terça-feira, 12 de março de 2013

CRUCIFICANDO CRISTO OUTRA VEZ

Este é um texto que escrevo muito triste. Escrevo com lágrimas nos olhos. Escrevo com lágrimas em minha alma. Pois me encaixo plenamente naquilo que te convido à pensar (sou o primeiro a me encaixar).

Por um instante, imagine esta cena (mas não como algo cinematográfico, pense na mesma como algo real):

“Uma escadaria perante os seus olhos. Ao seu lado uma multidão. Uma pergunta rasga o som de tudo ao seu redor: “O que querem que eu faça com Jesus?”. Ao fundo algumas pessoas gritam: “Crucifica-o! Crucifica-o”. Então todos ao seu redor se unem à estas vozes e também gritam: “Crucifica-o! Crucifica-o!”. Você também grita: “Cruficifica-o! Crucifica-o!”. Todos Gritam! Então segundos depois, você ergue os seus olhos diante da escadaria e vê, de um lado, Jesus, ensanguentado depois de ser açoitado pelos romanos. E do outro, Barrabás, um criminoso muito famoso da época (talvez um Maníaco do Parque ou um dos irmãos Cravinhos, quem sabe Fernandinho Beiramar). Ao meio de ambos, Pôncio Pilatos rasga o som do povo perguntando: “Quem vocês desejam soltar?”. Então algumas vozes, as mesmas que foram as primeiras à gritarem “Crucifica-o!, Crucifica-o!”, começam a manobrar a massa mais uma vez. Elas gritam: “Solte Barrabás! Queremos Barrabás”. Então logo seus ouvidos escutam todos ao redor gritando: “Barrabás, queremos Barrabás”. Seu lábios se movem em sincronia com todos. Você se une mais uma vez a todos e grita: “Barrabás, queremos Barrabás!”. Então Pôncio Pilatos da a ordem: “Soltem Barrabás”. O Povo então ovaciona a cena. Todos comemoram a decisão de Pôncio Pilatos. Você, ainda no meio da multidão, vê os guardas soltando as algemas de Barrabás, que lentamente desce degrau por degrau, com um sorriso estampado no rosto, erguendo as mãos, saldando o povo em forma de agradecimento. Todos olham para Barrabás. Todos gritam “Barrabás! Barrabás!. Jesus fica ao fundo, fora de foco. Você fita os seus olhos em Barrabás, e num piscar de olhos...seu rosto está estampado no rosto de Barrabás. Você coça os seus olhos e acha que é uma ilusão. Pisca algumas vezes, e ao olhar novamente, seu rosto está lá, sorrindo, te olhando nos olhos, você olhando para você, descendo degrau a degrau! Então a multidão já não grita o nome de Barrabás. Grita seu nome! Grita bem alto, ovaciona, exalta o seu nome. Você tampa os ouvidos por alguns segundos, tenta retomar os sentidos, mas ao destapar, ouve todos gritando o seu nome. Num ato de desespero você quer sair dali, mas a multidão é imensa. Você está imerso no meio da massa. Começa a empurrá-los, mas todos bloqueiam o espaço ao seu redor. Seus olhos varrem todos os rostos ao seu lado, e então você vê a sua face tomando o lugar do rosto de cada um presente ali. Você é Barrabás. Você é a Multidão. Desesperado você levanta os olhos. Pôncio Pilatos já está de costas, caminhando lentamente para dentro de seus aposentos. Suas mãos batem uma na outra expressivamente, como se estivesse limpando algum pó que poderiam haver nas mesmas. Ele olha para trás, e já não é o rosto dele que você vê, e sim o seu. Você é Pôncio Pilatos. Seus olhos se fecham. Mas logo eles se abrem novamente e você então desvia o seu olhar para o lado e vê os olhos de Jesus fitados aos seus. Seus olhos se encontram com os Dele e o olhar que Ele te transmite é de amor. Então neste momento você já não ouve mais nada. Tudo se move ao seu redor em câmera lenta, e o olhar de Cristo permanece amarrado ao seu.”

Podemos ir além?

“Pense neste mesmo olhar, amarrado aos seus olhos, enquanto você apóia a mão de Jesus no madeiro e centraliza um prego no tamanho de um lápis no centro da mesma. Então lentamente o seu braço desce, com uma marreta em sua mão, e atinge a cabeça do prego que desce rompendo tudo o que ele vê pela frente. O golpe se repete para que o prego ganhe mais profundidade. Você fecha os olhos para que a força seja maior no golpe. Mas seus ouvidos escutam o grito de dor. A cena se repete ao outro lado, na outra mão. O prego rasga tudo em sua frente mais uma vez. Um, dois, três, quatro golpes. Então você une os pés de Jesus, um sobre o outro e dá uma “leve” dobrada em ambos os joelhos. Pega um prego um pouco maior e centraliza em no peito do pé que ficou exposto. A marretada então é mais uma vez proferida. Um golpe certeiro. O prego já não carece de apoio. Já varou a carne. Você então une as duas mãos na marreta. E desce mais um golpe. E mais outro. E outro ainda. Os olhos fechados para concentrar os golpes, mas os ouvidos escutam os gritos. Então a última marretada é dada. Com uma corda você ergue o madeiro vagarosamente. O mesmo olhar segue fitado aos seus olhos. Finalmente o madeiro está em pé e você apóia a sua base em um buraco no chão”.

