“Jesus te ama!”
...mero adesivo colado no vidro do carro? ...meras palavras arremessadas no púlpito das Igrejas? ...fundamento “vazio” de uma discussão entre um Cristão e uma pessoa do mundo “secular”?
Bom, talvez estes sejam apenas alguns dos lugares onde esta frase está presente. Diria que, nos dias de hoje, independente se, no vidro do carro, no argumento do cristão que quer “converter” uma pessoa do mundo secular, ou até mesmo no púlpito das igrejas, esta frase tem cada vez mais habitado um único lugar: o “lugar-comum”. Só que no caso desta frase (assim como tantas outras), este “lugar-comum” tem um rótulo “adesivado” em sua embalagem: “Evangélico”.
Um “lugar-comum” pode ser definido como: “Fórmula, argumento ou idéia já muito conhecida e repisada”. Mais conhecido como “Clichê”.
Bom, talvez esta frase “Jesus te ama!”, soe muito mais como um “clichê” para nós que respiramos o ar do “mundo cristão”. Infelizmente nos dias de hoje, usamos esta frase como se fosse uma “fala” de uma “tribo”, “galera” ou “gangue”.
Exemplificando: Na década de 90 havia na rádio de São Paulo (acredito que também em rádios de outras cidades) os famosos “Sobrinhos do Ataíde”. Programa em que participavam os comediantes Paulo Bonfá e Marco Bianchi. Dentre os seus personagens estava o Peterson Foca, uma sátira referenciada a um surfista famoso. E a cada fala do personagem, vinha o chavão (quase que um “caguete”): “uhuuuu Foca é Animal!”.
Triste é ver pessoas que usam uma frase como “Jesus te ama!” como se fossem “Petersons Focas” da vida, dizendo: “uhuuu Foca é Animal!”
Te pergunto: Você se sente amado por Deus? Se sente abraçado por Deus? Quando foi a última vez que você se sentiu amado por Deus? Qual é o parâmetro que te faz ter a certeza de que você é amado por Deus?
Recentemente fiz esta pergunta para mim! Será que eu já senti o amor de Deus?
Estas são perguntas extremamente pessoais. Por mais que eu escrevesse páginas e mais páginas usando argumentos de teologia, ou qualquer outras coisas, jamais poderia lhe explicitar uma receita de bolo (ainda que muitos já tenham tentado fazer, e de certa forma de maneira admirável) para se sentir amado por Deus. Sendo mais claro: “Pregar sobre a Cruz...horas e horas” não necessariamente vai lhe ocasionar o sentimento de que você é amado por Deus (ainda que esta seja a maior das evidências do amor Dele para conosco).
Não estou querendo aqui dizer que é inútil pregar com o intuito de se mostrar as pessoas que Deus nos ama. Estou apenas levando em consideração que existe uma grande hipótese, por conta do duro coração humano, que ainda que se evidencie cada vez mais a Cruz de Cristo, isso não implica que, por consequência, as pessoas se sentirão amadas por Deus. Eu sei disso por que, infelizmente fui uma dessas pessoas. Pessoas cientes da Cruz, que podem até entender que Deus ama cada filho seu, mas não necessariamente se sentem amadas.
O ponto aqui, do questionamento, é o “Sentir”, o “Experiênciar” o amor do Pai. Não o lado teórico de refletir sobre o amor de Deus.
Como disse anteriormente, não tenho como objetivo dar uma receita de bolo. Caso você prefira esta linha, você conseguirá livros, vídeos no you tube, artigos de blogueiros, que relatem...3...4...5...passos para se sentir amado por Deus. Não há nada errado em ir atrás disso. Eu mesmo já busquei material sobre o assunto.
Entretanto, no caso desta reflexão, vou partir para um outro lado de pensamento. Gostaria de compartilhar uma experiência que vivi, na qual eu disse para “eu mesmo”: “Nossa, é assim que é se sentir amado por Deus”.
Talvez no final você diga: “Nada de novo”, “Mais do mesmo”. Se for este o caso, ficarei mais feliz ainda, pois sabendo que Ele é o mesmo sempre, e ama todos os Seus filhos de maneira igual, esta será mais uma grande evidência de que o que eu vivi foi real.
No último carnaval, eu viajei com meus familiares para o interior de São Paulo. Para não pegar trânsito, saímos bem cedo, por volta das 05:30 da manhã. Como sempre, minha linda esposa adormeceu. Meu filho e meus dois sobrinhos também capotaram de sono. Permaneci sozinho no carro, ouvindo uma sequência de louvores, dirigindo na Rodovia Castelo Branco, diante do nascer do dia: um espetáculo sem igual.
Enquanto o Paulo Cesar Baruk cantava “És o autor da Criação” (estrofe de “Reina”) meus olhos criavam uma camada singela de lágrimas, meu coração exultava de alegria e o horizonte se desmanchava em uma beleza sem igual. O carro flutuava. Todos os demais carros, carretas, motos e ônibus ao meu redor flutuavam. A rodovia flutuava. Eu, e todos no carro, flutuavam. Enquanto a minha alma seguia pelas estrofes da canção, por um momento Ele me permitiu olhar tudo aquilo sem nenhuma alteração que o homem tinha feito. Era como se Ele me disse: “Olha como este lugar foi desenhado originalmente por minhas mãos”.
Ainda que sem proferir nenhuma palavra, cada célula do meu ser respondeu o óbvio: “Extraordinário!”. Então me lembrei que tudo o que eu tinha diante de meus olhos havia sido criado por um “proferir de voz” de Deus, inclusive os meus próprios olhos.
Me senti maravilhado. Mas, ainda assim, não foi nesse momento que o meu coração explícitou “Ele me ama!”.
Dias depois, para ser mais preciso, ontem de noite, eu lia o livro “Ortodoxia” do G. K. Chesterton, então, em suas páginas me deparei com um pensamento lindo, que vou expressar usando não exatamente as mesmas palavras do livro, e sim a interpretação na qual o meu coração se desmanchou:
Deus, todas as manhãs, sai em caminhada, vai até o Sol e diz para ele: “Vamos outra vez...Brilha mais uma vez pelo Douglas!”. “Brilha mais uma vez pela Marcela”. “Brilha, por mais um dia, para o João Pedro”. Ele faz isso, pacientemente, incansavelmente, dizendo o nome de cada filho teu, um a um, sem se esquecer de nenhum, todos os dias. Todos os dias!
Sim, sem cessar...todos os dias Deus vai em caminhada até a Lua e diz a ela: “Vamos mais uma vez...rompa à escuridão pela Maria e pelo Manoel!”, “Rasgue o anoitecer com a sua luz pelo Gabriel, pela Marcia e pelo Eduardo!”. “Faça-o pela Cleide, pelo Luquinhas, pelo Dêmis!”. “Vai e brilhe com toda a luz que você puder brilhar e faça-o para iluminar a noite da Meire e do Evandro!”.
Sem perder a hora...de forma pontual, com um amor incansável, Deus caminha até as Estrelas e diz: “Imite à Lua, brilhe, brilhe e brilhe...brilhe com excelência, a mesma excelência que eu lhe criei, brilhe pela Danila, pelo Kleber, pela Zélia...brilhe intensamente pelo Marinske. Brilhe por fulano...siclano...etc”
Para cada elemento da vida. Para cada detalhe que podemos ver e sentir. Para elemento da sua criação, o Deus Criador, vai pessoalmente e diz, com o amor e o carinho mais pleno que um Pai pode ter: “Vai e faz mais uma vez. Faça-o por fulano...siclano...etc”.
Então me lembrei daquele momento no carro. Percebi que mesmo diante de algo tão magnífico, não reconheci que Deus estava me amando naquele momento (assim como em diversos outros) por ter uma visão tão limitada das coisas, acostumada com “lugares comuns”.
Neste momento me senti “constrangido” (embaraçado) da tamanha pequenez na qual eu sou...e ai finalmente pude dizer para “eu mesmo” com toda a convicção: “Deus me ama e finalmente tenho certeza de ter sentido este amor!”.
Percebi que um dos parâmetros que nos pode evidenciar o amor de Deus é o constrangimento. Não um constrangimento qualquer. Mas sim um constrangimento que resulta em uma redenção e em reverência à Deus.
Você pode dizer: “poxa mas você leu sobre a cruz, ouviu pregações sobre a cruz e até assistiu o filme da paixão de Cristo, como pode só agora se sentir amado por Deus? Não se sentiu constrangido ao se deparar com as imagens gravadas pelo Mel Gibson na paixão de Cristo?”
