quarta-feira, 24 de abril de 2013

JUMENTO, O VEÍCULO DA GRAÇA DE DEUS

E, quando se aproximaram de Jerusalém, e chegaram a Betfagé, ao Monte das Oliveiras, enviou, então, Jesus dois discípulos, dizendo-lhes:
Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho com ela; desprendei-a, e trazei-mos.
E, se alguém vos disser alguma coisa, direis que o Senhor os há de mister; e logo os enviará.
Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta, que diz:
Dizei à filha de Sião: Eis que o teu Rei aí te vem, Manso, e assentado sobre uma jumenta, E sobre um jumentinho, filho de animal de carga.
E, indo os discípulos, e fazendo como Jesus lhes ordenara,
Trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram as suas vestes, e fizeram-no assentar em cima.
E muitíssima gente estendia as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, e os espalhavam pelo caminho.
E a multidão que ia adiante, e a que seguia, clamava, dizendo: Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!
E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, dizendo: Quem é este?
E a multidão dizia: Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia.
Mateus 21:1-11

O texto acima relata a concretização da profecia de Zacarias (proferida à praticamente 500 anos antes de ser concretizada):

Alegra-te muito, ó filha de Sião! Exulta ó filha de Jerusalém! Vê! O teu rei virá a ti, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, filho de jumenta” (Zacarias 9:9).

Entretanto, creio que a Palavra nos relata uma profecia (desapercebida) muito antes que esta. O sacrifício de Isaque, filho de Abraão, é uma profecia ao sacrifício de Cristo. Veja que para chegar ao Monte Moriá (local onde Deus havia designado para o sacrifício de Isaque),  Abraão e seu filho usam um jumento:

Então se levantou Abraão pela manhã de madrugada, e albardou o seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isaque seu filho; e cortou lenha para o holocausto, e levantou-se, e foi ao lugar que Deus lhe dissera. Ao terceiro dia levantou Abraão os seus olhos, e viu o lugar de longe. E disse Abraão a seus moços: Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos até ali; e havendo adorado, tornaremos a vós.
Gênesis 22:3-5

De fato, a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (que é representada nos dias de hoje pela famosa tradição católica chamada de “Domingo de Ramos”) nos convida a viajar em pensamentos.

Ao olharmos para este relato, alguns elementos da história chamam a atenção:

O primeiro é Jesus. Um rei exaltado em um jumento. Que rei, em toda humanidade, se permitiria ser exaltado desta forma? A maneira escolhida por Deus para exaltar o Seu Filho é sensacional. Particularmente creio ser este relato, juntamente com o ato de Jesus lavar os pés de Seus discípulos, as maiores demonstrações do caráter humilde de Cristo. Um Deus que se esvazia de toda Sua Soberania para agir desta forma escancara que o maior poder que Ele tem é o Amor.

O segundo é o Jumento. Hoje no nordeste brasileiro, os jumentos são considerados uma “praga”. Pessoas vendem jegues por R$ 2,00 ou acabam abandonando os mesmos para se livrarem do custo e trabalho para cuidar dos mesmos. De fato, um jumento é considerado um animal “desprezível”. Você já viu algum príncipe encantado montar um jumento para salvar a princesa nos contos de fadas? Você pode me dizer “Ahhh, mas você se esqueceu do Shrek!”. Eu digo, não, não me esqueci. Pelo contrário, cito ele como exemplo: olha para o Shrek. Ele é um personagem sátira dos contos de fadas. Logo acabaram escolhendo um “burro” para satirizar mais ainda a figura do cavaleiro. Talvez eu não esteja conseguindo atingir o ponto crucial do que quero dizer aqui. Então vou usar o pensamento do Pastor Carlos Queirós para me explicar melhor. Certa vez o Pastor Carlinhos contou uma história sensacional em uma pregação.

