quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

QUEM É VOCÊ? ONDE ESTÁ O SEU IRMÃO?


Jesus disse: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo"... Lucas 23:34
Depois de uma noite de sono, o dia amanhecia e como de costume liguei a televisão e coloquei no jornal da manhã para ver a previsão do tempo. Eu nem imaginava a cena que iria ver.  O jornal noticiava um crime revoltante que aconteceu em Minas Gerais e fora registrado através de imagens de uma camera de segurança de uma padaria. A imagem mostrava uma atendente trabalhando no balcão quando um traficante de drogas entra correndo, passa para atrás do balcão e agarra a mulher. Ele usa a atendente como escudo humano para se defender de um outro traficante que o estava perseguindo para matá-lo. A atendente tenta se livrar do traficante mas não consegue. Segundos depois a camera registra o outro traficante entrando apressadamente e disparando os tiros sobre a mulher e o primeiro traficante. O rapaz que atira sai correndo e foge do local. A mulher morre ali no chão, atrás do balcão, vítima da briga entre traficantes. O rapaz que a usou como escudo humano machuca apenas o braço e sai lentamente do local. Todos da padaria ficam inconformados com a perda da colega de trabalho.
Estou inventando o caso?...Não, ele é verdadeiro. Veja aqui mesma notícia, também veículada pela internet. 
Ao ouvir o relato na TV, a minha esposa Marcela, que estava no quarto, vem em direção à sala e assiste a notícia ao meu lado. No término da notícia, ficamos paralisados, um olhando para o outro com a mesma indignação no coração e a sensação de que sempre haverá uma derivação da maldade que nos impressionará.
A gente acha que já viu de tudo, acredita que o ser humano já escancarou toda a sua natureza, mas este tipo de coisa nos mostra que não é bem assim. Todo o evento de maldade se renova de tal maneira que não há como achar que já vimos de tudo.
O fato é que, revoltas à parte, algo me incomodou muito nestas cenas. Eu fiquei me questionando: “será que somos melhores que os protagonistas destas cenas?”.  “Por que quando assistimos algo deste tipo, juntamente com o sentimento de injustiça, vem aquela sensação de que aquelas pessoas são a escória da humanidade e que nós somos melhores que eles?”.
Então comecei a fazer um exercício no qual gostaria de compartilhar com você e lhe convidar a refletir:
Quem sou eu nesta cena? Em quais personagens me identifico?
Responda pra si mesmo: Quem é você nesta cena? Em quais destes personagens você se identifica?
Ora, seria eu o traficante de drogas que fez uso da atendente como escudo humano? Ou seria eu a atendente? Talvez eu seria o traficante que atirou? Ou ainda, poderia ser eu os amigos que acompanharam a cena?
Encontre as suas respostas. Aqui irei compartilhar as minhas. A resposta que encontrei é muito triste: sou todos eles! Percebi que nos encaixamos em cada um destes papéis.
É como se fossemos uma peça de lego que, em um único cenário, pode se encaixar de “N” formas diferentes. Entretanto, infelizmente, a gente não percebe que muitas vezes o cenário aparenta ter mudado, mas na realidade é o mesmo. O que muda, na verdade, é como nos encaixamos na situação.
Vamos evoluir a construção deste raciocínio: Quem sou eu nesta notícia?
Sou o primeiro traficante que usa a atendente como escudo humano: Quantas vezes usamos as pessoas para nos safar de coisas que podem nos prejudicar. Fazemos uso de mentiras, omissões e outros tipos de atitudes que fazem das pessoas verdadeiros escudos humanos para aquilo que acreditamos que irá nos fazer mal. E se nos esforçarmos um pouco mais em sermos sinceros com nós mesmos, veremos que ao contrário do traficante, que usou uma pessoa que nem conhecia, nós fazemos isso, na maioria das vezes, com as pessoas mais próximas de nossas vidas: Pai, mãe, filho, irmão...etc. Somos cumplices da morte das pessoas ao nosso redor, para que o nosso “eu” seja poupado. Vale à pena deixar o outro morrer para sair com vida. Um simples ferimento no braço e a morte do outro é lucro, pois a minha vida foi poupada. Você pode se vangloriar dizendo: mas eu nunca fui cumplice da morte de ninguém. Atente-se meu caro, por que o termo “morte” aqui não necessariamente é a morte física, no caso, pode ser uma morte no qual a pessoa ainda vive, mas por dentro está totalmente aniquilada por algo que você tenha ajudado a causar. De uma forma ou de outra, acabamos sendo cumplices da maldade, seja propositalmente ou por acidente.
Sou a atendente da padaria que foi usada como escudo humano: Isso por que, ainda que a gente tente viver uma vida de justiça, trabalhando honestamente, isto não significa que estamos “blindados” às injustiças do mundo. Estamos cercados de pessoas que possuem a mesma natureza que a nossa. Natureza carregada de maldade. O que temos de bondade é empréstimo de Deus. Entretanto nem todos compreendem isso. Por consequência acabam não desenvolvendo esta bondade. Então, independentemente de praticarmos o mal para as pessoas, seja por escolha ou por acidente, estamos sujeitos à sermos vítimas deste mesmo mal. E este caso ainda nos alerta ao fato de que a injustiça nos visita quando a gente menos espera. Ela pode nos pegar de surpresa. Creio que a atendente trabalhava ali acreditando que seria mais um dia normal, onde ela venderia pães, cumpriria o seu expediente e chegaria em casa, como qualquer outro dia da sua rotina. Estamos tão alienados à rotina deste mundo que acreditamos ter todo o tempo do mundo. Acreditamos que somos imortais, no ponto de vista de que vamos completar mais um dia da nossa rotina. É um erro que todos cometemos sem ter a consciência de que o estamos fazendo: deixar a rotina nos trazer a sensação que teremos mais um dia normal.
Sou o traficante que atira sem piedade para matar: Sim somos assassinos impiedosos. Passamos por cima de inocentes para atingir os nossos próprios objetivos. Queremos tanto realizar algo que nos fazemos cegos para as circunstâncias na qual nos colocamos para atingir a nossa meta. Passamos por cima de pessoas para satisfazer nossas vontades. Quer um exemplo muito comum: Para atingir uma promoção, quantos de nós não pisam sobre os colegas de trabalho?. Quantos sonhos de outras pessoas você assassinou para conquistar o seu? Você pode achar que eu estou exagerando ao nos comparar como traficantes assassinos. Tudo bem, não traficamos drogas, armas e nem crianças...mas traficamos mentiras, traficamos ódio, traficamos indiferença ao próximo necessitado...traficamos injustiças. Não matamos as pessoas fisicamente, mas assassinamos os sonhos e outras coisas importantes para as pessoas que cruzam nossos passos em busca daquilo que somos obcecados (nossos ídolos).
Também sou os amigos que trabalhavam com a atendente que foi assassinada: Sim, sou também aquele que fica inconformado com a cena. Aquele que não entende a situação. Sou aquele que fica com medo da maldade deste mundo, percebendo que a injustiça convive do meu lado, e que minutos atrás, quem estava naquele balcão era eu. E que possivelmente a atendente estava ali por que eu tinha ido no banheiro e ela estava me substituindo (naquele exato momento). Sou o que chora a perda de alguém próximo, que convive comigo em minha rotina e que quando olha para uma morte nestas circunstâncias começa a se questionar: Por que?
Sim meu querido, a realidade é que eu sou muito mais que o cara que acordou de manhã e viu a notícia na tv. E você é muito mais que a pessoa que está acompanhando aqui o relato destes fatos e esta reflexão.
Somos os protagonistas da vida, em um mundo onde a maldade é a natureza daqueles que praticam injustiça: nós mesmos. Somos iguais, nivelados por uma mesma natureza, por uma mesma condição. Natureza que é repleta de pecado:
Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Romanos 3:23
Natureza que veio do pó e que ao pó tornará:
Todos vão para o mesmo lugar; vieram todos do pó, e ao pó todos retornarão. Eclesiastes 3:20

Temos a sensação de que somos melhores que alguns, mas não somos.
Como está escrito: "Não há nenhum justo, nem um sequer; Romanos 3:10
É por isso que precisamos nos arrepender. Negar a nossa natureza. Reconhecer que o que temos de “bem”, dentro de nós, é algo que vem de Deus. Um empréstimo do Pai. Precisamos desenvolver esta bondade em nossos corações, alimentá-la e, através do sacrifício de Jesus Cristo, nos tornar-mos dignos de tomar posse da mesma. Quanto mais alimentarmos esta bondade mais estaremos aptos a negar a nossa natureza.
Precisamos reconhecer que somos dignos da morte. É o que, em realidade, nós merecemos. Só estamos vivos por que Deus é misericordioso. Só estamos aqui, existindo, por que há um clamor feito por Jesus Cristo na Cruz do Calvário que ecoa em todo universo, rompendo a dimensão do tempo, e movendo o coração do Criador. Este clamor é:
Jesus disse: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo"... Lucas 23:34
Partindo da premissa de que é este clamor que nos sustenta, e que todos os dias o mesmo alcança a minha e a sua vida, há um convite que nós precisamos fazer para nós mesmos: Vamos nos arrepender!?
Quando nos arrepender-mos o “velho eu” morre e um “novo eu” nasce lavado pelo Sangue de Jesus Cristo.
Pois sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não mais sejamos escravos do pecado; Romanos 6:6
É nascendo novamente no Espírito Santo que negamos a nossa natureza pecadora.
Só assim tomaremos posse da bondade que nos é emprestada por Deus. Só assim poderemos viver os ensinamentos de Jesus. Só assim poderemos viver em Cristo.
Todas as vezes que vamos orar, eu acredito que Deus nos faz uma pergunta. Uma pergunta que sempre temos que estar prontos para responder. A pergunta que Ele nos faz é: “Onde está seu irmão?”
Por que eu acho isso?
Acompanhe comigo o relatos de Genesis 4:1-11, Tiago 1:27 e João 15:12:
Adão teve relações com Eva, sua mulher, e ela engravidou e deu à luz Caim. Disse ela: "Com o auxílio do Senhor tive um filho homem". Voltou a dar à luz, desta vez a Abel, irmão dele. Abel tornou-se pastor de ovelhas, e Caim, agricultor. Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta, mas não aceitou Caim e sua oferta. Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou. O Senhor disse a Caim: "Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto? Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo". Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: "Vamos para o campo". Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou. Então o Senhor perguntou a Caim: "Onde está seu irmão Abel? " Respondeu ele: "Não sei; sou eu o responsável por meu irmão? " Disse o Senhor: "O que foi que você fez? Escute! Da terra o sangue do seu irmão está clamando. Agora amaldiçoado é você pela terra, que abriu a boca para receber da sua mão o sangue do seu irmão. Gênesis 4:1-11
A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo. Tiago 1:27
meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu os amei. João 15:12
Deus se importa com cada filho Seu. O que realmente importa para Deus são as Pessoas. Nada deste mundo terá mais valor para Ele do que uma pessoa. E Ele conta com cada um de nós, para que, em Seu amor, a gente possa cuidar uns dos outros. Temos que ser agentes da bondade de Deus. Todas as vezes que nos colocamos diante do Senhor em oração precisamos estar prontos para responder a pergunta: “Onde está seu irmão?”.
É por este motivo que quando passarmos por uma rua e vermos um mendingo caído no chão clamando por algo para comer, temos que pensar se a atitude de ignorá-lo em sua miséria não nos custará a ausência de resposta para a pergunta de Deus: “Onde está o seu irmão?”. Deus nos convida a agir de forma diferente, não por que devemos ter medo Dele, não por achar que não ter resposta para esta pergunta significa que Ele deixará de nos amar, mas sim pelo fato de que , tendo resposta para esta pergunta, significa que você já esta contemplando uma amostra do que é o Reino dos Céus.