Te respondo:
Sim, li, ouvi e assisti o fime. Sim me senti constrangido! Mas o que vivi, não sei explicar...foi diferente! Além disso, o fato de eu ter sentido de forma tão explícita este amor do Pai para comigo, não quer dizer que Ele não tenha me amado anteriormente. Pelo contrário, a Palavra nos diz, ainda que a gente não tenha plena consciência disso, que Ele nos ama muito antes de termos sido concretizado em nascimento. E a maior evidência disso realmente é a Cruz. Mas reconheço que, ao viver esta experiência com Deus, percebi uma grandeza ainda maior na Cruz. Pude olhar para trás e resignificar, até mesmo identificar, outras vezes que Deus estava me amando, ainda que eu estivesse sentindo sua ausência, e eu, simplesmente, não percebia. Sinto que todos nós, todos, sem exceção nenhuma, tem uma visão medíocre sobre o que aconteceu na cruz do calvário. Isso por que a gente tenta dizer que o que aconteceu lá foi “isso” ou “aquilo”, mas sinceramente, só Deus, apenas Ele, tem o Pleno conhecimento do real significado da Cruz. O que a gente faz, ainda que muitas vezes de forma “assertiva”, é especular, quando deveríamos nos entregar. Você pode não concordar comigo e respeito isso. Mas acho que se todos tivessem pleno conhecimento do que realmente foi a Cruz do Calvário, conviveríamos com verdadeiras cópias do Messias. Seríamos mais parecidos com Ele. É por este motivo que cada vez mais as frases, como “Jesus te ama” entram em nossos ouvidos sem causar nenhum efeito. É por este motivo que me deparo com gente que aceita ser um cristão, por que o “ser cristão” já não tem mais os valores verdadeiros de Cristo, então fica fácil. Por isso que pessoas como Ghandi disse: "Eu gosto do seu Cristo, mas não gosto de seus cristãos. Seus cristãos são tão diferentes do seu Cristo." Não adianta resumir o amor de Deus nisso ou aquilo. Não adianta resumir o amor de Deus na Cruz do Calvário, ainda que seja a maior explicitação do mesmo. O Amor de Deus é infinito. Por que Ele é exatamente o próprio Amor. Muito mais que dizer que temos um Deus que vive, temos um Deus que Ama. Se Deus é Infinito e Deus é Amor. Então o Amor é Infinito. Por isso que de Glória em Glória vou descobrindo as maneiras que Deus me ama, que parte da Cruz, mas vai infinitamente para outras expressões de amar. O Amor explícito na Cruz foi designado muito antes da criação deste mundo. Este amor ultrapassa a dimensão do tempo. Ele vai antes do Gênesis até o além do Apocalipse.
“Jesus Te Ama”...dentro deste “chavão” existe uma Verdade (com “V” maiúsculo). Mas para que ela esteja realmente presente no significado da frase, precisamos dar significado o Verdadeiro (também com “V” maiúsculo) para ela.
Ouse dizer “Jesus Te Ama” com a responsabilidade de carregar o amor de Jesus na frase. Ouse ouvir/ler “Jesus Te Ama” se sentindo Verdadeiramente amado por Deus.
Diria que se você ouvir esta frase “Jesus Te Ama” e não se sentir constrangido...então há algo errado! Provavelmente você deva estar lidando mais uma vez com um clichê! Da mesma forma que se você diz “Jesus Te Ama”, sem carregar na frase um constrangimento...provavelmente estará proliferando um “lugar-comum”. Pense nisso!
Se sentir um pouquinho constrangido pode ser para ti uma pequena glória...mas de Glória em Glória é possível contemplar cada vez mais o amor de Deus. De constrangimento em constrangimento...vamos nos relacionamos com o amor de Deus. Então assim entenderemos o quanto devemos (estamos em débito em dar) Glórias e Adoração ao Pai.
“Pai, obrigado por ir até o Sol e pedir para ele brilhar mais um dia por mim e por todos os que vivem aqui, para os que eu amo e os que e para aqueles que me odeiam. Obrigado por fazer o mesmo pedido para a Lua, para o Ar que respiro, para toda a sua Criação. Dá-nos sensibilidade para cada vez mais sentirmos o Seu Amor nos abraçar, ainda que seja pelo raio de sol que vara as cortinas da janela e adentra a sala da nossa casa, ainda que seja através da brisa que toca a nossa face ao entardecer. Constrange-nos, pois assim, cada vez mais sentiremos a presença do seu amor, de forma a buscar tudo aquilo que Te agrada ó Deus.”
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