quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

DEUS AMA OS PECADORES, MAS ODEIA O PECADO...SERÁ?

Certo dia, quando Ele ensinava, estavam sentados ali fariseus e mestres da lei, procedentes de todos os povoados da Galiléia, da Judéia e de Jerusalém. E o poder do Senhor estava com Ele para curar os doentes. Vieram alguns homens trazendo um paralítico numa maca e tentaram fazê-lo entrar na casa, para colocá-lo diante de Jesus. Não conseguindo fazer isso, por causa da multidão, subiram ao terraço e o baixaram em sua maca, através de uma abertura, até o meio da multidão, bem em frente de Jesus. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse: "Homem, os seus pecados estão perdoados". Os fariseus e os mestres da lei começaram a pensar: "Quem é esse que blasfema? Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus? " Jesus, sabendo o que eles estavam pensando, perguntou: "Por que vocês estão pensando assim? Que é mais fácil dizer: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou: ‘Levante-se e ande’? Mas, para que vocês saibam que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados" — disse ao paralítico — "eu lhe digo: levante-se, pegue a sua maca e vá para casa". Imediatamente ele se levantou na frente deles, pegou a maca em que estivera deitado e foi para casa louvando a Deus. Todos ficaram atônitos e glorificavam a Deus, e, cheios de temor, diziam: "Hoje vimos coisas extraordinárias! " Depois disso, Jesus saiu e viu um publicano chamado Levi, sentado na coletoria, e disse-lhe: "Siga-me". Levi levantou-se, deixou tudo e o seguiu. Então Levi ofereceu um grande banquete a Jesus em sua casa. Havia muita gente comendo com eles: publicanos e outras pessoas. Mas os fariseus e aqueles mestres da lei que eram da mesma facção queixaram-se aos discípulos de Jesus: "Por que vocês comem e bebem com publicanos e ‘pecadores’? " Jesus lhes respondeu: "Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento". Lucas 5:17-32
Muitos são os relatos de situações em que os religiosos da época de Jesus, à quem as Escrituras Sagradas referem-se como Fariseus, acusavam-no de andar com pecadores e publicanos (cobradores de impostos).
O texto acima nos mostra uma destas situações: Jesus estava ensinando alguns religiosos em uma casa e a multidão havia tomado conta do local para ouvi-lo. Alguns homens, sabendo que Jesus estava na região, pegaram um amigo paralítico, colocaram-no em  uma maca e levaram o mesmo até o local onde estava Jesus, para que Ele o curasse. Ao se depararem com a multidão, os amigos não conseguem entrar pelas portas e então eles sobem no terraço da casa e baixaram o paralítico pelo teto bem em frente à Jesus.
A situação se torna mais interessante ainda quando vemos no texto que Cristo, ciente que aqueles homens queriam a cura do seu amigo, percebe a fé dos mesmos e diz: “Homem, os seus pecados estão perdoados”.
Cristo sabia que não só o paralítico, mas, todos os religiosos que estavam ao seu redor e toda a multidão esperariam pelo milagre da cura. Ao dizer “Homem, os seus pecados estão perdoados”, Cristo mexe com a religiosidade dos Fariseus que, por conta disso começam a se inquietarem em pensamentos. Veja o versículo 21:  “Os fariseus e os mestres da lei começaram a pensar: "Quem é esse que blasfema? Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus? "
Jesus tinha total controle da situação, Ele sabia o que a sua atitude havia provocado nos corações daqueles religiosos. Então vemos, no versículo 22, Cristo dizendo: Jesus, sabendo o que eles estavam pensando, perguntou: "Por que vocês estão pensando assim?”
E ai o Mestre Jesus segue com um questionamento no versículo 23: “Que é mais fácil dizer: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou: ‘Levante-se e ande’?”
Com esta pergunta ainda vagando na mente de todos, Cristo diz ao paralítico, no mesmo versículo: “levante-se, pegue a sua maca e vá para casa”
O homem então se levanta, pega a maca e sai do local louvando a Deus perante aos olhos de todos.
Depois Jesus deixa o local e percebe a presença de um cobrador de impostos, um homem chamado Levi. Cristo convida o mesmo para andar com Ele. Levi então deixa tudo para trás, segue à Jesus e oferece um banquete em sua casa para Cristo. Vento tudo isso os Fariseus vão aos discípulos de Cristo e fazem a seguinte pergunta: Por que vocês comem e bebem com publicanos e ‘pecadores’?
Bom, com este pano de fundo, convido-lhe a refletir sobre uma frase que é muito presente nas igrejas:

DEUS AMA OS PECADORES, MAS ODEIA O PECADO.

Para iniciarmos nossa reflexão partiremos da premissa que esta frase não está presente de forma explícita nas Escrituras Sagradas e que este pensamento surgiu através de análises teológicas tendo como base as atitudes demonstradas por Cristo.
Atualmente, é muito comum ver esta frase sendo utilizada por pregadores do Evangelho de Cristo, entretanto, também encontramos muitos irmãos que consideram a mesma como um meio de se colocar panos quentes sobre os pecados das pessoas.
Para aprofundarmos ainda mais neste entendimento e seguirmos de forma assertiva em nossa reflexão proponho que observemos a definição de duas palavras chaves contidas neste pensamento: Pecado e Pecadores.

De forma simples e direta entendemos que o “pecado” é a violação da Torá, a Lei que nos fora apresentada por Moisés (logicamente, entendendo que estas leis foram reveladas por Deus à Moisés no Capítulo 20 do livro de Exodo). Entretanto, considero esta definição tem sido tratada por nós de maneira muito superficial. Talvez, por este motivo muitos irmãos lidam com o pecado também de forma superficial, entendendo que quando estão fazendo algo de errado estão simplesmente infringindo uma lei.

Para termos ciência profunda sobre o pecado precisamos recapitular o cenário no qual a gente se encontra:

Todos nós somos parte de um grupo de criaturas, criadas por Deus (o Criador), que se rebelaram contra Ele. Deus é o supremo bem, e o mau não é exatamente o oposto do bem, e sim a ausência do bem. Deus não criou o mau. A maldade era apenas uma teoria, a ausência da bondade, e nós, homens, tornamos esta teoria uma realidade quando traímos à Deus. Para que o mau fosse exatamente o oposto do bem, ele teria que ser uma entidade, e a mesma, por consequência seria o supremo mau. E ai você se pergunta: mas e o diabo, não é o oposto de Deus? Claro que não, o diabo é uma criatura que foi criada por Deus, porém se rebelou contra Ele e foi exilado pelos anjos de Deus. Assim como o inferno não é um reino, por que a Palavra nos revela que só haverá um Reino, um Rei: o reino de Jesus Cristo. O inferno é a ausência de Deus.

 
Antes de nos tornarmos maldosos, éramos bondosos, vivíamos no Primeiro Amor, o Amor de Deus. Ele havia criado o homem para relacionar-se. Entretanto, quando, no Éden, o homem (a criatura), induzida pela serpente, se rebelou contra Deus (Criador), nós aderimos a rebelião de satanás. Rompemos com Deus. O Supremo Bem, nosso Criador, buscou então uma maneira de eliminar a maldade sem que o homem fosse eliminado. Ora, mas como fazer isso sendo que a maldade e o homem estavam um dentro do outro? Em sua sabedoria única, Deus então nos concede uma segunda chance alicerçada em 3 ações repletas de Sua misericórdia infinita e de Seu amor incondicional (um resumo da interpretação do Pastor Ariovaldo Ramos):

Primeira Ação: Ele designou o sacrifício de Jesus Cristo na Cruz.

