sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

CRISTIANISMO DILUÍDO EM PENSAMENTOS

Hoje pela manhã, li no Jornal Destak, a seguinte frase do Millôr Fernandes: “Já pensei em fundar uma religião, mas tenho medo de que me sigam”.

Certa vez fui forçado à Pensar. Isto me fascinou...desde então decidir fazer dos meus pensamentos uma provocação...para que pessoas também pensem. Você pode pensar: “Mais um que caiu no Teísmo Aberto!”...eu diria que ...não...acho que entrei em algo mais livre ainda.

Nem tudo o que escrevo é uma verdade exata (acredito que você que acompanha meus textos pensou: Já percebi!!!). Alíás, diria que o que relato em meus textos são as verdades que tomo para mim. São Verdades que monto como se fossem bloquinhos de lego e que ao final, depois de montadas, me fazem ver à Deus como um todo. Cada pecinha que uso neste processo, não necessariamente é proveniente de uma única fonte. É claro que tomo cuidado para não gerar “meias verdades”. “Meia-verdade” é exatamente “meia-mentira”, consciente disso, é claro que tomo cuidado com o que escrevo. Quando escrevo pensamentos, diluo ideias. Por consequência a minha mente voa longe. Mas tomo o cuidado de levar em suas asas a consciência de que minhas verdades podem ser carregadas de heresias. A pessoa que não assume o risco desta possibilidade...já esta em heresia. Nenhum pastor, por melhor que seja, pode afirmar que nunca deu uma escorregadinha numa pregação. Ainda que ele tenha o maior zêlo possível em uma elaboração da pregação...isso acontece. É claro, que não necessariamente isto é algo proposital. Mas acontece.

Poxa, se isso acontece com gente que caminha proclamando o evangelho há mais de 20...30 anos...seria uma pretensão muito egoísta da minha parte achar que não aconteceria comigo. Ainda mais pelo fato de eu ser ...no máximo...um mero blogueiro. Não sou teólogo, muito menos filósofo. Mas tenho capacidade de pensar. Quando penso e guardo os meus pensamento apenas para mim, acredito que fecho a porta da possibilidade de meu pensamento ajudar à alguém. Este é o motivo no qual decidi começar a expor em texto as minhas verdades. Confesso que em um primeiro momento eu havia decidido escrever simplesmente para deixar um norte, como diretriz para o meu filho, João Pedro, conseguir alcançar êxito em sua caminhada ética, moral e espiritual. Mas é claro que, embora eu mantenha este propósito, isto não é e nem será suficiente. Apenas penso que este será um recurso adicional. Se meu filho aprender pelo menos 1 % do que escrevo em pró de desenvolver um bom caráter, terá valido à pena.

Tenho diluído pensamentos juntamente com homens como Ricardo Gondim, Éd René Kivitz, Ariovaldo Ramos, Rubem Alves, Ricardo Agreste, Villy Fomin, Desmond Tutu...(louvo à Deus pela vida destes caras, pois eles me forçaram a pensar) ...e vejo uma teologia mais próxima da realidade humana. Os alicerces da minha fé foram renovados. Hoje quando vejo um pregador trazer uma palavra que isola o sofrimento humano e não leva em consideração a sorte de pessoas que vivem ao alento da dor, me questiono se o que está sendo pregado é realmente uma Verdade. Quem prega sobre prosperidade, tem que levar em conta a condição do mendigo. Se não leva...a palavra é vazia. Quem ministra culto de milagres, tem que levar em conta a condição daquele que não recebe o milagre. E não adianta vir com o discursinho elaborado “Faltou Fé”, “Não é a hora”, por que sinceramente não acredito em um Deus que faz acepção de Pessoas.

É muito fácil ser um cristão no Brasil. É muito fácil alcançar o evangelho no Brasil. Mais fácil ainda é falar que um mulçumano não será salvo. Só que o mulçumano teve a “falta de sorte” de nascer em uma cultura mulçumana. Se o meu filho tivesse nascido na Palestina...com certeza estaria propício a ser mulçumano. Então quer dizer que somos privilegiados!? Se sim, então pra mim isso é teologia rasa.

Pregar para uma mãe que arruma o quarto do seu filho que volta todos os dias para casa é fácil. Mas pregar para uma mãe que arruma o quarto do seu filho todos os dias sabendo que ele está sepultado por que um motorista bêbado atropelou ele quando o mesmo voltava de um dia de trabalho é outra coisa.

Tenho visto Pregadores que acham que vão encontrar revelações extraordinárias...jamais vistas ou ouvidas. Pregadores que acham que a Bíblia precisa ser reescrita. E me entristeço com isso. Gosto muito da palavra “Re-significar”. Nem sei se ela existe, exatamente, em nossa língua. Mas ela implica no conceito de “dar novo significado”. Para dar novo significado a algo é preciso pensar, raciocinar. Pensar implica nesta possibilidade: quebrar velhos paradigmas, reavaliar valores, dar nova moldura, novo sentido. John Stott nos diz “crer é pensar”. Quem dilui pensamentos está propício a errar. Ainda mais pelo fato de que no nosso caso, cristãos, os pensamentos se baseiam em um livro sagrado. A Palavra de Deus não é necessariamente “razão” (existe muita razão, mas não o tempo todo). Ao trilhar caminhos em que a razão nem sempre servirá como solo é ser obrigado a interpretar. Por todos os aprendizados que já tivemos em nossa caminhada cristão sabemos que o caminho da salvação (único) é Jesus, e por este motivo penso, particularmente, que Jesus não era exatamente “razão”. Basta olhar para a sua vida e você com certeza achará diversas situações que comprovam isso.

Meus pensamentos compartilhados são experiências que dissolvo em textos e escancaro para que as pessoas leiam e decidam...descarto (inclusive sem mesmo ler) ou acolho. Não quero empurrar verdades goela abaixo. Não é esta a intensão.

Simplesmente quero provocar, no sentido bom da palavra. Quem é provocado geralmente sai da zona de conforto. Quem sai da zona de conforto enxerga a monotonia com as lentes da realidade. Quem sai da zona de conforto se arrisca no horizonte da sabedoria e abre caminho para a possibilidade de, em glória em glória, encontrar um relacionamento cheio de propósitos com Deus.

A Palavra de Deus é magnífica. Ora, Deus é a Palavra, Deus é Magnífico. Não é a toa que a Palavra é Magnífica. Entretanto, tenho visto o uso da Palavra como disputas de reflexões: Quem interpreta melhor?! (Aquele Pastor quando abre a boca pra falar, meu irmão). Também vejo a Palavra como objeto de venda de prosperidade (basta ligar a TV). E ainda mais, vejo a Palavra sendo usada para justificar acontecimentos na vida das pessoas. Sinto falta de ver a Palavra sendo utilizada como recurso para conhecer a própria Palavra, ou seja, Deus. Sinto falta de ver a Palavra ser interpretada para unir pessoas. Enquanto a gente tenta fazer Teologia, o estômago de uma criança ronca no sertão nordestino.

Disputar com outros pastores à ponto de achar que uma pregação sua no domingo é algo extremamente novo, jamais revelado por Deus, é de uma arrogância e ignorância sem par. Mais ainda é achar que um ateu pode conhecer menos de Deus do que nós, que se auto denominamos Cristãos. Já parou para pensar que um ateu, para escolher não seguir Deus, teve primeiro que saber quem é Deus!? Estas pessoas acabam caindo no mundo da filosofia (a maioria dos filósofos são ateus). Muitos podem pensar que a Teologia é o oposto da Filosofia. Mas não acredito ser o caso. É claro que um bom teólogo precise ser, necessariamente, um bom filósofo. Mas não consigo ver um teólogo que não tenha caminhado sobre o solo da filosofia. Eu arriscaria dizer que se você estressar pensamentos sobre isso, provavelmente chegará a conclusão que a filosofia complementa a teologia, e que o caminho de volta também pode ser uma verdade.

Adventistas, Ateus, Testemunhas de Jeovás, Espíritas, Macumbeiros, Petencostais, Presbiterianos, Mulçumanos, Judeus, Marxistas, cada um de nós temos as nossas verdades. É através dessas verdades que damos sentido à nossa vida. E ainda, é através destas verdades que influenciamos até as nossas heranças (filhos). Mas me lembro de uma pregação do Pastor Ariovaldo Ramos em que ele dizia que quando Jesus estava andando sobre às águas, Pedro (que era pescador e conhecia bem o que era água...sabia que tudo que era impossível andar sobre as águas) implicitamente estava sendo obrigado a se questionar: o que é verdade pra mim? Aquilo que eu conheço sobre a água ou o que Jesus está me mostrando referente ao que é água?

Uma verdade solidificada por conceitos humanos, sem possibilidade de ser resignificada é uma verdade em coma. Uma verdade humana sobre Deus sem a possibilidade de ser resignificada pelo Próprio Deus é o berço de uma heresia. O que é então verdade para nós?

Penso além...diria que um Cristão na realidade constrói a sua fé em diversas verdades, que em uma visão generalizada resultam em uma Verdade. Então pegamos essa Verdade e damos fundamentos para dizer que somos donos dela. Por que um Deus que se define Único em 3 não poderia ter uma Verdade composta de diversas verdades? Esquecemos que a Verdade pertence à Deus. Achamos que ela é nossa. Que arrogância a nossa, não? Talvez isto explique por que tantas denominações dentro do próprio Cristianismo (Presbiteriana, Congregação, Assembléia de Deus, etc...cada um com sua cruz).

Por mais prazeroso que seja pregar (já almejei ter oportunidades), temo que Deus me chame um dia para tal feito. A responsabilidade de tal ação (pregar) é algo que sinceramente me assusta. Quem prega representa Deus. Mas não adianta olhar só para o lado da honra (que é maravilhosa, evidentemente). Tem que olhar para a responsabilidade também. Para um pastor, o culto de domingo, pode ser simplesmente “mais um culto de domingo”...mais uma pregação...mas um pregador jamais pode se esquecer que perante à ele pode haver uma pessoa que considere o mesmo culto...como o “último culto”...a última oportunidade que aquela pessoa dará para se relacionar com Deus. Numa mesma semana o pastor prepara o culto de domingo de qualquer jeito, e uma determinada pessoa está, ao mesmo tempo, passando por algo que está aniquilando a sua fé e se propondo a ir no domingo buscar uma última chance para si mesmo em ter relacionamento com Deus (aqui você pode falar, que presunção achar que uma pessoa pode dar uma última chance para Deus...mas lembre-se...relacionamentos carecem de 2 partes...um Deus que ama, necessariamente precisa conceder o livre arbítrio...então neste sentido existe sim o fator “ultima chance” por parte do homem). Se disponibilizar à pregar é assumir o risco de ganhar ou perder vidas no reino de Deus. Então não adianta olhar só para o lado da “honra” de poder pregar. Arrisco dizer que a responsabilidade é muito mais importante.

Enfim, termino este pensamento sobre “Pensar” dizendo que sou fascinado por Deus. E se você também é então consequentemente verá que precisamos crer pensando, que temos que crer de forma consciente de que nossa verdade é limitada. Quando pensar, rompa as barreiras da teologia, quebre as correntes da filosofia, mergulhe além das correntes do cotidiano, e verás que questionar é saudável. Um pastor que não pode ser questionado não é um pastor. Um Deus que não pode ser questionado, não é um Deus. Um ser que não pode ser questionado é um ditador. Então questione. Mas é claro, faça isso com responsabilidade. Faça isso com a consciência de que és pó. Faça isto consciente que nem todas as respostas serão respondidas, mas quem sabe uma revelação te conforte ainda que a resposta não venha por completa. Então verás que ao buscar uma resposta aqui e outra acolá, estará vivendo de glória em glória. Como sabemos, Deus é infinito. Então creio ser prudente dizer que, todas as vezes que recebemos, do próprio Deus, “um pouquinho” a mais de sabedoria de quem Ele é, na verdade estamos recebendo muito. Que o Senhor se revele à nós. E que ainda que a gente pense (e pense também orando) que esta porção de revelação seja um “tiquinho”, que nossos pensamentos se alinhem com o do Pai para que a gente perceba que um a porção do infinito não se pode medir.

Graça e Paz

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