segunda-feira, 3 de junho de 2013

O SILÊNCIOSO DESVIO MILIMÉTRICO DE DEUS

Você já parou para observar como temos “cacoetes” em nossa forma de pensar? Pegamos uma determinada situação, traduzimos ela em pensamentos e absorvemos a primeira interpretação, carregando em todo o processo de raciocino os nossos “cacoetes” de lógica. Fazemos tudo isso em questão de segundos. E o pior, tornamos essa “primeira interpretação” como nossas verdades.

De fato, estamos sujeitos a nos equivocar. Principalmente quando o assunto em questão é Deus. Isso por que o maior parâmetro que temos como ponto de partida para o entendimento de como viver uma vida da maneira certa (levando em conta de que se existe um Deus, então há uma maneira certa de se viver) é a Palavra.

Vejamos o pensamento de G K Chesterton no capítulo 6 (Paradoxos do Cristianismo) em seu ótimo livro Ortodoxia:

“Suponhamos que alguma criatura matemática proveniente da lua examinasse o corpo humano; ela imediatamente veria que o fato essencial nesse caso é que o corpo é duplicado. Um homem contém dois homens: um à direita que se parece exatamente com outro à esquerda. Depois de notar que há um braço do lado direito e outro do lado esquerdo, uma perna à direita e outra à esquerda, ela poderia ir adiante e ainda encontrar de cada lado o mesmo número de dedos nas mãos, o mesmo número de dedos nos pés, olhos geminados, orelhas geminadas, narinas geminadas e até lobos do cérebro geminados. No mínimo ela tomaria o fato como lei; e depois, quando encontrasse um coração de um lado, ela deduziria a presença de outro coração do outro lado. E exatamente nesse momento, no ponto em que se sentisse mais segura de estar certa, ela estaria errada.

É esse silencioso desvio milimétrico da precisão que constitui o elemento misterioso presente em tudo. Parece uma espécie de traição secreta do universo. [...] Em todas as coisas, em toda parte, existe o elemento do misterioso e do incalculável. Ele foge aos racionalistas, mas só escapa no último momento. Da grande curvatura da Terra alguém poderia facilmente inferir que cada centímetro dela apresentasse a mesma curva. Pareceria racional que, assim como um ser humano tem um cérebro de ambos os lados, ele devesse ter um coração dos dois lados. Todavia, os cientistas ainda estão organizando expedições para descobrir o Polo Norte, porque eles gostam tanto de paisagens planas. Os cientistas estão organizando expedições para descobrir o coração do ser humano; e quando tentam descobri-lo, geralmente procuram do lado errado.

[...] Se o nosso matemático da lua visse dois braços e duas orelhas, ele poderia deduzir as duas omoplatas e as duas metades do cérebro. Mas se ele adivinhasse que o coração do homem estava no lugar certo, então eu deveria chamá-lo de algo mais que um matemático.

Ora, essa é exatamente a reivindicação que venho fazendo para o cristianismo. Não simplesmente que ele deduz verdades lógicas, mas que quando de repente se torna ilógico, ele encontrou, por assim dizer, uma verdade ilógica. Ele não apenas acerta em relação às coisas, mas também erra (se assim se pode dizer) exatamente onde as coisas saem erradas. Seu plano se adapta às irregularidades ocultas e espera o inesperado. É simples no que se refere à verdade sutil. Admite que o homem tem duas mãos, mas não admite (embora todos os modernistas lamentem o fato) a dedução óbvia de que tenha dois corações”. (G. K. Chesterton. Ortodoxia. Ed. Mundo Cristão: São Paulo, 2008. p. 135/137).

Este sensacional pensamento de Chesterton nos remete a beleza de Deus no “surpreender”.

Se te pergunto...então afinal de contas, quantos corações tem um homem?

Como um matemático (lunar ou terrestre) você pode responder: “Um, o homem possui um coração, no lado esquerdo do peito”!

Mas o Cristianismo nos diz:” - O homem possui 2 corações travando uma grande batalha, um coração propício ao mau e um coração propício ao bem. Se o coração do homem for governado pelo próprio homem, isso implica que o coração mau prevalecerá. Se o coração do homem for governado por Deus, isso implica que o coração bom prevalecerá.”

Como será que temos interpretado a criação de Deus? Como será que temos interpretado as Escrituras Sagradas? O que tem influenciado a nossa interpretação? Quais são os “cacoetes” que habitam em nossa linha de raciocínio?

Em questão de milímetros habita uma lógica que só o Criador entende, mas que Ele revela a quem o busca de todo o coração. A Perfeição de Deus vai do lógico ao ilógico. A Perfeição de Deus desafia o nosso racionalismo. Desafia as estruturas do nosso pensar. Deus nos convida ao simples. Algo que está nas Escrituras, onde só os pequeninos conseguem perceber. Cristo louvou ao Pai por isso. Por que complicamos tanto? Por que insistimos em trazer coisas racionais para explicar o ilógico? Mas acima de tudo, por que usamos o misterioso de Deus para colocar um ponto final em dúvidas do sobrenatural que servem para nos aproximar cada vez mais de Deus?

Quando uma pessoa racionalista lhe impor um “ponto final” em alguma dúvida do sobrenatural, na qual você busca respostas, para saber como deve viver para glorificar à Deus, saiba que o próprio Deus acrescenta mais “dois pontinhos”, transformando o “ponto final” em “reticências”, sinalizando que o “pensamento” não acaba ali, sinalizando que devemos continuar buscando conhecer cada vez mais os silenciosos desvios milimétricos de Deus...pois Ele é um Deus que quer ser conhecido! Siga em busca deste misterioso sobrenatural consciente de que a lógica de tudo parte da Verdade de Cristo Jesus e não da sua racionalidade, que a lógica parte de um extraordinário “caminhar sobre as águas” e não sobre o “afundar” racional.

Que Deus se revele cada vez mais a nós através de Seus desvios milimétricos, e que estes silenciosos desvios, tornem-se perceptíveis aos nossos sentidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário