“O Reino dos céus também é como um
negociante que procura pérolas preciosas. Encontrando uma pérola de grande
valor, foi, vendeu tudo o que tinha e a comprou”. Mateus 13:45-46
O Reino de Deus é
um estilo de vida. Uma vida cujo a referência se fundamenta nos ensinamentos de
Jesus, o Cristo. É uma questão de consciência e comprometimento. Uma vida que
visa pensar e agir em pró de amar ao próximo. Um amor consciente de que jamais
podemos amar alguém se não amarmos a Deus sobre todas as coisas. O Reino de
Deus tem como alicerce o amor, puro e verdadeiro, expresso na vida, morte e
ressurreição de Jesus. E vale a pena dizer: vida, morte e ressurreição em total
submissão e obediência ao Pai, o Rei do Reino.
Ao lermos esta “micro parábola”
contada por Jesus, temos a impressão de que Ele está nos dizendo que o Reino de
Deus é “algo” que está a venda. Parece que o Nazareno nos passa uma ideia de que
o Reino de Deus seja algo comprável. Esta é o entendimento que temos se
tirarmos as palavras de Jesus do contexto de Sua vida, morte e ressurreição. Entretanto,
a essência das palavras do Cristo é justamente a contramão deste pensamento. Todo
o “ministério” de Jesus foi para anunciar o Reino de Deus. Jesus tomou muito
cuidado para deixar claro a todos que o Reino de Deus vinha por graça (um favor
que Deus nos concedia sem que nós fossemos dignos de receber), e que era algo
que jamais seria comercializado. A vida de Jesus anunciava a proximidade do
Reino de Deus (não no fator “tempo”, mas sim no fator “alcance) e seus atos evidenciavam
que este reino não estava a venda, pois o mesmo se fazia ao alcance de todos
por Graça Divina.
Voltando à
parábola contada por Jesus, ao olharmos para um “negociante” entregando tudo,
absolutamente tudo, para adquirir a pérola de grande valor, somos transportados
para 2 dimensões de entendimento:
A primeira nos
remete ao homem que encontra o estilo de vida proposto pelo Reino de Deus e,
por consequência, entrega tudo para viver os valores ensinados por Jesus. O
Reino de Deus é o próprio Rei em seu caráter amoroso. Ele é a pérola de grande
valor. Jesus é a pérola de grande valor. E quando o homem o encontra, entrega
tudo e o segue. Isso nos remete a um pensamento de Billy Graham, que
acertadamente afirmou que: “A Salvação é de graça, mas o discipulado custa tudo
o que temos.”
Marcos 8:34-35 é
um dos textos que nos confirma esse pensamento:
Então ele chamou a
multidão juntamente com os discípulos e disse: "Se alguém quiser vir após
mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a
sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por minha causa e pelo evangelho a
salvará. Marcos 8:34-35
Interessante que
nos evangelhos existem muitos mais relatos de Jesus dizendo para as pessoas
irem embora do que relatos do Nazareno chamando pessoas para o seguirem. Jesus
sabia que o discipulado custava caro, aliás, custava tudo. Na grande maioria
das vezes quando alguém dizia que queria Lhe seguir, Jesus sempre dizia para a
pessoa avaliar o “preço”.
Veja Lucas
9:58...
Indo eles caminho fora, alguém lhe disse:
Seguir-te-ei para onde quer que fores. Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm
seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde
reclinar a cabeça”. Lucas 9:58
Vale a pena abrir
um parêntese aqui:
Muitos teólogos
dizem que a expressão de Jesus “o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”
se refere ao fato de que a cruz usada pelos romanos para crucifica-lo não tinha
um formato que possibilitasse ao Cristo uma posição para apoiar a cabeça e
aliviar o peso do seu corpo para aliviar a dor. Enfim...vale a informação!
Fecho parêntese.
Em resumo, no
primeiro entendimento, temos o homem como o “Negociante” e o Reino de Deus como
a “Pérola de grande valor”.
