Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. Mateus 25:45
Certa vez Edmund Burke, filósofo Anglo-Irlandês, disse: “Ninguém comete erro maior do que não fazer nada porque só pode fazer um pouco”.
Bom...aqui vai uma fatia da minha semana...
Dia 22/03/2013. Chego de manhã no trabalho. Tomo meu café e ligo o meu notebook para iniciar mais uma rotina de trabalho. Minutos depois um amigo de trabalho chega e me diz que no dia anterior ele presenciou um suicídio de um homem que se jogou da escada rolante da linha amarela do metrô de São Paulo. Dizia ele, que ao ir para casa, no dia anterior, quando se aproximava da escada que dava acesso à plataforma de embarque/desembarque, ouviu um grito seguido de um barulho muito alto. Ao olhar para o lado, ele observou o corpo do rapaz caído no chão e uma poça de sangue se espalhando ao redor do mesmo. Ouvi o relato boquiaberto e também impressionado, afinal passo por este local duas vezes ao dia, para ir e voltar do trabalho. É claro que a Via Quatro (empresa responsável pela gestão dos serviços da Linha Amarela ocultou o caso, entretanto este vídeo foi gravado).
Passei o dia construindo em minha mente, ainda que sem desejar, esta cena relatada pelo meu amigo. Eu não havia presenciado, mas eu conseguia enxergar exatamente o acontecimento. Horas mais tarde eu passava pelo mesmo local, juntamente com este meu amigo, que me apontava o lugar (ainda interditado) onde o corpo do rapaz havia caído. Então pensei na família deste rapaz. Será que ele tinha filhos? Por que ele teria se jogado? Teria sido um acidente ou será que realmente tinha sido um suicídio? Afinal enfrentar diariamente uma sequência de trens em São Paulo, no horário de pico, é realmente algo enlouquecedor, digno de se perguntar: onde está o sentido nisso tudo? Então desci a escadaria com os pensamentos voando para muito além daquele local. Depois de enfrentar empurrões para embarques e desembarques e um longo trajeto apertado, ainda com pensamentos na vida desse homem, desci na estação da CPTM em São Caetano do Sul. Ao romper as catracas, liguei para a minha esposa para avisar que estava chegando em casas. Ela me pediu para que eu comprasse, pelo caminho, uma lata de extrato de tomate, para comermos macarrão no jantar. Então me dirigi ao Supermercado que fica perto da estação. Ao chegar na entrada do mesmo vi diversas viaturas da polícia estacionadas e com sirenes ligadas. Os policiais conversavam com a gerente (creio eu) do mercado. Acabara de acontecer um roubo no mesmo. Antes de entrar fui abordado por um mendigo suplicando por uma esmola. Sem dinheiro, acabei tentando educadamente sinalizar que não havia como ajudar. O Homem insistiu por ajuda, mas não por dinheiro e sim por comida. Ainda assim insisti dizendo que infelizmente naquele momento não era possível ajudar.
Final de mês, contas pagas, mas saldo bancário praticamente empatados, gastos/ganhos, sai com a consciência pesando por não poder ajudar o mesmo com algo digno. Uma mera desculpa? Sinceramente não! Me restavam apenas moedas para comprar o molho de tomate e pegar um ônibus direto para casa. Dentro do mercado a interrogação me chumbava os pés entre a prateleira de molhos de tomate e a prateleira dos pacotes de bolacha. Então comprei o extrato de tomate mais barato e comprei um pacote de biscoito. Paguei e saí em direção ao homem. Entreguei o pacote de biscoito em suas mãos. Ele ergueu sua face em minha direção e fitando os olhos nos meus me disse “Que o Senhor te Abençoe”. Eu lhe respondi “Que a minha benção seja a sua”. Então fui orando por este homem até o ponto de ônibus para poder ir embora. Alguns passos a diante moradores de ruas se aqueciam do frio à porta de uma casa de shows que estava fechada. Conversavam enquanto se ajeitavam ao meio de pedaços de caixas de papelão. Os seus rostos mostravam a aflição de ter que enfrentar mais uma noite fria. Passei por eles e então me lembrei da minha cama, do meu cobertor e travesseiro. Mais alguns passos à frente e vi um homem, de aproximadamente 60 anos, caído no chão gelado. Estirado na calçada o cheiro da cachaça o rodeava. Parei para esperar o farol abrir. Na mesma esquina uma senhora de idade andava por entre os carros tentando vender balas. Os vidros dos carros estavam fechados, por causa do frio, mas muito mais por indiferença. Pensei, hoje vou comer macarrão na janta, e essas pessoas!?
Por fim, parei no ponto de ônibus e vi alguns estudantes conversando. Roupas de marcas, tênis de marca e dedos indo e vindo, alternando telas nos seus Celulares G3. Então olhei para as minhas roupas e para o meu tênis. Lembrei do meu guarda-roupa e de tantas parcelas que já paguei na C&A para comprar roupas, com o objetivo de não repetir um “visual” no decorrer da semana. Coloquei a mão no bolso e senti as teclas do meu celular e me envergonhei. Entrei no ônibus e ao observar ao meu redor vi pessoas e mais pessoas sentadas, em pé, disputando um lugar para se acomodar. Pensei: Pra que tudo isso?! Por que tudo isso? Por fim, me vi esticando a cordinha do ônibus, solicitando parada no ponto da rua da minha casa. O motorista, que até então dirigia o ônibus como se tivesse carregando uma manada de boi e não pessoas parou bruscamente e abriu as portas. Desci. Esperei o ônibus partir para que fosse possível ter boa visão para atravessar a rua. Então iniciei a descida da ladeira, quando vi um motoqueiro, destes que entregam pizza, gritando palavrões para um motorista que o havia fechado. Prossegui com meus passos em direção à portaria do meu apartamento. Subi as escadas pensando nas vidas que haviam cruzado o meu caminho durante o dia e então toquei a campainha do meu apartamento. Meu filho, do lado de dentro, me perguntou: “Quem é?”. Já tentando me desligar de tudo o que havia vivido, converti a minha voz em mansidão e respondi com carinho: “Oi Filho, é o Papai”. Então ouvi o girar da chave na fechadura seguido da inclinação da maçaneta. A porta se abriu e então contemplei o sorrido do meu filho e o sorriso da minha esposa. Ao receber um beijo de cada me veio a sensação: “Sobrevivi, Graças ao Bom Deus!”.
Tirei da minha mochila o extrato de tomate e entreguei nas mãos da minha esposa. Disse à ela que enquanto ela preparava o jantar eu iria tomar um banho. Durante a chuveirada de água quente pensei: “como posso ousar tomar um banho quente tendo consciência de que aquelas pessoas estão lá fora no frio!”. Minutos depois, já trocado, ajudei minha esposa a colocar a mesa. Então sentamos todos (Meu Filho, Minha Esposa e Eu) e demos às nossas mãos uns aos outros para orar. Pensei: “Como ouso orar e pedir para Deus abençoar o meu alimento consciente de que existem pessoas com fome abandonadas na rua!”. Por fim comemos. Ainda sentado à mesa, fiquei pensando em frases como “A Salvação não vem por Mérito e sim pela Graça”... “Fé sem boas obras é uma fé morta”. Mas para que adianta frases como estas se o sentido das mesmas são tão rasos no mundo cristão. Então me lembrei de Jesus Cristo. E no meu coração percebi que...
...enquanto uns anseiam por sucesso...Cristo preferiu ser o menor.
...enquanto uns preferem os holofotes...Cristo preferiu o deserto.
...enquanto uns querem ser servidos...Cristo preferiu servir...sem procurar os Seus interesses.
...enquanto queremos ganhar argumentos...Cristo preferiu zelar por pessoas.
...enquanto uns desejam mansões...Cristo não tinha onde reclinar Sua Cabeça.
...enquanto uns querem tapetes vermelhos...Cristo andou sobre ramos de oliveiras.
...enquanto uns desejam “camaros amarelos”...Cristo andou de jumentinho.
Pensando nisso me veio uma lembrança, de certa vez ter ouvido um pregador pentecostal dizer: “Se tiverem 1000 pessoas para serem salvas, no mínimo 501 pessoas serão salvas, por que nem nisso Cristo perderá para Satanás”. Então no meu coração pensei: Será? Será que o fator quantidade é mais importante que qualidade!?...
Recolhi a mesa do jantar e então liguei o meu notebook para escrever algo...um desabafo, no qual me solidarizo com G K Chesterton:
Há algo de errado com o mundo! Sim! Há algo muito errado com este mundo: eu!
Graça e Paz!
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