Você ousaria abrir mão de receber um milagre para que outra pessoa o receba em seu lugar? Você seria capaz de ceder a sua benção para uma outra pessoa que também precisasse de uma benção igual a sua? Vou complicar mais ainda: você doaria o seu milagre para o seu terceiro maior inimigo? (apenas para constar, terceiro maior inimigo por que creio que os maiores inimigos que temos somos, primeiramente nós mesmos e depois o demônio).
Um exemplo (talvez fútil para alguns): Vamos supor que você tem leucemia. E você descobre que seu maior inimigo esta com a mesma doença que a sua. Em uma noite, durante suas orações você ousaria orar pedindo para Deus curar o seu (terceiro maior) inimigo ao invés dele mandar este milagre para você?
Entenda...não estou minimizando o poder de Deus, dizendo que Ele tem apenas uma cura de leucemia para dois doentes, muito menos querendo tendenciar o Deus das Escrituras Sagradas como um deus que faz acepção de pessoas. Não, não é isso e nem acredito em um deus assim. E ainda, entenda que não te pergunto isso com um “tom” de quem menospreza a benção de Deus. O “abrir mão” aqui não é pelo fato de não desejar o milagre, e sim de ser capaz de se doar pelo outro, e no caso, um cenário ainda mais complicado, se doar pelo seu inimigo.
De fato nem todos nós estamos dispostos a abrir mão das bênçãos que Deus tem para nós. E acredito que este é realmente um assunto delicado. Afinal todos nós queremos tomar posse daquilo que Deus tem para nós.
O cenário fica ainda mais complexo quando você olha para a nossa sociedade. Perceba que há uma diferença de realidade gigantesca de realidades na vida das pessoas. E com tanta gente imersa em miséria e sofrimento, é natural que rios de pessoas lotem as igrejas em busca de milagres. E não, não quero bater novamente na tecla da reflexão de pessoas que amam mais a benção que o Deus que abençoa. Entendo que todos desejam bênçãos e milagres. Arriscaria inclusive dizer que todos nós, em algum momento da vida, vamos nos deparar com o desejo da realização de algo impossível (uma cura, uma causa na justiça, uma reconciliação de um casamento, etc).
O que quero chamar a atenção aqui é para o fato de que não podemos deixar que o milagre/a benção nos cegue quanto aos valores do Reino de Deus. É claro que na pergunta inicial ao envolver a questão de doar algo vindo das mãos de Deus para um inimigo estou levando o caso ao extremo.
O problema é que estamos acostumados a pensar sempre que as nossas necessidades são prioritárias. E ai chamo a atenção para o fato de que queremos “o que Cristo pode fazer por nós” e não queremos “o Cristo”. E pior, se não queremos o Cristo, que dirá os valores do Reino que Ele veio anunciar. Ora, que é o Reino de Deus se não o local onde a plena vontade do Senhor é realizada!?
Então, será que temos orado pelos nossos inimigos? (e aqui quando digo orar...é orar mesmo...)
Por exemplo:
“Senhor, clamo a ti para que abençoe os meus inimigos 70 x 7 mais vezes do que tu desejas me abençoar, não por não amar Tuas bênçãos e Teus feitos, mas sim para que cada dia mais eu aprenda a amar meus inimigos”.
Já parou para pensar que o milagre e a benção pode ser algo que ficará nesta vida? Já parou para pensar que o fato de receber um milagre não necessariamente significa ter recebido salvação!?
O Reino de Deus inverte os valores desta lógica que o mundo insiste em seguir. O Reino de Deus nos desafia a não receber o milagre para nós mesmos e doar o nosso milagre para nosso irmão. Nos desafia a ser o milagre para o nosso próximo. Desafia a cada um de nós a deixar o nosso “eu” em último plano.
A necessidade do impossível (a necessidade de um milagre) geralmente está amarrada a uma luta, a um sofrimento. Para encarar um desafio como este, ainda que a gente viva um ambiente imerso em sofrimento, temos que ousar viver não permitindo que o ambiente de sofrimento viva em nós. Temos que ousar trocar o verbo sofrer pela conjugação dos verbos adorar, servir e louvar, assim como fizeram Paulo e Silas no cárcere.
Estamos acostumados a ir no culto para buscar a benção. Mas já passou da hora de nossa vida, do nosso viver se tornar um culto constante a Deus para sermos uma benção. Que o domingo seja a celebração do culto vivido diariamente.
Se aceitarmos este desafio, comprometidos com os valores do Reino de Deus, a Graça de Deus nos proverá recursos para sermos cartas vivas que levam a mensagem da Boa Nova aos caídos. Cartas Vivas que para serem entendidas não precisam de palavras, pois o modo de vida já transmite a mensagem.
Se aceitarmos este desafio, em Cristo Jesus, nos tornaremos veículos do favor imerecido de Deus. Seremos restauradores da dignidade humana. Agentes da benção. Seremos a benção.
O Reino de Deus já foi iniciado por Cristo. Jesus nos convida a viver em busca dos valores do Reino de Deus, não em busca de milagres. O alvo é a salvação. Ser salvo para viver em adoração e glorificação ao Senhor de Nossas vidas. Esta é a maior benção. Este é o maior milagre. Se formos conscientes disso, saberemos que os valores que temos que buscar em Deus são os que implicam em vida eterna.
Pois como diria CS Lewis...
“Aquilo que não é eterno, é eternamente inútil”.
Que Deus nos abençoe nos tornando benção ao próximo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário