sexta-feira, 7 de junho de 2013

A BIFURCAÇÃO DO AGORA

Conta-se que um dia um samurai, grande e forte, conhecido pela sua índole violenta, foi procurar um sábio monge em busca de respostas para suas dúvidas.
- Monge, disse o samurai com desejo sincero de aprender, ensina-me sobre o céu e o inferno.
O monge, de pequena estatura e muito franzino, olhou para o bravo guerreiro e, simulando desprezo, lhe disse:
- Eu não poderia ensinar-lhe coisa alguma, você está imundo. Seu mau cheiro é insuportável.
- Ademais, a lâmina da sua espada está enferrujada. Você é uma vergonha para a sua classe.
O samurai ficou enfurecido. O sangue lhe subiu ao rosto e ele não conseguiu dizer nenhuma palavra, tamanha era sua raiva. Empunhou a espada, ergueu-a sobre a cabeça e se preparou para decapitar o monge.
- “Aí começa o inferno”, disse-lhe o sábio mansamente.
O samurai ficou imóvel. A sabedoria daquele pequeno homem o impressionara. Afinal, arriscou a própria vida para lhe ensinar sobre o inferno. O bravo guerreiro abaixou lentamente a espada e agradeceu ao monge pelo valioso ensinamento.
O velho sábio continuou em silêncio. Passado algum tempo o samurai, já com a intimidade pacificada, pediu humildemente ao monge que lhe perdoasse o gesto infeliz.
Percebendo que seu pedido era sincero, o monge lhe falou:
- “Aí começa o céu”.

Como cristão, sempre acreditei plenamente no fato de que o Paraíso, ou o Céu (se assim preferir), é muito mais que um lugar, e sim um Ser: Deus. Ele é o Paraíso. Onde Deus está presente e Sua vontade é exercida em plenitude, o lugar se torna Paraíso. Da mesma forma que acredito que o inferno seja exatamente o lugar onde Deus tem também a Sua vontade exercida plenamente, mas Deus se faz Ausente. No Céu, Deus governa presente. No inferno, Deus governa ausente No Céu, o Governo de Deus é baseado no cálice do Seu Amor. No inferno, o Governo de Deus é baseado no cálice de Sua ira. O Céu é destinado a seres humanos que se fizeram, em Cristo Jesus, pessoas como “gente” deve ser. O inferno é o lixão da humanidade, onde pessoas rebeldes serão descartadas.

Este conto japonês nos remete a pensar no quanto já vivemos aqui e agora a possibilidade de ambos caminhos. Sim, hoje, exatamente agora, estamos diante da bifurcação das trilhas que levam ao Céu ou ao inferno. A ira do samurai, provocada pelo sábio ao ferir o “eu absoluto do guerreiro japonês”, é um convite a seguir o curso natural do ser humano caído e continuar em rebeldia. O pedido de perdão do samurai ao sábio, quando o mesmo percebe o ensinamento, é o rompimento com a lógica da queda, o rompimento com a lógica de rebeldia. É a contramão da lógica do mundo.

Ao arriscar a própria vida para ensinar o samurai, o sábio nos evidência que vale à pena correr o risco para prover vida para uma outra pessoa. O samurai, ao aprender perdoar, e entender que o perdão é o elemento restaurador do homem, o primeiro passo para o Céu, ganha uma outro entendimento de como ser gente. Ganha vida!

Como disse Juliano Son: “para que outras pessoas possam sorrir, vale a pena chorar, para que outras pessoas possam viver, vale a pena morrer”. Muitas outras coisas vale à pena: para que outras pessoas possam comer, vale à pena abrir mão de se empanturrar, para que outras pessoas possam se agasalhar durante o forte frio do inverno, vale abrir mão de algumas peças de roupa, para que pessoas possam ter dignidade, vale à pena abrir mão de argumentos.

