segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

VOCÊ ME AMA?

Pedro era um apóstolo, de certa forma, carismático, que não se preocupava muito com o que os outros pensavam sobre ele. Era intenso e escandaloso em sua entrega a Jesus. Era exagerado! Percebeu a singularidade de Jesus logo em seus primeiros contatos com o Cristo. Foi um homem que abraçou os valores de Jesus sem reservas. Pedro era um homem que dizia amar Jesus à ponto de morrer juntamente com Ele. Sim, comprometido com Jesus à ponto de dizer para Cristo: “ - Para te matarem, terão que me matar primeiro”. Pedro era um homem que não media esforços para demonstrar a Jesus que sabia que Ele era o Messias. Tinha um comprometimento escandaloso com Jesus.

Entretanto, Jesus sabia que Pedro estava enganado. Jesus tinha a consciência de que o amor de Pedro, em realidade, era bem diferente daquele que o mesmo vivia dizendo. Por isso Jesus disse à Pedro: “ - Antes do galo cantar...você me negará três vezes!”. E assim aconteceu: Pedro negou Jesus três vezes!

Na manhã seguinte, Pedro está no caminho de Jesus e os seus olhares se cruzam. Diante deste cruzar de olhares, Pedro toma consciência das palavras de Cristo: “ – Antes do galo cantar, você me negará três vezes!”. Então Pedro, cai “de si” e “em si”. Percebe que seu amor por Cristo era bem menor do que ele costumava dizer ter. Pedro, diante deste fato, chora profundamente, uma dor sem medida!

Em paralelo ao pranto de Pedro, Jesus segue em sua jornada ao Calvário. Então Jesus é crucificado, morre e ressuscita ao terceiro dia.
                                                                                                                                                                                                                                           
No domingo (conhecido como domingo da ressurreição) as mulheres vão ao jardim e encontram Jesus. Então Jesus conversa com Maria Madalena e diz para as mulheres avisarem os Seus discípulos que Ele esperaria os mesmos na praia. Os discípulos estavam desolados e amedrontados, afinal de contas, o Messias estava morto e Roma seguia dominando a todos. As mulheres então, vão até os discípulos e dão a notícia de que Jesus havia ressuscitado e que desejava encontrar a todos na Praia.

Aqui temos um detalhe interessante. Miremos, por um instante, os holofotes em Pedro. Ele havia negado Jesus três vezes. Interessante observar este detalhe: “3 vezes!”. Perceba que o número três, nas Escrituras Sagradas, nos dimensiona o absoluto:

Daniel orou por 3 vezes. Jesus orou 3 vezes no Getsemani. Três = Pai, Filho Espírito Santo = Absoluto!

Pedro havia negado Jesus por três vezes. Pedro havia negado Jesus de forma absoluta. De certa forma Jesus poderia dizer a Pedro: “ - Você não Me negou por que estava distraído, você negou consciente, de forma absoluta!”.

Diante disso, dá para imaginar que, quando as mulheres voltam do sepulcro e dão a notícia aos discípulos de que Jesus vive e que deseja encontrar a todos na praia, Pedro provavelmente sentiu-se num dilema: “ – Será que Ele deseja me encontrar também, pois eu O neguei!”. Creio que, diante dos acontecimentos, este era um pensamento natural na mente de Pedro.

Jesus é extraordinário! Após ter morrido e ressuscitado, Jesus, que ainda não tinha se encontrado com Pedro depois de o mesmo Tê-lo negado por três vezes, diz a Maria Madalena:

“Diga aos meus discípulos e a Pedro, que Eu espero por eles la na Praia!” Marcos 16:7

Jesus enfatiza o nome de Pedro, para que fique evidente que Ele desejava ver Pedro também! Jesus sabia que Pedro estaria neste dilema. Imagino que Pedro deva ter perguntado a Maria Madalena: “ – Como assim? Ele deseja ver todos os discípulos? Todos mesmo? Inclusive eu?”. E Maria Madalena respondeu: “ – Pedro, Ele disse: ‘ – Diga aos meus discípulos e a PEDRO, que Eu espero por eles la na Praia!’. O Mestre deseja te encontrar!”

