segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O VOTO DE NÃO FAZER VOTOS

Toda virada de Ano é época das pessoas repensarem a vida. Em época de réveillon é muito comum fazermos votos. Dentre os mais comuns estão os votos de:

Emagrecer;
Ler a Bíblia inteira;
Acertar as finanças;
Arrumar um namorado...

Xiii...é tanta coisa que a galera pede que ficaríamos mais de hora para listar os desejos mais comuns nesta época do ano.

O fato é que alguns anos atrás ouvi, do Pastor Villy Fomin, uma pregação que falava justamente deste assunto “Votos”. Lembro-me muito bem do texto bíblico em que o mesmo fundamentará a pregação. Impossível me esquecer, pois é o tipo de texto em que a gente nem imagina que está na Bíblia Sagrada e que quando descobre, fica boquiaberto com o relato.

Eis o texto:

Era então Jefté, o gileadita, homem valoroso, porém filho de uma prostituta; mas Gileade gerara a Jefté.
Também a mulher de Gileade lhe deu filhos, e, sendo os filhos desta mulher já grandes, expulsaram a Jefté, e lhe disseram: Não herdarás na casa de nosso pai, porque és filho de outra mulher.
Então Jefté fugiu de diante de seus irmãos, e habitou na terra de Tobe; e homens levianos se ajuntaram a Jefté, e saíam com ele.
E aconteceu que, depois de algum tempo, os filhos de Amom pelejaram contra Israel.
E sucedeu que, como os filhos de Amom pelejassem contra Israel, foram os anciãos de Gileade buscar a Jefté na terra de Tobe.
E disseram a Jefté: Vem, e sê o nosso chefe; para que combatamos contra os filhos de Amom.
Porém Jefté disse aos anciãos de Gileade: Porventura não me odiastes a mim, e não me expulsastes da casa de meu pai? Por que, pois, agora viestes a mim, quando estais em aperto?
E disseram os anciãos de Gileade a Jefté: Por isso tornamos a ti, para que venhas conosco, e combatas contra os filhos de Amom; e nos sejas por chefe sobre todos os moradores de Gileade.
Então Jefté disse aos anciãos de Gileade: Se me levardes de volta para combater contra os filhos de Amom, e o Senhor mos der diante de mim, então eu vos serei por chefe?
E disseram os anciãos de Gileade a Jefté: O Senhor será testemunha entre nós, e assim o faremos conforme a tua palavra.
Assim Jefté foi com os anciãos de Gileade, e o povo o pôs por chefe e príncipe sobre si; e Jefté falou todas as suas palavras perante o Senhor em Mizpá.
E enviou Jefté mensageiros ao rei dos filhos de Amom, dizendo: Que há entre mim e ti, que vieste a mim a pelejar contra a minha terra?
E disse o rei dos filhos de Amom aos mensageiros de Jefté: É porque, saindo Israel do Egito, tomou a minha terra, desde Arnom até Jaboque, e ainda até ao Jordão: Restitui-ma agora, em paz.
Porém Jefté prosseguiu ainda em enviar mensageiros ao rei dos filhos de Amom,
Dizendo-lhe: Assim diz Jefté: Israel não tomou, nem a terra dos moabitas, nem a terra dos filhos de Amom.
Porque, subindo Israel do Egito, andou pelo deserto até ao Mar Vermelho, e chegou até Cades.
E Israel enviou mensageiros ao rei dos edomitas, dizendo: Rogo-te que me deixes passar pela tua terra. Porém o rei dos edomitas não lhe deu ouvidos; enviou também ao rei dos moabitas, o qual igualmente não consentiu; e assim Israel ficou em Cades.
Depois andou pelo deserto e rodeou a terra dos edomitas e a terra dos moabitas, e veio do nascente do sol à terra dos moabitas, e alojou-se além de Arnom; porém não entrou nos limites dos moabitas, porque Arnom é limite dos moabitas.
Mas Israel enviou mensageiros a Siom, rei dos amorreus, rei de Hesbom; e disse-lhe Israel: Deixa-nos, peço-te, passar pela tua terra até ao meu lugar.
Porém Siom não confiou em Israel para este passar nos seus limites; antes Siom ajuntou todo o seu povo, e se acamparam em Jasa, e combateu contra Israel.
E o Senhor Deus de Israel deu a Siom, com todo o seu povo, na mão de Israel, que os feriu; e Israel tomou por herança toda a terra dos amorreus que habitavam naquela região.
E por herança tomaram todos os limites dos amorreus, desde Arnom até Jaboque, e desde o deserto até ao Jordão.
Assim o Senhor Deus de Israel desapossou os amorreus de diante do seu povo de Israel; e os possuirias tu?
Não possuirias tu aquilo que Quemós, teu deus, desapossasse de diante de ti? Assim possuiremos nós todos quantos o Senhor nosso Deus desapossar de diante de nós.
Agora, pois, és tu ainda melhor do que Balaque, filho de Zipor, rei dos moabitas? Porventura contendeu ele em algum tempo com Israel, ou pelejou alguma vez contra ele?
Enquanto Israel habitou trezentos anos em Hesbom e nas suas vilas, e em Aroer e nas suas vilas, em todas as cidades que estão ao longo de Arnom, por que o não recuperastes naquele tempo?
Tampouco pequei eu contra ti! Porém tu usas mal comigo em pelejar contra mim; o Senhor, que é juiz julgue hoje entre os filhos de Israel e entre os filhos de Amom.
Porém o rei dos filhos de Amom não deu ouvidos às palavras que Jefté lhe enviou.
Então o Espírito do Senhor veio sobre Jefté, e atravessou ele por Gileade e Manassés, passando por Mizpá de Gileade, e de Mizpá de Gileade passou até aos filhos de Amom.
E Jefté fez um voto ao Senhor, e disse: Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão,
Aquilo que, saindo da porta de minha casa, me vier ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do Senhor, e o oferecerei em holocausto.
 Assim Jefté passou aos filhos de Amom, a combater contra eles; e o Senhor os deu na sua mão.
E os feriu com grande mortandade, desde Aroer até chegar a Minite, vinte cidades, e até Abel-Queramim; assim foram subjugados os filhos de Amom diante dos filhos de Israel.
Vindo, pois, Jefté a Mizpá, à sua casa, eis que a sua filha lhe saiu ao encontro com adufes e com danças; e era ela a única filha; não tinha ele outro filho nem filha.
E aconteceu que, quando a viu, rasgou as suas vestes, e disse: Ah! filha minha, muito me abateste, e estás entre os que me turbam! Porque eu abri a minha boca ao Senhor, e não tornarei atrás.
E ela lhe disse: Meu pai, tu deste a palavra ao Senhor, faze de mim conforme o que prometeste; pois o Senhor te vingou dos teus inimigos, os filhos de Amom.
Disse mais a seu pai: Concede-me isto: Deixa-me por dois meses que vá, e desça pelos montes, e chore a minha virgindade, eu e as minhas companheiras.
E disse ele: Vai. E deixou-a ir por dois meses; então foi ela com as suas companheiras, e chorou a sua virgindade pelos montes.
E sucedeu que, ao fim de dois meses, tornou ela para seu pai, o qual cumpriu nela o seu voto que tinha feito; e ela não conheceu homem; e daí veio o costume de Israel,
Que as filhas de Israel iam de ano em ano lamentar, por quatro dias, a filha de Jefté, o gileadita.
Juízes 11:1-40

Um ato negligente! Assim podemos resumir o voto de Jefté. Um homem que não mediu as consequências de seu voto, pois cegou-se no próprio interesse. Um homem que envolveu a vida de terceiros de forma medíocre em um compromisso de interesse próprio.

Entendo que na cultura de Israel o holocausto era uma oferta para agradar à Deus. Mas quanto de nós não fazemos votos para barganhar com Deus sem medir consequências? Quantos de nós não agimos como Jefté? Fazemos os nossos votos sem medir consequências! E ainda...muitas vezes, pior do que Jefté, fazemos aquele compromisso com Deus com a sensação “se der para cumprir deu...se não der...não deu”.

Nós esquecemos que fiel...só Deus. Deus tem compromisso com sua Palavra, mas o homem...aaahhhh o homem...coitado! Somos sabotadores de nós mesmos. Olhando para Jefté, acho que, ainda dentro da circunstância, ele teve sorte, pois sua filha tomou a atitude de ajudar o pai a cumprir o seu voto. Mas quanto de nós caímos em uma “sinuca de bico” igual a Jefté neste voto e damos um passo para trás? Será que iríamos até as últimas consequências para cumprir o nosso voto à Deus?

Outro detalhe: por que oferecemos coisas tão ruins à Deus? Aliás...será que há algo em nós que poderíamos considerar “oferecíveis” (acabei de inventar esta palavra) à Deus? Por que ao invés de oferecemos um “carregar de cruz de joelhos à margem da Via Dutra por 60 Km” não oferecemos uma leitura diária de um Salmo à Deus? Será que Deus sente prazer em ver os nossos joelhos se esfolando, em carne viva, subindo 1000 degraus para se chegar na capela? Fico imaginando Jesus lá de cima, olhando a cena, pensando “onde foi que Eu demonstrei à eles que sinto prazer no sofrimento humano?”.

Um Deus que se identifica como amor e se revela como se revelou na face de Jesus Cristo é um Deus que chora diante do sofrimento humano, assim como Jesus chorou diante da morte de Lázaro (mesmo sabendo que iria ressuscitá-lo). Deus não sente prazer no sofrimento do ser humano! Que lógica demoníaca é esta que o ser humano tem na cabeça!?

Hoje em dia, fazer um voto para com Deus tornou-se sinônimo de barganhar com Deus. Paro de comer pizza se o Senhor me ajudar a passar no vestibular. Paro de falar palavrão se o Senhor me arrumar um marido. Ralo meus joelhos 100 km em uma peregrinação se o Senhor me curar da AIDS. Sinceramente, creio que este tipo de voto mais nos coloca em situação demoníaca do que em situação de comunhão com Deus. Posso estar errado, mas acho que o ato de barganhar com Deus muito mais demoníaco do que santificador.

Jesus curou em ato de Graça. Jesus se entregou em ato de Graça. Graça não tem a ver com mérito. Voto traz a sensação de mérito. Deus me deu isso por que fiz um voto para com Ele. Cuidado! O evangelho de Cristo é um evangelho de Graça. É o ato de Deus sem levar em consideração quem nós somos.

Acho que a atitude de se fazer voto deveria ser trocada por uma atitude de adoração à Deus. Isso não significa que você não possa entregar diante do Pai os seus desejos. Mas significa confiar nas mãos de Deus todos os desejos de Seu coração, tendo fé que Ele, Jesus, tem poder, amor e bons pensamentos ao seu respeito.

Enfim, talvez o melhor voto que poderíamos ousar fazer é o de não fazer votos. Mas esse talvez seja um voto que devamos fazer com Deus, mas um compromisso com nós mesmos. O compromisso de trocar os nossos votos, juntamente com nossos apetites e vontades, pela atitude de crucificar o nosso ego junto ao Cristo no Calvário e depositar ali, sem barganhas, todas as nossas vontades, para que Deus faça delas o que Ele achar o que deve ser feito.


Que venha 2014...Feliz ano novo à todos.

2 comentários:

  1. e podemos desfazer um voto que não conseguimos fazer?
    e se for por exemplo um voto de ler a biblia em 1 ano e esquecer um horario devemos continuar de onde paramos ou prosseguir...

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  2. Caro Anônimo...

    a sua pergunta "podemos fazer um voto que não conseguimos fazer?" já embute a resposta. Quando estamos tratando algo com relação à Deus...temos que ter em mente que estamos tratando algo com o Sagrado. Então por que se atrever a fazer um voto no qual não seremos capazes de cumprir!? O exemplo que você mencionou de fazer um voto para ler a bíblia em um ano....para um verdadeiro cristão é algo, teóricamente, impensável, pois a leitura da Palavra é algo que não deve depender de um voto, mas sim da consciência de que esse hábito nos leva para uma vida repleta dos valores (de vida Eterna) que Deus deseja que tenhamos fundamentados em nosso coração.
    Votos geralmente nos geram culpa, desapontamento e frustrações com nós mesmos, por que na maioria das vezes temos muito mais a tendnência a falhar do que em obter êxito. Além disso é uma armadilha, pois quando obtemos êxito, somos tentados a achar que somos merecedores de algo, e na lógica Cristã...o mérito do ser humano é o inferno, por que TODOS pecaram contra o Pai.

    Espero ter lhe ajudado!

    Um grande abraço!

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