A escolinha do meu filho não comemora dia das mães e nem dia dos pais. Devido a muitas crianças que estudam lá serem adotadas, ou criadas por avós, ou por terem perdido suas mães/pais, ou por alguma outra particularidade na qual estas datas sejam “complicadas” para se festejar, eles optaram em substituir estas datas pelo “Dia da Família”. Achei extremamente interessante esta atitude da escolinha, pois acolheu todas as crianças em condição de igualdade. Talvez, muitas igrejas deveriam começar a ter mais pensamentos iguais como este, no sentido de pensar na comunidade como um todo na hora de se promover campanhas, encontros, e principalmente na hora de pregar a palavra e discernir sobre oportunidades de se permitir testemunhos.
Abro um parêntese aqui...
Certa feita um pastor recebeu uma ligação de uma irmã desesperada, pois acabara de perder o seu filho. Dizia ela: “ – Meu filho foi viajar e numa curva da estrada ele perdeu o controle. O carro capotou e ele faleceu”. Depois de prover todo suporte para a mulher, o pastor convidou a mesma para ir no domingo à noite na celebração. Ela aceitou e foi. Ao chegar no culto ela se sentou em uma das primeiras cadeiras. Minutos antes de começar a celebração, um dos diáconos avisou o pastor que um irmão da igreja desejava dar um testemunho. O culto então se iniciou e logo chegou a oportunidade do irmão testemunhar. Ao tomar o microfone em mãos, o irmão disse: “ – Igreja, venho aqui testemunhar algo extraordinário que Deus fez em minha vida. Meu filho, estava viajando neste fim de semana. Numa curva da estrada, ele perdeu a direção, o carro capotou por diversas vezes, e nada...absolutamente nada...nada aconteceu com meu filho. Ele saiu andando do carro que ficou todo amassado. Deus ama demais meu filho a ponto de cuidar Dele mesmo na hora da tragédia”. O pastor então não conseguia nem olhar para o rosto da irmã que estava sentada na primeira fila.
Talvez esta história (real) ilustre a introdução do que escrevo aqui.
...fecho parêntese.
Retomando...
No dia 18/05/2013, compareci à escolinha do meu filho para celebrar o dia da família. O tema foi “Abraço”. Tive uma oportunidade única de assistir uma apresentação do psicólogo (e professor da escola) Rafael Dutra. Como o mesmo auto definiu, a sua apresentação se encaixava muito mais no quesito de “provocação”.
Ao refletir sobre “Abraço”, Rafael nos transportou para 3 pensamentos no qual ele alicerçou suas provocações. Não me lembro exatamente qual a ordem e quais as exatas palavras do mesmo, mas desejo compartilhar a essência desses pensamentos/provocações, então tentarei reconstruir os mesmos:
Pensamento 1 – Disponibilidade: o abraço só é possível se pessoas se disponibilizam ao contato. Provocação: será que estamos disponíveis para abraçar o nosso próximo?
Pensamento 2 – Conexão: ao abraçarmos uns aos outros, permitimos que a nossa alma se conecte com a do outro, unificando a sensação de ser 1. Provocação: será que estamos conectados com o ambiente ao nosso redor a ponto de perceber a necessidade de alguém por um abraço e atender a mesma doando-se em braços abertos?
Pensamento 3 – Segurança: o abraço traz segurança para quem é abraçado. Provocação: será que estamos transmitindo segurança aos nossos próximos?
Enfim, dentre esses pensamentos, Rafael citou uma frase de Martha Medeiros:
“O melhor lugar do mundo para se estar é no centro de um abraço”.
Ao pesquisar sobre esta frase, encontrei o texto de onde a mesma foi tirada (livro “Feliz Por Nada” de Martha Medeiros). É lindo...e não tenho como evitar de não coloca-lo aqui:
***
Dentro de um abraço – Marta Medeiros
Onde é que você gostaria de estar agora, nesse exato momento?
Fico pensando nos lugares paradisíacos onde já estive, e que não me custaria nada reprisar: num determinado restaurante de uma ilha grega, em diversas praias do Brasil e do mundo, na casa de bons amigos, em algum vilarejo europeu, numa estrada bela e vazia, no meio de um show espetacular, numa sala de cinema assistindo à estreia de um filme muito esperado e, principalmente, no meu quarto e na minha cama, que nenhum hotel cinco estrelas consegue superar – a intimidade da gente é irreproduzível.
