quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

TEOLOGIA, UM DEVANEIO PRESO EM UM RELICÁRIO

Teologia é algo presente na vida de todo ser humano (seja de forma implícita ou explícita). Se não está presente em sua vida agora, pelo menos em algum momento você teve ou terá contato com ela. Tudo bem, você pode me dizer... “mas não sou teólogo!” Eu te digo, basta pensar em Deus e você já esta teologizando. Entretanto você pode ainda me questionar: “mas eu sou ateu, ou ainda...agnóstico... como posso ter dado passos sobre o solo da Teologia?” Bom, para decidir rejeitar Teologia ou se tornar indiferente para com a mesma, você, no mínimo, teve que saber o que era Teologia. Ninguém pode rejeitar (ou se tornar indiferente a) algo sem que tenha um contato, ainda que superficial, com este “algo”. Escrevo aqui para aqueles que ao se depararem com ela, a Teologia, decidiram entende-la.
Pelo que me lembre em primeira instância, eu sempre achei que “Teologia” era “estudar a cerca de Deus”. Então descobria-se algo aqui, algo acolá...e tendo consciência de que jamais saberia tudo sobre Deus, poderia me “contentar” com aquilo que o próprio Deus me revelava (de Glória em Glória) e, por consequência, eu poderia tomar isso como matéria prima para desenvolver aquilo que chamamos de espiritualidade (no caso, a minha espiritualidade). 
De um tempo para cá, comecei a perceber que esta minha visão sobre teologia é um tanto quanto simples. Isto não quer dizer que eu não à considere correta e coerente. Ela é. Mas comecei a observar alguns teólogos como Rubem Alves, Ariovaldo Ramos, Ricardo Gondim, Ed René Kivitz, dentre outros, e percebi que há algo além deste meu conceito. Bom, você pode criar um “pré-conceito”: “xiii, mais um contaminado pelo Teísmo Aberto!”. Calma, não é este o cerne do ponto de vista que quero expor. Não tenho nada contra o Teísmo Aberto, e sinceramente não sei nem dizer se eu conheço o assunto plenamente para tomar uma posição particular sobre o mesmo (como se isso fosse relevante).

Teologia não é um produto. Teologia não é um mero estudo sobre Divindades. Teologia não é provar que Deus existe. Muito menos provar que Ele não existe. Teologia é pensar assuntos que jamais dominaremos. É lidar com pequenos paradoxos que somados resultam em um imenso paradoxo. É caminhar com pés descalços sobre um solo que pode ser ao mesmo tempo, tão gelado como um Iceberg que flutua sobre oceanos incertos, e quente como um dia de verão onde crianças se banham com mangueira no quintal da casa de seus avós. Teologia rompe protocolos. Implica em digerir saudade, em se deixar se sentir amado. Você pode praticar Teologia lendo a Palavra, enquanto outros praticam Teologia sentindo à Palavra. Teologia nos remete ao desconhecido. Nos faz experimentar Ausência (com “A” maiúsculo) que é Presente (com um “P” tão maiúsculo quanto o “A”). Teologia implica em “ousar” e ao mesmo tempo em “temer”. “Teo” é solo desconhecido, regado de “Eu Sou o que Sou”. “Logia” implica em estudar, conhecer, que ao ser ligado ao “Teo”, consequentemente implica em responsabilidade. Mas como seres tão falhos podem possuir a pretensão de se acharem capazes de assumir uma responsabilidade tão grande de entender o “Eu Sou”. Tentamos ser mais assertivos em pensamentos tomando como base 2000 anos de tradições religiosas  dissolvidas pela Igreja (instituição), unindo a mesma à pitadas de nossos entendimentos, que consideramos inspirados pelo Infinito. Somos carne regadas por espírito e caminhamos em uma corda bamba que nos remete ao questionamento sobre o fato de que: aquilo que nos é revelado em pensamentos, é da carne ou do espírito. E ainda....qual espírito, o nosso ou o de Deus?
Teologia não é simplesmente um processo de adquirir conhecimento sobre Deus. Teologia é mais que isso, implica em experimentar sensações que nem se quer sabemos se é ou não de Deus. Ausência, Transcendência, Imanência, etc.
Como um ser finito pode entender um ser infinito?
O fato é que somos seres finitos que possui dentro de si um espaço infinito e que tentamos buscar conhecimentos à cerca de um Deus que é Infinito e que deseja se complementar em seres finitos (afinal Ele habita em nós). Teologizar é buscar preencher este espaço interno. Ora, mas é possível? Não sabemos. Mas tentamos. Olhamos para dentro de nós mesmos e vemos um horizonte infinito, similar ao de um oceano, e não sabemos nem por onde começar a organizar tudo aquilo que já consideramos como revelação de Deus.

