O Pastor Ariovaldo conta que uma vez um menino lhe falou que
não acreditava em Deus, por causa do mal. Ele então lhe respondeu: “Mas eu
acredito em Deus justamente por causa do mal! Pois o mal não conhece limites,
não respeita a moral, não respeita o limite étnico, não respeita a lei, não
respeita a vontade humana. Então, por que o mal ainda não tomou conta de tudo?
Justamente porque existe um poder que impede o avanço dele. A Bíblia diz que
esse poder é uma pessoa, Jesus, e é Nele que eu creio”.
O mal não é o oposto do bem. O mal é a ausência do bem! O
mal é fruto do ego humano que opta por se ausentar de Deus, único ser que porta
o bem em toda plenitude. Deus é o bem supremo, e não há bondade que exista que
não venha Dele.
Isso começou em Genesis, Capítulo 3. O ser humano optou por
viver sem Deus. Declarou-se deus de si mesmo. Colocou o seu ego no lugar que é
de Deus. A partir daí o pecado contaminou a alma do ser humano e o mesmo se
tornou tendencioso a praticar o mau, pois rompeu com a fonte do bem: Deus.
Aquilo que conhecemos como Graça, ou se preferir, favor
imerecido concedido por Deus, consiste justamente no fato de Deus assumir o
dano causado por nós. Isso por que a nossa atitude de rompermos com o Criador
nos fez merecedores da morte, pois Vida quem tem é somente Deus e tudo o que
está fora Dele não vive. Ele escolheu nos “bancar”. Escolheu nos manter.
Assumiu o dano. Fez isso justamente por que Ele é amor.
Então a pergunta que talvez venha na sua cabeça seja: ora,
então como explicar os atos de bondade que fazemos?
Toda a bondade que nos resta faz parte da misericórdia e da
graça de Deus. É um empréstimo de Deus para que suportemo-nos uns aos outros
neste mundo em que vivemos, para que o Seu plano de redenção nos alcance. Deus
escolheu nos “bancar” para que houvesse reconciliação. As escrituras sagradas
dizem que os seres humanos não buscam o bem, que não há nem um justo sequer,
não um só que faça o bem. Nos diz também que o pecado está imerso em nós e que
o resultado disso são caminhos que levam a abismos, ou se preferir, à morte,
pois a iniquidade nos separa de Deus. Sem este empréstimo da bondade de Deus a
humanidade estaria extinta. Pois a Palavra ainda nos diz que não há ninguém no
universo que mude de ideia para o bem, que não seja por meio do Espírito Santo.
O ser humano para se tornar nova criatura precisa renascer no espírito.
Fomos criados com arbitrariedade. Fomos criados para
liberdade e não libertinagem. Não é possível conviver com o arbítrio sem
conviver com a possibilidade da contradição, rebelião, desconfiança, pois na
medida em que um ser é criado com vontade própria, podendo exerce-la, o Criador se
determina a ceder. Fomos criados imagem e semelhança do Criador, que é Amor.
Mas usamos muito erradamente o livre arbítrio. Transformamos a liberdade em
libertinagem. Com isso nos tornamos imagem e semelhança do demônio. Fomos
contaminados pelo pecado. O pecado fez o bem se ausentar. E o mau trouxe o
sofrimento.
Deus foi o primeiro a assumir a responsabilidade de lidar
com o mau. Ele sofreu primeiro. Foi o primeiro a ter a dimensão do quanto o mau
causa sofrimento. Pois a cruz já estava fundamentada muito antes da criação
deste mundo. Ele foi o primeiro a sofrer simplesmente por que Ele é Amor. Deus
é amor por que ama e não necessariamente é amado. O amor aceita o outro, do
jeito do outro, sem impor nada. O amor ama sem ressalvas. É um ato independente
da resposta que ele recebe...Ele simplesmente ama!
O que caracteriza o amor de Deus é justamente o fato de que
Ele enviou o Seu Filho como um meio de reconciliação. O que manifesta o amor de
Deus é a disposição para o sacrifício. O amor não sofre nenhum prejuízo quando
encontra o desamor. Assume o dano. Deus sacrificou-se através do Seu Filho. Pois
Deus é trindade e o ato do Filho é um ato da Trindade. A disposição, o sofrimento,
a entrega foi em dimensão da Trindade.
Deus é amor por que Deus aceitou o sacrifício. Ele aceitou o
sacrifício por que ama. O amor se caracteriza por aceitar o sofrimento. Se o
amor tem que ser correspondido: não é mais amor. Então o amor se doa, sem
interesses. Deus é Aquele que sofre junto com a família, com a comunidade, com o
ser humano, e faz isso por que ama. Por isso Deus nos concedeu perdão através
de Jesus Cristo. Por que o amor move o perdão. O amor perdoa.
O sofrimento terá fim, pois Deus se sacrificou para combater
o mau e triunfou sobre o sacrifício. O mau será aniquilado. Pois a Palavra nos
diz que o inferno existe, e que o mesmo foi criado para a Glória de Deus. Por
isso devemos confiar na vontade de Deus e retornar de Genesis 3, rompendo com a
rebelião. É como a frase atribuída a C.S. Lewis, no filme Terra das Sombras:
“Não oro para que Deus faça a minha vontade, mas para que me adeque à vontade Dele.”.
Pois Deus tem pensamentos de reconciliação e misericórdia a nosso respeito.
G K Chesterton certa vez afirmou que o maior problema da
humanidade não é explicar o mal, e sim explicar o bem. Fico com a explicação do
Pastor Ariovaldo Ramos: é óbvio que Deus existe, senão como é que se explica o
bem?
Conscientes de que o Sofrimento é o intervalo
possível e inevitável entre a aniquilação merecida e a redenção graciosa devemos
seguir em frente, tendo a cruz como alvo. Neste caminho descobriremos que muito
mais do que Deus ter um propósito para a vida da gente, nossa vida ganha
propósito graças ao Jesus que Vive em nós.
Que Deus nos abençoe!
****inspirado nas meditações de Ariovaldo Ramos