Posso também listar os lugares onde não gostaria de estar: num leito de hospital, numa fila de banco, numa reunião de condomínio, presa num elevador, em meio a um trânsito congestionado, numa cadeira de dentista.
E então? Somando os prós e os contras, as boas e más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo?
Meu palpite: dentro de um abraço.
Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.
Que lugar melhor para um recém-nascido, para um recém-chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? Dentro de um abraço nenhuma situação é incer-ta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso.
O rosto contra o peito de quem te abraça, as batidas do coração dele e as suas, o silêncio que sempre se faz durante esse envolvimento físico: nada há para se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito.
Que lugar no mundo é melhor para se estar? Na frente de uma lareira com um livro estupendo, em meio a um estádio lotado vendo seu time golear, num almoço em família onde todos estão se divertindo, num final de tarde à beiramar, deitado num parque olhando para o céu, na cama com a pessoa que você mais ama?
Difícil bater essa última alternativa, mas onde começa o amor, senão dentro do primeiro abraço? Alguns o consideram como algo sufocante, querem logo se desvencilhar dele. Até entendo que há momentos em que é preciso estar fora de alcance, livre de qualquer tentáculo. Esse desejo de se manter solto é legítimo, mas hoje me permita não endossar manifestações de alforria. Entrando na semana dos namorados, recomendo fazer reserva num local aconchegante e naturalmente aquecido: dentro de um abraço que te baste.
***
Por fim, o Rafael trouxe ao conhecimento de todos presente no auditório o movimento “Free Hugs”. Resumindo, a Free Hugs Campaign (Campanha dos Abraços Grátis), é um movimento social que envolve pessoas oferencendo abraços para estranhos em locais públicos. A campanha começou em 2004 por um homem australiano conhecido pelo pseudônimo “Juan Mann” em Sydney, Austrália. O movimento se tornou internacionalmente famoso em 2006 por causa do videoclip no YouTube da banda australiana Sick Puppies. O vídeo atualmente é um dos mais vistos no site, tendo sido assistido mais de 50 milhões de vezes. Os abraços são um exemplo de um ato de bondade e humanitário executado por alguém cujo objetivo é apenas fazer as pessoas se sentirem melhores.
Assista este vídeo...
Bom, é claro que não consegui trazer aqui a exata (excelente) apresentação do Rafael Dutra, mas creio que consegui escancarar a essência da reflexão.
Concluo, como cristão, que talvez devêssemos avaliar a troca de movimentos do tipo “marcha para Jesus” por movimentos como o de Abraços Grátis. Creio que o melhor lugar do mundo para se estar é no meio de um abraço sim... um abraço de Cristo Jesus, que usa os braços abertos dos nossos próximos (e os nossos também) para abraçar. Talvez seja por isso que a cruz do calvário tenha colocado Jesus de braços abertos, apontando para os horizontes, como se estivesse abraçando a humanidade. Jesus abriu Seus braços, disponibilizando-se para acolher a todos. Ele é a Segurança, Ele nos Conecta ao Pai. Será que não falta entendermos isso para darmos “abraços grátis” por ai. Se Cristo Se doou de braços abertos na Cruz para abraçar a humanidade por Graça, por que nós, cristãos, estamos mais preocupados em bênçãos, milagres, poder, do que em dar abraços!? Já parou para pensar que Jesus abraçou todos nós, rebelados e “inimigos” de Deus pela condição do pecado? Nós não conseguimos, muitas vezes, nem abraçar (ou prover qualquer demonstração de afeto, carinho ou amor) para aqueles que nos amam.
Cazuza certa vez disse: “Gosto dessa definição: Abraço é o encontro de dois corações”.
Precisamos nos abraçar mais. Ser transportadores do “abraço de Cristo” através do nosso ato de abraçar. Uma palavra de amor, se faz abraço. Um olhar de ternura, se faz abraço. Um cobertor para o morador de rua em uma noite fria, se faz abraço. Como uma vez ouvi em uma reportagem: “Pesquisa diz que um telefonema provoca no ser humano a sensação e a química equivalente a de um abraço”.
De graça recebemos...que por graça a gente possa conceder...abraços e mais abraços.
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