Para concluir a linha de raciocínio gostaria de refletir sobre um outro acontecimento recente:
Nos Estados Unidos, um homem estava no metrô de Manhattan e após discutir com um outro homem (na qual a notícia diz que estava transtornado), ele acabou sendo empurrado da plataforma para os trilhos. Nenhuma das pessoas presentes no local se propuseram a ajudar o homem que desesperadamente tentava retornar para a plataforma. Neste momento o trem se aproxima da estação e um fotógrafo, que estava no local, sacou sua camera e começou a tirar fotos da cena. Em questão de segundos o metrô atropela o homem que morre diante dos olhos de todos.
Esta notícia, também é verídica e pode ser lida aqui.
O fato é que causaram uma polêmica em cima do assunto, pois alegaram que o fotógrafo ficou mais preocupado em tirar fotos do que ajudar a vítima, e ainda, publicou a foto na primeira página de um jornal. A polêmica se estende ao fato de que as outras pessoas no local também se fizeram indiferente à situação e não ajudaram o homem a retornar para a plataforma.
Creio que as fotos tiradas segundos antes da morte deste homem impressionam bastante. É natural que impressione, pois é um registro de uma tragédia. A indignidade aumenta por este fato acontecer diante dos olhos de tantas pessoas que permaneceram sem ação. Mas acredito que a indignação das pessoas ganha maiores proporções pelo fato de tudo isso ter acontecido de forma registrada em imagem e ter sido em questão de segundos.
Isto nos mostra o quanto somos hipócritas. Julgamos o fotógrafo e as pessoas que estavam ali na plataforma tendo como justificativa a indiferença demonstrada por eles com relação ao próximo. Mas somos iguaizinhos. Alías, até piores. Isso por que todas as vezes que passamos por alguém que está jogado nos trilhos da vida, diante da face da morte, seja por fome, enfermidades ou outros motivos, a gente fica na plataforma do nosso egoísmo olhando com indiferença para estas pessoas. A mesma indiferença das pessoas que viram aquele homem morrer. Ficamos paralizados, sem se importar quando o trem vai passar por cima destas pessoas. Só que nos trilhos da vida o trem é mais lento. Está é a diferença. A nossa atitude de indiferença acontece aos poucos, lentamente e diáriamente. Por isso a nossa crueldade é maior, por que a nossa omissão é digna de permitir que o sofrimento destas pessoas se prolongue por toda uma vida. Só não estamos tirando fotos! Mas a atitute é a mesma.
Deus nos pergunta: Onde está o nosso irmão?
“Nos trilhos da vida, esperando que um trem passe por cima dele”.
Esta será a nossa resposta para Deus quando. em nossas orações, Ele nos perguntar “aonde está o seu irmão?”? Tem coragem de responder isso para Deus?
Precisamos negar este mundo. Precisamos negar a nossa natureza. Para isso, precisamos responder para nós mesmos: “quem somos nós?”. Este é o primeiro passo, pois, se formos sinceros com nós mesmos, nos colocaremos no nosso devido lugar: merecedores de morte.
Devemos buscar esta resposta e o arrependimento na cruz do calvário. Só assim seremos capazes de responder a outra pergunta: “Onde está o seu irmão?”. 
O Senhor nos diz:
Disse o Senhor: "O que foi que você fez? Escute! Da terra o sangue do seu irmão está clamando.
Que a bondade que o Criador depositou em nossos corações nos conduza ao sangue de Jesus Cristo, para que, na Cruz do Calvário, cada um de nós encontre um direcionamento para desenvolver esta preciosidade nos dada por Deus, a sua própria bondade. Que desta forma a gente possa tomar posse do bem concedido pelo Senhor. E que as nossas ações de bondade com os nossos irmãos sejam retornadas à Deus como forma oferta de graditão e adoração, tendo ciência que as mesmas só são possíveis por causa de Cristo e tendo em mente que não é por isso que somos salvos, pois é o amor e a misercórdia infinita do Pai que nos Salva através do Cordeiro Santo.

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