 
Se Deus é o bem supremo e nós somos maldosos por natureza, é extremamente lógico que um ser “hibrido”, homem e ao mesmo tempo Deus, criasse um elo entre a criatura e o Criador, de forma que a barreira da maldade fosse retirada entre o relacionamento dos mesmos. Com um ser que fosse homem e, ao mesmo tempo, Deus, a criatura teria como referência a maneira na qual o Criador desejaria que ela fosse. Então, quem é este ser “híbrido”? Jesus Cristo. É em Cristo que vemos como Deus é e como nós devemos ser.
As Escrituras Sagradas nos revelam 3 pessoas que nasceram com intervenção direta das mãos do Espírito Santo de Deus: Adão, Eva e Jesus Cristo. Os dois primeiros optaram pela rebelião contra Deus. E todos nós somos descendentes deles. Entretanto, Jesus cumpriu o propósito de Deus. Ele nasceu, viveu e se entregou para a cruz sem maldade alguma. E nós, no calvário, depositamos em Cristo toda a nossa maldade.

Cristo é o próprio Deus que se esvaziou e desceu:

Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; Filipenses 2:7

Quando Paulo diz que Ele “se esvaziou”, o apóstolo está se referindo ao fato de que o próprio Senhor abdicou-se de todos os Seus poderes para se fazer homem, como nós, e vir nos trazer a salvação para todos os homens. Ainda no mesmo versículo, ele diz “tomando a forma de servo” justamente pelo fato de que Cristo mostraria para todos que é possível sim existir sem que a maldade faça parte nós. Jesus era santo, separado, por que nele não havia maldade alguma. Por isso que a Bíblia Sagrada não revela os homens buscando à Deus, pelo contrário, a Palavra nos mostra Deus buscando os homens.
 
“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” João 1:14

Antes da vinda de Cristo, podemos perceber que em diversos livros no Antigo Testamento há muitos relatos no qual o homem oferece animais em sacrifícios à Deus, de forma que o sangue inocente lavasse e redimisse quem apresentava o sacrifício de sua maldade. Entretanto, também podemos perceber que, jamais nenhum outro humano, além do Cristo, foi sacrificado para remissão da maldade ao Senhor. Isso por que todos os homens, com exceção de Jesus, possuem a maldade em seu sangue. Tudo bem, você pode perguntar, mas Deus não tinha pedido a vida de Isaque para Abraão em sacrifício conforme relata a Palavra em Genêsis, Capítulo 22? Temos que entender que o pedido do Senhor para esta situação não tinha como objetivo a remissão da maldade, e sim uma prova de que o amor que Abraão tinha pelo seu filho não era maior do que o amor que o patriarca da fé tinha por Deus. Sem contar que o sacrifício não foi consumado, apesar de eu crer que enquanto Abraão se dirigia para o Monte Moriá, ele já matou Isaque em seu coração.

Com a vinda do Cordeiro Santo, os sacrifícios já não ocorrem mais pois o mesmo se torna na cruz do calvário o Sacrifício Supremo para que todos fossem perdoados de suas maldades. A ressurreição de Cristo testifica o Seus Sacrifício como desejo do Pai: de que o Cristo seria o elo de reconciliação entre o homem e Deus.

Segunda ação: Nos proveu um ambiente provisório/temporário para não sermos mortos.

Para que a morte não fosse a sentença final, Deus nos proveu um ambiente provisório para que os homens pudessem existir e o processo de eliminação de nossa maldade pudesse ocorrer. É interessante que a Palavra de Deus relata primeiro o “Haja Luz” (a criação deste mundo), mas o sacrifício de Cristo foi premissa para o “Haja Luz”, pois se não fosse assim, não haveria sentido em criar este mundo. Já estaríamos todos mortos. Por isso antes do “Haja Luz” houve o “Haja Cruz”.