Agora, pare para
pensar...se o Reino de Deus é uma perola de grande valor, e a reação natural do
homem, ao encontrar esta preciosa pérola, seria abrir mão de tudo para tê-la em
sua vida, por que será que temos tantas igrejas lotadas e tão pouca gente abrindo
mão de tudo para viver os valores do Reino de Deus. Conta-se que em uma festa
de quermesse de uma cidadezinha bem pequena, havia uma barraquinha de artigos
religiosos com o anúncio “Cruzes em Liquidação”. Parece que é exatamente isso que nós cristãos
estamos vivendo. Uma vida em que a cruz é barata, afinal o discurso da “graça”
justifica tudo. A pergunta necessária a se fazer é: será que estamos reconhecemos
o verdadeiro valor do Reino de Deus em nossas vidas? Falta comprometimento da nossa
parte. E creio que falta interligar a “graça” ao preço que foi pago na cruz. Concordo
com o Billy Graham de que a Salvação é de graça, mas, de fato, esta graça
custou a vida do Filho de Deus e é justamente a falta desta consciência que nos
faz viver vidas medíocres e descompromissadas com o Reino de Deus.
Muita gente acha
que encontrou a perola de grande valor, mas se realmente tivesse encontrado a
mesma ja teria abrido mão de tudo para tê-la em sua vida. E quando falo “abrir
mão de tudo” me refiro a tudo mesmo...começando pelo pecado, passando pelo ego,
depois pelo orgulho e tantas outras coisas que alimentam o nosso “eu narcisista”.
Estamos atrás de
cruzes em liquidação ou estamos atrás da pérola de grande valor!?
Dito isso,
podemos ancorar os nossos pensamentos numa segunda linha de entendimento para o
que Jesus está querendo dizer nesta pequena parábola.
Deus é o
negociante. Ele encontra uma pérola de grande valor, a humanidade. Então abre
mão de tudo e vai comprar esta pérola. Já parou para pensar nisso? Entende a
profundidade disso!?
Um Deus, Todo
Poderoso, Criador de Tudo, que nos vê como pérolas de grande valor, preciosas,
únicas. Um Deus que abre mão de tudo o que Ele é, se esvazia de todo Seu poder,
deixa de ser verbo, tornando-se carne, e surge na história da humanidade no
ventre de uma virgem para adquirir pérolas de grande valor: eu, você...toda a
humanidade.
Pois não foi isso
que Deus fez?
Ele olhou para
nós e viu algo único em nós. Nos viu como pérolas de grande valor. Nos viu como
morada de Seu Reino. Desejou Reinar em Amor sobre nós. Então se esvaziou, abriu
mão de todo o Seu poder e se fez Emanuel, Deus conosco, imerso na humanidade
para nos comprar. E por amor entregou tudo, inclusive a própria vida. Fez tudo
isso partindo da premissa de quem Ele é: Amor.
Se por um lado, Jesus
pretende ensinar que o Reino de Deus é algo que, quando descobrimos, a consequência
natural é darmos tudo o que temos para obtê-lo, o próprio Jesus nos escancara o
caminho inverso, onde Deus abre mão de todo o Seu Poder para adquirir a
humanidade para que ela faça parte do Seu Reinado.
Algumas perguntas
acabam sendo inevitáveis:
Você se vê como
uma pérola de grande valor para Deus? Você vive consciente de que Ele abriu mão
de tudo para lhe adquirir como filho!? Você consegue enxergar que nós,
pecadores e merecedores do inferno, aos olhos de Deus somos vistos como pérolas
de grande valor? Pérolas que Ele deseja limpar todas as manchas do pecado e
preservá-las em Seu Reino de Amor?
Será que o
comprometimento que estamos buscando no reino de Deus parte da “segurança” de
que se quisermos ter a cruz em nossas vidas basta procurar uma barraquinha cheia
de cruzes em liquidação? Ou será que o comprometimento nosso para com o reino
de Deus parte da premissa de que toda a atitude partiu Dele, por que Ele nos
amou primeiro, ainda que não fossemos merecedores?
