sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ENTRE O ABRAÇO E O COBERTOR

Existem palavras que são ditas em silêncio. Palavras que são ditas com atitudes. Existem palavras que são ditas pelo olhar. Existem olhares que são como abraços. Existem abraços que são como cobertores. Abraços que são dados por um telefonema. Abraços que são dados por um sorriso. Quem nunca foi abraçado pelo feixe de luz do Sol que rompe as cortinas da janela da sala?
 
A alma sensibilizada a toda e qualquer manifestação ao nosso redor capta o rosto de Jesus. A percepção do sorriso de Jesus no rosto das pessoas. O olhar de Jesus no rosto de um mendigo. A lágrima de Jesus no rosto de uma mãe que enterrará o filho, vítima de leucemia. A esperança de Jesus explicita na perseverança do moleque, que no farol manuseia o bastão, como se fosse um profissional do circo, para conseguir uma moeda para comer.
 
Na aleatoriedade da vida vemos Jesus manifestado no rosto dos humanos. Olhares e vozes, sorrisos e lágrimas que nos dão a sensação de que ali existe um vestígio do Cristo. No silêncio rodeado em um velório de uma criança, no pavor do rosto daquele é assaltado, na dona de casa que está fazendo a janta e é surpreendida com o telefonema informando que o seu marido não vai chegar em casa. Jesus está presente, segurando nossa mão, mas não o percebemos.
 
Culpamos a vida. Culpamos Deus. Culpamos Jesus. Culpamos nós mesmos. Precisamos achar um culpado. Esquecemos que somos seres egoístas, afinal em meio a isso tudo o ego da gente não consegue suportar a culpa.
 
Complicamos tudo! Queremos resolver tudo do nosso jeito. Mas no fundo há a sensação de que estamos “batendo cabeça”, de que somos incapazes. Só não admitimos.
 
Lembro-me de ler em Gênesis uma história de um Deus que começou a criar um homem. Fez isso com muito carinho. Mas antes de terminar a obra, o homem se fez deus de si e achou que podia se bancar. Achou que poderia deixar Deus “no vácuo”. Virou para Deus e disse “beijo, me liga”. A partir daí tudo desandou.
 
Talvez se percebêssemos muito mais Jesus presente em todas as circunstâncias, estaríamos mais próximos de sermos gente de verdade. Enquanto isso não acontece, seguimos como “esboços humanos”, “carcaças de barro”, incapazes de perceber que há muito mais ao nosso redor do que imaginamos.
 
Entre o abraço e o cobertor existe o mover de Jesus. Entre o falar e a atitude que em silêncio acolhe habita o Espírito de Jesus. Entre o sorrir e o consolar habita o inspirar de Deus. Somos veículos da Graça do Pai.
 
Seus abraços são cobertores? Seus atos são palavras silenciosas de amor? Jesus está presente em seu agir?
 
Somos camaleões ou somos ambientes? Somos influenciados pelo ambiente ou influenciamos o ambiente ao nosso redor?
 
Que saibamos viver a cruz de Jesus em nosso viver.

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