Entenda que o ambiente (o mundo) que vivemos é provisório por que a própria Palavra nos revela duas cosmologias, ou, em outras palavras, dois mundos:

Um ambiente com dia e noite...
“E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom.” Gênesis 1:1-18
E outro ambiente com apenas dias, sem mais noites...
“E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre.“ Apocalipse 22:5
Não precisamos pensar muito para perceber qual dos dois ambientes é o que Deus deseja para o homem. Nós vivemos em um mundo provisório, baseado em sacrifício e ressurreição, onde a chave de todo a salvação está na primeira ação de Deus relatada à cima: O Sacrifício de Cristo Jesus.
Terceira ação: Emprestou-nos sua bondade

Para que o processo de eliminação da nossa maldade pudesse ocorrer, teríamos que nos suportar. Ora, se Deus não nos emprestasse a Sua bondade, já teríamos acabado com este mundo e com nós mesmos à muito tempo. Talvez isso responda outros possíveis questionamentos do homem, como por exemplo o fato de que um cientista ateu possa descobrir uma vacina para uma doença extremamente nociva ao homem.

Agora, você pode estar pensando, estas ações estão ordenadas corretamente?

A própria Palavra nos responde:

“E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. Apocalipse 13:8
“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”. Mateus 25:34
Sim, Deus designou a Cruz muito antes de nos criar o ambiente no qual vivemos. Por isso que muitos profetas, inspirados pelo Espiríto Santo, anunciaram a vinda de Cristo. E ainda, para que os homens não se glorificassem da Glória que pertence à Deus, é possível ver no antigo testamento que todos àqueles que foram usados por Deus, vieram de uma decendência na qual Deus entrou com providência. Na maioria das vezes permitindo que alguma mulher estéril pudesse engravidar.

Antes do Sacrifício do Cordeiro, o Senhor relatou o processo da Cruz por diversas vezes. Por exemplo, Pedro nos diz...

Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, e isso é representado pelo batismo que agora também salva vocês — não a remoção da sujeira do corpo, mas o compromisso de uma boa consciência diante de Deus — por meio da ressurreição de Jesus Cristo, que subiu ao céu e está à direita de Deus; a ele estão sujeitos anjos, autoridades e poderes. 1 Pedro 3:18-22
Encontramos aqui uma menção referente à Noé, e muitos não entendem que o termo “Arca de Noé” pode ser interpretada como “Jesus Cristo”. Pois foi na Arca que Noé encontrou salvação.
Bom, tendo todo este cenário como alicerce de nossos pensamentos, vamos retomar o entendimento do que é o pecado. Perceba que durante o nosso raciocínio eu utilizei em todo o momento a palavra “maldade” no lugar da palavra “pecado”. Então veja que a definição de pecado vai muito mais profundo do que simplesmente o fato de infligir leis. O pecado esta implícito no conceito de maldade, pois ele é um ato de rebelião contra Deus, que por Sua vez é a bondade suprema. Pecar é negar à Cristo. Quando um pedófilo está abusando de uma criança, ele não está simplesmente inflingindo a Torá, ele está negando à Cristo.
A segunda palavra chave da frase DEUS AMA OS PECADORES, MAS ODEIA O PECADO é a palavra “Pecadores”. E aqui o entendimento é mais claro: Nós, nós somos os pecadores. Todo homem na face da terra é pecador.
Lembremos do fato de que o que há de bondade em nós, é proveniente de Deus, e se não fosse por isso, o que haveria em nós seria apenas a maldade.
O “ato de pecar” está presente em nossa natureza, nós pecamos e nós insistimos em justificar os nossos pecados, sem perceber que até mesmo o ato de justificar o pecado é propriamente um pecado. Pecador é quem pratica a maldade: todos nós praticamos a maldade, de forma acidental ou de forma proposital.

Como está escrito:
Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. Romanos 3:10-12
Nós pecamos por atitudes, pensamentos e por omissão. Pecamos por que isto está em nossa natureza. 
Voltando ao texto em que Jesus cura o homem paralítico perante aos Fariseus, existem duas atitudes de Cristo que considero importantíssimas no entendimento desta frase “Deus ama os pecadores, mas odeia o pecado”. A primeira atitude infelizmente passa de forma despercebida quando nós lemos este relato. Trata-se do fato de que Jesus, mesmo ciente de que aqueles homens estavam procurando o milagre da cura, diz: “Homem, os seus pecados estão perdoados”.

Por que Cristo simplesmente não curou aquele homem? Por que Ele simplesmente não disse: Levanta e anda!?

O próprio Cristo nos responde esta pergunta de forma surpreendente: 
Que é mais fácil dizer: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou: ‘Levante-se e ande’?
Para Deus o peso de lidar com o perdão do pecado é algo muito mais importante do que lidar com a cura ou qualquer outra necessidade do homem. A maior necessidade que o homem tem é arrepender-se, romper com a rebelião e o encontrar o perdão de Deus. Isso por que o perdão está relacionado diretamente com a salvação. O desejo de Deus em premissa é nos salvar. Temos que lembrar que Deus sofreu primeiro. Sim, Ele foi o primeiro à sofrer. Nós causamos isso. E por amor, Deus passou por cima da nossa maldade e nos resgatou em perdão e misericórdia consumados por Cristo. Aqui Cristo demonstra o quanto o pecado é repudiado por Deus.
Posteriormente, Cristo testifica aos homens a obra do Reino de Deus curando o paralítico. Mas o ato maior, o milagre maior aqui, não é a cura do paralítico...e sim o perdão que ele alcançou.
A segunda atitude de Cristo crucial para o entendimento da frase “Deus ama os pecadores, mas odeia o pecado” está na resposta que o Mestre dá para a pergunta feita pelos fariseus: “Por que vocês comem e bebem com publicanos e ‘pecadores’?”

Cristo responde: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento”
O convívio de Cristo com os pecadores tinha como objetivo fazer com que os mesmos enxergassem que o caminho no qual eles estavam justificava a morte e não a vida. E isso ia em desencontro com a proposta de Reino que Deus tem para os homens.
Agora, vamos raciocinar, se pegarmos uma das pessoas que participaram de forma direta do processo crucificação de Cristo, como por exemplo Pôncio Pilatos, e fazermos a seguinte pergunta: “Cristo o amava? Jesus amava Pôncio Pilatos?” que resposta nós teríamos?
Entenda, não é pelo fato de que Pilatos era mais ou menos pecadores do que nós, todos somos pecadores. Haviam pessoas, mesmo na época de Pilatos que tinham evoluído a maldade em seus corações com muito mais intensidade que Pilatos. A própria Palavra relata isso, e ainda, na voz de Cristo:
E entrou outra vez na audiência, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta. Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar? Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem. João 19:9-12
Veja que Cristo relata que quem o havia entregado a Cesar havia cometido um pecado maior do que o de Cesar. E aproveitando o ponto no qual estamos, gostaria de expressar que eu acredito sim que exista pecadinho e pecadão. Mesmo por que, além desta passagem, todos sabemos que o pecado contra o Espírito Santo não tem perdão, ou seja, é um pecado que tem peso maior que os outros. Entretanto, também creio que basta apenas um pecado, que não tenha arrependimento por parte do pecador, para que a salvação do mesmo seja roubada. Ou seja, ainda que exista pecadinho e pecadão, sempre teremos como essência final: pecado. E pecado nos afasta de Deus. Entretanto esta é uma outra discussão.
Voltando ao cenário referente à Pilatos, não estou escolhendo o mesmo pelo fato de me achar menos pecador do que Ele, mas sim pelo fato de que Ele participou presencialmente do processo de julgamento e crucificação de Cristo. Sendo assim considero uma analogia mais coerente para a nossa reflexão.
Então pergunto: Jesus Cristo amava Pilatos?
É claro que nenhuma passagem das escrituras relata, de forma explícita, que Cristo amava a Pilatos. E é interessante perceber que existem casos em que a Palavra explicita o amor de Cristo com relação a outro personagem de sua história, como por exemplo a Bíblia nos o sentimento de Cristo com relação à João, quando na Crucificação é relatado o seguinte acontecimento:
Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. João 19:26
Ou seja, não podemos argumentar que não havia demonstrações explícitas do amor de Cristo com pessoas no qual ele conviveu.
Entretanto, também não há nenhuma passagem da Palavra que relata de forma explícita um sentimento de ódio por parte de Cristo com relação à Pilatos. E aqui encontramos algo interessante: não há nenhum relato nas Escrituras Sagradas em que Jesus demonstra ódio por algum homem.
E ai a analogia tem que ganhar uma outra dimensão. Temos que pensar que a Trindade Santa é uma unidade. Ou seja, Deus, Jesus e o Espirito Santo, são um. Cristo está em Deus, que por Sua vez está no Espírito Santo, que por Sua vez está em Jesus.
Sendo assim, quando olhamos para Deus percebemos que, apesar do Senhor ser soberano e poderoso e de se auto definir como o “Eu Sou”, Ele se revela nas Escrituras Sagradas como amor. O próprio caráter de Deus é o Amor. E quando falo amor, me refiro ao amor em sua verdadeira essência, sem interesse e nenhum sentimento impuro. Me refiro ao amor que Ele nos proporcionou antes da nossa rebelião: O Primeiro Amor. Um amor carregado de misericórdia e perdão, no qual o poder de suas mãos foram usados para nos proporcionar graça, um favor infinitamente imerecido, já que se Deus nos enviasse para a morte Ele estaria sendo justo.
Partindo do fato de que Ele é amor e que Cristo era um em Deus e no Espírito Santo, respondo: Sim, Cristo amava à Pilatos.
Você quer mais um argumento para que esta resposta seja considerada realmente válida?
Aqui vai um argumento no qual eu acredito do fundo do meu coração. Jesus nos ensinou:
“Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam.” Lucas 6:27

