Em minha “pequena” caminhada na Igreja, percebo muita gente
que acha que para servir à Deus, tem que ser “perfeita”. Inclusive este fardo
da “perfeição”, acaba influenciando e refletindo, até mesmo, na visão que estas
pessoas tem sobre santidade. salvação, amor de Deus e tantos outros fatores
importantes na caminhada cristã.
Então creio ser necessário perguntar: será que Deus procura
gente perfeita?
Esta é uma pergunta “delicada”. E responde-la é, de certa
forma, caminhar sobre a linha tênue entre a ortodoxia e a heresia.
Como crer é também pensar, então vamos maquinar alguns
pensamentos.
Para alicerçar uma resposta coerente com a Palavra de Deus,
gostaria de primeiramente levantar um ponto: o conceito de “perfeição” é
relativo. O que você enxerga como “perfeição” não é necessariamente o que Deus
tem como “perfeição”.
Acredito que um bom cristão, tem como ponto de partida, de
fundamento de vida, a Lei que Deus revelou a Moisés sobre a luz do entendimento
da Vida, Morte e Ressurreição de Cristo.
Agora, já parou para pensar, quem de nós é capaz de cumprir
toda a Torá (a Lei revelada por Deus a Moisés)?!
Só Um Homem, em toda a história, conseguiu. Jesus, o próprio
Deus encarnado.
Alguns teólogos dizem que, para você entender a verdadeira
graça de Deus e a real essência do que Cristo fez por nós na Cruz, é preciso
primeiramente tentar cumprir toda a Torá. Isso por que, tentando cumprir todos
os mandamentos de Deus, você verá que é impossível faze-lo.
É como se a lei de Deus estivesse um “duvido” implícito pela
parte de Deus. Mais ou menos assim: “Duvido você não roubar, duvido você não
mentir, duvido você não matar, duvido você não pecar. E ainda, duvido você
cumprir tudo ao mesmo tempo plenamente em toda sua existência”.
Se isolarmos a lei de Deus sem ter Jesus como entendimento
da mesma e tomarmos isso como parâmetro de perfeição, então podemos afirmar com
todas as letras: jamais seremos perfeitos!
Entretanto, se Jesus estiver imerso no entendimento da Torá,
o cenário muda. Isso por que Cristo cumpriu a lei por todos nós. E Jesus, que é
Deus, fez isso em condição humana (100% homem e 100% Deus). Neste sentido,
Jesus, o próprio Deus encarnado, se fez perfeito por todos nós.
Ai está a chave de entendimento da perfeição que todo o
Cristão deve ter. Deus sabe que você jamais irá conseguir ser perfeito na Lei
que Ele mesmo nos proveu. Mas te proporcionou um meio de alcançar esta perfeição:
a Misericórdia do Santo Sangue de Jesus.
Aqui entra em cena algo extraordinário: Se só quem consegue
cumprir toda a lei de Deus é perfeito, e por consequência não tem pecado. E se
o salário do pecado é a morte. Jesus foi o único que conseguiu cumprir toda a
lei de Deus e ter uma vida santa. Conseguiu êxito e vitória sobre o pecado pois
viveu em total submissão à Deus. E tendo uma vida santa, jamais seria digno de
receber como pagamento a morte. Pelo contrário, se por um lado temos a morte
como o salário do pecado, por outro lado, temos como salário da santidade a
vida eterna, a presença de Deus. E foi isso que Cristo recebeu. Ele não só
recebeu como compartilhou esta vitória com toda a humanidade. Fez isso na Cruz
se entregando e derramando o seu sangue. A consequência disso: a morte da morte
na morte de Jesus.
Bom, mas como ser perfeito em Jesus?
Antes de responder esta pergunta, acompanhe esta fábula abaixo. Usarei a mesma para ilustrar alguns pensamentos:
“Um carregador de
água, na Índia, levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de
uma vara a qual ele carregava atravessada em seu pescoço. Um dos potes tinha
uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no
fim da longa jornada entre o poço e a casa do Senhor para quem o carregador
trabalhava. O pote rachado sempre chegava com água apenas pela metade.
Foi assim por dois anos. Diariamente, o carregador entregando um pote e meio de água na casa de seu Senhor. Claro, o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações. Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição. Sentia-se miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do que lhe havia sido designado fazer.
Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote rachado, um dia, falou para o carregador à beira do poço: — Estou envergonhado. Quero lhe pedir desculpas.
— Por que? — perguntou o homem. — De que você está envergonhado?
— Nesses dois anos — disse o pote — eu fui capaz de entregar apenas metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho que leva à casa de seu Senhor. Por causa do meu defeito você não ganha o salário completo dos seus esforços.
O carregador ficou triste pela situação do velho pote, e, com compaixão, falou: — Quando retornarmos à casa do meu Senhor, quero que observes as flores ao longo do caminho.
De fato. À medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou muitas e belas flores selvagens ao lado do caminho, e isto lhe deu ânimo. Mas, no fim da estrada, o velho pote ainda se sentia mal, porque, mais uma vez, tinha vazado a metade da água, e, de novo, pediu desculpas ao carregador por sua falha.
O carregador, então, disse ao pote: — Você notou que pelo caminho só havia
flores no seu lado do caminho? Notou ainda que a cada dia, enquanto voltávamos
do poço, você as regava? Por dois anos eu pude colher flores para ornamentar a
mesa do meu Senhor. Sem você ser do jeito que você é, ele não poderia ter essa
beleza para dar graça à sua casa.”
Vamos fazer um exercício:
Jesus é o homem que carrega os potes. Nós somos o pote rachado.
Imagine que o Espírito Santo seja a água.
Nós somos imperfeitos. Temos nossas rachaduras causadas pela
queda em Genesis 3. Jesus nos enche sempre com o Seu Espírito Santo. Mas as
nossas rachaduras fazem com que o mesmo vaze. Mesmo sabendo que somos rachados,
Jesus nos mantém em serviço. Segue nos enchendo com o seu Espírito Santo.
Veja que, ainda que as rachaduras estejam presentes, o
caminho pode ser florido.
E ai vem a chave para a resposta. Jesus deseja que você,
ainda que tenha rachaduras causadas pela quedam seja íntegro em tudo o que for fazer
à Ele. Que siga servindo fielmente. A rachadura estará presente, pois somos
potes caídos. Mas a integridade de estar ali presente também, permitindo-se
encher pelo Espírito Santo, pela vontade de Jesus.
A perfeição do cristão se fundamenta em ser íntegro, consciente
de que não merecemos o que Cristo fez por nós. Afinal qualquer um jogaria o pote
rachado no lixo. Mas Jesus insiste em nos usar. A perfeição do cristão parte da
cruz e causa a consciência de que o sacrifício de cristo nos remete ao
compromisso de viver uma vida onde pecado não é mais uma escolha, e sim acidentes.
Já não peco mais por seguir na lógica da queda. Mas com certeza pecarei por
circunstâncias de acidentes. E quando isso acontecer, correrei para a Cruz, em
arrependimento, buscando a misericórdia e o perdão de Deus. Essa é a perfeição
que Deus espera de cada um de nós. Nisto consiste a santidade que Deus espera
por nós. É assim que somos livres da perfeição que o homem propõe. É assim que
aderimos a perfeição que Deus propõe.
"Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai
Celestial"- Mateus 5:48
Jesus é perfeito por nós. Isso não é um convite à
libertinagem. Pelo contrário, a perfeição que nós homens, recebemos por parte
de Jesus, é um convite a viver segundo os valores do Reino de Deus. Um convite
a sermos imitadores do Cristo. Um convite que resulta em liberdade. Liberdade em
Jesus.
Eu, você, todos nós, somos potes com rachaduras. Qualquer
pessoa considera um pote rachado como inútil, e por consequência jogaria o
mesmo no lixo. Jesus vai na contra-mão, insiste em nos usar e transforma as
nossas rachaduras em um meio de tornar a estrada da vida mais florida.
A condição atual do ser humano caído é: “O salário do pecado
é a morte”
A condição daqueles que são conscientes do sacrifício de Cristo
é: “O Salário da Santidade em Jesus é a presença de Deus”.
E onde Deus está presente, o Paraíso se faz presente.
Que Deus abençoe cada um de nós, transformando nossas
rachaduras em ferramentas de Seu Reino. Convertendo nossa desgraça em graça. Que
Jesus de Nazaré nos auxilie a ser íntegros apesar de nossas rachaduras. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário