quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

ELE NÃO VALE UM REAL

“ - Ele não vale um real!”...assim era noticiado no telão da estação Pinheiros do metro de São Paulo o comentário de uma “sister” para uma outra “sister” a respeito de um “brother” do reality show Big Brother Brasil. Enquanto subia a escada rolante e lia a notícia, logo me veio algo em mente “ – Ela está certa! O preço de um ser humano é imensurável, pois um homem vale a vida de Deus! Todos nós não valemos um real!”. É claro que a conotação do comentário da “sister” tinha outro objetivo. Mas o fato é que tal situação me fez pensar em algo: Qual a distância entre o sagrado e o profano? Qual a distância entre o sacro e o secular? Ou no linguajar evangélico: qual a distância entre o que é do mundo e o que é de Deus? Aliás interessante este linguajar evangélico, afinal de contas o mundo não é de Deus?
 
Enfim, se olharmos para o cenário no qual vivemos hoje, diante das atitudes de “consagrar” (tornar sagrado, santo) e “profanar” (tornar profano), fica evidente o quanto o ser humano caminha por estas duas vias de forma medíocre e irresponsável.
 
Sinceramente acho muito difícil, aliás praticamente impossível, as mãos dos homens (salvas as mãos de Jesus, em seu lado 100% homem), conseguirem consagrar algo. Só quem torna algo sagrado, ou se preferir, santo, é Deus. O ser humano pode ser encaixado por Deus neste processo, simplesmente como uma ferramenta nas mãos do Senhor. Infelizmente estamos muito longe de uma consciência como esta. O resultado disso? É o que comentei anteriormente: o ser humano caminhando nas vias do “consagrar” e “profanar” de forma medíocre e irresponsável.
 
É evidente que um cristão jamais deveria caminhar sobre o solo da profanação. O problema é quando confundimos religioso com sagrado e não religioso com profano. Vejamos algumas evidências fortes desta confusão...
 
Anos atrás li uma notícia de que um grupo de estudantes de uma universidade raspou a cabeça para receber um amigo que estava careca devido a um tratamento de quimioterapia para se curar de um câncer. Pensei: “ – Deus tornou aquele momento sagrado. Usou uma sala de aula inteira para sacralizar um momento na vida de uma pessoa que está encarando um câncer!”. Imagino que naquela sala haviam, possivelmente, alguns cristãos. Mas imagino que ali também haviam pessoas que não necessariamente acreditavam em Deus e ainda assim foram solidários com o ato de rasparem a cabeça.
 
Por outro lado, vejamos o tal do “mercado gospel”. A comercialização do que “supostamente” é sagrado. Qual ingresso é mais caro: o de um show do ídolo gospel ou o de um show do ídolo pop? Qual ídolo é mais “style”, aquela cantora gospel ou aquela cantora de axé? Pessoas cantam louvores para Deus ou para receber aplausos dos homens? Pastores pregam para mudar a vida de pessoas ou para ficarem famosos e receberem os aplausos humanos?
 
Vamos abrir um parêntese aqui...
Engraçado perceber o quanto os “aplausos dos homens” é tentador. O aplauso embriaga a alma do ser humano. Olhe para o jogador de futebol quando faz um gol. A torcida aplaude e o som dos aplausos massageia o ego, embriaga a alma, infla dentro do ser o Cristiano Ronaldo dizendo “Eu estou aqui!”. Então olhamos, primeiramente, para Jesus no deserto enfrentando a tentação de satanás e, depois, para o mesmo Jesus em sua famosa entrada na cidade de Jerusalém, montado em um jumentinho, enquanto todos jogavam ramos de oliveiras no caminho, aplaudiam e ovacionavam à Ele...para então perguntar: qual das duas tentações foi pior? A do deserto ou a dos aplausos na entrada de Jerusalém? A tentação provocada por satanás ou a tentação provocada pelos homens? A gente confunde muito o jeitão pacífico e bondoso de Jesus com ingenuidade! Mas Jesus não era ingênuo. E se Ele, Filho de Deus, passou por isso...por que será que nós não passaríamos?

Conta-se que na Roma Antiga, quando um general ganhava uma guerra em nome do imperador (que era considerado um deus pelo povo), ele desfilava entre o povo para ser aplaudido e ovacionado. Entretanto o imperador colocava ao lado dele um servo que durante todo o caminho ia repetindo a frase " - Lembre-se de que você é um mortal!".
 

O ser humano ama o seu ego, e quando este seu ego é reconhecido, aclamado...ele tem que lidar com uma das maiores tentações: a de pensar única e exclusivamente em si próprio!

