terça-feira, 7 de janeiro de 2014

ALÉM DA QUESTÃO MORAL DO PECADO

Imagine a seguinte situação:

O Pinóquio para de mentir. Após um imenso esforço, o bonequinho de madeira passa a não contar mais mentiras e seu nariz para de crescer. Então, feliz da vida, ele vai até o Gepeto e diz: “ - Olha Gepeto agora somos iguais! Eu parei de mentir!”. Então o Gepeto, responde: “ - Não Pinóquio, não somos iguais! Eu sou humano e você é bonequinho de madeira!”.

Esta fábula nos remete a realidade humana. É o homem dizendo para Deus “ – Olha Deus, parei de pecar, agora sou igual ao Senhor!” e Deus lhe respondendo “ – Meu caro, a diferença entre Eu e você vai além da questão moral e ética do pecado, é uma questão de natureza de ser!”.

Parece um tanto quanto difícil entender isso. As igrejas pregam que a distância entre Deus e o homem está no pecado. Esta é uma verdade parcial, pois realmente o pecado separa o homem de Deus. O problema é que a distância entre o homem e Deus vai além. Tendo em mente que tentar comparar Deus com alguém, com exceção de Jesus, o Cristo, já é, de certa forma, uma grande arrogância humana, afinal de contas, Deus é incomparável. Mas se dentro da mente humana ainda há um resquício de afirmação que o que nos diferencia de Deus é simplesmente o fato de que Ele não comete pecados e nós cometemos, há muito o que ser pensado neste quesito. O problema não é o fato de que Deus não mata, não rouba, não adultera...e nós, ao contrário do Pai, o fazemos.

Deus é Criador. O homem é criatura. A distância entre o homem e Deus não é uma distância moral. Não! A distância é ontológica, vai além da petulância humana de achar que se pode entender a Natureza de Deus. A distância entre o homem e Deus é uma questão de natureza de ser. Deus é. Nós, só somos se Ele permitir. Deus existe. Nós coexistimos em Deus.

Dentro deste cenário é que passamos entender que nós não somos filhos de Deus da mesma maneira que Jesus é. Há uma distância gigantesca entre o tipo de ser humano que somos e o tipo de ser humano que Jesus é. É uma distância que vai além da questão ética e moral. É uma questão de natureza de Ser. Jesus é um filho gerado por Deus. O restante da humanidade são filhos criados por Deus. E “gerado” é bem diferente de “criado”. Jesus tem a “natureza de ser” igual a de Deus. Foi concebido pelo Espírito Santo. Jesus não era 50% homem e 50% Deus. Não era um “semi-Deus” como Perseu  na mitologia grega (se não estiver entendendo o que estou dizendo assista o filme Fúria de Titãs). Jesus era 100% homem e 100% Deus. Jesus era chamado de Emanuel, Deus conosco. Deus esvaziado de Sua Soberania e Poder, vestido de pele e osso, encarnado, juntamente com a humanidade, dentro da dimensão da história humana, dentro da dimensão do tempo.

Alguns teólogos dizem que Jesus é o Adão que deu certo. O Segundo Adão. Àquele que não distorceu a imagem e semelhança de Deus. O verdadeiro ser humano. O homem que concretizou em seu ser plenitude da humanidade projetada por Deus, sem distorções, desvios, deturpações, mantendo-se intacto, conforme o projeto de ser humano que Deus sempre sonhou para todos nós.

E é exatamente aqui que a nossa consciência tem um encontro com a real situação em que nos encontramos como seres existenciais: Não somos a plenitude do que deveríamos ser! Há algo dentro de nós que nos impede de ser plenamente humanos. Algo que nos sabota, que nos corrompe, que está encharcado em nós, manipulando nossos pensamentos e atos, nos colocando constantemente em concorrência com Deus. O nosso ego, o nosso “eu”, o nosso próprio demônio, que insiste em nos auto afirmar, que insiste em dizer que somos auto suficientes.

É por este motivo que Paulo, em Romanos 7 – 20 (na versão da Bíblia de Eugene Peterson, A Mensagem) disse: “Se o poder do pecado dentro de mim insiste em sabotar as minhas melhores intensões, obviamente preciso de ajuda”. O pecado, apesar de não ser a exata distância entre o homem e Deus, é a maior evidência de que a nossa natureza está bem longe daquela na qual Deus projetou para nós. Precisamos de ajuda. Deus sempre soube disso. Ele já proveu a ajuda que precisamos. Esta ajuda é chamada na Bíblia Sagrada de “Evangelho”, ou se preferir, “Boa Nova”, “Boa Notícia”! A boa notícia enviada por Deus é uma pessoa. É Ele mesmo. É Jesus! É Deus vindo nos mostrar como devemos ser gente de verdade. É Deus nos ensinando a viver e atestando o Seu ensinamento com a ressurreição que venceu a morte. Este modo de viver é um convite de Deus para vivermos em Seu Reino. Deus bem sabe que todo lugar que Ele está é um paraíso. O homem precisa entender que o Paraíso é uma Pessoa. O homem precisa entender que o Reino de Deus é importante pelo Rei que governa este Reino, pois Ele nos ensina valores com qualidades eternas para se viver.

Deus derramou Seu próprio sangue na cruz do calvário. Ao nos lavarmos neste sangue, restauramos em nosso ser a imagem e semelhança na qual Deus nos criou e que nós distorcemos com o nosso grito de autossuficiência em Gênesis 3.  Deus agiu primeiro sempre. Ele sofreu primeiro. Ele nos amou primeiro. Tudo o que vemos como ato de salvação sempre partiu de Deus. O homem só tem um papel: o de ser salvo. Ao nos disponibilizarmos para o Espírito Santo, Ele nos convence de nossa maldade, e então entendemos o quanto precisamos ser lavados pelo Sangue de Jesus. Ao sermos lavados por este sangue nos tornamos “irmãos-adotivos” de Jesus, pois reconhecendo Nele o ato de reconciliação de Deus para conosco somos justificados pela fé.

Há um jeito certo de ser gente. Não é a experiência religiosa que vai ensinar isso. É a vida de Jesus. A experiência religiosa, de certa forma, tem o seu valor. Nela não há garantias, mas há (ou pelo menos deveria haver) uma vantagem: saber que não temos vantagem sobre ninguém! Pelo menos esta deveria ser a essência de uma religião que tem compromisso com a Palavra de Deus. O problema é que a palavra “religião” assusta e sinceramente até eu tenho uma pulga atrás da orelha com ela. Mas infelizmente ela acaba fazendo parte do processo. A verdadeira religião, na qual Jesus disse que era cuidar dos menos favorecidos, deveria ser muito mais que um ato de caridade, deveria nos remeter a entender melhor o mundo, passar a ver o quão somos iguais, maldosos, pecadores, distantes daquilo que deveríamos ser. A consequência disso? Passar a entender verdadeiramente o que somos e Quem Deus é mediante aquilo que Ele nos permite conhecer sobre Ele mesmo, para que assim possamos entender o verdadeiro significado da graça de Deus para conosco!


Que o Senhor abençoe a todos nós! Somente à Ele toda Glória e toda Honra!

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