“Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi.” Genesis 3-8:10
Todos os dias quando chego do trabalho, assim que coloco a chave na tranca da porta, o meu filho escuta o barulho, e já acostumado com a nossa rotina familiar, sabe que sou eu quem estou chegando e corre para debaixo da mesa (em sua mente, o seu esconderijo secreto) para que quando eu entre em casa, sinta a falta dele e saia a sua procura. Como é sempre o mesmo lugar que ele se esconde, é óbvio que eu sei onde ele está...mas acabo me envolvendo na brincadeira e saio pelo apartamento dizendo para a minha esposa em voz alta: “Amor, você viu o Pedrinho? Cadê ele?”. Minha esposa já “pega no ar” a brincadeira e responde (também em voz alta para que meu filho ouça) “Ele tá na escolinha...não veio hoje para casa!” . Ao fundo escuto vindo do “esconderijo secreto” uma gargalhada contida do meu filho. Na cabeça dele: “Eu vou enganar o meu pai mais uma vez!”. Sigo procurando ele. Vou dialogando com minha esposa em voz alta, usando frases para que o Pedrinho perceba que eu realmente estou sentindo a falta dele e que não me conformo dele não estar lá para me dar um beijo e um abraço de boas vindas. “Não é possível Amor, ele tem que estar por aqui em algum lugar!”. De repente, com uma velocidade similar a de um leopardo atrás da sua presa, o Pedrinho sai debaixo da mesa e “Booooo”. A brincadeira acaba com um “Nossa que susto, você tava ai” seguido de muitas gargalhadas.
O texto é um cenário da minha vida real, faz parte da minha rotina, mas é na verdade ouvi uma pregação similar de um Pastor (no qual infelizmente não lembro o nome dele no momento) da Igreja de Cristo Pentecostal do Brasil de Santo André (inclusive o versículo de Genesis citado acima foi “pinçado” das escrituras também por ele na ocasião).
Com este “pano de fundo” ele comentou algo em sua pregação que marcou um ponto crucial na minha caminhada com Deus. Não necessariamente com as mesmas palavras que irei descrever à seguir ele disse:
“Ora, sendo Deus poderoso, Onipotente, Onisciente e Onipresente: Por que ele chamou por Adão perguntando: ‘Onde estás?’. Ele não sabia onde estava Adão!?”
E movido pelo Espírito Santo de Deus o pastor completou a sua linha de raciocínio com o seguinte comentário:
“Deus sabia sim onde Adão estava, mas ainda assim escolheu procura-lo desta forma para que Adão demonstrasse sinceridade em seu coração”.
Esse comentário me inquietou. E comecei a diluir alguns pensamentos baseados nesta busca de Deus em sermos sinceros com Ele.
Sinceridade é uma palavra derivada de “sincera” que surgiu na Roma Antiga. Os romanos fabricavam certos vasos utilizando como matéria prima um tipo de cera especial. Geralmente essa cera era tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes, sendo possível identificar diversos tipos de objetos colocados no interior do vaso olhando apenas por fora. Diante de tanta admiração os romanos diziam: “Que Vaso lindo, parece até que não tem cera!!!”
A palavra “sem cera” (sine-cera) passou a ser usada pelos romanos para dar o entendimento de que o vaso tinha uma alta qualidade: perfeito, delicado e tão fino que deixava ver o seu interior através de suas paredes. Com o passar do tempo o vocábulo foi ganhando forma e passou a ter um significado muito mais elevado até que “sine-cera” chegou ao nosso conhecido adjetivo “Sincero”. Com a evolução da palavra, a mesma passou a ser usada para qualificar aquele que é autêntico, franco, real e verdadeiro.
De um outro ponto de vista, pode-se entender o significado da palavra "sincera" como: "aquele que se exprime sem artifício nem intenção de enganar ou de disfarçar o seu pensamento ou sentimento".
O sincero, à semelhança do vaso, deixa ver, através de suas palavras e atitude, os nobres sentimentos de seu coração.
Tendo como base estes conhecimentos, me perguntei: “Qual o primeiro passo para que eu encontre à sinceridade com Deus?!”
Depois de dar voltas e mais voltas pensando sobre o assunto me veio a resposta:
Não há nada que se oculte aos olhos de Deus. O meu coração, assim como o de todos os homens, esta exposto, em toda a sua extensão, ao seu conhecimento. Ele vê tudo o que há em mim. E por mais que o meu coração não seja transparente ...Deus...em seu Poder e Soberania tem o meu coração exposto aos seus olhos como “o vaso perfeito que aparenta não ter cera”.
Creio que aqui está a chave para encontrar qual o primeiro passo que temos que dar: Precisamos ser verdadeiros com nós mesmos para que a nossa sinceridade chegue ao coração de Deus.
E ouso dizer que esta primeira demonstração de sinceridade é de conversão à Deus.
Achar que nós temos conhecimento pleno nosso próprio coração é sabotar o nosso relacionamento com Deus.
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” Jeremias 17:9
O coração é traiçoeiro...pode nos conduzir a agir tanto para o bem quanto para o mal. É como uma faca de 2 gumes.
Ele pode fazer com que a gente busque planejamentos no anseio de conquistas egoístas à ponto de esquecer que este tipo de busca deve ser ocorrer atracada no discernimento dado pelo Senhor:
“O coração do homem planeja o seu caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos”. Provérbios 16:9
Queremos andar sozinhos ou com Deus?
A falta de sinceridade com nós mesmos faz com que a gente ache que está tudo bem. Ela oculta vícios, manias e pecados que nem sequer imaginamos que habitam em nossos corações. Quando não somos francos com o nosso próprio eu ficamos expostos ainda mais ao pecado e acabamos magoando o coração de Deus.
“Do homem são as preparações do coração, mas do SENHOR a resposta da língua”. Provérbios 16:1
“Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem.” Mateus 15:18
Quando nos permitimos adentrar em nossos corações com franqueza, permitimos que Deus entre conosco de forma que Ele nos ajude a nos enxergarmos com um outro ponto de vista: o Dele. É neste momento que os nossos corações evidenciam os sentimentos que muitas vezes não conhecemos e nem sabemos que habitava dentro do nosso ser. Neste ponto, o nosso relacionamento com o Senhor começa a fluir.
Ao entrarmos no mais profundo do nosso ser juntamente com Deus...entregamos ao Pai a mesma sinceridade que Ele buscava quando perguntava por Adão no Jardim do Éden.
Precisamos vasculhar os porões dos nossos corações...soprar a poeira que cobriu sentimentos esquecidos ...varrer os entulhos carregados de vícios e manias que por muito tempo foram ignorados mas que, no fundo, tínhamos à convicção de que magoavam o coração do Nosso Senhor.
Temos que juntar tudo isso em sacos tão transparente quanto o vaso “sem cera“ e reconhecer que só seremos verdadeiros filhos de Deus quando entregarmos os mesmos na mão do Pai e termos coragem de dizer:
“Pai, o Senhor tem conhecimento de tudo o que exponho aqui diante de Ti, pois nada está oculto aos Seus olhos...é isto que eu tenho vivido e reconheço que tenho negligenciado o Seu amor e a Sua Graça...me ajude à enxergar o meu coração com a transparência no qual ele se expõe aos Seus olhos... para que eu possa ver as impurezas do meu ser e fazer o meu coração um lar limpo no qual o Senhor possa habitar”.
Com esta atitude, abriremos um canal para que outros sentimentos sinceros venham à tona...evoluindo para um relacionamento mais próximo de Deus, à ponto de podermos demonstrar nossas alegrias, tristezas e outros sentimentos para o Pai. Por mais que Ele conheça estas coisas dentro de nós...o Senhor deseja que conversemos com Ele, através da oração, expondo os mesmos. É um ato de fé e credibilidade em Sua existência. É ser recíproco ao relacionamento de graça, amor e paz que Ele propõe para nós.
Busquemos no Cordeiro Santo auxílio para que a nossa vida com Ele se torne uma trilha de sinceridade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário