Existem palavras que são ditas em silêncio. Palavras que são ditas com
atitudes. Existem palavras que são ditas pelo olhar. Existem olhares que
são como abraços. Existem abraços que são como cobertores. Abraços que são
dados por um telefonema. Abraços que são dados por um sorriso. Quem nunca foi
abraçado pelo feixe de luz do Sol que rompe as cortinas da janela da sala?
A alma sensibilizada a toda e qualquer manifestação ao nosso
redor capta o rosto de Jesus. A percepção do sorriso de Jesus no rosto das
pessoas. O olhar de Jesus no rosto de um mendigo. A lágrima de Jesus no rosto
de uma mãe que enterrará o filho, vítima de leucemia. A esperança de Jesus
explicita na perseverança do moleque, que no farol manuseia o bastão, como se
fosse um profissional do circo, para conseguir uma moeda para comer.
Na aleatoriedade da vida vemos Jesus manifestado no rosto
dos humanos. Olhares e vozes, sorrisos e lágrimas que nos dão a sensação de que
ali existe um vestígio do Cristo. No silêncio rodeado em um velório de uma
criança, no pavor do rosto daquele é assaltado, na dona de casa que está
fazendo a janta e é surpreendida com o telefonema informando que o seu marido
não vai chegar em casa. Jesus está presente, segurando nossa mão, mas não o
percebemos.
Culpamos a vida. Culpamos Deus. Culpamos Jesus. Culpamos nós
mesmos. Precisamos achar um culpado. Esquecemos que somos seres egoístas,
afinal em meio a isso tudo o ego da gente não consegue suportar a culpa.
Complicamos tudo! Queremos resolver tudo do nosso jeito. Mas
no fundo há a sensação de que estamos “batendo cabeça”, de que somos incapazes.
Só não admitimos.
Lembro-me de ler em Gênesis uma história de um Deus que
começou a criar um homem. Fez isso com muito carinho. Mas antes de terminar a
obra, o homem se fez deus de si e achou que podia se bancar. Achou que poderia
deixar Deus “no vácuo”. Virou para Deus e disse “beijo, me liga”. A partir daí
tudo desandou.
Talvez se percebêssemos muito mais Jesus presente em todas
as circunstâncias, estaríamos mais próximos de sermos gente de verdade. Enquanto
isso não acontece, seguimos como “esboços humanos”, “carcaças de barro”,
incapazes de perceber que há muito mais ao nosso redor do que imaginamos.
Seus abraços são cobertores? Seus atos são palavras
silenciosas de amor? Jesus está presente em seu agir?
Somos camaleões ou somos ambientes? Somos influenciados pelo
ambiente ou influenciamos o ambiente ao nosso redor?
Que saibamos viver a cruz de Jesus em nosso viver.
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