Quais os sentimentos que esta cena provocou em você?

Constrangimento? Arrependimento? Responda apenas para si mesmo.

Todos os dias a humanidade faz isso! Todos os dias! Não há um dia sequer que a humanidade não repita o capítulo 18 e 19 do Evangelho de João. O Sacrifício de Cristo foi suficiente para Deus, mas infelizmente o homem insiste em sacrificá-lo dia após dia. E te pergunto: você ainda é massa de manobra? Você ainda faz parte desta turma que diariamente crucifica à Cristo?

Se há algum ser que deve ser crucificado dia após dia, é o homem. Sim, somos nós. Temos que parar de pregar o Cristo no madeiro repetidas vezes. Devemos crucificar a nós mesmos.

Todas as vezes que agimos sem misericórdia, que ferimos um irmão, ou que maltratamos o nosso próprio inimigo, estamos crucificando à Cristo novamente.  Quando você liga a TV e vê no jornal um homem sendo assassinado por bandidos que queriam roubar um carro, você está vendo Cristo sendo crucificado mais uma vez. Quando um pedófilo abusa de um menino indefeso, quando um pastor rouba o dinheiro de fiéis, quando um padre abusa de um coroinha, estamos crucificando Cristo mais uma vez. Todas as vezes que um sangue inocente cai sobre a face da terra, se você olhar com uma visão clínica, verá o prego varando as mãos de Jesus. Uma bofetada na cara da esposa, proferia pelo marido, é mais uma bofetada na cara do Cristo na via dolorosa. Uma esposa que sai mais cedo do trabalho para transar no motel com o seu chefe, é um Judas Iscariotes dando 30 moedas de prata para entregar Jesus. Todos os dias achamos que somos ‘libertados” como Barrabás, quando estamos cada vez mais “presos” nas algemas da maldade.

Quando decidimos pelo caminho contrário, e proferimos o perdão, então o crucificado é o nosso eu. Ao abrir mão dos argumentos para se valer em dar vida a um irmão, o prego vara a sua mão e não NOVAMENTE a de Cristo. Quando você toma uma bofetada na cara e oferece a outra, o prego vara o peito do seu pé e não NOVAMENTE o de Cristo. Quando você é traído, vítima de adultério e escolhe amar sua esposa, você é erguido no madeiro e não NOVAMENTE Cristo.

Todos os dias a gente enfrenta uma luta constante contra o nosso próprio ego. Eu particularmente tenho enfrentado muitas. E me dói na alma ver o quanto me deixo ser levado como massa de manobra, um povo, composto por várias faces do meu eu, que me induz  a crucificar à Jesus mais uma vez. Acabo pregando mais uma vez Cristo no madeiro, sendo que o meu eu, aliás, cada um “eu” desta multidão de “eus” que vivem em mim, deveriam ser crucificado juntamente com Jesus no madeiro.

Esta tem sido a minha luta constante. Há dias que perco e minha alma se entristece em plenitude quando isso acontece. Há dias que venço e vejo que só consigo vencer por causa do próprio Jesus.

Quando perco, vivencio internamente a cena que descrevi no começo desta mensagem. Quando venço também vivencio a mesma cena, mas me alegro em ver que ao invés de Cristo, quem passa pela via dolorosa é o meu próprio “Eu”.

A verdade é que deveríamos nos crucificar uma vez só...por todas...mas a gente não é capaz de fazer isso, por que o pecado é enraizado na nossa natureza. Por isso foi necessário alguém como Jesus, 100% Deus e 100% homem. Por que jamais nenhum de nós conseguiria. Por isso infelizmente a gente por diversas vezes desce da cruz e faz atrocidades.

Ao descemos da Cruz, pecamos. Ao nos crucificarmos, nos arrependemos. É uma lógica aparentemente fútil, mas é o cerne da nossa existência.

Para Deus, o sacrifício de Cristo foi consumado uma vez em plenitude no Calvário. Por que insistimos tanto em crucifica-lo outras vezes?

Que o Senhor nosso Deus ouça constantemente o clamor do próprio Cristo na Cruz: “Pai, perdoa-os pois eles não sabem o que fazem!” para que cada vez mais a misericórdia de Deus nos alcance. E que a gente a gente busque “saber o que estamos fazendo” na sabedoria do Deus Trino e Único, para que cada vez mais a crucificação seja do nosso Eu juntamente com Cristo.

4 comentários:

  1. Muito bom texto! Vai me ajudar a fazer uma peça pra páscoa!

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  2. Senhor nada essa msg muito edificou a minha vida...

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  3. Muito edificante esse texto! Falou profundamente comigo!

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  4. Sem nada para acrescer ou tirar. Muito bom texto! Parabéns. Deus o abençoe rica e abundantemente.

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