Imagine a seguinte situação:
O Pinóquio para de mentir. Após um imenso esforço, o bonequinho
de madeira passa a não contar mais mentiras e seu nariz para de crescer. Então,
feliz da vida, ele vai até o Gepeto e diz: “ - Olha Gepeto agora somos iguais!
Eu parei de mentir!”. Então o Gepeto, responde: “ - Não Pinóquio, não somos
iguais! Eu sou humano e você é bonequinho de madeira!”.
Esta fábula nos remete a realidade humana. É o homem dizendo
para Deus “ – Olha Deus, parei de pecar, agora sou igual ao Senhor!” e Deus lhe
respondendo “ – Meu caro, a diferença entre Eu e você vai além da questão moral
e ética do pecado, é uma questão de natureza de ser!”.
Parece um tanto quanto difícil entender isso. As igrejas
pregam que a distância entre Deus e o homem está no pecado. Esta é uma verdade
parcial, pois realmente o pecado separa o homem de Deus. O problema é que a
distância entre o homem e Deus vai além. Tendo em mente que tentar comparar
Deus com alguém, com exceção de Jesus, o Cristo, já é, de certa forma, uma
grande arrogância humana, afinal de contas, Deus é incomparável. Mas se dentro
da mente humana ainda há um resquício de afirmação que o que nos diferencia de
Deus é simplesmente o fato de que Ele não comete pecados e nós cometemos, há
muito o que ser pensado neste quesito. O problema não é o fato de que Deus não
mata, não rouba, não adultera...e nós, ao contrário do Pai, o fazemos.
Deus é Criador. O homem é criatura. A distância entre o
homem e Deus não é uma distância moral. Não! A distância é ontológica, vai além
da petulância humana de achar que se pode entender a Natureza de Deus. A
distância entre o homem e Deus é uma questão de natureza de ser. Deus é. Nós, só
somos se Ele permitir. Deus existe. Nós coexistimos em Deus.
Dentro deste cenário é que passamos entender que nós não
somos filhos de Deus da mesma maneira que Jesus é. Há uma distância gigantesca
entre o tipo de ser humano que somos e o tipo de ser humano que Jesus é. É uma
distância que vai além da questão ética e moral. É uma questão de natureza de
Ser. Jesus é um filho gerado por Deus. O restante da humanidade são filhos
criados por Deus. E “gerado” é bem diferente de “criado”. Jesus tem a “natureza
de ser” igual a de Deus. Foi concebido pelo Espírito Santo. Jesus não era 50%
homem e 50% Deus. Não era um “semi-Deus” como Perseu na mitologia grega (se não estiver entendendo
o que estou dizendo assista o filme Fúria de Titãs). Jesus era 100% homem e
100% Deus. Jesus era chamado de Emanuel, Deus conosco. Deus esvaziado de Sua
Soberania e Poder, vestido de pele e osso, encarnado, juntamente com a
humanidade, dentro da dimensão da história humana, dentro da dimensão do tempo.
Alguns teólogos dizem que Jesus é o Adão que deu certo. O
Segundo Adão. Àquele que não distorceu a imagem e semelhança de Deus. O
verdadeiro ser humano. O homem que concretizou em seu ser plenitude da
humanidade projetada por Deus, sem distorções, desvios, deturpações,
mantendo-se intacto, conforme o projeto de ser humano que Deus sempre sonhou
para todos nós.
E é exatamente aqui que a nossa consciência tem um encontro
com a real situação em que nos encontramos como seres existenciais: Não somos a
plenitude do que deveríamos ser! Há algo dentro de nós que nos impede de ser
plenamente humanos. Algo que nos sabota, que nos corrompe, que está encharcado em
nós, manipulando nossos pensamentos e atos, nos colocando constantemente em concorrência
com Deus. O nosso ego, o nosso “eu”, o nosso próprio demônio, que insiste em
nos auto afirmar, que insiste em dizer que somos auto suficientes.
É por este motivo que Paulo, em Romanos 7 – 20 (na versão da
Bíblia de Eugene Peterson, A Mensagem) disse: “Se o poder do pecado dentro de
mim insiste em sabotar as minhas melhores intensões, obviamente preciso de
ajuda”. O pecado, apesar de não ser a exata distância entre o homem e Deus, é a
maior evidência de que a nossa natureza está bem longe daquela na qual Deus
projetou para nós. Precisamos de ajuda. Deus sempre soube disso. Ele já proveu
a ajuda que precisamos. Esta ajuda é chamada na Bíblia Sagrada de “Evangelho”,
ou se preferir, “Boa Nova”, “Boa Notícia”! A boa notícia enviada por Deus é uma
pessoa. É Ele mesmo. É Jesus! É Deus vindo nos mostrar como devemos ser gente
de verdade. É Deus nos ensinando a viver e atestando o Seu ensinamento com a ressurreição
que venceu a morte. Este modo de viver é um convite de Deus para vivermos em
Seu Reino. Deus bem sabe que todo lugar que Ele está é um paraíso. O homem
precisa entender que o Paraíso é uma Pessoa. O homem precisa entender que o
Reino de Deus é importante pelo Rei que governa este Reino, pois Ele nos ensina
valores com qualidades eternas para se viver.
Deus derramou Seu próprio sangue na cruz do calvário. Ao nos
lavarmos neste sangue, restauramos em nosso ser a imagem e semelhança na qual
Deus nos criou e que nós distorcemos com o nosso grito de autossuficiência em
Gênesis 3. Deus agiu primeiro sempre.
Ele sofreu primeiro. Ele nos amou primeiro. Tudo o que vemos como ato de salvação
sempre partiu de Deus. O homem só tem um papel: o de ser salvo. Ao nos
disponibilizarmos para o Espírito Santo, Ele nos convence de nossa maldade, e
então entendemos o quanto precisamos ser lavados pelo Sangue de Jesus. Ao
sermos lavados por este sangue nos tornamos “irmãos-adotivos” de Jesus, pois
reconhecendo Nele o ato de reconciliação de Deus para conosco somos
justificados pela fé.
Há um jeito certo de ser gente. Não é a experiência
religiosa que vai ensinar isso. É a vida de Jesus. A experiência religiosa, de
certa forma, tem o seu valor. Nela não há garantias, mas há (ou pelo menos
deveria haver) uma vantagem: saber que não temos vantagem sobre ninguém! Pelo
menos esta deveria ser a essência de uma religião que tem compromisso com a
Palavra de Deus. O problema é que a palavra “religião” assusta e sinceramente
até eu tenho uma pulga atrás da orelha com ela. Mas infelizmente ela acaba
fazendo parte do processo. A verdadeira religião, na qual Jesus disse que era
cuidar dos menos favorecidos, deveria ser muito mais que um ato de caridade,
deveria nos remeter a entender melhor o mundo, passar a ver o quão somos
iguais, maldosos, pecadores, distantes daquilo que deveríamos ser. A
consequência disso? Passar a entender verdadeiramente o que somos e Quem Deus é
mediante aquilo que Ele nos permite conhecer sobre Ele mesmo, para que assim
possamos entender o verdadeiro significado da graça de Deus para conosco!
Que o Senhor abençoe a todos nós! Somente à Ele toda Glória
e toda Honra!
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