Me lembro dos meus 5...6 anos de idade, quando ficava deitado
no sofá assistindo chaves e batia aquela vontade de comer um biscoito. A
preguiça para levantar era tanta que eu virava para a minha irmã e pedia: “ –
Dani, pega um pacote de bolacha recheada para mim?”. Depois de muito insistir, ela
se levantava e ia para a cozinha. Tão logo quando ela voltava e me dava o
pacote na mão, vinha a frase: “ – Obrigado, escrava!”. É claro que resultado
dessa “sacanagem” era sempre um “Manhêêê...ele ta me chamando de escrava!”.
Ainda pensando nos velhos tempos, me lembro de ter estudado,
na época de Colégio, sobre a famosa Princesa Isabel, filha de Dom Pedro II e
sua histórica assinatura, em 13 de maio de 1888, ratificando a lei Áuera, ou se
preferir, a lei de abolição da escravatura no Brasil. Apesar de muita gente
achar que um mero papel ser simplesmente um coadjuvante nesse processo de
liberdade dos escravos (por que não eram seus pais que viviam sob
escravaturas), esta foi uma lei muito importante.
Molecagens e aulas de história à parte, de fato todos nós
escravizamos e somos escravos. De fato exercemos o papel de “Senhores” e “Servos”
de algo, ou alguém. Apesar de haver uma lei Áruea assinada em nossa
constituição, infelizmente não significa que a escravidão foi abolida de nosso
meio. Estou pegando pesado?!
Vejamos...
Pensemos nos Canaviais no interior de São Paulo. Um caminhão
pau de arara vai para o nordeste do país em busca mão de obra barata. Trazem em
suas caçambas gente que vive na miséria. Colocam essa gente para trabalhar no
meio dos canaviais, respirando a fumaça das usinas, trabalhando e morando em
condições precárias. No final da safra, esses trabalhadores voltam para casa do
mesmo jeito que vieram, com R$ 200 “mirréis” no bolso, por uma safra inteira de
trabalho. Muito diferente de mão de obra barata...isso é escravidão.
O que falar então dos imigrantes bolivianos que trabalham em
condições miseráveis costurando roupas de grifes famosas, como a Zara? Ganhando
2 reais por dia de trabalho!? Ou, que falar de crianças na beira das BRs da
vida tapando buracos para ganhar trocados de caminhoneiros? Isso quando as
crianças não são escravizadas por seus pais para se prostituírem!
Sim, todos exercemos senhorio sobre alguém, e todos somos
servos de algum senhor. Uns tem como seu senhor o cigarro. Outros, a cocaína, o
álcool, a ira, o sexo. Uns são senhores de seus funcionários, outros são
senhores de suas esposas. Escravizam suas mulheres não só sexualmente, mas como
empregadas domésticas.
Achamos que somos livres, mas não somos. Jamais seremos.
Toda a criação é escrava. O escravo serve. Toda a criação tem o propósito de
servir. O mar, as florestas, tudo. Eles tem um Senhor. Aquele quem criou tudo.
O ser humano deveria ter a consciência de todo o resto da criação. Mas não tem.
O Homem se fez senhor de si mesmo. O problema é que ao se fazer senhor de si
mesmo, se tornou escravo de si mesmo. Tirou o lugar de Deus e pôs o seu “eu” em
soberania absoluta sobre todos os seus pensamentos e atos. O homem optou em ser
escravo de si, optou em se servir.
Servir ou ser senhor de algo ou alguém, é algo muito
traiçoeiro. Muita gente acha que é senhor sobre o seu dinheiro, mas vive
escravizada pelo mesmo. No fim, é escrava de Mamóm.
Ser escravo não é necessariamente algo ruim. O problema é
que o parâmetro “escravidão” que temos em mente parte de uma escravatura onde
os senhores são maus: homens. “Servir homens” deturpou o significado da palavra
servir. O homem tem natureza egoísta e quando exerce senhorio sobre alguém,
acaba sendo um ditador, pensando em seus próprios interesses.
A escravidão de todo homem deve render glórias ao Bom
Senhor. Um Senhor que entrega a Sua vida pelos Seus. Veja o que alguns homens
de fé nos dizem...
Paulo disse:
Pois aquele que,
sendo escravo, foi chamado pelo Senhor, é liberto e pertence ao Senhor;
semelhantemente, aquele que era livre quando foi chamado, é escravo de Cristo.
(1 Co 7:22)
Obedeçam-lhes, não
apenas para agradá-los quando eles os observam, mas como escravos de Cristo,
fazendo de coração a vontade de Deus. (Ef 6:6)
Mas agora que vocês
foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem
leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna. (Rm 6:22)
Paulo, servo* de
Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, (Rm
1:1, *doulos, isto é escravo)
Pedro disse:
Simão Pedro, servo* e
apóstolo de Jesus Cristo (2Pe 1:1, *doulos, isto é escravo)
Tiago disse:
Tiago, servo de Deus
e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações: Saudações.
(Tg 1:1, *doulos, isto é escravo)
Judas disse:
Judas, servo de Jesus
Cristo e irmão de Tiago, aos que foram chamados, amados por Deus Pai e
guardados por Jesus Cristo (Jd 1:1, *doulos, isto é escravo)
Homens que dedicaram muito de suas vidas ao Verdadeiro
Senhor, falam com prazer ao se referirem como escravos de Jesus, o Cristo. A
escravatura espiritual proposta pelo Nosso Senhor tem como base os valores do
reino de Deus. Muitos acham que vivem em liberdade, mas são escravos. Apenas
não têm consciência disso. Aqueles que vivem conscientes de que Jesus Cristo é
o Senhor, vivem em liberdade, pois são escravos de Jesus. A pergunta então é:
como podem ser livres se ainda são escravos de Cristo?
A resposta é:
A verdadeira liberdade consiste na consciência de que Jesus
é modelo de vida a ser vivido, pois Ele rompeu a lógica cruel da escravidão do
pecado e da morte e nos escancarou a lógica da verdadeira finalidade para que
fomos criados: para sermos tabernáculos vivos do Senhor. Nisto consiste a nossa
serventia, nossa escravatura, nossa vocação, e tudo isto resulta em liberdade.
Pois todo aquele que nega a si mesmo e vive os valores de Jesus, nova criatura
é.
É claro que a Palavra nos diz:
Assim, você já não é
mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro. (Gl
4:7)
Já não os chamo
servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os
tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei
conhecido. (Jo 15:15)
Parece contraditório ao que estou dizendo, mas não é. A
Palavra de Deus não é contraditória.
Assim, você já não é
mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro. (Gl 4:7)
Este contexto fala sobre escravidão a Lei e não a Deus. Não
somos mais escravos da Torá, temos o direito e o privilégio de sermos chamados
de filhos de Deus. Isto não exclui que somos escravos da vontade de Deus.
Já não os chamo
servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os
tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei
conhecido. (Jo 15:15)
Muito mais que contradição, aqui existe complementaridade.
Se a Bíblia declara que somos escravos, somos escravos. Afinal qual o sentido
em dizer que Jesus, o Cristo, é nosso Senhor e Rei se não somos escravos.
Contudo, este gracioso Rei e Senhor, nos dá o privilégio de sermos chamados de
amigos e de sabermos de seus planos. É um Senhor que se importa com seus
escravos, e se importa com atos e pensamentos tão bons, que excede o nosso
entendimento.
A pergunta então, talvez mude: “Será que podemos escolher
ser escravos ou não de Cristo?”
Escravos são geralmente comprados. No caso de Jesus, não foi
diferente. Ele comprou todos nós. E pagou com Seu Sangue Imaculado.
Paulo nos diz:
Acaso não sabem que o
corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi
dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos? Vocês foram comprados por alto
preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo (1 Co 6: 19,20)
Entender a profundidade disso já deveria trazer, como
consequência, todo homem se entregando como escravo, de forma voluntária, à
Deus. Pois a Graça nos mantém. Ele nos comprou como escravos sem que a gente
merecesse. Somos escravos da morte de Cristo, mas muito mais do que isso, somos
escravos, voluntários (pelo menos essa seria a lógica coerente), da graça, do
amor e misericórdia de Jesus.
Bem disse, John Piper certa vez disse...
“Galáxias, elétrons, vento, terra, fogo, vírus, mentes
humanas O obedecem. “Pois tudo está a teu serviço” (Salmos 119:91).”
Mas enfim, você pode escolher não ser escravo de Jesus. O
problema é que você vai acabar se tornando escravo do pecado, ou pior ainda:
escravo do seu próprio ego, ou em outras palavras, de si mesmo. Ao avaliar esta
hipótese, lembre-se que Deus nos fez Sua Imagem e Semelhança, mas nós nos
fizemos imagem e semelhança de Lúcifer. Ser senhor de si mesmo é ser
escravizado por um ser que se fez a imagem e semelhança de Lúcifer.
Que Deus siga trocando a nossa libertinagem por sua
liberdade. Que sejamos escravizados em Seu Amor...por que para mim o viver é
Jesus e o morrer é lucro! Assine a sua própria lei áurea contra o pecado...assine-a
com o Sangue de Jesus.
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