segunda-feira, 17 de junho de 2013

ENTRE O ATO DE PERDOAR INFINITAMENTE E O PERDÃO REVOGADO

Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? "
Jesus respondeu: "Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete.
"Por isso, o Reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos.
Quando começou o acerto, foi trazido à sua presença um que lhe devia uma enorme quantidade de prata.
Como não tinha condições de pagar, o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida.
"O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’.
O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir.
"Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários. Agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me deve! ’
"Então o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: ‘Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei’.
"Mas ele não quis. Antes, saiu e mandou lançá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.
Quando os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia acontecido.
"Então o senhor chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou.
Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você? ’
Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia.
"Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão".
Mateus 18:21-35

O Pastor Ariovaldo acerta ao afirmar que relacionamentos só se sustentam à base do perdão. Ele acerta ainda mais ao separar um pedido de “perdão” de um pedido de “desculpas”, dizendo que quando pedimos perdão, pedimos para ser redimidos de um erro incalculável, onde não se pode mensurar o dano que causamos a outra pessoa e que quando pedimos desculpas, estamos pedindo para ser retirada uma culpa de nós (“des”...retirar, “culpar”...culpa), um dano “calculável”. Em outras palavras, num exemplo simples, pisar no pé de uma pessoa é motivo para um pedido de desculpas, matar o filho da mesma é motivo de pedido de perdão.

O teólogo Tim Keller afirma que perdoar é o mesmo que assumir o dano. Em outras palavras, sempre que há um dano dentro de um relacionamento, alguém terá que assumir dano, ou a pessoa que o causou ou  a pessoa que foi prejudicada. É mais ou menos assim, como exemplifica o Pastor Ricardo Agreste: Imagine que lhe convido para ir em minha casa. Na hora de você ir embora, você engata erroneamente a marcha de seu carro e, sem querer, da ré e derruba a cerca da minha casa. Tenho duas opções: primeira, fazer três orçamentos e lhe passar, para que você pague o conserto ou segunda, dizer um “não foi nada, não se preoculpe” e arcar com o custo do conserto. Ou te passo o custo do conserto, ou assumo.

Esta parábola contada por Jesus em Mateus 18, nos remete a um cenário de uma dívida absurda, onde jamais o servo teria condições de pagar ao rei. Um cenário onde só o perdão se encaixaria. Muitos teólogos dizem que a enorme quantidade de prata mencionada na parábola significava ”60 milhões de dias de trabalho” ou, se preferir, “165 mil anos de trabalho”. Uma dívida impagável. Assim como a nossa dívida com relação à Deus. Uma dívida chamada desobediência.

A parábola nos diz que o Rei perdoou a dívida impagável do seu servo. Mas o mesmo, não agiu da mesma forma com um outro homem que lhe devia 100 denários. Ao pé da letra, o mesmo homem que provou de um perdão e uma misericórdia incalculável endureceu o seu coração e não foi capaz de agir da mesma forma com um homem que lhe devia 100 denários. Agiu de forma dura para com o mesmo, sem misericórdia.

A palavra de Deus nos diz que o Rei, ao saber disso, chamou novamente o seu servo e lhe revogou o perdão. Entregou o homem aos torturadores, até que pagasse toda a dívida: 60 milhões de dias de trabalho.

Agora, sem desembaraços: O Rei da parábola é Deus. O servo somos nós e o conservo é o nosso próximo. E ai vem a pergunta: Você já parou para pensar nisso, que Deus pede devolta o perdão concedido? Que Deus revoga o perdão?

Seria algo injusto? Pedir devolta um presente (no caso o perdão) que já foi dado?

Vejamos...

Alguns anos atrás, um homem do Estado de Kentucky, EUA, chamado Lucien Young, soube que um velho amigo dele, Samuel Holmes, se encontrava numa penitenciária e ainda tinha mais oito anos de pena por cumprir. Dirigindo-se à prisão, Lucien perguntou ao carcereiro se poderia conversar com seu velho amigo. Recebeu permissão. Por quase duas horas os dois conversaram e riram, recordando algumas de suas travessuras da juventude.
Posteriormente Lucien, que era bom amigo do governador Blackburn, foi à mansão do Executivo e pediu que o governador perdoasse o seu amigo. O governador pediu o prazo de uma semana para pensar no assunto. Quando a semana terminou, Lucien retornou ao escritório do governador.
- Aqui está o perdão - disse o governador, estendendo o documento a Lucien. - Mas antes de entregá-lo a Samuel, quero que você converse mais algumas horas com ele. Se ao final da conversa você achar que ele deve mesmo ser perdoado, eu lhe concederei a liberdade condicional, desde que você se responsabilize.
- Entendido - disse Lucien.
Lucien correu à prisão e mais uma vez obteve licença para conversar com seu amigo. Durante o transcorrer da visita, Lucien perguntou casualmente:
- Sam, quando você sair daqui, eu gostaria que se tornasse meu sócio. Concorda? Posso até ver se consigo tirá-lo daqui antes do término de sua pena.
Sam ficou em pé e caminhou um pouco de um lado para outro. Quando voltou a falar com Lucien, disse:
- Está bem. Mas antes de qualquer outra coisa, terei de resolver um negócio.
- Que negócio, Sam?
- Primeiro, vou matar o juiz e depois a testemunha que me mandou para cá.
Lucien saiu da prisão e devolveu ao governador o documento do perdão.

A parábola contada por Jesus em Mateus 18 vai do versículo 23 ao 35. Mas fiz questão de manter os versículos 21 e 22, onde há um breve diálogo entre Pedro e Jesus para dizer algo que passa imperceptível a nós.

O diálogo é:

Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? "
Jesus respondeu: "Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete.

Este é o ponto de partida para a parábola descrita por Jesus. Pedro insinua a Cristo uma dúvida: “Até onde vai a tolerância de perdoar uma pessoa que me ofende?” Mas o faz com uma resposta pronta: “Sete vezes?”. Pedro está dizendo subliminarmente na sua pergunta que o perdão deveria ser condicional. É como se ele dissesse: Jesus, perdoar tem limite não tem?

Jesus responde 70 x 7 numa referência contrária ao conceito de Lameque (Genesis 4:24) que dizia que a sua vingança seria 70 x 7. E o calculo aqui, que resulta em 490, é um símbolo de infinitas vezes. Enquanto Lameque diz que a sua vingança era infinita, Jesus pregava que o perdão deveria ser concedido ao dano incalculável infinitas vezes. E mais que isso, ele “destrincha” pensamentos em uma parábola para dizer que esse perdão deve ser como um efeito dominó, onde um deve perdoar o outro, pois se um é perdoado e o mesmo não perdoa, o seu perdão será revogado.

Agora pense: Carecemos de perdão pois causamos um dano à Soberania de Deus em desoberder-lhe e nos declararmos deuses de nós mesmos. Esta é a dívida de 165 mil dias de trabalho que cada ser humano tem com o Rei. Deus poderia simplesmente dizer: assumam a responsabilidade deste dano e queimem no inferno. Mas não, Deus assumiu o dano causado por nós, para Si. Um dano que vai além de uma ré que derrubou uma cerca na casa de Deus. Um dano irreparável. Tão irreparável que custou a vida do próprio Deus, Jesus, o Deus Filho.

Jesus é o resultado da equação do perdão: 70 x 7. Jesus é a infinita misericórdia. O resultado expícito desta equação do perdão 70 x 7 é o clamor da cruz que sustenta tudo o que chamamos de vida: “Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem”. Jesus se fez esta equação. E o resultado dela foi a cruz. Um preço incalculável. Foi um “perdôo vocês” concedido por Deus e não um “desculpo vocês”.

Jesus nos mostrou como o perdão funciona. Sejamos imitadores Dele. Façamo-nos também resultados da equação do perdão 70 x 7.

A oração ensinada por Jesus, a famosa oração do Pai nosso, diz: “Perdoai assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Em outras palavras, estamos dizendo: “Pai, me perdoa com a mesma misericódia que perdoei fulano que pisou na bola comigo”, “Pai perdoa eu na mesma medida em que perdoei o assassino do meu filho”, “Pai, perdoa eu com a mesma coerência que usei para perdoar o meu marido que me traiu”, “Pai, me perdoa com a mesma intensidade que perdoei o meu pai que bate na minha mãe”...enfim,  será que realmente a gente quer ser perdoado na mesma medida que consedemos perdão?

Perdão é assumir a responsabilidade do dano que foi causado para si, provendo vida para quem causou o dano. Ora, não foi isso que Deus propôs para nós na Cruz?

Jesus nos fez um estorno com relação à morte. Matou a morte com sua morte. Depositou vida para nós. Se não formos como Ele, misericordiósos e piedosos, oferecendo o perdão infinitamente, sempre, recebemos um estorno com relação à vida, ao perdão concedido por Deus na Cruz.

Creio que Deus tem revogado, estornado, pedido devolta... muito perdão por ai. Creio que Ele faz isso com o coração entristecido. Mas o faz. A boa notícia é que antes de revogá-lo, Ele o concede. Antes de revogar perdão, Ele perdoa. E esta é a oportunidade que temos, de perdoar o próximo para seguirmos sendo perdoados por Deus. Perdoar para que sejamos perdoados. Em outras palavras: Perdoar 70 x 7, Perdoar Sempre.

Que o Senhor nos auxilie neste processo tão difícil que é perdoar.

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