quinta-feira, 2 de maio de 2013

OUSEMOS SAIR DO BARCO

E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar, à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só.
E o barco estava já no meio do mar, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário;
Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, andando por cima do mar.
E os discípulos, vendo-o andando sobre o mar, assustaram-se, dizendo: É um fantasma. E gritaram com medo.
Jesus, porém, lhes falou logo, dizendo: Tende bom ânimo, sou eu, não temais.
E respondeu-lhe Pedro, e disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas.
E ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus.
Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me!
E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?
E, quando subiram para o barco, acalmou o vento.
Então aproximaram-se os que estavam no barco, e adoraram-no, dizendo: És verdadeiramente o Filho de Deus.
Mateus 14:23-33

Todas as vezes que olhamos para esta passagem das Escrituras Sagradas, duas coisas saltam aos olhos: Primeiramente o fato de Jesus andar literalmente sobre as águas. Interessante, que neste primeiro fato, penso “logo de cara” em duas hipóteses: ou Jesus se tornou mais leve do que as águas, e praticamente exercia um andar “flutuante”,  ou a água se tornava uma superfície sólida à medida que os pés do Cristo tocavam o mar. O Segundo fato que salta aos olhos é a “falta de fé” de Pedro: indo ao encontro de Jesus, Pedro sentiu medo ao se deparar com o vento forte e começou a afundar. Neste momento Pedro se desespera e clamar ajuda ao Cristo. Jesus então lhe estende à mão e o ajuda.

Geralmente, ao nos depararmos com esta passagem, ouvimos pregações, reflexões, pensamentos que partem para estas duas linhas de abordagem: O milagre do “andar de Cristo sobre as águas” e a evidente falta de fé de Pedro. É natural que isso aconteça por que realmente são estes 2 fatos que mais saltam aos nossos olhos quando vamos refletir nesta passagem.

Entretanto gostaria de refletir sobre a atitude de Pedro de se dispor a ir ao encontro do Mestre, fator que creio ser muitas vezes esquecido na reflexão deste texto. Talvez, creio eu, pelo mesmo ser uma “entrelinha” entre o fato do extraordinário andar de Jesus sobre as águas e o afundamento de Pedro clamando por socorro.

A personalidade de Pedro (com base em tudo o que é dito sobre o mesmo nas Escrituras Sagradas) era impulsiva e inconstante. Ao olhar para esta frase “Senhor, se és Tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas” é possível ver esta impulsividade servindo de trampolim para um ato de ousadia do apóstolo. Todos os demais ficaram no barco. Pedro foi o único que ousou se propor a ir ao encontro de Jesus por cima das águas. Foi o único que tomou a atitude de experimentar, de certa forma, o sobrenatural. Pense...estar em cima da água e afundar é o natural. Evidentemente, vencer o fator “afundar” é experimentar o além do natural (o sobrenatural).

Se pararmos para pensar, por mais que tenham sido, um, dois ou três passos sobre as águas, quem foi o único, além de Jesus Cristo, que literalmente andou sobre as águas? É claro que não podemos tirar apenas o fator “disposição de Pedro para ir ao encontro do mestre” de todo o contexto da passagem. Sabemos que no meio do percurso ele sente medo, afunda e clama por socorro à Cristo. Mas pare e pense: Pedro, pode ter deixado na sua história (através deste relato de Mateus 14:23-33) o registro de ter titubeado na fé. Mas ao mesmo tempo, é evidente que a experiência que ele teve foi extraordinária. O problema é que a gente pega sempre o lado ruim de uma situação e a toma como rótulo para definir a mesma como um todo. Do lado de Cristo o relato é extraordinário. Mas do lado de Pedro, sempre exaltamos a falta de fé do apóstolo na situação. Mas e a ousadia e pré disposição para experimentar o extraordinário de Deus? E coragem para descer do barco?

Nesta situação descrita em Mateus 14:23-33, vamos supor que você pudesse assumir o papel de alguns dos discípulos. Mesmo sabendo todos os desdobramentos da situação. Você saberia que Pedro iria afundar e que os demais discípulos ficariam no barco olhando a situação como um todo. Você saberia que Cristo diria a Pedro: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?”. Em qual lugar você se colocaria? Qual personagem você assumiria? Escolheria ser um dos discípulos que permaneceram no barco? Ou ousaria escolher assumir o lugar de Pedro e ir ao encontro do Mestre? Lembre-se ...você saberia que iria titubear e afundar. Estaria ciente de que seria registrado no relato que você foi um homem que teve medo, que duvidou.

Responda para si. Vale à pena ousar, no sentido de ir ao encontro do mestre, ciente dos riscos? Ou vale à pena ficar no barco?

Ousar nos remete a sair da zona de conforto. Sair da zona de conforto nos remete a arriscar-se. Ficar no barco é ser coadjuvante. Sair do barco é dispor-se à atuar. Afundar e ter medo nos mostra a nossa fragilidade. Evidencia o quanto dependemos de Deus. Evidencia o quanto precisamos estar ciente de que Deus é poderoso e o caráter de Seu poder é o Amor que produz vida.

Somos assim. Falhos. Temos nossos medos. Temos um mar de situações que se coloca como desafios à serem enfrentados. Somos desafiados a encara-los. Por vezes (ta no plural, justamente por que muitas vezes isso poderá acontecer) os ventos nos trará o medo, a falta de fé, e afundaremos. Nessas horas o clamor desesperador  “Senhor Salva-me” sairá de nossas cordas vocais, pedindo à Jesus que nos segure. E Ele segurará. Ele segura cada um de nós.

Sair da zona de conforto. Sair do barco. Ir em direção à Jesus. Só assim caminharemos à experimentar o sobrenatural. Experimentar o sobrenatural pode nos trazer medo. Sim, por que o natural é o que já se faz conhecido. O sobrenatural é além do que já conhecemos. O sobrenatural é o desconhecido. Assim como a sensação de caminhar sobre as águas era inédita para Pedro. A lição revelada no fim da passagem é que não temos que ter medo. Que não devemos duvidar que Deus irá exercer o Seu poder com Amor. Este é o alicerce do ato de ousar sair da zona de conforto e ir em direção à Jesus. É assim que ousamos sem ser negligentes com nossa espiritualidade.

Pedro, o homem que ousou sair do barco. O homem que ousou sair da zona de conforto. O homem que se dispôs a ir ao encontro do Mestre mesmo sabendo que o solo no qual ele iria caminhar não era firme para sustentar os seus pés. O homem que sentiu medo e clamou ajuda para Jesus. O homem que ficou registrado como aquele que afundou. Mas o único homem, depois de Cristo, a andar sobre as águas, ainda que 2 ou 3 passos. O único que se dispôs a experimentar o extraordinário de Jesus. O único que se dispôs a experimentar o sobrenatural de Cristo.

Em Mateus 14:23-33 se eu pudesse ser assumir o lugar de um dos discípulos...queria ser Pedro.

Senhor, que eu consiga ter discernimento para reconhecer-te no mar agitado, e ver que Tu és muito mais que um fantasma ou um vulto no meio da ventania. Que eu possa reconhecer Seu rosto. Que eu possa sair da zona de conforto e descer do baco, ousando experimentar o Teu sobrenatural amor. Que eu possa fazer isso consciente de que sou falho. Consciente de que não sou nada sem Ti. Consciente que só a Sua mão me sustenta sobre o mar da vida, por que ela é movida por uma Graça Infinita.

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