Jesus nos diz: “
- Avalie o custo e veja se vale a pena ser meu discípulo! Observe o Reino de Deus e avalie se vale a
pena entregar tudo para tê-lo em sua vida!?”
Os dois entendimentos
desta parábola contada por Jesus dialogam entre si. Deus vem de um lado abrindo
mão de tudo para ter você. Ele age primeiro. Dele parte a ação. E a reação
natural do homem que entende a ação de Deus só pode ser uma: entregar tudo também.
Rubem Alves
escreveu o ótimo livro “Ostra feliz não faz pérola”. Leia abaixo o motivo que o
fez escrever este livro que é uma verdadeira pérola:
“A ostra, para
fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer.
Sofrendo, a ostra diz para si mesma: Preciso envolver essa areia pontuda que me
machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas… Ostras felizes não fazem
pérolas… Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja
na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor
doída… Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de
curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para
me livrar da dor, escrevi”. Rubem Alves
Por conta do
ambiente em que elas vivem (fundo do mar), as ostras acabam tendo o seu
organismo invadido por grãos de areia. Para se livrar da dor que o grão de areia
provoca devido o mesmo ser áspero e possuir arestas e pontas, a ostra o envolve
com uma substância lisa, brilhante e redonda, que com o tempo se desenvolve e
resulta em uma linda pérola.
Um grão de areia
dentro do organismo de uma ostra é uma desgraça para a mesma. Mas a ostra faz
da desgraça o ponto de partida para a graça. A beleza não isenta a desgraça,
muito menos elimina a tragédia, entretanto pode tornar a mesma suportável. A
felicidade é um dom que deve ser simplesmente vivido e aproveitado. Ela se supre.
Ela se basta. Mas ela não cria pérolas. São os que sofrem que desenvolvem a
capacidade de produzir beleza, para buscar alívio, parar de sofrer.
Deus nos vê como
pérolas. Pérolas de grande valor. Mas nós vivemos nossas vidas não dando a
mínima para isso. E ainda, no curso natural das coisas, nós é quem deveríamos ver
Deus como a Pérola de Grande Valor. Mas nossa visão sobre quem Deus é passa
longe disse. Se o que estou dizendo aqui não fosse o Reino de Deus seria muito
mais perceptivo em nossas vidas. O que nos resta são “lampejos” de que os
valores de Cristo ainda circulam ao nosso redor. Mas de fato é preciso se
esforçar muito para identificar pessoas vivendo estes valores.
Talvez a graça
seja realmente “de graça”. Mas no fundo sabemos que o preço foi alto: A vida do
próprio Jesus. Talvez o amor de Deus seja incondicional. Mas no fundo sabemos
que a condição do amor do Pai para nos amar foi o sacrifício de Jesus, pois só
existimos por que Ele se entregou na cruz por nós. Talvez isto dimensiona o
infinito e incalculável valor da pérola de grande preço que Deus deseja
adquirir: Você!
Acho que talvez a
gente não entenda isso direito simplesmente pelo fato de que não fomos nós que
arcamos com o preço. Foi o Pai quem arcou com a dor de perder o Filho. Foi Ele
quem arcou com o preço da Graça e com a condição do amor incondicional que
tanto ouvimos nas celebrações e não damos a mínima.
Deus nos ama. O
sofrimento que está presente em nossas vidas é o ponto de partida para nos
transformarmos em pérolas. Em outras palavras, a nossa situação de vida jamais
nos definirá como pessoas. Quem diz o que somos é Deus. Quem diz o quanto
valemos é Deus. Ele nos vê como pérolas de valor inestimável. E já pagou o
preço para lhe ter com Ele!
Que Deus nos
abençoe mantendo sobre nós Sua infinita Graça e Misericórdia.
***
Inspirado em Mensagem do Pastor Ricardo Gondim
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