quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

MUITO PRAZER, MEU NOME É MORTE

Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó. Eclesiastes 3:20

Morte é um tema muito evitado por todos nós. Ninguém gosta de falar sobre a morte. Ninguém gosta de pensar em sua própria morte, muito menos na partida de entes queridos.

Cemitério?? Velório?! É o tipo de compromisso/lugar que a gente nunca quer comparecer. Entretanto, esse tipo de compromisso faz parte da vida.

Tudo começa com uma notícia. O telefone toca, você atende e lá está na sua agenda: “Ir ao velório”. Sim, “vira e mexe” isso acontece. Então nos deparamos rodeados de pessoas chorando ao redor de mais uma pessoa partindo “desta para melhor”. É neste momento que geralmente a gente se vê na necessidade de consolar pessoas que estão vivenciando a experiência do que é uma “perda”. Nestas ocasiões usamos frases feitas do tipo “Deus sabe o que faz”, “Meus pêsames”, “Sinto muito”, mas no fundo temos a sensação de que o melhor é permanecer calados e simplesmente oferecer um abraço consolador. Seguimos o cortejo, pensando sobre a caminhada daquela pessoa que está partindo. Comparamos a caminhada dela e as circunstâncias que a levaram à morte com as nossas próprias vidas. É um momento de reflexão. Os pensamentos voam. Você olha ao redor e vê rostos com um semblante em sintonia com o seu. Os pensamentos deles também voam. Enquanto o caixão desce ao buraco a dor aumenta e a cada pá de terra proferida pelo coveiro vem a sensação de que um dia chegará a nossa hora. No caminho de volta pra casa, vamos dirigindo em silêncio, já tentando se desligar da situação e voltar para a nossa rotina. E geralmente, ao chegar do cemitério, a primeira coisa que a gente faz é tirar a roupa, colocar para lavar (ou até mesmo jogar fora) e tomar um bom banho.  

Agora, percebe que geralmente estes eventos são uma “quebra na nossa rotina”. De fato, temos que admitir, nunca estamos preparados. Quem esta?

A morte é um acontecimento comum entre todos nós humanos. Todos sabemos que iremos morrer. A morte se aproxima a cada segundo que passa. Enquanto você lê essas palavras, a morte deu um passo a mais em sua direção. Acredito que possam existir diversos outros argumentos, mas será que este (o fato de que todos vamos morrer) já não bastaria para que este assunto fosse mais discutido entre as pessoas?...e só pra causar uma “pequena” polêmica: não seria até o caso de abordar este assunto, por exemplo no ensino escolar!? Ter uma matéria para falar sobre as coisas essenciais do ser humano: Envelhecimento, morte, etc. Mas não algo como “biologia”, “ciências”, etc. Algo mais exato, no alvo: a vida do ser humano. Eu por exemplo, aprendi equação de segundo grau e derivadas, mas sinceramente trocaria todo o tempo que usei para aprender as mesmas em pró de boas reflexões sobre o envelhecimento (processo natural) e a morte do ser humano. Creio que seria de maior uso em minha vida.

Bom, discussões à parte, o fato é que o assunto morte incomoda. E incomoda simplesmente pelo fato de que não existe data e nem hora exata para que ela aconteça. E pior ainda, causa separação.

A bíblia possui relatos, que de certa maneira chegam ser assombrosos, sobre a Morte. Mas a que mais me chama a atenção é a parábola descrita por Jesus Cristo sobre o homem rico e o mendigo Lázaro em Lucas Capítulo 6:19-31. Por que é esta a passagem que mais me chama a atenção? Simplesmente pelo fato do relato vir da boca de, nada mais nada menos, que Jesus Cristo.

Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente.
Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele;
E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas.
E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado.
E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio.
E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.
Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado.
E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá.
E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai
Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.
Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.
E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam.
Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.