Então Jesus e Pedro se encontram. E a seguinte conversa acontece:

E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros.
Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
João 21:15-17

Neste diálogo é possível perceber que Jesus está substituindo a memória de negação, que está na mente de Pedro, por uma memória de amor. Jesus está acolhendo novamente Pedro, e diante deste acolhimento é possível perceber um “jogo de palavras”.

Para entendermos este jogo de palavras precisamos estar conscientes do seguinte cenário:

Interessante o quanto nós banalizamos a palavra “amor”. Você já parou para pensar nisso?

A banalização vai desde o rapaz que diz para a moça um “eu te amo” simplesmente para conseguir levar ela para cama até um “eu te amo” da “chocólotra” perante uma deliciosa barra de Milka!

O nível, ou se preferir, a profundidade na qual expressamos o amor está banalizado. Pensemos em alguns cenários:

Olhando para o seu cachorrinho você diz:  “ - Eu amo meu cãozinho!”
Olhando para a sua esposa você diz: “ - Eu amo minha esposa!”
Num dia quente de calor, você entra na sala que está com o ar condicionado ligado e pensa: “ - Uhhhfahh, eu amo ar condicionado!”
Na celebração do culto de domingo, no meio do louvor, você diz: “ - Eu te amo Jesus!”

A pergunta é... as três expressões do sentimento “amor”, são iguais?!

Os gregos bem sabiam que o sentimento “amor” não poderia ser expressado com uma única palavra. Diferentemente de nós, nos dias atuais, os gregos tinham diferentes palavras para expressar o amor:

Storge...era a palagra utilizada para o amor ao cachorrinho, o ar condicionado, etc...
Éros...era a palavra utilizada para o amor carnal, sexual, entre um homem e uma mulher...
Filéo...era a palava utilizada para o amor dos amigos, simpatia, prazer da companhia, fraternidade, etc...
Ágape...era a palavra utilizada para se referir ao amor Divino...o Amor de Deus!


Interessante: Éros, mata! Ágape, morre! Éros, quer para si! Ágape, se doa! Éros, causa dor! Ágape, dói! Éros diz, é meu! Ágape diz, sou teu!

Ágape, perdoa 70x7, sua sangue, se entrega!

...conscientes disso, voltemos ao “jogo de palavras” na conversa entre Jesus e Pedro, em João 21:15-17...perceba que interessante:

Jesus inicia a conversa fazendo a primeira pergunta: “ - Simão, filho de Jonas, você me ÁGAPE?”
Pedro responde: “ - Sim, Senhor, tu sabes que eu te FILÉO!”
Jesus então pergunta pela segunda vez: “ - Simão, filho de Jonas, você me ÁGAPE?”
Pedro então responde pela segunda vez: “ - Sim, Senhor, tu sabes que eu te FILÉO!”
Então Jesus pergunta pela terceira vez: “ - Simão, filho de Jonas, você me FILÉO?”
E Pedro diz: “ – Sim, Senhor tu sabes de todas as coisas. Tu sabes que eu te FILÉO. Tu sabes que eu não te ÁGAPE. Que eu só te FILÉO!”

Interessante, que se esta conversa tivesse ocorrido antes de Pedro negar a Cristo três vezes, ela seria assim:

Jesus perguntaria: “ - Simão, filho de Jonas, você me ÁGAPE?”
Pedro responderia: “ - Senhor, claro que eu te ÁGAPE! Tamo junto! Vou contigo até o fim”

Jesus seguiria perguntando e Pedro seguiria respondendo: “ – É claro que eu te ÁGAPE!”

A consciência adquirida por Pedro ao negar Cristo três vezes, fez com que o mesmo entendesse que o seu amor por Jesus era muito mais falho do que ele poderia imaginar. É Pedro dizendo: “ – Jesus sempre achei que eu te ÁGAPE, mas a verdade é que o máximo que consigo te oferecer é o meu FILÈO!”. Em outras palavras Pedro está dizendo: “ – Jesus, eu achava que te ÁGAPE, mas este lance de ir para cruz foi demais para mim, e ao perceber que isso te negando três vezes, percebi que eu simplesmente te FILÉO! Tu sabes disso, quando cruzamos os nossos olhos, você percebeu isso!”.