Jesus nunca procurou seus interesses próprios...viveu pelos interesses do Pai!

Fecha parêntese!


Voltemos a linha de raciocínio...

 
Tudo bem, talvez eu não tenha usado os melhores exemplos para ilustrar o pensamento. Mas é fato que há um meio de campo embolado entre o “sagrado” e o “não sagrado” devido a esta confusão de atrelar “sagrado” com “religioso” e “profano” com “não religioso”. Não me espantaria ver no jornal uma notícia anunciando um “rolezinho gospel”.  É interessante como tem muito crente buscando no “mundo secular” coisas para trazer para o “mundo gospel”. Será que isso é tão necessário? Será que precisamos pegar tudo o que “está na moda” e trazer para dentro da igreja, com a roupagem religiosa, atrelando o nome “gospel” para dar a conotação de que aquilo é voltado para gente santa?
 
Baladas gospel, funk gospel, rock gospel, axé gospel...até versão de “ai se eu te pego” e “gangnam style” gospel já foi feita!
 
As vezes vejo pessoas espantadas com as esquetes religiosas elaboradas pelo pessoal do “Porta dos Fundos”. O espanto é grande: “ – Nossa, como podem colocar na mesma cena Jesus e palavras torpes”. O problema é que por trás do comentário habita o falso moralismo. Sim, eu concordo, incomoda e muito ver as cenas bíblicas sendo retratadas com o humor carregado de palavras torpes. Não estou dizendo se é pecado ou não o que eles fazem...essa prerrogativa pertence à Deus. Só quero dizer que antes de tentar retirar a trave que está nos olhos do “Porta dos Fundos” a gente precisa ver se não temos uma trave nos nossos olhos religiosos que precisa ser retirada.
 
Diariamente precisamos lidar com o “sagrado” e o “profano”. Achar que uma “marcha para Jesus”, nos moldes do mercado gospel, é algo sagrado, é muita inocência. Achar que dentro da igreja não exista profanação e que no tal “mundo secular” não exista o sagrado, é viver algemado em uma consciência religiosa. Essa é uma consciência profana.
 
Pelas mãos de Deus, tudo pode se tornar limpo, santo, sagrado. Para o homem, a distância entre o sagrado e o profano talvez esteja exatamente nesta conscientização. Por isso a fé não pode ser baseada simplesmente na emoção e tão pouco somente na razão. É necessário uma mescla. Emoção e razão em suas medidas certas. Concordo que é difícil saber quais são as suas respectivas medidas, mas saber que as duas são necessárias já é um ótimo começo. John Stott disse que “Crer é pensar!”. Tomo a liberdade de incrementar este pensamento de Stott: “Crer é pensar com amor”.
 
A “sister” do Big Brother estava certa. Ninguém vale 1 real. Nem eu! Nem meu filho! Nem ela! Nem o “brother” alvo do comentário que ela fez! O que faltou era uma outra consciência por trás do pensamento. Uma consciência entregue nas mãos de Deus, para que Ele pudesse tornar sagrado. Uma consciência de que, Deus, para o homem, vale menos que 30 moedas de prata...o preço de um escravo (na época de Jesus)...ou talvez, nos dias atuais, menos que 30 centavos, menos que 1 real...afinal de contas não foi por este preço que Judas Iscariotes (que de certa forma habita em nós)  entregou Jesus? ....enquanto para o Deus o homem vale a Sua própria vida....o imensurável...o incalculável...a vida de Deus! Por isso nosso BIG BROTHER, nosso GRANDE IRMÃO, nosso DEUS...JESUS se entregou em nosso resgate!
 
Talvez poderíamos resumir assim:
 
Deus vale para o homem... menos que 1 real...30 moedas de prata
O homem vale para Deus...a vida do próprio Deus...o imensurável
O homem vale para o homem = o mensurável...aquilo que o homem julga que vale
Deus vale para Deus = a vida de um ser humano...que para Ele é imensurável
 
Diante disso, a pergunta certa a se fazer é: Quem está certo?  Deus ou o homem?
 
Como certa vez ouvi, talvez a resposta certa é...ser cristão é sempre concordar com Deus!
 
Se sabemos que não valemos o que comemos e somos merecedores do inferno, mas Deus nos diz que valemos a Vida Dele...só nos resta cair de joelhos, adorá-lo e agradecê-lo por Ele ter escolhido nos amar apesar de que nós somos...é assim que concordamos com Deus!

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