Assombroso o relato, não?! Ainda assim, não quero tendenciar o pensamento ao fato de refletirmos se atualmente somos o mendigo Lázaro ou o cara rico, acho que cabe a cada um de nós se auto examinar. Te convido a trilhar um caminho diferenciado. Enxergar a morte de um outro ponto de vista. Proponho uma visão simplista, porém aproximada de uma realidade alternativa.

Me lembro de ter assistido a alguns meses atrás no NatGeo um programa que mostrava um rapaz que havia tido uma experiência de morrer, e segundos depois ser ressuscitado pelos paramédicos. O documentário mostrava que este homem usou esta experiência para criar uma consultoria que tratava exatamente sobre o assunto: Morte. As empresas contratavam a sua consultoria para fazer com que os seus funcionários refletissem sobre a morte. Seu serviço se resumia em uma palestra sobre o testemunho da experiência que ele havia vivido e algumas sessões dinâmicas. A primeira delas o palestrante dava uma caneta e um papel para que as pessoas (funcionários que pegavam um dia inteiro para participar da consultoria) escrevessem o discurso fúnebre do seu próprio velório. Palavras que eles desejavam ser lidas no dia do seu sepultamento. Também era solicitado para que eles escrevessem os seus próprios epitáfios (as mensagens que eles gostariam de ter em suas lápides). Feito isso, as pessoas iniciavam o seu próprio cerimonial de sepultamento. Cada um lia o seu discurso fúnebre perante a todos os participantes. Aqui, enquanto assistia, notei algo interessante: a maioria dos discursos envolviam arrependimento de mau investimento do tempo com pessoas queridas. As pessoas choravam muito enquanto liam seus discursos. Depois, todos se preparavam com uma roupa especial (que eles haviam escolhido antes de ir para o evento) e depois iam para uma sala, totalmente a prova de som, com diversos caixões. Cada um deitava em um respectivo caixão, na posição em que os defuntos geralmente são colocados. O palestrante então lia o epitáfio, colocava uma tampa em cima e martelava as extremidades (sem usar pregos, apenas para simular a lacração do caixão). Então todos permaneciam 15 minutos nesta situação, refletindo sobre suas vidas. Passado este tempo, as tampas eram removidas. Por fim todos se reuniam para compartilhar a experiência que haviam vivido.

Parece bizarro, não!? Sinceramente acho que todos nós precisamos de uma consultoria como esta. Precisamos encarar a nossa realidade. Achamos que temos todo o tempo do mundo, mas na realidade não temos. Inclusive, como sabemos que a morte não tem data nem hora para chegar, é prudente afirmar que não temos tempo nenhum.

Até há pouco tempo atrás eu via a morte como algo horrível. De fato é! Entretanto, quero propor 2 maneiras de enxergar este acontecimento em nossas vidas. É claro que não necessariamente o que vou dizer aqui abrange a tudo, existirão exceções, mas ainda assim, para a ordem “natural” das coisas, acredito que é possível gerar um olhar mais belo para este tipo de situação:

UM PRIMEIRO OLHAR: PLANTANDO UMA SEMENTE...

Por coincidência em uma mesma semana li um texto do Ricardo Gondim chamado “A Brisa do Amargoso” (presente em seu livro “Pra Começo de Conversa”) e assisti um excelente filme chamado A Estranha Vida de Timothy Green. Em ambos percebi algo poético. O texto do Gondim (que pode ser contemplado por completo no link que coloquei no nome do mesmo) conta alguns momentos da história de José Cícero, um homem do sertão que está reavaliando a sua vida e vê o sofrimento e a miséria humana como célula raiz de sua caminhada na terra. No texto existem alguns trechos que me chamaram a atenção:

“...Sem ânimo e sem força, (José Cícero) empunhou a borda da rede e conseguiu se erguer. Os meninos dormiam, respirando no mesmo ritmo que Chica, a mulher que lhe parira os quatro meninos morredores - dos sete, só três vingaram. Enterrou Mundinho, o primogênito, quatro dias depois que nasceu; em sua vida curta, Mundinho só chorou.
Em pé, José Cícero abriu a janela que rangeu como um lamento e espiou as cruzes das quatro covas. Lembrou-se qual era a do Mundinho, a única que lhe provocou alguma lágrima. Quando enterrou Zé Carlos, Carminha e Cícero Junior sentiu igualzinho como se abrisse buraco para as sementes de feijão no mês de dezembro, pouco antes da chuva – que nunca vinha; nesses outros enterros, não mexeu nenhum músculo do rosto...
... A gente enterramos quatro filhos no chão seco, sem direito a caixão. Eu me lembro da hora que jogava terra na cara do Mundinho. Eu dizia: “Não é direito não ter nem uma caixa de sapato para proteger o filho dessa terra seca; nós nem pode enterrar com a rede porque tem que guardar a rede pros outro...”

Já no filme A Estranha Vida de Timothy Green, a história relata um casal, Cindy e Jim, que descobre que não pode ter filhos. Entretanto, ao invés de desistir da paternidade, eles elaboram uma lista de desejos de como seria o seu filho ideal e colocam a mesma dentro de uma caixa. Depois eles enterram a caixa no quintal, eles continuam alimentando a esperança de terem um filho. A vida deles segue normalmente até que numa noite tumultuosa eles encontram uma misteriosa criança com características que se assemelham àquelas descritas na lista. A cada dia ao lado do menino, os dois começam a pensar que realmente suas preces foram ouvidas e Timothy é o presente que pediram a Deus.

Em ambas histórias identifiquei um ponto chave que me fez enxergar a morte de uma maneira diferente. Todas as vezes que alguém morre e é sepultado, na verdade esta pessoa está sendo plantada. No caso, cada pessoa é uma semente, que durante a vida desenvolve atributos (não to me referindo à boas obras...mas à o que fazemos com a Graça de Deus...se a usamos ou não, tendo como base o sacrifício de Jesus). Quando morremos, e somos sepultados, na verdade podemos dizer que “somos plantados” (ingênuo? Infantil pensar assim?...pensamento negligente? a morte não é algo doloroso para ser tratada com uma visão tão simplista? por um momento pensei que sim...mas depois de muito pensei...será? por que não? tire suas conclusões!). Um dia iremos brotar, e ai vem a questão: que tipo de planta seremos? Que atributos virão nesta planta que nascerá?! Seremos sementes que poderão gerar frutos agradáveis à Deus? Que tipo de semente o mendigo Lázaro se tornou? Que tipo de semente o homem rico se tornou? Semente de Joio!? Semente de Trigo?

A colheita pertence à Deus, que irá analisar os atributos e escolher quais serão os cultivos que Ele manterá e quais serão descartados.

UM SEGUNDO OLHAR: UMA OFERTA NO SANGUE DE JESUS...

O Pastor Éd René Kivitz certa vez, em uma pregação, relatou (creio que não conseguirei redigir exatamente as palavras que ele usou...mas tentarei) que foi atender um chamado pastoral, onde um homem havia lhe telefonado informando que a sua mulher, que estava em estado terminal de câncer, se encontrava em seus últimos momentos de vida. O Pastor Éd relata que ao entrar no quarto se deparou com o homem, que não era cristão, debruçado sobre a cama onde a esposa estava deitada. Então depois de permanecer alguns minutos observando a cena em silêncio, meio que por impulso, o pastor falou: “Você está preparado para a morte dela!?”. Logo depois de proferir a fala, o pastor pensou: “por que eu disse isso?”. O silêncio permaneceu. Então o homem lhe respondeu: “Não”. O pastor então lhe disse: “Existem 2 maneiras de você se separar dela: A primeira é você deixar que a morte venha e roube ela de suas mãos. A segunda é você ofertar a vida da sua esposa, pelo sangue de Jesus, para que Deus à receba em Seus braços”. Então o homem se calou por mais alguns segundos e permaneceu em pensamento. Até que o mesmo rompeu o silêncio com a seguinte fala: “Pastor, eu escolho ofertar a vida da minha esposa, mas não sei como fazer isso...não sei como orar...você me ajuda!?”. Então o pastor se ajoelhou com aquele homem no quarto e pediu para que ele repetisse as suas palavras. O pastor orava e o homem repetia...foi assim até a segunda ...terceira frase da oração. Então o Pastor Éd relata que o homem, a partir daí, já não repetia as suas palavras...que ele orava com suas próprias palavras. O pastor finaliza o relato dizendo que ao silenciar a sua própria oração e permitir que o homem seguisse orando, ele presenciou uma das orações mais lindas que ele havia ouvido em toda a sua caminhada pastoral.

A separação que a morte causa entre nós e um ente querido é muito dolorosa. Ofertar a vida de quem está partindo, através do sangue de Jesus Cristo, para Deus, talvez não alivie a sua dor plenamente. Mas com certeza fará com que você tenha a esperança de que a pessoa que está partindo estará nos braços de Deus. Digo isso por que o nenhum ser humano jamais saberá quem será salvo ou não...só Deus sabe...então...nos resta a esperança. E uma atitude como esta, ao meu ver...só colabora à favor da esperança.

Concluo dizendo que...

Não proponho aqui gerar duas vertentes onde você obrigatoriamente tenha que escolher uma. Ao contrário...acho que tanto o primeiro olhar, quanto o segundo, são válidos. Diria até que um complementa o outro. E ainda...que outros pensamentos podem ser acoplados à este (talvez novos pensamentos surjam...e eu tenha que atualizar este texto...quem sabe!?). O fato é que temos que pensar na morte. Temos que encarar a morte como uma realidade e não como uma coisa que pode ser adiada de forma negligente. Somos mortais. Por isso carecemos de mais responsabilidade nos dias que a Graça de Deus nos concede. Não quero aqui simplesmente lhe fazer pensar que chegou a hora de fechar um seguro de vida, muito menos lhe trazer uma proposta de que devemos viver uma paranoia de que a morte está planejando uma emboscada para nós. Quero simplesmente lhe trazer a proposta de uma vida mais leve para se viver, onde os valores estão muito mais em pessoas do que outras coisas. Te lembrar que a vida é um vapor. Que o Kairós (tempo presente, dádiva de Deus)  tem que ser vivido em plenitude e com responsabilidade. Que todos os dias terão sentidos se Deus participar de cada momento da sua vida.

Assim como pecado nos nivela...a morte nos nivela...não é à toa que a bíblia relata que o salário do pecado é a morte. Precisamos parar de ignorar a morte. O Cristão sabe que em Cristo Jesus, venceremos à morte. Mas precisamos buscar esta vitória pensando nos outros. Quando morrermos...nada iremos levar...mas com certeza poderemos deixar algo. Não to falando de carro, casa, dinheiro...etc. Estou falando de uma outra coisa: Valores Éticos, Espirituais, etc. Na ordem natural das coisas ...seremos enterrados por nossos filhos. O que temos ensinado para eles à respeito da morte? O que temos deixado para eles como valores para enfrentar o ceifador de vidas?

Acredito que um bom pensador tenta ao máximo pensar em todos. Por este motivo não vejo estes pensamentos como uma receita de bolo. É claro que nem sempre é possível aplicar estes pensamentos em nossas vidas. O que dirá uma mãe que perde um filho em um acidente no mar e o corpo jamais é encontrado. Não, não posso limitar a morte a apenas uma reflexão. Mas poucas pessoas ousam em pensar sobre ela. O que faço aqui é simplesmente tentar caminhar em um tema tentando despertar pensamentos que me ajudem e ajudem à você a encarar a nossa condição de mortais com mais responsabilidade.

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