 E ainda nos deixou o seguinte mandamento:

“O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” João 15:12

Por tudo que nos é revelado nas Escrituras Sagradas, lhe digo que o Senhor relatado na Palavra não é um Deus hipócrita. Ele jamais ensinaria algo que Ele não pudesse demonstrar. Se Cristo nos ensinou a amar os nossos inimigos, é por que Ele fez isso muito antes do que você imagina. Pilatos, eu, você e toda a humanidade só existiu e existe por que Ele nos amou e nos ama. E todos fomos ou somos inimigos de Deus. O maravilhoso é saber que este amor nos proveu um meio de se reconciliar com Ele: O sangue de Cristo. Quando nos lavamos no sangue de Cristo em arrependimento, rompemos com a rebelião e tomamos o caminho de volta para Casa, o lugar de onde jamais Deus queria que a gente tivesse saído: Ele. Sim Ele, por que a Casa a que me refiro é o Paraíso. E o Paraíso não é um lugar, é uma Pessoa, é Deus.
Eu creio até mesmo que, se Judas Iscariotes não tivesse se enforcado, Cristo teria lhe perdoado, assim como Ele nos perdoa. E lhe digo, não somos melhores que Judas, o traidor. Pois Judas traiu à Jesus por 30 moedas de pratas...e quantos de nós traímos às Deus por muito menos que isso. Fazemos isso de graça. E ainda, usando uma Graça que nem é nossa, usando a Graça que é de Deus.
É com base nesta linha de raciocínio que percebemos que o alicerce dos ensinamentos de Jesus era o Reino de Deus baseado no amor.
É por isso que João nos diz:
Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. 1 João 4:8
Por tudo isso é que temos que entender que Fé é acreditar que o Caráter de Deus é o Amor. Por que simplesmente crer no poder de Deus é algo muito superficial, pois se Ele é Deus, por lógica Ele é poderoso. Mas crer que o caráter de Deus é o Amor, a estrutura da Fé muda de figura, pois isto significa que acreditamos que o poder de Deus sempre será usado para o nosso bem.

O caráter de Deus é o amor:
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá. O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará. Pois em parte conhecemos e em parte profetizamos; quando, porém, vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino. Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido. Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor. 1 Coríntios 13:1-13

Então pergunte-se a si mesmo, por que Deus pagou um preço tão alto para nos manter existindo?

Eu acredito que só conseguimos responder esta pergunta de forma correta se o entendimento da Cruz estiver implícito na resposta.Sim, a Cruz tem que estar presente. O Sacrifício de Cristo é o elemento fundamental para que devemos utilizar para entender as Escrituras Sagradas. Por isso digo que este elemento é também premissa para entender o pensamento onde Deus revela amor pelos pecadores e repúdio ao pecado.

Existem diversos relatos na Palavra em que Deus demonstra amor pelo homem, esperando pacientemente que o mesmo entenda o Sacrifício de Cristo e volte ao Primeiro Amor. Relatos como por exemplo a parábola do fariseu e do publicano contada por Jesus no Evangelho escrito por Lucas, Capítulo 18 a partir do versículo 9: enquanto oravam no templo, o fariseu se julgava justo e o pecador reconhecia o seu pecado. Jesus encerra o relato dizendo que o pecador foi para a sua casa justificado.

E claro que não podemos deixar de fora uma sequência extraordinária de 3 parábolas contadas por Cristo no Capítulo 15 de Lucas: a ovelha perdida (Versículos de 4 a 7), a dracma perdida (versículos de 8 a 10) e o filho pródigo (que prefiro chamar de a parábola do Pai misericordioso. Versículos de 11 a 32).

Com base no conceito de que Deus ama os pecadores mas odeia o pecado, vou compartilhar um texto do Pastor Ricardo Gondim chamado “Amaldiçôo”:

“Saio do instituto médico legal, recordo-me da clínica para recuperação de tóxico dependentes, enjôo no fétido corredor da penitenciária e sonho em minha noite insone com enterro de ‘anjinhos”. E assim: Amaldiçôo a lei redigida pelo senhor cínico, útil apenas na re-eleição.
Amaldiçôo o acerto de contas com a merenda da criança subnutrida.
Amaldiçôo a propina que afinou o asfalto que matará o adolescente.
Amaldiçôo a covardia masculina que esbofeteia a mulher frágil.
Amaldiçôo o estupro que destruiu o futuro da menina que se fará mulher.
Amaldiçôo o orgasmo do pedófilo.
Amaldiçôo o champagne que embriagou a consciência do empresário que desempregou para aumentar o lucro.
Amaldiçôo o remédio sem poder de cura, negociado na tarde de sexta-feira.
Amaldiçôo o dinheiro depositado na conta secreta, manchado com o vômito do drogado.
Amaldiçôo a filosofia racista que vergou as costas do negro e o condenou a sofrer tanto preconceito.
Amaldiçôo a reunião secreta que decidiu a guerra, mesmo sem motivos para ela.
Amaldiçôo a noite do rei que imagina seu país como o mais parecido com o paraíso e por isso se sente com o direito de invadir o mais fraco.
Amaldiçôo a indiferença que esvazia os cantis de água fresca para alagar as trincheiras de sangue.
Amaldiçôo o culto em que se pediu as bênçãos de Deus para a batalha que mutilou os braços de um menino.
Amaldiçôo o silêncio conveniente do profeta que deveria gritar com o protesto de Deus. Amaldiçôo a justiça do hipócrita que só esperneia quando lhe for confortável.
Amaldiçôo os degraus da catedral que vende caro uma falsa esperança.
Amaldiçôo o almoço do bispo que zomba da credulidade daqueles que enganou.
Há maldições que nascem do desejo de fazer nascer o bem. Há nostalgias que buscam contemplar mais uma vez, Jesus revolvendo as mesas no templo, chamando um rei de raposa e prometendo que a tristeza se transformará em cântico. Só essa maldição gera a esperança imorredoura que triunfará em bênção.”