Questiono: isso é tarefa nossa? Ou tarefa do próprio Deus?
Incógnita paradoxal. Uns acham que temos que entrar no caminho (que é Jesus). Outros acham que é o Caminho (e aqui vale à pena explícitar o “C” maiúsculo) que nos encontra. Se vasculharmos por versículos nas Escrituras Sagradas teremos oportunidade de tendenciar qualquer resposta. Basta querermos. Basta ousarmos. Então estaremos teologizando. Mas fazer isso implica no risco de se torar um herege ou um apóstata. Calma! Não é bem assim. Afinal de contas, 2000 mil anos de Igreja nos permitiram gerar metodologias de fazer isso. Tudo bem, mas quem somos nós para definir o que é ou não uma heresia ou uma apostasia!? Lógico que existem pensamentos que são absurdamente incoerentes. Esses são mais fáceis de rotular: “Nossa que Heresia!”. Mas me refiro aqui àquele ponto no meio do versículo, ou àquela preposição que antecede ao nome de Deus. Isso é pano pra manga para qualquer discussão. O “ponto e vírgula da discórdia”. Tudo isso faz valer o ditado popular: Religião não se discute. É, tudo bem, mas Deus não é religião e muito menos Teologia, Deus é o que é e a gente insiste em discutir o Todo Poderoso. Quer heresia maior do que esta?

É, não sei. Tenho muito mais dúvidas (que não é pecado, ou é?) do que certeza. Só posso afirmar que “as maiores “Seitas” nasceram de heresias, camufladas” (frase que já ouvi por diversas vezes). Será!? Será que posso afirmar isso!? Como posso afirmar isso se não conheço (pelo menos até o momento) a Teologia das mesmas de forma profunda para se afirmar isso. É tenho que estudar mais, pois não da para ficar aceitando frases assim sem saber o que há nas entrelinhas. Aliás, não da pra aceitar nada que venha como clichê (que geralmente são criados para resumir situações extremamente complicadas que as pessoas passam em um único parágrafo – quer um exemplo: “ – irmão, acabei de descobrir que estou com câncer” – ai vem a frase: “Calma irmão, tenha fé...você vai ser curado, afinar você tudo pode Naquele que te fortalece”...semanas depois o irmão que estava com câncer morre...e o outro ainda tem a cara de pau de dizer: “faltou fé!”).
Hereges, Apóstatas, Pastores “Ungidos”, Apóstolos, Pai Apóstolos...e pregações, sermões e mais sermões...onde está Deus!?
Quantos de nós já nos questionamos se Deus está ausente? em crise? indiferente? de Férias?
Será que Deus desistiu de nós e decidiu Se perder, Se deixar esquecido nos versos de “Busca Vida” dos Paralamas do Sucesso?:
Vou sair pra ver o céu
Vou me perder entre as estrelas
Ver de onde nasce o sol
Como se guiam os cometas pelo espaço
e os meus passos
Nunca mais serão iguais
Se for mais veloz que a luz
Então escapo da tristeza
Deixo toda a dor pra trás
Perdida num planeta abandonado
no espaço
E volto sem olhar pra trás
No escuro do céu
Mais longe que o sol,
Perdido num planeta abandonado
no espaço
Ele ganhou dinheiro
Ele assinou contratos
E comprou um terno
Trocou o carro
E desaprendeu
A caminhar no céu
E foi o princípio do fim
Se for mais veloz que a luz
Então escapo da tristeza
Deixo toda a dor pra trás
Perdida num planeta abandonado
no espaço
E volto sem olhar pra trás.
Talvez Deus realmente vague por ai, em outros Planetas, desacreditado com a raça humana ao ver como tratamos o sacrifício do Seu Filho Unigênito na cruz com tanto desdém. Talvez não. Quem pode afirmar?...Graças ao Pai por Sua Palavra Viva, que é o Próprio Deus. Ela pode. É por isso que temos sede por conhecer à Deus. Sede de Deus. Graças ao Pai por nos dar uma Palavra não para provar se Ele existe ou não...e sim para nos revelar o Seu Caráter Santo.
A Teologia nos convida à poesia. Poesia expressada nas Escrituras Sagradas. Podemos enxerga-la simplesmente como um livro à cerca de leis. Ou como, por exemplo, um lindo romance.

