O filósofo Ralph Waldo Emerson certa vez disse “O que você faz fala tão alto que não consigo escutar o que você diz”. Você já parou para pensar em como as nossas atitudes dialogam muito mais com as pessoas do que as palavras que saem das nossas bocas?
Somos seres relacionais. Comunicamo-nos uns com os outros constantemente. Usamos todos os nossos sentidos como recursos de comunicação. Quando olhamos para alguém, o olhar pode carregar uma mensagem de raiva, ou de amor. Quando tocamos alguém, podemos estar fazendo cafuné ou dando um beliscão. De fato nossas atitudes escancaram ao outro o que somos.
Neste sentido, a vida da gente pode ser “N” mensagens. Por exemplo, o nosso viver pode ser uma “pregação”. Um viver que anuncia a boa nova de Jesus. Da mesma forma que o nosso viver pode ser um “nada com nada”. Um viver indiferente para com tudo. Também podemos viver para o nosso próprio eu. Um viver cujo a mensagem é para o meu “eu”. Tudo “eu”, “pra mim”, “meu”, “minha”...e por ai vai.
Não é à toa que o próprio filósofo Ralph Waldo Emerson também elaborou o seguinte pensamento: “O que nos outros chamamos de pecado, para nós é experiência”.
Quer saber quem realmente é uma pessoa? Observe o que ela faz!
O cristianismo nos convida a um passo além. Nos convida a aprofundar este conceito.
Jesus era extraordinário em “ler” pessoas. Muito mais do que “ler” situações, Ele “lia” corações. Não era por menos, pois o “negócio” para Jesus era gente. Para Jesus, pessoas eram mais valiosas do que coisas. E muito mais do que entender as atitudes das pessoas, Jesus entendia a intenção que estava por trás das atitudes. Neste sentido, Ele entendia aonde o coração da pessoa estava “ancorado”. O que aquela pessoa amava.
Santo Agostinho entendeu muito bem isso e afirmou: “Se quiser conhecer uma pessoa não observe oque ela faz mais sim o que ela ama”.
Se observarmos bem os ensinamentos de Jesus, veremos que a boca faz “meio que” o papel de um “dedo-duro” do nosso coração. Observe a seguinte situação:
Então levaram-lhe um endemoninhado que era cego e mudo, e Jesus o curou, de modo que ele pôde falar e ver. Todo o povo ficou atônito e disse: "Não será este o Filho de Davi?". Mas quando os fariseus ouviram isso, disseram: "É somente por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa demônios". Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: "Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. Se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo. Como, então, subsistirá seu reino? E se eu expulso demônios por Belzebu, por quem os expulsam os filhos de vocês? Por isso, eles mesmos serão juízes sobre vocês. Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus. "Ou como alguém pode entrar na casa do homem forte e levar dali seus bens, sem antes amarrá-lo? Só então poderá roubar a casa dele. "Aquele que não está comigo, está contra mim; e aquele que comigo não ajunta, espalha. Por esse motivo eu lhes digo: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem nesta era nem na era que há de vir. "Considerem: uma árvore boa dá bom fruto; uma árvore ruim, dá fruto ruim, pois uma árvore é conhecida por seu fruto. Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração. O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas, e o homem mau, do seu mau tesouro, tira coisas más. Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras você será absolvido, e por suas palavras será condenado".
Mateus 12:22-37
Mateus 12:22-37
Veja o que Jesus responde aos Fariseus no momento em que os mesmos O acusam de fazer milagres em nome de Belzebu:
Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração.
Mateus 12:34
Mateus 12:34
A pergunta necessária então é: “Do que o seu coração está cheio?!” Ou se preferir...”Se Jesus estivesse lendo o seu coração agora, qual a mensagem que ele estaria revelando ao Cristo?”.
De fato Jesus “lê” os nossos corações constantemente. E é necessário sim saber aonde estão as intenções dos nossos corações, pois elas são os combustíveis de nossas atitudes. É necessário mergulhar nesta busca para identificar se a mensagem que a nossa vida transmite é uma hipocrisia. E aqui vale à pena frisar que hipocrisia não é a diferença entre o que você sente e o que você faz, mas sim a diferença entre o que você diz acreditar e o que você vive.
Se acreditamos na mensagem de Cristo então por que nossa vida não reflete os valores do Reino de Deus? Já parou para pensar que se você não gosta do seu irmão, quem tem um problema não é o seu irmão, é você?
Será que não estamos tão confortáveis nos discursos de “frases feitas” e “chavões evangélicos” pelo fato de acreditarmos que os mesmos são suficientes para nos trazer uma vida de santidade?
Pare e pense nas seguintes situações:
Você está andando nas ruas no centro de São Paulo. Milhares de pessoas ao seu redor. Você está comendo uma paçoca. Então ao terminar você joga o papel no chão. Agora, mudemos de ambiente. Você está no Museu do Ipiranga. Você abre uma paçoquinha para comer. Depois de comer a mesma, você joga o papel no chão.
Deixando de lado o fato de que jogar lixo no chão é, além de uma falta de educação, algo errado. Considerando apenas a mesma situação em cenários diferentes. A pergunta é em qual delas você se sentiria mais constrangido?
Obviamente que no museu, creio eu. Pois é um ambiente mais cuidado, limpo e teoricamente, frequentado por pessoas mais “educadas”.
De fato, nós cristãos, agimos assim. Na igreja, somos tendenciosos a agir com os santos, afinal é um lugar propício. Mas saindo de lá, nos transformamos. Você se sentiria mais constrangido em contar aquela “mentirinha” ingênua dentro ou fora da igreja?
Poxa, é esta a mensagem de Cristo?
Jesus nos convida a vivermos uma vida sem mascaras. Conscientes de que as intenções alavancadas pelo nosso coração provoquem atitudes com os valores do Reino de Deus. Isso implica no fato de que todo cristão é um pregador do Reino de Deus. Prega com a sua vida. Prega com o seu viver.
Gosto muito da frase de São Francisco de Assis que diz: “Pregue o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras.”. É o entendimento correto para o pedido deixado por Jesus aos seus discípulos: “E disse-lhes: Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas.” Marcos 16:15
Hoje, os discípulos somos todos nós. Cristãos, imitadores de Cristo. E muito mais que imitar as atitudes de Cristo, devemos imitar as intenções de Cristo. Intenções que eram movidas por um coração submisso ao Pai, que é o Amor. Em outras palavras um coração repleto de Amor.
Volto à Santo Agostinho para alicerçar estes pensamentos:
Amar como Jesus amou é amar sem medida. E viver submisso ao Pai é o mesmo que pegar uma folha em branco, assiná-la e deixar que Deus nela escreva o que Ele quiser.
Uma coisa está imersa na outra.
Você é uma carta viva. Um poema vivo. Se hoje você não se vê como a mensagem que Deus queira que você seja, saiba que a sua situação atual não te define como pessoa. Você é o que Deus diz o que você é, não o que você pensa que é e nem o que as outras pessoas dizem quem você é. Veja com o coração, escute com o coração, fale com o coração, faça com o coração, perdoe com o coração e ame com o coração. Pense nisso.
“Eis meu segredo, é muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.” Pequeno Príncipe
Que Deus abençoe as intenções que habitam em cada um dos nossos corações.