sexta-feira, 3 de maio de 2013

A PRESSA DE DEUS

E disse (Jesus): Um certo homem tinha dois filhos;
E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos.
E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti;
Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.
E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho.
Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés;
E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;
Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.
E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças.
E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
Mas ele se indignou, e não queria entrar.
E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos;
Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.
E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas;
Mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se.
Lucas 15:11-32

Kairós é uma palavra da língua grega antiga que significa “o momento oportuno”, "o momento certo" ou “o momento supremo”. Os gregos antigos possuíam duas palavras para se referirem a moderna noção de "tempo": chronos e kairos. A primeira, chronos, era usada no contexto de tempo cronológico, sequencial e linear. A segunda, kairós, era usada para se referir ao tempo existencial. Os gregos acreditavam que o kairós era o maior aliado do homem para enfrentar o “cruel e tirano” chronos. Isso por que o chronos era considerado de natureza quantitativa, enquanto o kairós provinha da natureza qualitativa. (Espero ter explicitado o conceito de kairós de uma forma simples...optei por “moldar” a definição da Wikipedia por considerar a mais simples e coerente).

Bom...mas a pergunta é: e o que é que tem à ver esse tal de “kairós” com a famosa parábola do Pai Misericordioso (popularmente chamada de Parábola do Filho Pródigo)?

Antes de responder essa pergunta, gostaria de lhe convidar a ler mais uma porção das Escrituras Sagradas:

Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu:
tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou,
tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir,
tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar,
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter,
tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora,
tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar,
tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz.
Eclesiastes 3:1-8

A Palavra de Deus nos diz que existe um tempo para tudo. De certa forma, Eclesiastes 3:1-8 é um convite a lidarmos com a nossa ansiedade.  Um convite à aprender a esperar, esperar confiando no Senhor. Algo mais ou menos assim (não sei se irei conseguir usar um bom exemplo): Por que você está tão ansioso para plantar? Já se perguntou se o momento não é o de arrancar o que foi plantado? Já se perguntou se não é o momento de cuidar do que já foi plantado?

Enfim, ao lermos esta passagem de Eclesiastes, estamos diante de um ensinamento onde Deus nos convida a não ter pressa. Como se Deus dissesse a nós: “aprenda a esperar”, “aprenda a discernir o tempo”, “não se faça ansioso pelo tempo que você não discerne”.

Com um ensinamento desses, e por enxergarmos Deus, como o Grande Eu Sou, é praticamente impossível imaginar Deus em uma situação com pressa. Ele está acima do tempo (seja kairós, seja chronos).

Agora...gostaria de lhe convidar pensar em todo o contexto da Parábola do Pai Misericordioso e lhe chamar a atenção para o versículo 20:

E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
Lucas 15:20

O Pai da Parábola, evidentemente é Deus. Os filhos pródigos somos nós, os humanos rebeldes. Nós pedimos à Deus tudo aquilo que achamos que tínhamos direito. Pedimos a nossa parte da herança. Mas herança só é proporcionada ao herdeiro quando o pai morre. Este ato de pedir a nossa parte, que achamos ter direito, mas na realidade não temos (pois pertence à Deus), é o pecado original. É o mesmo que falar para Deus: “Vou viver por minhas próprias forças. Vou ser independente. Vou ser auto suficiente. Me sustentarei por minhas com meus próprios recursos. Pra mim, Você morreu”. O homem acha que pode ter vida sem Aquele que é a Vida.

Ao olhar para os filhos arrependidos voltando para casa, e se deparar com o relato de um Deus que se apressa e corre em direção ao mesmo, se lançando ao pescoço de Seu filho, beijando-o...vemos o momento que Deus realmente considera oportuno. O que poderíamos enxergar, de certa forma, como o “kairós” de Deus. O momento que Deus jamais deseja perder. O momento em que Ele deseja acolher aqueles que outrora deram-Lhe as costas e haviam agido como se Ele, o próprio Deus, havia morrido. Raras são as vezes que a Palavra insinua a “pressa” de Deus. Talvez esta seja a mais explícita demonstração da pressa de Deus. O momento em que Ele acolhe de volta o Seu filho. O momento em que Ele proporcionará vida ao filho. O momento de resgatar a dignidade do homem. O momento em que o filho reconhece que errou e se dispõe ao arrependimento.

Todo momento de arrependimento é kairós para Deus. Todo momento de redenção é momento oportuno para o Pai. Deus se apressa a te acolher de volta em Seus braços. Ele tem pressa em te abraçar. Existe tempo para plantar e tempo para colher. Mas não existe tempo para não se arrepender. O tempo de se arrepender é o sempre! O tempo de se reconciliar é sempre. O kairós de voltarmos para a Casa do Pai é sempre.

Temos um lugar para chamar de Lar. Temos um lugar para chamar de Casa. Um lugar que é uma Pessoa. Deus. Um lugar onde o próprio Deus nos espera. Quando aparecemos no horizonte e Ele nos avista...Ele se lança em nossa direção...com muita pressa...pressa em reconciliar-se conosco.

Não podemos perder esse Kairós. Temos que ir do jeito que estamos. Não importa se você esta no meio dos porcos. Largue tudo e vá em direção de Deus. Ele irá restaurar a sua dignidade e te acolherá como filho. O caminho de volta é Jesus. Siga os passos de Cristo e logo você avistará no horizonte a Casa do Pai.

Nós achamos que temos todo o tempo do mundo. Mas a morte está a espreita. E o Cordeiro está voltando. Não sabemos quando. Não sabemos a hora e nem o dia. Quem não sabe o “quando” não tem tempo algum. Mesmo por que o tempo pertence à Deus. Deus tem pressa em reconciliar-se conosco....e nós...qual tem sido os motivos de nossa pressa?

Apressemo-nos a voltar para os átrios do Pai.

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