O Escritor Britânico Aldos Huxley certa feita disse “É de maus sentimentos que se escrevem bons romances”. Em Gênesis 3 um sentimento muito mau que provocamos em um Deus tão amoroso deu início ao maior romance de todos os tempos: A História da Redenção.
Teologia é ler, interpretar, experimentar este romance, onde há um Noivo e uma Noiva que protagonizam um enredo que era para ser horrível, mas foi reescrito por uma Mão única.
Teologia nos obriga a trocar as nossas lentes limitadas (se não o fizermos, não estaremos caminhando em solo teológico). Faz o olho nu ver coisas vestidas de amor, que jamais poderíamos ver caso não usássemos as lentes da Palavra de Deus, nem se usássemos um microscópio mais avançado criado pelo homem. Se a teologia é distorcida ou roubada de nós...então podemos dizer como Adélia Prado:
“Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”
Lindo não? Mas até o que é lindo tem que ser alvo de questionamento: e se a poesia enviada por Deus seja simplesmente ver...uma pedra?
Quem faz Teologia não é o homem. Quem faz Teologia é o Próprio Deus. Ele se revela através do Espírito Santo, e nós absorvemos. Quando estamos em uma montanha, no topo, e olhamos uma cidade sobre um vale. Não há sentido. Mas se olharmos para o mesmo vale, ainda que a cidade esteja lá, e enxergarmos o projeto inicial de Deus: estamos recebendo Teologia das mãos de Deus. A glória faseada que o homem recebe de tempo em tempo é revelada pelo próprio Deus conforme o buscamos. Jesus Cristo, expressão mais escancarada ao homem de Quem Deus É ainda assim é um mar de interpretações.
Podemos considerar a Palavra de Deus e o Discernimento do Espírito Santo como faca e queijo em nossas mãos. O problema é que se não existe fome...de nada adianta tê-los em mãos. Adélia Prado, novamente cito ela, nos diz: “Não quero faca, nem queijo. Quero a fome.”
Faço uma releitura da frase dela trocando algumas palavras: “Quero a faca, o queijo e água na boca”. Nhami nhami nhami...é claro que aqui se aplica o contrafluxo de raciocínio. Evidente!
Por que insistimos em tratar teologia como um mero devaneio (capricho da imaginação; fantasia, sonho, quimera) no qual guardamos em um relicário preso ao nosso pescoço?
Estamos carentes de interpretações!? Estamos limitados à visões literárias? Ou é medo de termos nossa fé abalada?
Talvez seja o medo de ser visto como um herege ou um apóstata? Mas quem não corre este risco, infelizmente, não encontra Deus. Será que é realmente um caminho sem volta se arriscar nessa trilha. Poxa, se um irmão aponta uma heresia em meu pensamento, não há um meio em que eu possa reconhecer que eu realmente estou errado? Não há um caminho de volta? Por que não haveria? Talvez pelo fato da religião nos cegar.
Precisamos enxergar a busca de Deus com um olhar mais elevado. Deixar de lado o tapume da “religião”. Deixar de lado as visões limitadas. Visões que, por exemplo, definem um bom Cristão simplesmente pelo fato de que o mesmo tem versículos e mais versículos decorados na ponta da língua (isso é boa memória...não espiritualidade). Precisamos sensibilizar ouvidos, olhos e demais sentidos para que a Teologia flua em nós. Precisamos ter a consciência de que é maravilhoso ouvir um bom pregador discernir o evangelho em um culto de domingo, mas que, às vezes, nós precisamos pregar a Palavra para nós mesmos. E ainda mais importante, ser consciente de que Deus também esta (pregando) se revelando constantemente à nós.
Abra o relicário...de asas ao devaneio...deixe que ele voe conforme o bater de asas de Deus...pois o Vento sopra para onde Ele quer...tudo ficará mais claro...tudo ficará mais simples. Arrisque-se em conhecer Deus. Faça isso com Amor à Ele. Faça isso em oração. Faça isso em comunhão. O risco de errar (se deparar com heresias ou apostasias) vai estar presente. Faz parte: somos pó!. Então caso você se veja neste solo, calma, não se desespere, converse com Deus, busque a Verdade Dele. Não se desespere, pois Deus não pode se decepcionar conosco: “Como pode alguém se decepcionar, se o mesmo já sabe o que vai acontecer?”. Calma, ande com antenas ligadas, com os sentidos sensíveis ao Pai. Ele lhe auxiliará.
Não proponho aqui sair pensando em Deus deliberadamente sem considerar aquilo, pouco, que já o temos como “Verdade Explícita de Deus”. A proposta aqui é...deixe que os seus pensamentos voem em Deus...questione, questione muito...pois as respostas (que nem sempre serão exatas) lhe causarão mais dúvidas (que não é pecado)...e lhe farão buscar mais...e mais...e mais...e você entrará em um looping infinito...e quando menos esperar ...se verá encharcado de Deus.
Você diria: “Olha ai, um texto cheio de heresia, falando...de heresia!”...Eu diria...”Tudo bem respeito sua visão, mas o que você chama de heresia pra mim soa apenas como incertezas...algo natural quando se trata de um Deus que se autodefine...Eu Sou”.
Ainda assim acho necessário lhe dizer: “Me perdoe por este texto!”.

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