sexta-feira, 19 de abril de 2013

UBUNTU: SOU O QUE SOU PELO QUE NÓS SOMOS

Os africanos tem uma filosofia chamada ubuntu. Resumidamente, o ubuntu pode ser entendido como "humanidade para com os outros". Outras traduções para esta filosofia podem ser "compartilhar une os seres humanos" ou ainda "sou o que sou pelo que nós somos". O Arcebispo Desmond Tutu diz: “Uma pessoa com ubuntu está aberta e disponível aos outros, não-preocupada em julgar os outros como bons ou maus, e tem consciência de que faz parte de algo maior e que é tão diminuída quanto seus semelhantes que são diminuídos ou humilhados, torturados ou oprimidos.”

O ubuntu vai de encontro com o Cristianismo. Nos revela que para ser “gente” precisamos de “gente”. Para um entendimento melhor: para ser “gente” precisamos nos relacionar com “gente”.

A gente acaba não parando para pensar nisso. E de certa forma o ubuntu parece ser meio óbvio. Entretanto não creio que todos nós temos a consciência disso. Já parou para pensar se é possível uma pessoa ser “gente de verdade” sozinha, isolada!? Somos seres criados com o propósito de nos relacionar. Inclusive o nosso organismo é dotado de “mecanismos” (talvez a palavra melhor seja “recursos”) para se relacionar (expressar).

Então, se para ser “gente”, precisamos nos relacionar com “gente”, que tipo de relacionamento devemos nos espelhar? Qual o modelo que temos que seguir!

A o Reino proposto por Jesus Cristo nos revela este modelo.

Jesus dedicou o seu ministério (praticamente) inteiro para divulgar o Reino de Deus. O Reino do Pai foi o centro de Sua mensagem. Cristo nos revela um Reino onde os valores se alicerçam no “se doar pelo outro”. Um Reino que pensa coletivo. Um Reino que se apresenta de forma colaborativa. O Reino de Deus propõe relacionamentos com valores tendenciados ao diretamente ao amor. Com isso os relacionamentos vão de encontro com os verbos “compartilhar”, “dar”, “perdoar”, “compadecer”, etc.

Os relacionamentos que partem da verdadeira essência do Reino de Deus (que nos permite ser gente de verdade) provém do Espírito de Cristo. E aqui me identifico com o Pastor Eliel Batista que tendência este Espírito não no sentido de Cristo se apossar de nós, mas sim no sentido do mesmo Espírito que movia Cristo a ser o que Ele era. Penso não no sentido de Cristo se apoderando de mim como uma entidade que me faz uma “marionete”, mas no seu Espírito me capacitando a ser como Ele era. Em outras palavras: o Espírito de Cristo me instruindo os valores do Pai sem que a minha consciência seja eliminada (ainda que por instantes).

Creio que hoje temos confundido muito o fator “Cristo evidenciar que era o Messias” com o fator “Reino de Deus anunciado por Cristo”. Tenho consciência de que um fator esteja ligado ao outro, mas acredito que, hoje em dia, existe uma confusão sendo gerada dentro das igrejas.

Vou explicar melhor:

O Reino de Deus nos trás uma premissa: Obedecer à vontade do Pai. Ou se preferir, ser submisso ao Pai. Esta é a proposta. Jesus nos mostrou isso em Sua vida.

Fico pensando: Será que seremos cobrados por não ter andado sobre as águas? Será que seremos cobrados por não termos transformados água em vinho? Será que o Reino de Deus tem como centro de mensagem o “exercer poder”?!

Sei que a salvação vem pela Graça. Também sei que fé sem boas obras é uma fé morta. Não é este o centro do que estou propondo pensarmos aqui.

Penso que prestaremos contas por não cuidarmos dos pequeninos (viúvas, órfãos, etc.). Em outras palavras, acredito que Deus espera muito mais que a gente abra os armários de nossas casas pegue um saco de feijão e dê para aquele que não tem o que comer. Creio que Deus conta conosco para que a gente ofereça os braços abertos para abraçar aquele que chora. Nisto consiste o poder do Reino, fazer dos nossos braços os Braços de Deus para abraçar o esquecido. Esta é a porta de entrada para o Reino: se comprometer a se doar para os seus próximos.

Vejo igrejas muito mais focadas em “poder”. Querem andar sobre as águas, querem abrir o mar vermelho. E sinto como se Deus estivesse dizendo: “O maior poder que quero de vocês é o Amor”.

Que tal pararmos de abrir “mares vermelhos” e passarmos a amar mais? Que tal pararmos de pingar de igrejas em igrejas atrás de poder e nos propormos a amar mais?

O poder demonstrado por Cristo atestou que Ele era o Messias. Mas o amor que movia o Seu poder se transformava em Graça anunciando o Reino de Deus diante dos olhos de todos.

Os questionamentos são muitos. Mas um dos que mais me incomoda com relação às instituições é: Será que estamos mais focados em converter pessoas ou em fazer discípulos de Cristo?

Sim, tudo bem, uma coisa pode estar até relacionada com a outra, mas não creio que ambas são essencialmente iguais. Fazer discípulos de Cristo é um compromisso que vai além do que adquirir fiéis para uma instituição.

Percebo que a necessidade de se exercer “poder” nas igrejas é muito mais para adquirir fiéis do que para anunciar o Reino de Deus.

Triste realidade a nossa. Precisamos não só voltar ao evangelho de Cristo, mas também voltar ao amor.

Para poder ser gente, precisamos nos relacionar com gente. O Reino de Deus propõe que nenhum outro poder, além do amor ensinado por Cristo, seja exercido neste ato de relacionar-se. Este é o ponto de partida para nós resgatarmos a nossa verdadeira humanidade.

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