segunda-feira, 22 de abril de 2013

APAZIGUADORES DE TEMPESTADES

E, naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes: Passemos para o outro lado.
E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no barco; e havia também com ele outros barquinhos.
E levantou-se grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia.
E ele estava na popa, dormindo sobre uma almofada, e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não se te dá que pereçamos?
E ele, despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança.
E disse-lhes: Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?
E sentiram um grande temor, e diziam uns aos outros: Mas quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?
Marcos 4:35-41

A essência do Cristianismo prega que devemos abandonar a rebeldia contra Deus. Essa rebeldia vai de encontro ao fato de que o homem optou por viver de forma independente à Deus. Em outras palavras a rebeldia consiste na atitude do homem em se declarar deus de si mesmo. O homem rebelde se acha auto suficiente e leva uma vida sem se submeter aos valores de vida proposto por Deus. Estes valores, podemos chamar de Reino de Deus.

Alguém já disse (creio ter sido Paul Washer) que ser cristão é “parar de lutar”.  Parar de lutar contra a vontade de Deus.

Se olharmos para a vida de Cristo, veremos que é exatamente este o estilo de vida que Ele viveu: total submissão ao Pai. Indo no alvo do entendimento: total obediência ao Pai.

A “obediência ao Pai” consiste em aceitar o convite feito por Deus de “depender Dele”. Esse é o coração da luta contra a rebeldia: ser dependente de Deus.

O fato é que temos que tomar muito cuidado com este conceito de dependência. Sem milongas, o que gostaria de expor como pensamento é o fato de que: Depender de Deus não é necessariamente jogar toda a responsabilidade das circunstâncias que estão ao nosso redor nas “costas” de Deus.

Parece ser mais do mesmo o que irei dizer aqui, mas ainda que seja, creio que muitos de nós jogamos responsabilidades nossas nas costas de Deus. Então, por este motivo, creio ser válido lhe convidar a pensar:

O cristão deve depender de Deus. O cristão deve ser submisso à Deus. Mas o cristão deve assumir a responsabilidade de ser um agente da graça no Reino de Deus.

Olhe para o texto de Mateus 4:35-41. Jesus escancara um convite a todos nós neste texto. Ele nos convida a ser um agente da graça no Reino de Deus.

Vou explicar melhor...

Todas as pessoas tem tempestades na vida. A “tempestade” é a metáfora que representa a “provação” (ou tentação, dependendo do ponto de vista). Mas em uma analogia mais correta, representa a “dificuldade”, representa o momento “difícil”. Quando Jesus acalma o vento e o mar ao dar a ordem “Cala-te, Aquieta-te”, Ele está operando um milagre em pró aqueles que estão perecendo na tempestade.

A gente está acostumado a pensar sempre em nós mesmos. Somos acostumados a olhar para o nosso próprio umbigo. Geralmente esta é a luz de entendimento que usamos para discernir esta passagem. Então geralmente a interpretação é para nos colocarmos no lugar daqueles que recebem a benção da calmaria da tempestade. Tudo bem, faz sentido e é correto. Entretanto te proponho a olhar um convite que Jesus nos faz, de sermos apaziguadores de tempestades para o nosso próximo.

Se olharmos para a atitude de Jesus, veremos que Ele nos convida a olhar ao nosso redor. Nos convida a ouvir o clamor dos outros e sermos agentes de Sua Graça.

Quais são as tempestades dos nossos próximos? A nuvem negra carregada de raios para o nosso próximo pode ser o armário e a geladeira vazia por conta do desemprego. As ondas que assolam o barco da família que mora ao nosso lado pode ser uma doença. A tempestade do nosso irmão pode ser um fim de casamento ou a morte de um ente querido.

Temos nossas tempestades também. Mas penso que o nosso desafio é, ainda que estejamos passando por uma tempestade, não olhar apenas para o nosso barco. Essa é a proposta do Reino de Deus: estar consciente de que dependemos de Deus assumindo a responsabilidade de que somos agentes de Suas ações para com o próximo. É sermos submissos à Deus para que Ele nos use para agir na vida de todos que estão ao nosso redor (inclusive na vida dos nossos inimigos).

Ao acalmar a tempestade de um irmão, provavelmente este irão dirá isso a respeito de você: “quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?

E o Cristão que se faz agente da Graça do Reino de Deus é consciente de que a resposta deve ser: Jesus.

Em outras palavras...Jesus acalma a tempestade das pessoas através de nossas vidas.

Creio ser esta a maneira natural de se propagar a Palavra de Deus. Creio ser esta a boa nova de Cristo. Ele nos convida a sermos apaziguadores de tempestades.

E aqui abro um parêntese...

Muitas vezes quando a tempestade é difícil, daquelas terríveis, a gente ouve: “Só nos resta orar”. A gente joga para o final de nossas atitudes aquela o recurso que primeiramente deveria ser usado: a oração. Repare no desdém do “só”. Nós cristão devemos nos propor a acalmar a tempestade dos nossos próximos começando pela atitude de orar (sem necessariamente esperar que nos peçam isso). E talvez o maior desafio é fazer isso sem que ninguém saiba. Enfim...penso ser essa a atitude mais sensata do cristão.

...fecho parêntese.

Você já parou para pensar: se o Cristianismo nos convida a pensar no próximo, por que nós cristãos pensamos sempre em nós mesmos? Há algo de errado. Por que a gente quer apenas receber? Por que a gente não quer dar? Por que a gente quer apenas ser abençoado e não ser um abençoador?

Penso na atitude de Pedro ao dizer ao paralítico :

E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda. Atos 3:6

Particularmente, o elemento central desta atitude de Pedro não é o “poder de cura” no nome de Jesus Cristo. Creio que o elemento central aqui é o compadecimento movido pelo amor.

Em outras palavras, comprar uma cesta básica para a mulher que tem 4 filhos e foi abandonada pelo marido que não paga pensão é se permitir ser movido pelo mesmo Espírito que moveu Pedro em Atos 3:6. Da mesma forma que oferecer um abraço, um ombro, um ouvido para o desabafo desta mesma mulher e se propor a orar juntamente com ela, é se permitir ser agente da Graça de Deus.

Quem é este que se permite ser usado por Jesus Cristo para que o vento e o mar se acalmem?

É o cristão.

Encerro fazendo um questionamento: Será que estamos deixando Deus nos usar ou será que estamos tentando usar Deus? Será que nós temos nos disponibilizados para Deus nos usar ou será que estamos tentando usar Deus?

Que o nosso coração possa pulsar juntamente com o coração de Cristo. Para que a gente possa viver o verdadeiro cristianismo. Para que a gente possa viver e proclamar o Reino de Cristo. Para que a gente possa ser agentes da graça de Deus...como um farol que brilha a noite...como ponte sobre as águas...como abrigo no deserto...como flecha que acerta o alvo....como aquele que se propõe a orar, chorar, sorrir, sofrer junto...como aquele que divide a mesa...como aquele que se propõe a resgatar a dignidade dos esquecidos...como apaziguadores de tempestades do nosso próximo.

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