Já parou para pensar: O que você não pode doar, não é seu! Possui você! A vida que você tem, não é maior de que quem à doou a ti. Deus possui a vida. Não é a vida que possui a Deus. Da mesma forma Ele nos convida a pensar desta forma. Se não doarmos nossa vida para o próximo, é sinal de que não possuímos a vida, e sim, nos tornamos meros seres existenciais. Viver sem ter sentido. Da mesma forma, o amor. Deus doou uma grande porção de seu amor a cada um de nós. Como nós não podemos doar nosso amor para outras pessoas. Aliás, o amor que Deus nos doou só passa a ser nosso, quando reconhecemos de onde este amor veio: da Cruz. Só assim tomamos posse deste amor. E só conseguimos reconhecer isto buscando viver os 2 maiores mandamentos de Deus: Amar a Deus sobre todas as coisas e amar o nosso próximo como Jesus nos amou. Será que estamos aptos a doar o que somos ao nosso próximo? Será que estamos dispostos a morrer para que outros tenham vida? Será que estamos dispostos a perdoar ou a só receber perdão? Será que estamos dispostos a ser benção ou só receber bênçãos?

Jesus viveu, morreu e ressuscitou para que toda a humanidade ganhasse vida.  Não a “vida” no conceito que o mundo entende. Não esta “vida” que temos hoje, onde as nossas “baterias” que nos mantém vivos logo irão acabar. O que Jesus fez por nós, foi se fazer de “Via” para uma vida eterna. Uma vida eternamente conectada a fonte de vida: Deus.

A morte da “morte” foi consumada com a morte de Jesus Cristo. Um Deus Santo que jamais poderia receber a morte como salário, pois Nele não há pecado algum.

Morrer para gerar Vida. Morrer de si mesmo para que outros tenham vida. Correr o risco, consciente de que os valores do Reino de Deus nos sustentam através da Cruz do Calvário.

Jesus é o Caminho para o Céu. Um Caminho pavimentado pela Graça de Deus. Um Caminho “asfaltado” pelo Amor derramado na Cruz do Calvário. Um Caminho que devemos desejar trilhar com pés descalços, em pleno contato com o solo em que pisamos. Para que nós, os viajantes, sejamos parte da próprio Caminho em que andamos e para que o Caminho seja parte de nós. Um imerso no outro. Um complemento do outro. Uma Unidade. Um dentro do outro.

Você não existe para ser descartado no lixão da humanidade. O seu propósito não é ser descartado no inferno, no Geena. Existe um vírus, chamado pecado, que corre em seu ser. Ele quer que você seja descartado. Este vírus contamina o nosso modo de pensar, sentir e agir , através de uma lógica onde o bem se faz ausente. Para que você cumpra o propósito de sua existência, que é viver uma vida de qualidade abundante e eterna juntamente com Deus, o próprio Deus proveu, por graça e amor, um “antídoto”, uma “vacina”, um “remédio”: O sangue de Jesus Cristo. Um sangue que se move em nós através do perdão. Um sangue que se move em nós através da graça.

A bifurcação está á sua frente. Agora. Já. Jesus se fez caminho de um lado. A lógica da rebeldia se faz trilha do outro. Um vai para Casa, nos leva de volta a nosso Lar, Deus. O outro para o lixão, o Geena. Qual caminho devemos escolher? Qual caminho você escolhe? O da graça de Jesus Cristo ou o da desgraça? O de Jesus ou o do seu “eu absoluto”?

O Caminho de volta para Casa, é estreito e longo. Não é um Caminho sem dor e sem problemas. Mas é o Caminho que nos leva de volta para o nosso Lar. É um Caminho que não trilhamos sozinhos, pois o próprio “Caminho” caminha ao nosso lado. É um Caminho de Paz, que excede o entendimento. Paz que se faz imersa na tribulação e nos problemas. Paz plena de Jesus.

Como disse o sábio, o perdão é o primeiro passo. Ele é movido pelo arrependimento. Jesus muito mais que simplesmente dizer isso, nos ensinou a viver isso. Olhe para a Cruz de Cristo. Viva a Cruz de Cristo. Quanto maior a sua experiência da Cruz de Jesus, maior será a sua consciência do Perdão e da Graça de Deus. Alguém já disse que experiência não é o que acontece com você, mas o que você faz com aquilo que lhe acontece. Lembre-se disso ao vivenciar a Cruz de Jesus. Ao trilhar este Caminho, sua vida proclamará o Reino de Deus. Ao trilhar este Caminho sua vida será o Evangelho Vivo de Cristo explícito aos olhos de todos ao seu redor.

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