-se ser
discipulado...confirmar a cada amanhecer a sua redenção à Deus...lhe rendendo a
Glória que lhe é devida...permitindo que o Espírito Santo massacre o seu “eu”
para que o velho homem morra e um novo ser venha a nascer no batismo (que
simboliza, no afundar nas águas, a morte do velho homem e, no retornar a
superfície, o nascimento do novo homem)...e ainda assim seguir em uma vida de
obediência ao Pai, confirmando a cada segundo um coração muito mais parecido
com o de Cristo do que com o de Adão.
Engana-se muito quem acha que Deus busca
quantidade...templos lotados! Deus busca gente sincera de coração, adoradores
em Espírito e em Verdade. Quantos pregadores em suas cruzadas evangelísticas
enchem o peito para dizerem...”600 pessoas foram aceitaram a Jesus”...e a
pergunta que fica é...destes 600...quantos foram discipulados? Quantos seguiram
em busca de um relacionamento profundo com Deus?
Ainda assim, mesmo sabendo que Deus deseja muito mais
corações com qualidade em sinceridade do que quantidade...insistindo em falar
de quantidade...acredito de todo coração que um pregador jamais deveria se
gloriar do número de gente que aceitou a Jesus. Isso por que se 600 aceitaram
Jesus...em uma multidão de 1000, é motivo de tristeza que 400 permaneçam com o
coração endurecidos como pedra. Se 600 são “trigo” é motivo de tristeza saber
que “400” são “joio”...pois Deus está acima do bem e do mal e deseja que TODOS
sejam salvos.
Deus não se importa com quantidade...ele deixa 99 ovelhas no
campo para buscar uma. O foco Dele está em qualidade...corações sinceros!
Somos sal da terra...não devemos ficar no saleiro...temos
que fazer a diferença...acompanhar as pessoas de perto...fazer como Deus, que
se esvaziou e se fez imerso na humanidade...tornou-se “Emanuel”...Deus bem
perto...Deus conosco...Deus em nós! Temos que ir no profundo...sair do
raso...ir além do apelo no final do culto...acompanhar de perto.
Todo pregador possui responsabilidade sobre a vida de alguém
que aceitou Jesus como salvador mediante ao apelo de sua pregação. Precisamos
adquirir esta consciência, pois só assim conseguiremos acompanhar essas pessoas
mais de perto.
Se somos cristãos...ou em outras palavras...”pequenos
cristos”...temos que assumir a atitude de estar perto... “cristãos
emanuéis”...bem pertinho daqueles que precisam de nós!
Nenhum comentário:
Postar um comentário