A história dizia que o mesmo jumentinho que Jesus usou para entrar em Jerusalém resolveu fazer o mesmo trajeto uma semana depois deste acontecimento relatado em Mateus 21:1-11. Depois de refazer o trajeto, o jegue chegou em casa muito triste. Então muito frustrado, ele disse à sua mãe: “Mãe eu fui pelo mesmo caminho da semana passada. Achei que iam jogar novamente os ramos e as capas, mas não foi isso que aconteceu. Me deram pedradas e também não me deixaram nem chegar perto do templo”. A mãe do jumentinho lhe respondeu: “É meu filho eu sabia que isso ia acontecer. Sabia que não ia ser a mesma coisa. Sabe por que? Por que você foi sozinho. Você foi sem Jesus.”

Captou!? Um jumento com Deus, é exaltado juntamente com Deus. Um jumento sem Deus, é um animal desprezível. Não seria o homem similar a um jumento!?

Ou ainda...não seria um pensamento coerente dizer...um homem, ainda que se sinta desprezível como um jumento, se se permitir caminhar com Deus...será exaltado com Deus!?

É claro que Deus é exaltado na Cruz...é lá que está a Glória de Cristo...então quando pensar em ser exaltado com Cristo...só há um jeito: Na cruz.

A obediência dos discípulos em buscar o jumento para Cristo é o quarto elemento. Eles fazem exatamente como Jesus havia pedido.

Um quinto elemento interessante é o relato dos discípulos colocarem as suas capas sobre o lombo do jumento. Naquela época, o costume judeu dizia que a capa de um homem representava a sua posição na sociedade. Ao retirarem suas vestes e colocarem no jumento, os discípulos abriram mão de suas posições para exaltar a Cristo (talvez o tenham feito inconscientemente).

Por fim, o último elemento é a multidão. Seria muito bom se esta atitude da multidão fosse o “final feliz”. Mas a história não foi bem esta. Perceba que a multidão que exalta à Cristo no trajeto, é a mesma multidão que, capítulos à frente, é induzida pelos fariseus a gritar “Crucifica-o, Crucifica-o” para que Pilatos dê a ordem da crucificação de Jesus. A multidão “vira a casaca” em questão de um piscar de olhos. A multidão permite-se ser usada como massa de manobra pelos fariseus. A mesma multidão que se admirava com os feitos de Cristo.

Existem diversos outros detalhes neste relato que poderiam ser alvos de pensamentos. O dono da jumenta, o fato do caminho trilhado por Cristo ter sido pavimentado pelos ramos e pelas vestes da multidão. Enfim muitos detalhes que poderiam nos levar à viajar em pensamentos.

O que quero chamar à atenção aqui é o fato de que, de certa forma, todos nós nos encaixamos em diversos papéis neste trecho das Escrituras Sagradas. Mas o que mais, creio eu, que demos nos identificar e buscar à ser igual, é a do jumentinho. Mas não na atitude de voltar pelo mesmo caminho por conta própria. E sim no sentido de ir com Jesus. Conscientes de que Jesus é a Graça Personificada. Jesus é a Graça com rosto humano. Ir para Jesus. Ir por Jesus. Ir “para” e “por” esta Graça com Rosto Humano. Levando Jesus aonde formos. Entregando as nossas rédeas nas mãos de Cristo, para que Ele decida, se devemos ir para a direita ou para a esquerda, para frente ou para trás. Ser o jumento no sentido de estar consciente de que Jesus é a Graça consumada e que devemos ser como o jumento se permite ser o veículo da graça, que se permite ser o elemento que exalta a Graça, que faz isso consciente de que as vestes e os ramos jogados no caminho é para exaltar a Graça e não nós, jumentinhos.

O jumentinho levou Cristo para Jerusalém. O Jumentinho fez a sua parte na história da redenção da humanidade. O jumentinho se fez veículo da Graça. E nós?

Usando o jargão evangélico “prefiro ser bobo da corte no reino de Deus do que príncipe nas trevas”, fica a pergunta, você deseja ser um jumentinho de Cristo ou um cavalo de raça para o demônio?

Creio que Cristo, faz com que seus “jumentinhos” se sintam amados como se fossem um cavalo de raça, puro sangue. E creio ser exata a via oposta: que o demônio, quando usa um homem, diz que ele é um cavalo de raça, mas no fundo lhe como um burro.

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