Diante deste cenário, o extraordinário é perceber que mesmo diante desta conversa, Jesus sempre complementa o Seu diálogo com Pedro dizendo: “ – Apascenta as minhas ovelhas”, ou se preferir “ – Cuide de minhas ovelhas”.

Ao olhar para estas palavras de Jesus, diante da situação entre Pedro e o Mestre, é possível perceber que Cristo está nos dizendo duas coisas, em alto e bom som:

Primeiro, Jesus não espera que sejamos perfeitos para sermos amados por Ele. Quando Jesus chega para você e te pergunta: “ – Você me ÁGAPE?”. Não é preciso ter medo de dizer “ – Senhor, tu sabes que eu só te FILÉO!”

Quem de nós conseguiria responder ao “ – Você me ÁGAPE?” de Jesus, da seguinte maneira:

“ – Jesus eu, infelizmente, só te FILÉO! Não consigo nem perdoar o meu chefe, como posso dizer que seria capaz de morrer por Ti? Não consigo vencer uma mentirinha aqui, outra acolá, como posso dizer que seria capaz de morrer por ti? Sou vencido pelo maço de cigarro, pela lata de cerveja, como posso dizer que seria capaz de morrer por Ti? Não sou capaz de vencer meu ego, como seria capaz de dizer que posso me entregar por ti? Não consigo perdoar meu pai, minha mãe, meu irmão, como vou dizer que eu morro por ti? Não consigo nem dizer não para dinheiro sujo, como posso dizer que morro por Ti? Senhor, este papo de que temos que dar a outra face para tapa, quando tomamos uma bofetada! Que temos que caminhar mais duas milhas quando nos obrigarem a caminhar uma milha! Que temos que perdoar 70 x 7...tudo isso é meio Ágape, eu vou tentar me esforçar, mas no fundo sei que não conseguirei oferecer um ÁGAPE, pois eu consigo oferecer no máximo o meu FILÉO! O Senhor sabe o quanto eu desejo que aquela pessoa, que fez mal para mim, morra! E o Senhor vem me perguntar se eu te ÁGAPE? Se eu morreria por você?”.

Diante de uma resposta desta, ouviríamos de Jesus a seguinte frase: “ – Apascenta as minhas ovelhas!”. Isso quer dizer que, assim como no caso de Pedro, o nosso amor imperfeito à Jesus, é suficiente para que Ele, Jesus, inicie um relacionamento conosco, a ponto de transformar este amor, de glória em glória, o mais perfeito possível! O nosso amor, imperfeito, é suficiente para Deus, no sentido de que Ele pode transformar estes amor, de FILEO para ÁGAPE, conforme Ele, Jesus, caminha conosco. Jesus acolheu Pedro, mesmo sabendo que o seu amor era imperfeito. Mesmo sabendo que Pedro só poderia oferecer o seu FILEO!

Quem de nós tem ÁGAPE para oferecer à Jesus?

Interessante que Jesus resignificou os 2 mandamentos mais importantes. Antes os mesmos eram: Amar a Deus, com todo a sua força e entendimento, sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo. Jesus resignificou os mesmos, dizendo: Antes os mesmos eram: Amar a Deus, com todo a sua força e entendimento, sobre todas as coisas e amar ao próximo como Eu vos amei.

Jesus nos convida a amar ao próximo de forma ÁGAPE, mesmo sabendo que só podemos oferecer o nosso FILÉO. Jesus sabe que se acomodarmos em nosso FILÉO jamais daremos vazão para que o mesmo se transforme em ÁGAPE. Por isso Ele aceita o nosso FILÉO e nos convida a caminhar juntamente com Ele, de forma que o Espírito Santo possa nos transformar à imagem e semelhança de Jesus.

