quinta-feira, 10 de abril de 2014

A MAIOR MALDADE QUE UM MALVADO PODE LHE FAZER

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado”.
“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso! E se vocês saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês”.
Mateus 5.38-48
 
“Tal crime, tal pena”...assim dizia a lei de talião. Olho por olho e dente por dente. Proporcional e ponto final. Esse era o princípio que impedia que as pessoas fizessem justiça por elas mesmas, de forma desproporcionada, com relação a algum crimes ou delito. Isso me lembra a minha infância. Quando eu brigava com minha irmã e ela me dava um chute, eu dava-lhe outro com mais força, então ela me dava outro ainda mais forte...e assim seguíamos até que a dor fosse absurda a ponto de um dos dois  não conseguirem mais chutar ou nossa mãe nos separar. O ser humano não tem senso de justiça. Acha que tem, mas não tem. O pouco que o ser humano tem de sabedoria para lidar com justiça vem de Deus.
 
Interessante ver como Jesus, em Seu famoso Sermão do Monte, vai na contra mão da ideia da reação proporcional. Jesus nos convida a uma atitude diferente e ousada. Quem de nós estaria disposto a oferecer a outra face do rosto depois de tomar uma bordoada no pé do ouvido? Quem de nós estaria disposto a dar também o IPhone a um ladrão que só exigiu em seu roubo os fones de ouvido? Quem de nós estaríamos dispostos a ir em mais 4 caixas eletrônicos, depois de ter ido em 2 caixas para sacar dinheiro em um sequestro relâmpago? Quem de nós ousaria ir na penitenciária perdoar e evangelizar o criminoso que tirou a vida do nosso filho?
 
Acima do bem e do mau reina o Amor. Lá o Perdão e a Misericórdia andam de mãos dadas. Por isso o sol nasce para todos. Por isso a chuva cai sobre os bons e os maus. A lei de Deus nos revela a moralidade de Deus. Explícita os bons e os maus. Distingue aqueles que são pacificadores e aqueles que promovem a violência. Distingue aqueles que amam, inclusive os maldosos, e aqueles que vivem sobre o ódio. Separa o joio do trigo. Separa aqueles que perdoam e aqueles que se vingam.
 
Lembro-me do primeiro dia de aula do meu filho. Conversei com o seu professor de Educação Física. Disse a ele que precisava lhe pedir algo especial em relação ao meu filho. Meu filhote chorava muito quando perdia um jogo de futebol, então pedi ao seu professor de Educação Física que ensinasse meu filho a não ser um perdedor, mas que ensinasse ele a perder. Que ensinasse ele a desejar ganhar e ser honesto para conquistar vitórias, mas que se ele perdesse, que ele ficasse feliz por aqueles que ganharam e que usasse a perda como aprendizado para a vida.
 
Acho que Jesus, nas entrelinhas, está nos ensinando algo muito parecido. Jesus levanta uma bandeira! Nos diz que muitas vezes é melhor perder do que ganhar. Melhor perder no quesito “quem dá o chute mais forte” do que machucar um irmão. Melhor dar a outra face a tapa do que seguir com o ciclo de violência para ganhar uma briga. É melhor perder a capa e a túnica do que ser espancado e ou morto por um soldado romano. É melhor sofrer o dano do que contribuir o ciclo de violência ao nosso redor. Melhor assumir o dano do que seguir no olho por olho, dente por dente. É melhor perder o celular do que matar o trombadinha.
 
Em outras palavras Jesus nos diz que a vida vale mais. Vidas humanas valem mais do que coisas. Processos de perdão produzem mais vidas do que o ciclo da vingança. É melhor perdoar do que se vingar. É melhor perder coisas materiais do que perder pessoas.
 
O desafio do cristão consiste na capacidade de resistir ao malvado. Aliás vai além disso, se fundamenta na capacidade de não se praticar a maldade. O maior mal que um malvado pode nos fazer é nos tornar malvados. É nos incluir no ciclo de sua maldade como agentes que veiculam a maldade. É transformar a nossa imagem e semelhança de Deus (que o Próprio Deus depositou em nós) em imagem e semelhança de uma besta, animal dirigido pelo próprio ego. Quando isso acontece a nossa imagem e semelhança de Deus fica para trás. A partir daí o nosso ego nos cega. O nosso coração fica duro como pedra e infelizmente pecamos. Um coração incapaz de fazer o mal é semelhante ao coração de Deus. Aqueles que mantém o seus corações em santidade, íntegros, guardando-os contra a maldade preservam em si a imagem e semelhança de Deus que um dia o próprio Deus depositou em nós. Então somos identificados como filhos de Deus, dando vazão ao Espírito Santo para sermos aperfeiçoados à medida da perfeição do Pai.
 
Romper com o ciclo do olho por olho e dente por dente implica em sacrificar-se, pregar o nosso ego na cruz juntamente com Jesus. O sacrifício se fundamenta e se sustenta no amor, e é impossível amar sem perdoar. Sendo assim as perdas não podem deixar resíduos de mágoas, ressentimentos, ódios ou desejo de vingança. Jesus sabe que é possível perder sem se perder. Jesus sabe que o verdadeiro cristão sabe lidar com perdas sem perder a alma. Jesus sabe que nós só aprendemos isso em plenitude quando silenciamos o nosso ego. É amordaçando o nosso ego que aprendemos perder em argumentos para ganhar pessoas. A descentralização do nosso ego nos liberta. Isso somente é possível quando reconhecemos que somos maus, ou pelo menos tendenciosos a maldade tanto quanto aqueles praticam o mal contra nós. Precisamos enxergar a nossa face no malvado que está diante de nós.
 
O malvado diante de nós sempre nos provoca dois tipos de reações: ou nos arrasta para dentro do ciclo da sua maldade ou nos impulsiona a transcender o mal e agir com misericórdia e perdão.
 
O Espírito Santo nos capacita a assumir e sofrer danos sem perder a alma. Nos ensina a reagir ao mal sem que o mal se apodere de nós. Por isso é necessário que nos esvaziemos de nosso senso de méritos e justiça, dando vazão ao Espirito Santo, para que Ele nos convença dos nossos pecados e faça Sua obra em nosso ser. Isso só é possível se nos identificarmos com o mal e os malvados, percebendo-nos pecadores e miseráveis iguais a todos, para que assim sejamos libertos daquilo que mantém nosso ego aprisionado.
 
Deus ama os maus e os bons. Ele nos convida a sermos como Ele. Nos convida a amar... simplesmente amar! Por isso resume toda moral, ética e lei em dois mandamentos: Amar a Deus sobre tudo e todos com toda alma e entendimento e amar ao próximo, inclusive os malvados, como Jesus nos amou.

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