Paul Washer costuma afirmar que Deus não ama os pecadores, tendo como base o texto abaixo:

Porque tu não és um Deus que tenha prazer na iniqüidade, nem contigo habitará o mal.
Os loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a maldade.
Destruirás aqueles que falam a mentira; o SENHOR aborrecerá o homem sanguinário e fraudulento.
Salmos 5:4-6

Acredito que ele esteja certo sim.

Concluo com uma visão pessoal, na qual acredito que “Deus ama os pecadores mas odeia o pecado”, mas será chegada a hora em que os pecadores também serão odiados por Deus e não terão mais tempo para se arrepender e se reconciliarem com o Pai. Esta frase não está presente nas Escrituras Sagradas, mas acredito sim que ela tenha fundamento bíblico, pois existem diversas demonstrações de Cristo que comprovam a mesma. Crer que Deus ama os pecadores tem um valor positivo, pois provê esperança ao homem. Mas não podemos esquecer que é absolutamente verdade que Deus se entristece com quem comete pecado. Eu consigo imaginar, verdadeiramente, Deus chorando, quando estamos praticando a maldade. Cada injustiça causada aqui, machuca à Deus. Mas também creio que a frase não encobre isso. Por isso temos que entender a mesma como uma interpretação esperançosa sobre quão grande é a misericórdia de Deus. E com base nisso não nos acomodar achando que o fato de Deus odiar o pecado mas amar os pecadores alivie o fato de que quem pratica o mau é bem visto pelos olhos de Deus.

Que o Amor de Deus nos conduza sempre em Sua Graça, nos mostrando o quanto precisamos nos arrepender, para que o nosso “eu” se esvazie e a bondade de Deus se torne o nosso conteúdo, afim de que o pecador que há em mim morra na Cruz juntamente com Cristo. Que cada um de nós pratique o arrependimento diariamente, para que a nossa comunhão com a Trindade Santa seja permanente, pois por consequência disso contemplaremos à vida eterna em Cristo Jesus.

Que a Graça de Deus Pai seja contigo em toda plenitude de amor, misericórdia e perdão nos Sacrifício do Cordeiro Santo.

2 comentários:

  1. Sempre queremos dar oportunidades para nossa temporária ( para os que creem) ou eterna doença (para os que não creem em Jesus)chamada pecado. Infelizmente em nossos dias somente um atributo de Deus é conhecido o amor.E os homens querem ser mais bonzinhos que Deus Jesus disse: ...não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus Jo. 17.9 "oro por eles. Não estou orando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus". Jo. 17.9 Bíblia Judaica. Como alguém lendo não vê isto? Além de pecadores remidos em Cristo nos tornamos Deuses?

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    1. Olá Haroldo! Graça e Paz!

      Fui surpreendido com seu comentário. Foi o primeiro que ocorreu desde que comecei o blog. Enfim, muito obrigado por passar por aqui e contribuir. Concordo com você. O amor é o atributo de Deus que as pessoas mais desejam conhecer. E ainda, as pessoas pegam o amor de Deus, criam uma imagem, e transformam o mesmo em um ídolo. Em outras palavras, veem o amor de Deus de forma distorcida. Acham que precisam mover o coração de Deus para que Ele ame. Acham que precisam fazer algo primeiro para depois sim o amor de Deus se manifestar. Enquanto isso as Escrituras Sagradas insiste em dizer que Deus sempre agiu primeiro. Sempre amou primeiro. E o homem insiste na teoria de que precisa comover o coração de Deus para ser amado.

      Enquanto o homem optar pela busca de ser deus de si, ou seja, independente...seguirá no ciclo do pecado original.

      É a triste lógica da queda rodeando o ser humano, dentro e fora dos templos.

      Enfim, só a misericórdia de Deus para nos ajudar.

      Abraço e mais uma vez, muito obrigado.

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