O amor imperfeito de cada um de nós se torna suficiente para Jesus quando temos consciência de que nosso amor por Ele é imperfeito. Quando podemos dizer, em total liberdade, sem máscaras, de coração aberto...” – Jesus, eu lamento muito, eu já acreditei que te ÁGAPE, mas eu só te FILÉO!”...Jesus então olha para nós e diz: “ – Ufa...finalmente! Eu sempre soube que você não me amava do jeito que você me dizia amar. Você se achava perfeito, mas finalmente caiu em si, e de si! Finalmente você viu que não é perfeito! Finalmente você se desiludiu de achar que poderia ser perfeito! Finalmente você parou de pensar como um fariseu! Agora podemos avançar! Vem, você é dos meus! Vem apascentar as minhas ovelhas! Vamos caminhar juntos, para transformar este FILÉO em ÁGAPE!”.

O ponto de partida é reconhecer que o nosso amor por Deus é imperfeito! Só quem tem esta consciência é capaz de dar vazão ao Espírito Santo para que Ele possa transformar nosso ser!

Nós achamos que somos perfeitos. Por conta disso achamos que todos ao nosso redor são imperfeitos. Inclusive Deus, pois quantas vezes achamos que Deus demora para responder nossas orações! Mas somos imperfeitos! Deus sabe disso e nos ama!

Em segundo lugar, Deus deseja nos dizer em alto e bom som, que aceita o nosso amor imperfeito quando lamentamos muito o fato de sabermos que não podemos oferecer à Ele um amor ÁGAPE.

O lamento de Pedro ao cruzar os olhos com Jesus, após nega-lo por três vezes, foi profundo. Jesus sabia disso. Jesus viu que Pedro sentia muito não poder oferecer ÁGAPE.

Interessante...

Tem gente que tem o discurso: “ – Quando você casou comigo, você sabia que eu era assim!”. Este é o tipo de discurso que não combina com gente que está comprometida com os valores de Cristo. Pessoas que se entregam a imperfeição e faz da mesma uma desculpa para uma vida porca e nojenta, é gente sínica.

Jesus não se confia a “perfeitinhos e perfeitinhas”, mas também não se confia a “imperfeitinhos e imperfeitinhas”.

É Jesus perguntando: “ – Você me ÁGAPE?” e o “imperfeitinho” negligencia a resposta dizendo:  “Que isso Jesus, vai me perdoando ai 70 x 7!”

Não podemos negligenciar a graça! Não podemos desdenhar do ÁGAPE do Pai! Não podemos desdenhar da Graça do Pai! A Graça de Deus não é um ato vão! Não é licença para uma vida de esbórnia!

Quando descobrimos que não somos perfeitos e que não podemos ser perfeitos não podemos ficar na zona de conforto e se entregar a imperfeição. Temos que nos esforçar ao máximo a assumir os valores de Jesus em nossas vidas!

Martinho Lutero foi muito feliz em dizer que o amor de Deus não se destina ao que vale à pena ser amado, mas o amor de Deus gera o que vale a pena ser amado.

Gente que se entrega a imperfeição não dá vazão ao Espírito Santo, para que Ele gere o que vale à pena ser amado. A profunda consciência de que jamais seremos perfeitos a ponto de poder oferecer ÁGAPE à Deus deve andar de mãos dadas com a profunda tristeza que esta consciência provoca em nosso ser.

Consciência de erro não é a mesma coisa que arrependimento! Lamento pelo pecado não é a mesma coisa que arrependimento! Arrependimento sempre vem acompanhado de uma vergonha profunda. É possível imaginar... quando Jesus perguntou a Pedro “ – Você me ÁGAPE?”, Pedro, envergonhado, não tem coragem de olhar nos olhos de Jesus, ele simplesmente abaixa a cabeça e responde: “ – Senhor, eu te FILÉO!”.

Deus procura gente sincera de coração. Gente íntegra. Gente que sabe que é pecadora, imperfeita, mas que é sincera de coração, que é íntegra, e não está acomodada no pecado!

Hoje, somos Pedro! Já negamos Jesus por diversas vezes, bem mais que 3 vezes! Pode ser que o nosso olhar já tenha se cruzado com o de Jesus. Pode ser que a gente esteja com Ele, sentado na praia. Jesus está nos perguntando: “Você me ÁGAPE?”...qual a sua resposta?

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Inspirado no Sermão de Ed René Kivitz

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